24.4.07

Os bons vinhos de Bento

Não me espantei quando li que o Papa Bento XVI, nos três dias em que ficar hospedado no Mosteiro de São Bento, em São Paulo, provará do bom e do melhor dos vinhos da América do Sul. A surpresa não aconteceu porque tão logo foi empossado, em 2005, o Papa foi nomeado sommelier honorário pela Associação Italiana de Sommeliers, em Roma. Talvez porque tenha comparecido a uma cerimônia de iniciação da Associação (quando recebeu um tastevin de prata – aquele pequeno prato de metal usado para a prova de vinhos) ou porque se proclamara “um humilde servo no vinhedo do Senhor”, no discurso de posse. Veja a nota da decanter.com sobre essa nomeação aqui.
Entre os vinhos que provará, selecionados e doados pela importadora Expand, figuram um brasileiro, o Rio Sol, seguindo-se chilenos e argentinos e um uruguaio.
O Papa chega a Guarulhos, São Paulo, na tarde do dia 9 de maio. Vai de helicóptero para o Campo de Marte e de lá, no papamóvel, para o Mosteiro de São Bento, onde fica até o dia 11, cumprindo uma intensa agenda. Depois, segue para Aparecida.
Nesses três dias, de 9 a 11, o Papa e sua comitiva poderão provar de vinhos de grande qualidade. Vamos a eles.
Da Vinibrasil, temos o Espumante Rio Sol Brut 2005, o Rio Sol Rosé 2006, o Rio Sol Reserva Assemblage 2005 e o Espumante Rio Sol Moscato Cannelli 2005.
Do Chile, a Expand selecionou o Arboleda Chardonnay 2005, o Seña 2001 (ambos do produtor Eduardo Chadwick), o Amelia Chardonnay 2005 Casablanca Valley, o Late Harvest 2003, ½ garrafa, e o Don Melchor 2001 (esses três da Concha Y Toro).
Da Argentina, o Trivento Brut Nature (da Trivento), o Zuccardi Q Chardonnay 2004, o Malamado 2003 (ambos da Familia Zuccardi) e o Perdriel del Centenário 2003 (Bodega Norton).
O Uruguai comparece com o Botrytis Noble 2003 (da Juanico).
O Rio Sol, eleito pela revista Gula o melhor dos nacionais em 2006, é, até agora, o único vinho brasileiro provado pela Wine Spectator, pois a revista americana focaliza basicamente vinhos disponíveis no mercado americano.
O que a revista chama de Rio Sol Parallel 8 2004 recebeu 83 pontos. O Rio Sol Reserva 2004 ficou com 81. Nada mal. Na escala de 100 pontos da revista, as notas de 80 a 84 correspondem a “vinhos bons, sólidos, bem feitos”.
Mais importante do que os pontos da WS, foi a recomendação que o Rio Sol recebeu da inglesa Decanter, no Decanter World Wine Awards de 2005. O Rio Sol Reserva 2003 ficou entre os vinhos recomendados. Dos 5.200 rótulos que concorreram apenas 61% receberam prêmios. Desses, 3% ficaram com medalhas de ouro, 12% de prata, 25% de bronze e 21% recomendados. O vinho é produzido no Paralelo 8 (sua rolha traz esse número): Município de Lagoa Grande, Petrolina, Pernambuco, às margens do Rio São Francisco, sol o ano inteiro. O Rio Sol, que já coleciona muitos prêmios, é hoje exportado para mais de 20 países. Olha que ele integra a lista de vinhos do luxuoso Burj Al Arab, aquele que tem o formato de uma vela, considerado talvez o mais luxuoso hotel do mundo, em Dubai, nos Emirados.
A Expand sentiu-se à vontade de incluí-lo nessa lista, pois a ViniBrasil é resultado de uma parceria dela com a Dão Sul, um grupo português que produz e exporta vinhos.
O chileno Seña 2001 foi um dos ganhadores da Cata de Berlim. Ora, amiga, essa Cata de Berlim foi nada mais, nada menos do que uma reedição do lendário Julgamento de Paris, confronto entre vinhos premium californianos e franceses, em 1976, em Paris, pelos maiores críticos de vinhos do mundo. Foi criada e organizada por Steven Spurrier, editor da Decanter, e resultou na consagração dos vinhos da Califórnia.
Em 2004, o vinicultor chileno Eduardo Chadwick resolveu fazer a mesma coisa, com o mesmo Spurrier na organização. Chadwick é presidente da Viña Errázuriz, proprietária das vinícolas Errázuriz, Seña e do Viñedo Chadwick. A degustação foi feita em Berlim. E o primeiro lugar ficou com o Viñedo Chadwick 2000, seguido pelo Seña 2001 e pelo Lafite 2000.
Em tempo: Cata é um termo enológico espanhol, que significa a avaliação analítica e objetiva do vinho. É com freqüência confundida com degustação, muito mais subjetiva e menos sistemática.
Outro destaque é o Concha Y Toro Cabernet Sauvignon Puente Alto Don Melchor 2001, 95 pontos (de 100) da WS.
Já o Familia Zuccardi Chardonnay Mendoza Q 2004 vem de uma vinícola que acaba de receber medalha de ouro no concurso Primeiros Vinhos da Argentina (entre os 12 jurados a Master of Wine inglesa, Jancis Robinson, uma das mais importantes críticas de vinho do mundo). O “Q” de seu nome quer dizer, muito justamente, “Qualidade”.
É bom que os Papas tenham começado a viajar. Antes, ficavam limitados a Roma e a vinhos muito simples. Inocêncio X (1574-1655) e Gregório XVI (1765-1846) adoravam o refrescante Frascati (corte de Malvasia com Trebbiano), vinho originário da região em volta da cidade de mesmo nome, vizinha de Roma.
Antes, quando o papado transferiu-se em 1309 de Roma para Avignon, na margem esquerda do rio Ródano, sul da França, novos e saborosos vinhos puderam ser saboreados pelos sete papas que lá ficaram (de 1309 a 1377). Mas era chover no molhado, pois todos os sete eram franceses e acostumados aos vinhos da terra.
O primeiro deles, Clemente V (1305-1314) ordenou o plantio de vinhos na região. Dele vem o nome do famoso Château Pape-Clement, de Bordeaux. Mas acredita-se que foi seu sucessor, João XXII quem desenvolveu o vinhedo papal em Châteauneuf-du-Pape (“Castelo Novo do Papa”), desde o século XIX o vinho mais importante do sul do Ródano.
No dia 11 de maio, depois da canonização de Frei Galvão, o Papa segue para Aparecida, onde fica até o dia 13, quando retorna a São Paulo e embarca para Roma.
Não tenho dúvidas que a Expand manterá o Papa e sua comitiva abastecidos desses excelentes vinhos até o final da visita.
Em sua missa inaugural, na Praça de São Pedro, no Vaticano, Bento abençoou vinhos trazidos por católicos da Hungria, Croácia, Quênia, Burquina Faso, Itália, China e Peru. Agora, certamente abençoará os do Cone Sul.
Pena que não esteja ao seu alcance promover uma nova multiplicação dos vinhos, já que é apenas “um humilde servo no vinhedo do Senhor”. Também somos, mas só nos resta ficar por aqui lambendo os beiços.
Se quiser saber mais sobre os vinhos do Papa é só falar com a Sandra Schkolnick ou a Laís Bastos, da Suporte Comunicação (sandra@suportecomunicacao.com.br).
Sobre a agenda de Bento XVI, visite o site oficial da visita.
Sobre os vinhos da Expand, veja aqui.

17.4.07

Expovinis Brasil 2007: Degustações Imperdíveis

Expovinis Brasil 2007, nada mais do que o maior salão internacional do vinho da América Latina, que ocorre de 24 a 26 de abril em São Paulo, apresentará grandes estrelas da vinicultura sul-americana.
A Cantu Importadora oferecará para degustação rótulos premiados das vinícloas Ventisquero (Chile), Domínio del Plata (Argentina) e H. Stagnari (Uruguai). Não perca. Eis aqui a agenda:
. Viña Ventisquero
No dia 25 de abril, das 18 às 19 horas, na Sala Premiun, o enólogo Felipe Tosso conduz degustação e fala sobre a uva Carmenere, variedade considerada por muitos como a mais emblemática do Chile. Durante o Expovinis Brasil 2007, Tosso também apresenta o vinho ultra premium Pangea, novo ícone da premiada, jovem e moderna vinícola chilena elaborado por ele em parceria com o prestigiado enólogo John Duval.
. Dominio Del Plata
Proprietário da vinícola, Pedro Marchevsky vem da Argentina para realizar degustações e explanação sobre seus aclamados vinhos das linhas Susana Balbo, BenMarco, Crios e Anubis. Entre os rótulos da Dominio Del Plata apresentados no evento destacam-se os consagrados BenMarco Expressivo e o Susana Balbo Brioso.
H.Stagnari
Virgínia Stagnari, proprietária da vinícola uruguaia apresenta seus rótulos Tannat Viejo, “Campeão do Hemisfério Sul” na 49ª edição do mais antigo concurso de vinhos do mundo (Eslovênia), e Daymán, considerado o Melhor Vinho Tinto do Mundo segundo o VINOFED 2006.
As degustações são gratuitas e ocorrem no estande da Cantu Importadora e nas Salas de Degustação Premium do Expovinis Brasil 2007 na Bienal de São Paulo. Outras informações sobre a Cantu Importadora no telefone 0300.210.1010 ou no seu site.
Mais informações para a imprensa:
Alessandra Battochio Casolatoalecasolato@ch2a.com.br
Denise de Almeidach2a@ch2a.com.br
CH2A Comunicação: (11) 3253.7052 Cel. (11) 9239.0569.

Como acabar com o "cheiro de rolha"

Sabe o TCA, aquele componente produzido por micróbios que vivem nas células da cortiça? É tão poderoso que mesmo em quantidades ínfimas pode causar aromas e sabores de mofo, de meia de tênis suada nos vinhos. Ele ataca as rolhas e acaba arruinando a bebida. Entre 5 e 20% dos vinhos produzidos em todo o mundo são contaminados pelo TCA (2,4,6-trichloroanisole). Embora não resulte em quaisquer danos para a nossa saúde, promove enormes prejuízos na indústria de vinhos e muitas decepções em nós consumidoras. Mas parece que existe uma solução caseira, simples e rápida para o problema.
Pegue uma jarra para água com capacidade de cerca de um litro. Coloque dentro dela uma quantidade de polietileno, plástico transparente usado para embrulho. Amasse bem com as mãos e coloque-o no fundo da jarra, de modo a ocupar até quase a metade da jarra.
Em seguida, despeje todo o vinho contaminado pelo TCA (o conteúdo de uma garrafa de 750 ml) na jarra. O objetivo é garantir que todo o vinho faça contato com o plástico. Gire a jarra com cuidado dez minutos. Quanto mais pronunciado do problema (ou seja, os aromas promovidos pelo TCA) mais tempo o vinho deve ficar exposto ao plástico.
E você pode acompanhar a evolução desse “tratamento” provando pequenas quantidades do vinho. Quando achar que o problema foi resolvido, com o TCA eliminado, jogue fora a plástico e decante (ou transfira) o vinho para outra jarra. Pronto, pode voltar a ter prazer com a sua bebida. O polietileno nem vai custar um extra: use uma saca de supermercado ou aqueles plásticos para proteger sanduíches (tipo Ziploc).
Esse é o processo que utiliza Mel Knox, um negociante de barris de vinho baseado em S. Francisco, Califórnia. Brian Smith, presidente da Vinovation, uma empresa especializada em serviços e tecnologias para a indústria do vinho (micro-oxigenação, redução de álcool por osmose reversa etc.), confirma que o “polietileno absorve o TCA como uma esponja”. A Vinovation está testando diferentes tipos de filtros de plástico para uso em barris de carvalho e tanques de vinho contaminados com esses micróbios de modo a que o TCA seja absorvido (e eliminado).
O que causa essa “doença da rolha”, que os franceses chamam de “bouchonée” (de bouchon, rolha) é uma reação química provocada pelo cloro existente nos componentes usados para limpar as rolhas. Ele pode contaminar não apenas as rolhas, mas barris, toda uma vinícola.
O blogueiro Ray Jordan fez testes usando o polietileno e filtro de carvão ativado. Deu mais certo com o plástico. É uma ótima notícia não termos que jogar uma garrafa fora, perdermos dinheiro e o prazer da bebida.

O Sabido

Poxa, como você sabe tanto de vinho! As vendas de Pinot Noir nos Estados Unidos cresceram 70% desde o lançamento do filme Sideways; uma taça de vinho pode ter de 80 a 120 calorias e zero de carboidratos; quem bebe de sete a treze taças de tintos por semana tem 30% menos de risco de uma doença cardiovascular do que os abstêmios. Todos no salão ouvem admirados. (Ele é um espanto).
95% de todo o vinho já vem prontinho para beber. É só tirar do supermercado, abrir e colocar na taça. São poucos, os mais finos e caros, os que precisam esperar para tomar.
A temperatura correta para servirmos um tinto é de 12,8oC. O número de moléculas de odor que podemos perceber é de 10 mil. Mas a famosa “Roda de Aromas do Vinho” registra apenas 135 aromas. Ah, por falar nisso, essa “Roda de Aromas” foi criada pela famosa professora, hoje aposentada, Ann Noble, Cientista Sensorial - ou Sensometrista - da Universidade da Califórnia, em Davis.
O nosso sabichão continua nos odores: só podemos perceber 3 ou 4 aromas ao mesmo tempo. Aí ele muda bruscamente para, a Bodega Colomé. Sabia que ela tem os vinhedos mais altos do mundo? Ficam a 3.015 metros de altitude, nos Andes argentinos.
A menor vinícola do mundo é a Africus Rex, no Canadá: apenas 2,1 por 3,4 metros. A vinha mais antiga do mundo? Fica em Maribor, na Eslovênia. Tem 400 anos de idade. O pessoal de lá a chama de “Stara Trta”, a Velha Vinha. (Não poderia nunca chamá-la pelo nome original; precisaria beber muito). Olha, ele sabe muito da Eslovênia. Sua capital é Liubliana, ex-Federação Iugoslava, tem 83,6% de católicos. A moeda de lá se chama “tolar”, palavra que deu origem ao nosso verdinho dólar. (Será que ele sabe que também pode significar um pacotinho de maconha?).
E continua: a menor garrafa de vinho do mundo tem 3 centímetros de altura e capacidade para apenas 0,76 mililitros de vinho. Ah: é feita pela Klein’s Designs, da Califórnia. (Não dá nem para meia emergência).
Nosso sabido toma mais um gole de vinho. Alguém pede para que comente sobre o mesmo. “Depois, depois”, diz ele. E continua. Qual a variedade de uva mais plantada do mundo? É a Airèn, com 306.553 m2 plantados, na Espanha. (Ele é demais!).
No labirinto. Sabiam que a adega da Vinícola Cricova, em Moldova, é um labirinto subterrâneo. Fica a 61 metros de profundidade, tem 96,5 quilômetros, com ruas e estradas por onde passam até caminhões, sinais de tráfego etc. E 1,2 milhão de garrafas. (Mas será que todo esse vinho é bebível?).
Conhecem a “Árvore Assobiadora”? É um sobreiro, Quercus suber em latim, como todos sabem. Essa é a maior árvore de cortiça do mundo. Fica no Alentejo, em Portugal, naturalmente. É capaz de produzir o equivalente a 100 mil rolhas por ano. (É por isso que ela assovia, de alívio, após ser tão descascada para produzir esse montão de rolhas).
Da cortiça ele evidentemente passa para o TCA, aquele fungo que ataca as rolhas e arruína os vinhos. Entre 5 e 20% dos vinhos produzidos em todo o mundo são contaminados pelo TCA. O interessante é que o nível perceptível desse fungo é de 1,2 parte por trilhão. (Ah, facílimo de detectar: é como descobrir uma colher de açúcar dissolvida em 100 piscinas olímpicas).
Sabe a quantidade de bolhas numa garrafa de champanhe? Não? Pois são 50 milhões de bolhinhas. E a pressão dentro de uma garrafa desse maravilhoso espumante? Olha pode chegar até a seis atmosferas, equivalentes a 62 quilos por centímetro quadrado. Igual só mesmo a pressão de um pneu de ônibus! Por isso, não é bom apontar a garrafa para ninguém no momento de retirar a rolha. Imaginem, uma rolha de champanhe já conseguiu atingir uma altitude de 54 metros. Claro que a peça foi disparada na vertical; não atingiu ninguém.
O caso do Th.J. Esse verdadeiro banco de dados da trivia enológica, passa agora para os preços dos vinhos. Cem mil dólares foi o que custou a garrafa de vinho branco mais cara até hoje vendida. Um Château d’Yquem 1787. Já o tinto mais caro jamais vendido, 160 mil dólares, tem o mesmo ano, 1787: um Château Lafite com as iniciais “Th.J.”, de Thomas Jefferson, um dos fundadores da nação americana. Ele mandava insculpir suas iniciais nas garrafas que comprava na França. Esteve por lá no século XVIII como representante comercial.
Porém, acrescenta o nosso perito: o milionário americano William Koch que comprou 4 garrafas com as iniciais “Th.J.” por meio milhão de dólares diz que comeu gato por lebre. Que as iniciais foram feitas por uma furadeira elétrica. O americano é William Koch, um colecionador da Flórida. Quem as vendeu é outro milionário, o alemão Hardy Rodenstock, também colecionador. O FBI já está apurando mais essa possibilidade de fraude.
(Trememos com a chance de uma equipe da Polícia Federal, que anda prendendo gente graudíssima, entrar na sala a qualquer instante buscando detalhes de mais esse logro. Nunca se sabe).
Sentindo o clima, nosso sabichão tenta algo mais ameno. Não, nós não sabíamos que o vinho mais caro que nunca foi vendido valeu para o seu proprietário 225 mil dólares. Como? Seu dono, o colecionador William Sokolin, tinha a garrafa sobre sua mesa no outrora badaladíssimo restaurante Four Seasons, de Nova York. Um garçom um tanto mais distraído passou pela mesa e derrubou a preciosidade. Nada mais, nada menos do que um Chateaux Margaux 1787 (ah, essa data). A garrafa se espatifou antes que pudesse ser vendida. Mas o seguro pagou a Solokin US$ 225 mil pelo seu prejuízo. Não é curioso, divertido? Sabido e charmoso ele é.
Gira a taça, onde mete o nariz e aspira delicadamente. Mais um gole. Novamente deixa para depois seus comentários.
Ele é sabido mesmo? Aí, toca a falar de Paul Burrell. Como, não sabem quem ele é? Foi o “butler” da Princesa Diana, todos sabem disso. Pois esse super copeiro acaba de lançar nos EUA e Austrália uma linha de vinhos australianos que está chamando de “Royal Butler Collection”. (Desconfio de que a princesa também era mal servida na copa).
Ainda nessa linha, ele pergunta se alguém sabe o que é Ypocras. Um tipo de barril, uma espécie de Engov usado pelos cruzados? Ninguém sabia. Pois Ypocras, continua o nosso versado amigo, era uma bebida muito popular nos tempos medievais. Também chamada de Hippocras, pois seu nome deriva de Hipócrates, da Grécia Antiga, o pai da medicina. Ora, era um vinho com especiarias. Canela, anis, gengibre, açafrão macerados no mel e, depois de meses, misturado a um vinho doce do Languedoc-Roussillon. (Mmm, tem toda a cara de quentão).
O vinho acabou e nenhum comentário sobre o que degustamos foi feito. Sai à francesa. Não tenho nada contra falarmos sobre curiosidades, trivialidades do mundo dos vinhos. Não, o nosso sabido não chegava a ser um esnobe. Mas sua “demonstração” pode levar as pessoas a pensar que o vinho só pode ser entendido e apreciado por conhecedores, algo que dependa de muito conhecimento, muita “sabedoria”. Poxa, sempre metemos o bedelho em música, arte, futebol, culinária! Por que não com o vinho?
Toda vez que me perguntam qual a melhor escola ou onde começar a aprender sobre vinho tento explicar que o melhor lugar é a nossa casa. Passe numa loja, compre um vinho e vá pra casa experimentá-lo. É o mais indicado, principalmente para quem está começando. Em casa, você vai provar daquele vinho, daquela uva e tomar suas notas. Olhá-lo, sacudi-lo, cheirá-lo, prová-lo, avaliá-lo. Uma, duas, várias vezes, com suas próprias palavras. Pode ser cansativo e demorado, mas é a melhor maneira de sabermos como descrever vinhos e apreciá-los melhor. A sabida será você, leitora: vai provar um vinho e comentá-lo com solidez. Não deixará nada para depois.
Não conheço ninguém que tenha aprendido a jogar futebol lendo um livro. Nada contra os cursos e os livros: mas são coisas para quem já começou, experimentou, praticou em casa, como falamos. Temos de ir a luta e conhecer o que está nas garrafas. Mas é o que vai nos dar real prazer, muito mais do que saber quem é o copeiro da princesa ou o que significa a inicial “Th.J”.
Numa próxima coluna, falarei mais sobre minhas práticas na área de saber um pouco mais sobre os vinhos.

10.4.07

Que tipo de vinho Jesus bebia?

O leitor Marcos Vinicius leu a matéria sobre vinho kosher e pergunta se o vinho bebido por Jesus tinha teores alcoólicos iguais aos dos vinhos de hoje?
É uma pergunta envolta em séculos de interpretações contraditórias. Uma parte delas tenta demonstrar que Jesus bebia vinho não fermentado, um suco de uvas. Outra já acredita que fosse vinho mesmo, suco de uvas fermentado.
No Velho Testamento, no Livro do Gênesis 9.20-1, temos claramente afirmado que Noé inventou a viticultura (como um passo importante na história da civilização): “E Noé começou como um agricultor e ele plantou uma vinha. E ele bebeu do vinho e ficou bêbado”.
O Gênesis não se preocupa com episódios de bebedeiras, o que não acontece com os seguidores da Igreja desde os primeiros tempos, que buscaram as explicações as mais variadas para o porre de Noé, para o primeiro milagre de Cristo, a transformação da água em vinho nas bodas de Canaã, e até para o que se bebeu na Última Ceia.
O vinho dos tempos de Jesus continha álcool. No livro de Jeremias, conta Hugh Johnson (na sua monumental “A História do Vinho”):
“... há um curioso capítulo, que parece um prenúncio do Islã. Convidada a tomar vinho, a tribo dos recabitas se recusa. Explicam eles que decidiram viver em tendas e abster-se de álcool. Parece que vinho e nômades nunca serão amigos".
O grande autor e crítico inglês coloca, porém, um importante fato em contexto: "O vinho não foi menos importante em Israel do que na Grécia; contudo, não há como comparar seu significado para os judeus e seu significado para os devotos de Dionísio.
Em Israel, a idéia de libação ou de qualquer tipo de sacrifício como os gregos ou os romanos o compreendiam constituía um sacrilégio - com efeito, o horror ante tal pensamento ainda perdura na definição do que é "puro" e do que é "impuro". Para os gregos, o vinho proporcionava libertação e êxtase: a embriaguez podia ser sagrada. Para os judeus, ele era uma dádiva perigosa que devia ser mantida sob o rigoroso controle dos rabinos".
A Bíblia faz perto de 260 referências a vinho. Ora a palavra está se referindo à bebida fermentada (alcoólica), ora a apenas o seu suco, ora à uva ou ao suco de uvas. O debate é intenso, principalmente entre religiosos que buscam uma interpretação "não alcoólica" para o vinho que Jesus e seus seguidores consumiram.
Contudo, a Bíblia não condena todos os usos do álcool. Reconhece o seu valor medicinal, por exemplo. Os provérbios 31:6-7 instruem o rei a "oferecer uma bebida forte àquele que está perecendo, e vinho àquele cuja vida é amarga. Deixe-o beber and esquecer a sua pobreza e não mais se lembrar de seus problemas".
O apóstolo Paulo perpetuou o uso do álcool para fins medicinais. Instruiu a Timóteo para "usar um pouco de vinho" para seus problemas estomacais (1 Tim 5:23). Num tempo em que os remédios eram raros, o álcool era um dos poucos recursos disponíveis.
O próprio Gênesis, ainda sobre Noé, fala de um outro benefício do vinho: “... ele deve nos confortar das durezas de nossa lida com a terra que o Senhor amaldiçoou” (Gen. 5-29). Temos aí a arte do vinho como alívio para os rigores da nossa existência nesse mundo. Nos Salmos (104.15), lemos que “o vinho alegra o coração do homem”.
Não há como negar que o vinho era uma bebida comum nos tempos bíblicos. De Noé a Paulo e a Jesus, todos os grandes personagens bebiam vinho. Para aqueles que encontram interpretações indicando que o vinho era na verdade suco de uva, temos por outro lado as inúmeras indicações da Bíblia condenando o uso excessivo da bebida. Se fosse apenas suco de uva, essas advertências não teriam sentido.
Assim, ao considerarmos em nosso texto sobre o vinho kosher que Jesus e seus discípulos beberam vinho mesmo (no que a maioria dos pesquisadores acredita que fosse), claro que ele continha álcool. Mas quanto?
Acontece que o vinho daqueles tempos, pelo menos em Israel, era muito mais fraco do que o vinho que conhecemos hoje. Enquanto uma das razões para isso era a adição de água à bebida, outra razão era a de que o vinho era naturalmente fermentado. Açúcar e fermento não eram adicionados ao vinho e o seu conteúdo alcoólico permanecia menor do que o registrado nos vinhos de hoje.
A cultura do vinho em Israel existia desde antes dos tempos Bíblicos, mas pouco sabemos sobre as técnicas empregadas. Com alguma segurança podemos dizer que as uvas teriam uma grande quantidade de açúcar em razão do clima quente e seco. Como não usavam aditivos, a fermentação dependia apenas da ação de fermentos naturais, que não são eficientes o bastante para converter todo o açúcar em álcool. Logo, o vinho, fora o baixo conteúdo alcoólico, seria também doce em razão do açúcar não convertido.
O vinho de Israel daqueles tempos era exportado, entre outros países, para o Egito. Segundo o crítico e historiador Daniel Rogov, “era tão ruim que tinha que ser temperado com mel, pimenta e zimbro”. Os que chegavam a Roma “eram tão espessos e doces que nenhum crítico moderno o aprovaria”, diz Rogov.
E, claro, seria um vinho tinto, o símbolo para o sangue de Cristo.

6.4.07

Primeiro de Abril

A nota sobre a modelo e socialite Paris Hilton promovendo os vinhos de Bordeaux teve origem no site da decanter.com Veja aqui.
Acontece que a data do post era de 1 de abril. Quem foi que disse que os ingleses nâo têm excelente humor?
Publicamos a nota ontem no post "Expovinis e outras" (veja abaixo).
Outos sites e blogs de vinho também brincaram com a data.
O "The Wine Skewer" ("O espeto do vinho" - espeto tal e qual o usado em churrascos) anuncia que a revista Wine Spectator passará agora a fracionar suas notas de vinho. A revista utiliza, como a maioria da mídia especializada, o famoso sistema de 100 pontos criado pelo celebrado Robert Parker Jr.
Mas agora, seu dono e editor-chefe, Marvin Shenken começará a fracionar seus pontos.
Assim teremos num Chardonnay de 82 ¾ pontos, um Cabernet de 96 ¼ pontos etc.
A nota segue informando que o empresário Adam Strum, dono da Wine Enthusiast, resolveu replicar adotando o sistema decimal. Um vinho poderia ter 92,6666 pontos. Ou 91,725.
A matéria da "Wine Skewer" é assinada por um famoso crítico e humorista, W. R. Tish. Veja aqui.

5.4.07

Expovinis e outras

Expovinis Brasil 2007. Prepare-se: o mais importante evento vinícola do país (e o maior da América Latina) começa agora, no dia 24, e termina no dia 26 de abril. Será no Pavilhão da Bienal, em Sampa, contando com 250 expositores. Teremos novamente o "Top Ten": ao final da feira serão anunciados os 10 melhores vinhos presentes ao evento.
A nova uva de Bordeaux. Chama-se Paris Hilton, a milionária herdeira americana, um tanto levada da breca. Ela será a nova garota propaganda da famosa região. Vai estrelar uma campanha publicitária cujo mote é “Paris: Uma Noite em Bordeaux”. Estou espantada: os franceses vivem censurando imagens de mulheres consumindo vinho, pelo menos aquelas que consideram “sensuais”. Agora, precisando desesperadamente vender mais, atacam de Paris Hilton. A socialite, 26, vai abrir a campanha descendo de um balão dourado no primeiro dia da Vinexpo, a grande feira do vinho de Bordeaux, em junho desse ano. O balão, de ar quente, não deverá ser um problema. Pois ar quente, parece, não falta na socialite. Nada foi comentado ainda sobre como será a tal da “noite em Bordeaux”.
O lucro está no vinho. Numa entrevista à revista New Yorker (na de abril, peguei online), o estrelado chef inglês Gordon Ramsay, que ostenta nove estrelas Michelin em seus restaurantes londrinos (e mais conhecido por aqui em razão de seus shows na TV: “Hell’s Kitchen”, nos EUA, e “The F Word”, na Inglaterra), revela que o lucro de um restaurante de alto nível está mesmo é nos vinhos. A entrevista é motivada pelo seu novo restaurante, em Nova York: “Os preços da comida foram deliberadamente reduzidos para encorajar as pessoas a gastar mais em vinho, potencialmente o maior lucro de um restaurante de luxo, sem muita mão de obra e nada de ingredientes estragados”, afirma o famoso chef. Espalhe a notícia: talvez os restaurantes médios melhorem suas adegas.
Os melhores da Expovinis 2007. Um júri, formado por especialistas nacionais e internacionais, premiará entres os seguintes grupos: Rosados, Sauvignon Blanc, Chardonnay, Brancos (outras castas), Espumantes, Champagne, Tintos nacionais, Tintos (castas bordalesas: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot), Tintos de Portugal, Itália e Espanha. E, na décima categoria, Fortificados e Doces.
Chá Verde e HIV. Pesquisadores americanos e ingleses descobriram que “o chá verde pode reduzir o risco da infecção pelo HIV e pode também conter o desenvolvimento do HIV”. A afirmação é do professor Mike Williamson, um dos pesquisadores, do Departamento de Biologia Molecular da Universidade de Sheffield. Tudo isso graças a um componente no chá verde chamado epigallocatechin gallate ou EGCG. Já escrevi sobre isso aqui, mas a respeito das identidades do chá verde com o vinho. Voltarei ao assunto.
O professor adverte, porém: “Não é uma cura, nem uma maneira segura de evitar a infecção. Mas achamos que esse chá, usado ao lado os remédios convencionais, possa melhorar a qualidade de vida dos infectados”.
Onde estão os aromas. Leitora quer saber se existe algum outro recurso, além do “Le Nez du Vin”, para treinar o nariz com os aromas dos vinhos. O “Le Nez du Vin” (“O nariz do vinho”), você sabe, são aqueles frascos com aromas de frutos, flores e especiarias que podemos encontrar na bebida. Ela reclama do preço (um kit com 24 frascos custa em torno de US$ 160,00 na Europa; deve sair por uns R$ 400,00 por aqui) e da dificuldade de encontrá-los, pelo menos por aqui. Já existe o Aroma Dictionary, um livreto com três páginas contendo, cada uma, 12 etiquetas do tipo “esfregue e cheire”. A publicidade diz que são reutilizáveis. Cada vez que você esfrega o aroma é liberado. Bacana: 36 referências de aromas para vinhos bem diante de você. Basta uma esfregadinha.
Vinho é algo sensorial. Para desfrutarmos completamente dele, temos de usar o nariz. Procuro treinar experimentando o maior número de aromas. Por exemplo, não tem fim de semana que não passe no horto de Itaipava e começo a cheirar cominho, hortelã, canela, noz-moscada, pimenta branca, pimenta preta, frutas etc. E vou pela vida colocando o nariz em tudo: eucalipto, cedro, caixas de charuto; entro pelas matas da região pegando o cheiro que vem do solo, os aromas de cogumelos. Não desprezo nem os cheiros de estábulos, de cavalos suados, das alfafas que percebo nos vários haras da região. Vou memorizando, anotando e criando um vocabulário, só gastando sola de sapato (e, sim, o nariz). Na hora de provar um vinho tudo fica um pouco mais fácil. Além de mais barato e divertido.
Onde estão os narizes. Eis o júri da Expovinis Brasil 2007 que decidirá sobre os 10 melhores vinhos do evento: Jorge Lucki (presidente do júri), José Ivan Santos (coordenador), Patrício Tapia (Guia Descorchados do Chile e Wine & Spirits magazine), Aníbal Coutinho (revista Evasões e Revista do Vinho, Portugal), Jorge Carrara (Prazeres da Mesa, Folha de São Paulo), Daniel Pinto (SBAV-SP), José Luiz Alvim Borges (ABS-SP e Wine Style), Ricardo Farias (ABS-Rio), Gerson Lopes (ABS-MG e Estado de Minas), Márcio Oliveira (SBAV-MG), Manuel Beato (Sommelier do Fasano), José Luiz Pagliari (Vinho Magazine e Senac-SP), Marcelo Copello (Gazeta Mercantil e Adega), José Maria Santana (revista Gula) e Roberto Gerosa (Veja). Esses são narizes de respeito, pra lá de treinados. Os vinhos escolhidos serão anunciados no último dia da feira, 26, com entrega dos prêmios em cerimônia a ser iniciada às 4 da tarde. Não perca.
Bacalhau com tinto ou branco? Sempre a mesma pergunta nessa época do ano. Vai depender da receita. Em Portugal o prato é tradicionalmente acompanhado por um tinto. Mas outros o apreciam com um branco (no estilo do Vinho Verde, bem fresco e ácido). E os dois partidos estão certos. Treine seu nariz, leitora: experimente os dois estilos.
A saúde do tinto. As vendas do vinho tinto dispararam nos Estados Unidos: foram 40% maiores do que toda a categoria de vinhos de mesa, entre novembro de 2006 e março de 2007, segundo o Nielsen (empresa de informação de marketing e mídia). Motivo: mais uma vez, os efeitos positivos do vinho tinto para a nossa saúde, em particular os recentes estudos sobre o consumo de vinho tinto e seus efeitos sobre a nossa longevidade feitos pela Escola Médica de Harvard.
Ingressos para Expovinis. Vão custar R$ 40,00, incluindo taça para degustação, ou R$ 30 sem a taça. Estudantes de Hotelaria, Nutrição, Gastronomia, Enologia e Turismo pagam R$ 15,00. Menores de 18 anos não entram. Saiba mais acessando o portal da Expovinis. E não deixe de estar lá: de 24 a 26, a partir das 7 da noite.