28.4.05

Dica de presente: ExpoVinis

Você vai à ExpoVinis 2005, experimenta vinhos de centenas de vinícolas de dezenas de países de três continentes e, por fim, escolhe aquele (ou aqueles) que sua mãe gostaria de provar ou de ter à mesa agora no 12 de maio. Improvável que alguma lembrança venha a ser mais bem pesquisada, provada e querida do que esta.
Mas a maior feira de vinhos da América Latina guarda outros presentes. Por exemplo, é improvável que num mesmo evento tenhamos a reunião de pelo menos cinco grandes estrelas do mundo do vinho.Sobre Steven Spurrier, o editor de uma das melhores revistas de vinhos do mundo, a inglesa Decanter, já escrevi a respeito . Veja no post abaixo, "Spurrier vem aí".
Pois o Spurrier vai conduzir uma degustação sobre os espumantes brasileiros, cada vez melhores, e um debate sobre o presente e o futuro dos vinhos sul-americanos. Vai fazer mais: vai reeditar um evento que o deixou famoso até hoje, uma degustação realizada em Paris em 1976 que colocou no pódio mundial os vinhos da Califórnia.
Spurrier, hoje na casa dos 60, tem de 41 anos de vinho. Começou em 1964 como trainee de um comerciante de vinhos em Londres. Em seguida, mudou-se para Paris e abriu a sua loja de vinhos, a Les Caves de la Madeleine. Consultor editorial da revista Decanter há 11 anos, Spurrier é autor e editor de livros sobre vinhos e tem papel destacado na divulgação dos vinhos do Novo Mundo.
Em 1976, em Paris, ele organizou um teste cego que reuniu os mais prestigiosos vinhos de Bordeaux e da Borgonha e apenas dois vinhos da Califórnia, um Cabernet Sauvignon e um Chardonnay. Pois, os vinhos americanos chegaram em primeiro – e com pontos concedidos por uma maioria de degustadores profissionais franceses. Um repórter da revista Time estava presente e anunciou para o mundo o novo Waterloo francês. Hoje, as garrafas dos vinhos vencedores, um Stag’s Leap 1973 Cabernet Sauvignon e um Château Montelena Chardonnay 1973, da vinícola Barret, fazem parte da coleção permanente no Smithsonian.
Vamos ter um cineasta, o americano Johnathan Nossiter, que dirigiu o documentário Mondovino, uma tempestade que anda varrendo o mundo dos vinhos menos de um ano após ser apresentado em Cannes.
O diretor vai conduzir uma degustação de vinhos citados no seu filme, como o Bianchetti Tinto (Vale do São Francisco, Brasil), Dal Pizzol Tannat (Serra Gaúcha, Brasil), San Pedro de Yacochuya (Região Salta, Argentina), Família Magrez (Uruguai), entre outros. Durante a degustação haverá apresentação de trechos do filme e debates.
Patrício Tapia, jornalista chileno, volta à ExpoVinis. Ele é autor do importante guia “Descorchados” sobre os vinhos de seu país, responsável pela avaliação dos vinhos do Cone Sul para a importante revista norte-americana Wine & Spirits. Tapia também é colunista da “Prazeres da Mesa”, revista nacional sobre gastronomia.
Pensa que é só isso? O enólogo e historiador Carlos Cabral, fundador da SBAV, Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, a entidade pioneira em reunir amantes da bebida para debatê-la e prová-la seriamente.
Cabral vai apresentar um panorama do vinho no Brasil, tema que só ele mesmo pode esgotar, autor que é do fundamental “Presença do Vinho no Brasil: um pouco de história” (ISBN 85.293-0070-X). Não perca o papo do Cabral, nem deixe de ler seu livro.
E o colunista Jorge Lucki, também da Prazeres da Mesa”, conduzirá degustação de seis grandes Barolos da safra de2000 que receberam o “Tre Bicchieri”, as “três taças”, classificação máxima para vinhos de qualidade da publicação italiana especializada nos fermentados e em comidas, a Gambero Rosso.
Pois você já entendeu: a ExpoVinis é na verdade um presente de mãe pra filho, pelo menos para os amantes de vinhos.
Mas terminou? Nada disso. Vamos ter ainda a final do Concurso Sommelier Revelação ExpoVinis 2005, com prova prática de degustação e serviço de cinco candidatos previamente classificados pela Associação Brasileira de Sommeliers – capítulos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.Enfim, não há porque vacilar. A ExpoVinis tem o defeito de ser curtíssima. Vai de 3 a 5 de maio. Será realizada na ITM Expo, Avenida Roberto Zuccolo, 555, Vila Leopoldina, São Paulo. Ligue para a Exponor Brasil, via (21) 3151-6444 ou acesse o site. Está aberta das 14 às 19 horas para profissionais do setor e das 19 às 22 horas para o público em geral. Não deixe de ir.
Mondovino e Nossiter
Agora, uma palavrinha final sobre um participante que está provocando tsunamis no mundo dos vinhos, Johnathan Nossiter, criador e diretor do documentário Mondovino.
O filme foi apresentado em Cannes ao lado do já então badalado “Fahrenheit 9/11”, do polêmico e premiado Michael Moore, criticando as políticas do presidente Bush no Oriente Médio. Um documentário com mocinhos e bandidos.
Mondovino é também um filme com mocinhos e bandidos, só que acontece no mundo dos vinhos, com direito a trapaças, ameaças de morte, abusos de poder.
O diretor americano Jonathan Nossiter, 43, que além de experimentado documentarista, é considerado ótimo sommelier, grande conhecedor dos fermentados. Na ocasião, Mondovino representou uma surpresa para a crítica, pois foi selecionado à última hora para concorrer ao prêmio máximo, a Palma de Ouro. Nossiter esteve no sul do Brasil, na Sardenha, no Languedoc, em Bordeaux, Borgonha, Toscana, Uruguai. Entrevistou magnatas, celebridades, e modestos vinicultores.
Por 158 minutos, o diretor mostra um mundo dos vinhos também conturbado, com as grandes empresas tomando pequenos vinhedos de assalto para fazer um vinho “como o americano gosta”, sem diversidade. Mas Nossiter nega que seu filme seja uma denúncia ou antiamericano ou mesmo antiglobalização. “O vinho para mil é o único produto na Terra tão complexo quanto o ser humano”, explicou. “O que mais odeio no mundo dos vinhos não é nada relacionado com a bebida, mas com o esnobismo. Acho que o público vai reagir assim também quando vir essas pessoas (no filme)”, disse.
O diretor nos apresenta o povo do vilarejo de Aniane, no Languedoc, impedindo os planos do (na época) gigante Robert Mondavi (faturamento então de US$ 500 milhões anuais) de comprar um vinhedo. Em contrapartida, revela os favores dos clãs florentinos dos Frescobaldis e Antinoris, grandes produtores italianos, para negociar com Mondavi. O conglomerado de Robert Mondavi ruiu logo depois e foi absorvido pela gigante Constellation.
Temos ainda entrevistas com gente famosa, como o consultor francês Michel Rolland, descrito como uma espécie de Steven Spielberg do vinho, que ajuda seus clientes a criar bestsellers em dezenas de países segundo a fórmula do “gosto global”. O "efeito especial" que ele promove parecer ser esse: uma cocalização dos vinhos, tudo igual, ao gosto do consumidor norte-americano.
A entrevista principal é com o maior crítico de vinhos do mundo, o norte-americano Robert Parker, cujo nariz e palato estão assegurados em US$ 1 milhão. As notas de Parker podem fazer um vinho ir para o céu ou para o inferno, no momento em que são publicadas. Na entrevista, na casa do crítico em Maryland, EUA, Parker informa que acabara de cancelar uma viagem em razão de ameaças de morte (mais um charme do crítico). Recentemente Nossiter enviou um post de 4.300 palavras para o website de Parker, acusando os críticos de seu filme de macarthismo, orelianismo e má-fé. Os parceiros de Parker (Rovani e o crítico Mark Squires) são taxados de “dissimulados, difamadores e egoístas”.
Mas é particularmente o parceiro de Parker nas suas degustações, Pierre-Antoine Rovani, o mais atacado. Nossiter o aponta como um apologista de Mussolini, um fascista, anti-semita, “monolítico e egoísta”.
O post não coloca apenas Parker e seus parceiros no mesmo saco. Ataca também um bom número de publicações especializadas em vinho, como a Wine Spectator, Decanter, Revue du Vin de France e a Gambero Rosso, acusadas de falta de vigor crítico e investigativo.
Nossiter recusa a acusação de que Mondovino é uma polêmica antiglobalização. “Sou filho de Bernard Nossiter, destacado repórter de economia e correspondente estrangeiro do Washington Post e New York Times. Meu pai viajou com a família através do planeta...” Diz que seu filme é “contra a homogeneização global e não propriamente contra a globalização”.
Nossiter documenta as tradições que passam de geração para geração de vinicultores. São produtores independentes que estão hoje travando uma batalha pela sua sobrevivência e de suas tradições contra as multinacionais do vinho. Nossiter, contudo, afirma que Mondovino não é um filme político. “É sobretudo um filme sobre pessoas. Não há mocinhos nem bandidos, aqui”. Mas o tiroteio que estamos ouvido parecem mesmo o de um bang-bang, daqueles de grande qualidade, um clássico.
O filme está agora nos Estados Unidos. Espero que venha pra cá também. De qualquer modo, Nossiter promete uma versão em DVD. Não custa você conferir pessoalmente com o diretor.
Pois ai está a minha dica para o Dia das Mães. É apenas o mundo dos vinhos reunido na ITM Expo.
Faça contato pelo soniamelier@terra.com.br

Abril costurado

Abril agitado no mundo das bebidas. A francesa Pernod Ricard está comprando o gigante inglês Allied Domecq por US$ 14,2 bilhões, a maior aquisição desse setor desde a venda da Seagram em 2001. O conglomerado francês, assim, dobra de tamanho pela segunda vez em apenas quatro anos.
Enquanto a Pernod Ricard, terceira maior produtora de destilados do mundo, simplesmente está comprando a segunda maior, a australiana e cervejeira Foster’s compra outra conterrânea, a Southcorp – e por uma oferta de US$ 2,5 bilhões se transforma no segundo maior produtor de vinhos do mundo, atrás apenas da nova-iorquina Constellation Brands.
A Southcorp, a maior produtora de vinhos da Austrália, resistiu ao cerco da Foster’s por três meses, recusando uma oferta inicial de US$ 3,24 por ação. A cervejeira vinha de adquirir 19% das ações da Southcorp, via a compra de ações da família Oatley. No final, aumentou a oferta para US$ 3,33 por ação.
A californiana Gallo, maior produtora de vinhos do mundo até o final do ano passado, cai agora para o terceiro lugar no ranking global. A Constellation chegou ao primeiro com a compra da Mondavi em novembro do ano passado.
A nova companhia terá marcas importantes de vinho: Beringer, Wolf Blass, Meridian, Château St. Jean, Château Souverain, Stag’s Leap, a celebérrima Penfolds, Lindemans, Rosemount e Wynn’s.
Já a compra da Allied compreendeu uma parceria entre a Pernod Ricard e o conglomerado americano Fortune Brands, dona de destilados, equipamentos esportivos e produtos domésticos. Ela já distribui o uísque Jim Beam e a vodka Absolut. Com a aquisição, dobrará suas vendas de vinhos e destilados e ficará entre as quatro maiores empresas de bebidas do mundo. Levará as marcas: Canadian Club, de uísque, Courvoisier, um famoso conhaque francês, Maker’s Mark, de bourbon, e com a tequila Sauza.
A Pernod Ricard ficará, da Allied Domecq, com o uísque Ballantine’s, o gim Beefeater, os licores Kahlua e Tia Maria, o rum Malibu, a vodka Stolichnaya, com os vinhos Montana (Nova Zelândia), Bodegas y Bebidas (Espanha), Camp Viejo (Espanha), champanhes Mumm e Perrier Jouet. Já detém os uísques Jameson e Bushmills (irlandeses), o escocês Chivas Regal, o gim Seagram’s, o bourbon Wild Turkey, o conhaque Martell e os vinhos Jacob’s Creek.
Contudo, enquanto martelos não são definitivamente batidos (o que deve acontecer em julho), a Constellation, a número um do mundo em destilados e vinhos, declara interesse em entrar nessa disputa.
Depois da Allied serão muito poucas as companhias a oferecer marcas como o gim Beefeter ou o conhaque Courvoisier. É natural, portanto, que algumas companhias ou mesmo um grupo de empresas estejam tentadas a fazer contra-ofertas.
Mas será difícil chegar perto das cartas que a Pernot Ricard e a Fortune Brands colocaram na mesa – mais de 14 bilhões de dólares!
A Constellation ainda está digerindo a compra da Mondavi, por US$ 1,04 bilhão ano passado. O mais provável é que queira comprar apenas algumas marcas da Allied. Além do mais, o conglomerado não tem a rede de distribuidores ao redor do mundo que a Pernod, a Fortune e a Allied possuem.
De qualquer modo, a Constellation contratou os bancos de investimento Rothschild e Merrill Lynch para avaliar uma oferta à Allied, provavelmente em parceria com a Brown-Forman Corporation, dona da Jack Daniel’s e Southern Comfort, entre outras marcas, e com a Bacardi (dona do famoso rum e ainda lambendo as feridas em razão da compra da vodka Grey Goose por US$ 2 bilhões, em 2004.
A Pernod e a Foster’s ficarão com um elenco de marcas competitivas em qualquer mercado, em particular no norte-americano – que é o grande alvo de todas as empresas de bebidas.
Foi um abril agitado, em nada despedaçado, ao contrário, devidamente costurado, que confirma a tendência de fusões no setor de bebidas. Alguém aí falou em globalização?
Sonia Melier ainda não está costurada e atende pelo soniamelier@terra.com.br

15.4.05

De safra variada

A Safra Feminina
Maria Lúcia da Costa Rodrigues, fundadora da confraria Amigas do Vinho, envia a boa matéria que a revista Criativa de abril realizou sobre “A safra feminina”.
A matéria fala sobre a influência que as mulheres começam a exercer em restaurantes e distribuidoras de vinhos no Brasil, justamente numa posição ainda dominada por homens – a de sommelier.
A reportagem expõe os preconceitos contra as mulheres que, entretanto, agora estão começando a mostrar suas garras como profissionais do vinho.
O vinho é um agente civilizador e, como tal, não tardará a democratizar a participação dos sexos em seu mundico.
Não custa lembrar que somos nós as maiores compradoras e consumidoras de vinho, em média, em todo o planeta (dado do Wine Market Council).
Mais do que os homens, as mulheres se envolvem mais com os vinhos: preferem a bebida aos coquetéis (já os homens...) e consomem vinho com mais regularidade (dados da Vinexpo Américas e da Canyon Road Winery, da Califórnia).
O sentido do olfato entre as mulheres é mais desenvolvido do que o dos homens, o que lhes favorece no ofício da degustação (e, portanto no de sommelier), pois podem melhor do que ninguém detectar aromas e todas as suas sutilezas e analisar melhor a bebida. Essa faculdade já foi comprovada cientificamente (dado da Universidade da Califórnia, em Davis, através da professora emérita Carole Meredith).
No Reino Unido, cerca de 40% dos críticos de vinho são mulheres. E são todas de seleção: o Times tem a Jane MacQuitty, The Sunday Times a Joanna Simon e o Financial Times a minha guru Jancis Robinson.
Mas no resto do mundo são pouquíssimas as colunas de vinho assinadas por mulheres. Com absoluta certeza, sou a única a escrever sobre esse néctar em Secretário, modesto distrito de Petrópolis, onde também crio carijós.
“A Safra Feminina” apresenta depoimentos de mulheres que hoje lideram movimentos em torno de maior conhecimento e participação das mulheres no mundo dos vinhos, como o da amiga Maria Lúcia.Visite o site das Amigas do Vinho e solicite a matéria na íntegra.
A Safra Masculina
Enquanto isso, na Filadélfia, EUA, realizou-se uma grande concurso de vinhos (considerado “o mais prestigioso”), a Starwine Internationl Wine Competition.
Participaram 60 degustadores de 20 países, que provaram 2 mil vinhos de 30 nações.
E não deu outra: a maioria dos premiados foi só de homens, inclusive o de melhor sommelier, Nunzio Alioto, de um famoso restaurante de São Francisco.
De dez premiados, apenas uma mulher, Alpana Singh, foi premiada, por “Relevantes Serviços de Restaurante”. Ela é a sommelier no restaurante 4 estrelas de Chicago, o Everest. Tem 24 anos e é Master Sommelier desde os 21.
Mas a competição não parou na Alpana. Não é que arrumaram um jeito de eleger o “Sommelier Mais Sexy”, um tal Paul Brunet, naturalmente um francês, já que estamos no século XIX, tudo que cheira a sacanagem é francês.
Onde trabalha o Paul Brunet, o pessoal da Starwine não diz. Ou não sabe, não quer dizer ou talvez ele esteja desempregado. Mas é sexy, logo... Filadélfia tem sempre algo no meio!
Falam apenas que é um professor de vinho e “bon vivant”. Foi eleito pelo seu “charme, elegância e graça, que descrevem perfeitamente um bom vinho bem como um Sexy Sommelier”. Não é uma graça?
Se fosse uma mulher e “bonne vivant” eu queria ver. Ia ser um tal de jogar pedra na Geni.A matéria sobre a competição da Starwine está aqui .
A Safra da Terrinha
Mais uma dica das Amigas do Vinho: dia 6 de maio você já tem programa. É a degustação de uma partida dos melhores vinhos portugueses, com a presença de 24 de seus produtores.
Vamos conhecer o Brunheda Vinhas Velhas Tinto 2001 (Douro), o Incógnito Tinto 2002 (Alentejo), o Quinta da Falorca Garrafeira Tinto 2000 (Dão), o Vale de Ancho Reserva Tinto 2001 (Alentejo), o Mouchão Tinto 2000 (Alentejo), o Pera Manca Branco 2002 (Alentejo) e mais outros 60 vinhos portugueses entre marcas consagradas e lançamentos recentes no Brasil.
Por região, teremos:
Alentejo – António Saramago, Borba, Casa de Sabicos, Cortes de Cima, Couteiro-Mor, Eborae Vitis e Vinus, Francisco Nunes Garcia, Fundação Eugénio de Almeida, Herdade do Meio, Herdade Porto da Bouga, Monte do Pintor, Monte dos Cabaços, Mouchão, Roquevale e Tapada do Barão.
Dão – Quinta do Cerrado e Quinta Vale das Escadinhas.
Douro – Bago de Touriga, Burmester, Gilberts, Quinta das Peixotas e Quinta de Brunheda.
Estremadura – Fonte das Moças e Quinta das Cerejeiras.
Terras do Sado – António Saramago.
Será, como disse, no dia 6 de maio, de 16 às 22 horas, no Hotel Sheraton Barra (Av. Lúcio Costa, 3.150).
As Amigas do Vinho terão o preço especial de 80 reais.
Se vocês quiserem aparecer (e tenho certeza que vão querer) é só ligar para o Sr. Ivan Barros pelos telefones 2491-5403, 3491-6659 ou pelo 9958-8265, todos do Rio (21). O fax é o 21-2491-6175. Se quiser utilizar a internet, mande seu bilhete pelo champvin@globo.com
O evento é realizado pela Adega Alentejana
Qualquer dúvida é só clicar novamente no site das Amigas do Vinho.
Alfredo di Roma com nova Carta
O enófilo Paulo Nicolay, expert que já responde pela adega do Enoteca Fashion, no Fashion Mall, em São Conrado, Rio de Janeiro, é o responsável pela reformulação da nova carta do tradicional Afredo di Roma, no Hotel InterContinental Rio, também em São Conrado.
São 120 rótulos destacando vinhos de Portugal, França, Espanha e Itália. Do Novo Mundo, temos a especialidade australiana, com a uva Shiraz, a chilena Carmenère, a Malbec argentina e a Sauvignon Blanc neozelandesa.
O Alfredo di Roma, especializado em gastronomia italiana, com o menu assinado pelo chef Jair Lima, está recomendando a salada de camarão com fava olho de peixe e o risoto de cordeiro com presunto de Parma frito, perfumando com grapa italiana. Na dúvida, temos o peito de pato com crosta de sal grosso e mostarda com molho de laranja.
Vale voltar ao Alfredo, agora com melhores ofertas de vinhos (além dos pratos saborosos).
Reserve pelo (21) 3323-2200, ramal 8522.
Credenciamento para a ExpoVinis Brasil
Atenção que a maior feira de vinhos da América do Sul, a ExpoVinis Brasil começa agorinha: vai de 3 a 5 de maio, na ITM Expo: Av. Engenheiro Roberto Zucollo, 555, São Paulo, SP.
Os jornalistas e blogueiros que desejarem se credenciar é só informarem nome, cargo, veículo e telefone, através do e-mail credenciamento@ch2a.com.br
A credencial deverá ser retirada na Salda de Imprensa com equipe da CH2A. Maiores informações com a Alessandra Casolato (alecasolato@ch2a.com.br), Jailde Barreto (ch2a@ch2a.com.br0 ou diretamente para o CH2A: (11) 3253.7052.Veja logo abaixo nosso post sobre o evento: Spurrier vem aí.
Atenção, gente! Sonia Melier agora está no soniamelier@terra.com.br

8.4.05

Teimosia

Essa é uma história sobre teimosia, obstinação, vontade. Começa num lugar improvável para os vinhos, a Fazenda Santa Maria, no Vale do São Francisco, em pleno sertão nordestino, distante uns 500 quilômetros de Recife.
A fazenda é na verdade uma vinícola e produz duas safras por ano. Seu vinho principal, o Rio Sol, está vendendo o que quer na Alemanha, Holanda, Finlândia e agora chega à Inglaterra e já está seduzindo consumidores e críticos de vinho.
A Santa Maria pertence ao médico Henrique da Fonte. Depois de praticar psiquiatria no Recife, Rio e Paris, escolheu ficar perto da terra de sua família e alimentou o sonho de fazer seu próprio vinho.
Fez contato com Carlos Moura, 31, diretor da empresa portuguesa Dão Sul, que buscava terras no sul do Brasil para instalar uma vinícola. O sul é o reduto tradicional dos vinhos brasileiros, mas seu clima é muito úmido.
Entra em cena, então, Otávio Piva de Albuquerque, o presidente do Grupo Expand, pioneiro distribuidor de vinhos no país, importante importador, dono de uma cadeia de wine bars no Rio e na sua São Paulo e sobretudo grande incentivador da bebida entre nós.
Está criado assim o projeto ViniBrazil, cujo resultado mais recente é o Rio Sol.
A Fazenda é banhada pelo Rio São Francisco. Os agricultores têm sempre que ficar de olho nos jacarés: às vezes eles saem do rio e podem morder o pessoal que está nas videiras.
Nesse clima quente, conseguem-se duas colheitas por ano nos 200 hectares de vinhas de Cabernet Sauvignon e Syrah, de onde saem as uvas para a produção do Rio Sol. Em outras áreas são feitas experiências com variedades portuguesas e francesas.
Se fossem deixadas ao acaso, as vinhas poderiam produzir até cinco safras a cada dois anos em razão do clima quente. Mas, diz Moura, “é o caso de irmos aprendendo. Não há livro sobre a produção de vinhos nessas condições. Portanto, estudamos tudo o tempo todo".
O caso é que água não falta e regulando o seu suprimento podem controlar o desenvolvimento do vinhedo e chegar a duas safras anuais. A água vem de uma enorme bacia, do tamanho do País de Gales, formada por uma represa do São Francisco.
Essa história é contada pelo repórter e crítico de vinhos inglês Andrew Catchpole, do jornal Telegraph.
Diz ele que, se substituirmos os crocodilos por cangurus e os coqueirais pelos eucaliptos australianos, o vinhedo de Santa Maria poderia estar na Austrália – país que reflete o estilo do Rio Sol.
O crítico inglês afirma que esse vinho tem tudo para seduzir o consumidor estrangeiro: é um tinto fácil de beber, apetitoso, cheio de frutas. Tão bom quanto argentinos, chilenos e uruguaios que fazem as glórias dos vinhos do Novo Mundo no exterior.
Catchpole até arrisca que a nossa Caipirinha, até agora a maior contribuição brasileira para o mundo das bebidas, já tem um concorrente sério, o Rio Sol, “um vinho fora do comum, atraente”.
O crítico inglês avalia o Rio Sol Cabernet/Syrah 2003: abundantes aromas de frutos, com destaque para o cassis, e com bastante corpo para enfrentar os sabores da cozinha rústica da Itália e da península Ibérica. É vendido nas lojas da Expand por R$ 24,80.
O enólogo, crítico e historiador Carlos Cabral, que acaba de nos brindar com a “Presença do Vinho no Brasil”, uma minuciosa, surpreendente e valiosa história do vinho em nosso país, do momento em que chega com Cabral ao Brasil, até os dias que correm, nos fala do “fetiche da mercadoria”.
“Não consumimos apenas o produto, mas também (ou talvez sobretudo), a marca, a procedência, a tradição, ou seja, tudo aquilo que individualiza e diferencia um produto de um similar qualquer”.
Cabral conta de nossa teimosia em produzir vinhos de qualidade, sobretudo a partir da revolução promovida pelos imigrantes italianos no Rio Grande do Sul, construindo uma indústria nacional que só faz crescer e melhorar. E se estender, pois já chegou a uma região inesperada, no vale do São Francisco, origem do Rio Sol.
O fato é que o tal fetiche não está resistindo à nossa obstinação, a vontade de ter sempre um vinho à nossa mesa – fato que, aliás, não deixamos de ter desde Cabral, o navegante, o que é confirmado por Cabral, o historiador.
O feitiço perde forças e a hora está chegando para o vinho nacional, sem ufanismos.A matéria do inglês Andrew Catchpole está no Telegraph.
O livro “Presença do Vinho no Brasil: um pouco de história”, de Carlos Cabral, é da Editora Cultura, São Paulo (código ISBN 85.293-0070-X). Acaba de ser lançado e você não pode deixar de lê-lo.
Se quiser mais dicas sobre o Rio Sol e o livro do Carlos Cabral (onde comprá-lo ou encomendá-lo) é só clicar para a Soninha no soniamelier@terra.com.br