31.7.07

O Copo e o Corpo

1. O vinho combate o álcool. Um senhor paradoxo, não é? Pois acabei de ler uma matéria na Wine Spectator, onde mais uma pesquisa científica demonstra que o vinho pode combater... o álcool. Será que o vinho vai virar remédio homeopático, com base no tema central desse sistema terapêutico, o famoso similia similabus curantur: o semelhante cura o semelhante?
A matéria é sobre o vinho tinto, que pode proteger nosso cérebro de danos relacionados ao álcool. Cientistas da Universidade do Porto, Portugal, publicaram recentemente os resultados de uma pesquisa na qual ratos que beberam grandes quantidades de vinho tinto não tiveram suas memórias danificadas, se comparados com coleguinhas seus que fartas medidas de álcool puro.
Os cientistas lembram que não existem estudos anteriores sobe os efeitos do vinho tinto sobre a memória, se consumido em demasia e a longo prazo. Mas o consumo excessivo e crônico do álcool, uma neurotoxina extremamente agressiva, está bem documentado. Sabe-se que leva a danos em partes do cérebro, em particular ao hipocampo (saliência na face inferior do lobo temporal do cérebro), responsável por nossa habilidade em nos orientarmos.
A equipe de médicos partiu da hipótese de que se os polifenóis antioxidantes do vinho estão já associados à cura de doenças cardiovasculares, a alguns tipos de câncer e outros males, com o de Alzheimer, porque não poderiam ser utilizados para proteger nossos neurônios dos efeitos do álcool e assim retardando ou prevenindo o desenvolvimento de distúrbios cerebrais?
Eles testaram essa hipótese em 36 ratos, separados em três grupos de 12: um só bebia água, o segundo água com 20% de seu volume em álcool e o terceiro apenas vinho tinto, também com 20%. É uma taxa acima do normal (14%), mas a vinícola aumentou o volume para ajudar a simular os efeitos de um consumo pesado.
Depois de três semanas, os pesquisadores checaram a habilidade dos ratos em se orientar (os colocaram num labirinto). O hipocampo é a área do cérebro onde o estresse oxidante ocorre em primeiro lugar. Tal como acontece com o mal de Alzheimer, danos no hipocampo podem ser demonstrados pela nossa dificuldade em achar o caminho certo, mesmo em locais familiares.
Não precisamos dizer que os ratos que beberam vinho tinto tiveram desempenho igual aos que só tomavam água pura. Tudo parece fazer sentido. Mas lembramos que esse teste vale só para ratos. Eu vivo me perdendo.
2. Morbidez em revista. Foi só ler a matéria sobre esses pobres ratinhos (heróis anônimos da saúde de nossos hipocampos) que resvalei numa revista de título tenebroso: Morbidity and Mortality Weekly Report (“Morbidez e Mortalidade - Relatório Semanal”), publicada pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, do Departamento de Saúde dos Estados Unidos. Consegui pescar uma outra pesquisa: os jovens americanos (já com educação secundária) estão entornando muito e dão preferência aos destilados: uísque, vodca e rum é a preferência de 40% deles. Cerveja vem em segundo lugar. E apenas 2% desse grupo optam por vinho.
Queria só saber quem decidiu colocar esse nome na revista. Deve ser um senhor hipocondríaco.
3. Cadaver Calculator. Preocupada com os ratinhos portugueses (e sempre pensando no que o Jerry – aquele do Tom – faria com aqueles cientistas) e com os secundaristas americanos, prossegui no que estava querendo realmente encontrar na internet: um conversor de moedas para uma matéria sobre preços de vinhos.
E descobri que meu corpo vale US$ 4.265,00. Nada mal. É que por um acaso cheguei numa tal de Cadaver Calculator, uma sinistra calculadora de defunto. Santa morbidez!
São 20 perguntas avaliando o seu estado geral de saúde, inclusive a sua faixa de idade, hábitos alimentares, se fuma, se é abstêmio ou bebe e quanto bebe. Quanto mais saudável, maior a quantia que sua família receberia pelo seu corpo, caso fosse doado para aproveitamento de órgãos.
Encontramos perguntas curiosas: se você é anão ou gigante, albino, cego. Tem elefantíase, já fez operação de hérnia ou de intestinos, é careca, cabeludo, usa bronzeador habitualmente? Só queria ver a turma do Politicamente Correto lidando com essa calculadora. Iam querer substituir defunto por “não-vivo”, anão por “verticalmente prejudicado” etc.
Em alguns testes, dei respostas como se fosse um menino abaixo dos 12 anos com a vida a mais regrada do mundo: nada de alimentos gordurosos e frituras, nada de refrigerante, nada de muito açúcar, nada de obesidade, a melhor dieta possível. Álcool nem pensar! Meu corpo valeria US$ 7.400,00. Ou seja: a idade pesa nesse questionário.
No meu caso, meia-idade, bebendo duas taças por dia, a turma que bolou o questionário não quis saber o que eu bebia, se era vinho ou uma bomba com 80% de álcool. Não quis nem saber que tenho uma vida modelada no Paradoxo Francês, a badalada descoberta sobre a causa dos relativos poucos casos de problemas cardíacos entre os franceses (se comparados com os americanos). É que eles consomem toda gordura que querem, todos os queijos que gostam sem que haja muitos piripaques. Salvou-lhes o vinho, que bebem em boa quantidade diariamente.
A calculadora não quis saber também dos salvadores polifenóis do vinho, que sabidamente fazem bem à saúde (os ratinhos portugueses que o digam). O problema é o preconceito quanto ao álcool, pura e simplesmente. Ele pode causar danos às nossas células e pronto. Então, deve ser colocado do lado negativo da Força, segundo médicos da Universidade de Columbia, Nova York.
Fico intrigada: outro dia li uma matéria no New York Times elogiando a moda de drinques naturebas: vitaminas de vegetais misturadas com vodca. Seriam mais saudáveis? Pois é: vivemos na era das batatas fritas sem gorduras trans, cervejas e vinhos com baixo teor de carboidrato etc. Tudo muito correto, mas tem lá o álcool, uma presença capaz de enrubescer qualquer verdura e danificar muitas e muitas células e perturbar o nosso hipocampo, segundo os médicos.
Numa segunda leitura, respiro aliviada, pois descubro que o problema não está no meu vinho, que continua sendo uma bebida saudável (veja só a pesquisa com os ratinhos, aí em cima). O problema sou eu “não-viva” ou o meu cadáver, que vai valer um pouco menos por conta das tais células danificadas.
E da idade: se daqui a alguns anos respondesse ao mesmo questionário meu corpo valeria 500 dólares menos. Não me importo, não estarei nem aqui. O copo faz o seu corpo valer menos? Pois acho ótimo ficar no prejuízo. E mais feliz.
Minha preocupação mesmo é com a turma que conseguiu US$ 7.000,00 na calculadora infernal. Deve ter muita gente de olho e pensando bobagem. Faça esse teste também, amiga. Ou, se quiser saber mais sobre álcool, hipocampo, Alzheimer etc, ou sobre os reais valores do vinho é só clicar aqui para a Soninha.

24.7.07

Quais são as novas modas?

Leitora pergunta quais as novas tendências no mundo dos vinhos. Difícil de responder: a cada semana, uma nova moda ou tendência aparece. Se fizermos uma lista agora, quando você chegar ao seu final, ela já estará desatualizada. Tem sempre alguém promovendo uma nova uva ou um novo estilo de vinho, um novo conceito, rótulo ou embalagem. Moda, o nome diz, é coisa passageira. Tendência indica uma disposição, uma vocação. E, nesse caso, um pendor para ficar na moda. Vamos a algumas delas:
1. Varietais. Anteontem, a varietal da moda era a Pinot Noir, como resultado do filme Sideways. Ontem, era a Viognier, uma uva branca muito antiga, de origens desconhecidas, que teria origem na Dalmácia e foi parar em Condrieu, norte do Vale do Ródano. Aliás, é a única uva utilizada nas apelações de Condrieu e Château-Grillet. Ela é por vezes utilizada para dar mais aroma e amaciar aos vinhos com a uva Syrah. É também plantada no Languedoc, Roussillon e na Provence.
Em 2004, a Universidade da Califórnia, em Davis, fez um perfil do DNA da uva, pelo qual se demonstra que ela é parente próxima da Freisa, uva do Piemonte, Itália, e geneticamente ligada à outra italiana, a Nebbiolo. É hoje plantada também na Califórnia, Chile, África do Sul, Austrália, Nova Zelândia e até no Japão.
Hoje, parece, a uva que está na bica para ficar na moda é a tinta Mourvedre. Seu nome deriva de uma cidade espanhola, Murviedro. De lá, chegou ao sul da França. Com a praga da phylloxera, no século XIX, seus vinhedos foram devastados e somente nos últimos 50 anos é que conseguiram replantá-la. E ela começou a ganhar popularidade. Está em muitos blends com a Grenache e a Syrah no sul do Vale do Ródano. Tem aromas rústicos, de animais de caça. Faz vinhos com boa capacidade de envelhecer. Na Espanha, é conhecida por Monastrell e na Califórnia por Mataro.
2. Os Rosados. Em termos de estilo, o que ainda está na moda são os vinhos Rosés: despontaram muito bem no nosso verão e são sucesso absoluto agora no verão do hemisfério norte. Um vinho para beber na piscina, num fim de tarde papeando com amigos, num piquenique. Mas atenção: existem rosados que chegam ao mercado após anos em carvalho, como o López de Heredia Crianza Rosé (o produtor é a respeitada R. López de Heredia Viña Tondonia, de Rioja).
3. Wine Bars. Continuam na moda, cada vez mais divertidos e promovendo a interatividade. Você já pode escolher por varietal – e não necessariamente por um rótulo. Por uma justa coincidência, o wine bar Varietal, de Nova York, oferece rodadas de varietais, uma delas é a “Rodada Misteriosa”. Se você acerta quais as uvas em três das taças oferecidas, recebe uma rodada grátis.
4. Restaurantes. Estão aprendendo com os wine bars: agora, encontramos mais meias-garrafas e quartinos, aquelas pequenas e elegantes jarras com capacidade para duas taças de vinho. Faz todo o sentido: às vezes, você escolhe peixe como aperitivo e prefere vinho branco para acompanhar. O tinto fica para o próximo quartino ou meia-garrafa escoltar o filé que está por chegar.
5. Listas de Vinho. Outro dia vi o Renato Machado e o Claude Troisgros num restaurante francês (isto é: vi na TV) levantando uma lista de vinho que era a soma do Velho e Novo Testamento mais a lista telefônica de Nova York. É demais! Vamos levar umas duas semanas consultando-as. A comida vai estragar. A tendência hoje é por listas bem mais magras, mais suaves, cordiais – e muitas vezes bem humoradas, compatíveis com as ofertas da cozinha. Muitas listas já são divididas por varietais, tornando mais fácil a escolha, principalmente de iniciantes no mundo dos vinhos.
6. Sommeliers. A moda, já há muito tempo, é de profissionais do vinho bem mais próximos dos clientes, dedicados a ajudá-los a encontrar uma garrafa que lhes sejam confortáveis, em termos de preço e combinação com o prato escolhido. Nada de nariz em pé. Já até me esqueci da época em que os que se classificavam como sommeliers tentavam empurrar os vinhos mais caros das cartas. Nessa área, a moda é a mudança de nome: de sommelier passa a ser diretor de vinho do restaurante.
7. Tampas de Rosca. É seguramente uma tendência estabelecida. Produtores neozelandeses, australianos e californianos estão mudando da cortiça para a tampa de rosca metálica, embora a maioria dos consumidores em todo o mundo ainda associem as segundas com vinho barato. As tampas de rosca começaram a ser utilizadas como alternativa para solucionar o problema do TCA, um fungo que ataca as rolhas, praticamente inutilizando o vinho. Como 95% dos vinhos produzidos em todo o mundo são feitos para consumo imediato, não há porque se perder muito tempo com a questão: as tampas de rosca podem ser uma saída, pelo menos bem mais práticas.
8. Vinhos com muito álcool. Foi uma forte tendência até ano passado, principalmente no hemisfério norte (e, em particular, na Califórnia, onde em dez anos a média de álcool subiu de 12,5% para 15%). Agora, os vinhos com taxas “normais” de álcool estão voltando a ocupar os seus devidos lugares. Decisiva nessa volta a taxas mais amenas foi a posição de restaurantes importantes de não mais servirem esses vinhos, muito difíceis de acompanhar qualquer prato.
9. Celebridades. Hoje, até o Emile, o ratinho do Ratatouille, está num rótulo de vinhos (pareceria da Disney com a Costco). A moda de rótulos com bichos (cachorro, gatos, cangurus, vários pássaros etc.) é coisa de 2005. Agora o que temos são o que chamam de “vinhos dos paparazzi”, das celebridades. Temos vinhos para (ou a eles diretamente relacionados) músicos vivos (Bob Dylan, Sting, Madonna, Mick Hucknall, o líder do Simple Red etc.), para músicos já falecidos (Frank Sinatra, Jerry Garcia), para outros que talvez ainda estejam vivos (Elvis Presley). E, claro, vinhos para estrelas de Hollywood, as vivas (Fess Parker) e as imortais (Marilyn Monroe). Temos vinhos relacionados ou sendo produzidos por golfistas, pilotos de corrida. E aqueles sendo produzidos por personalidades de cinema, como o “chefão” Francis Ford Coppola, dono há 30 anos, de uma das maiores vinícolas norte-americanas.
10. Pontos. Quase que a totalidade dos críticos encerra seus comentários com uma nota, ou um sistema de notas, sejam os pontos do sistema decimal, estrelas, taças etc. A mesma coisa fazem os comerciantes: anunciando que o vinho tal recebeu tantos pontos de Robert Parker ou da Wine Spectator. Mas esses sistemas estão sendo criticados, colocados em dúvida, pela sua falta de objetividade. Recentemente, o crítico e professor Tyler Colman (o Dr. Vino) descobriu que o próprio Robert Parker, criador do mais famoso sistema de pontuação, admitiu que avaliar vinhos depende da “emoção do momento”. Mais subjetivo impossível. Numa entrevista dada há ao jornal Naples Daily News, em agosto desse ano, Parker explica:

"Sempre procurei explicar que sou uma pessoa muito
apaixonada e emocional. Acho realmente que a única diferença entre um vinho com
96, 97, 98, 99 e 100 pontos é realmente a emoção do momento”.

Parker admite, na entrevista, que não é nenhum ciborgue. E, portanto, parece reconhecer o relativismo sistema que ele próprio criou. E que gerou filhotes em todo o mundo. Esse mesmo mundo que agora, descobre-se, ele mesmo ameaça a colocar por terra, para gosto de uma parte importante da crítica que não admite toda essa “objetividade”. Mas ninguém se arrisca em antecipar o que virá em lugar desses sistemas.
Se souber de alguma outra tendência ou moda, conta pasra a Soninha, no soniamelier@terra.com.br

16.7.07

Faça vinho em casa

Já teve vontade de você mesma fazer seu vinho? Parece complicado, mas não é. Li uma matéria na Craft, que visito sempre online. É uma revista especializada em artigos do tipo “faça você mesma”. E lá está a matéria de Alastair Bland, um misto de ciclista, aventureiro e repórter. Ele conta as sete semanas que rodou pela Califórnia no verão do ano passado. Bicletou perto de 4.000 quilômetros e só gastou 100 dólares!
Alimentava-se basicamente do que colhia das árvores: amoras, figos, amêndoas, uvas. Lá pelas tantas, deu-lhe sede, mas sede de vinho. Ele não se apertou e fez o seu próprio vinho. Tome nota, são apenas sete simples passos para que nós mesmas possamos realizar a mesma façanha (sem precisar ralar no selim de uma bicicleta).
1º) Colha o equivalente a 5 litros de amoras. O nosso aventureiro colheu
“frutinhas vermelhas”: amoras, morangos, framboesas. Em nosso caso (ou pelo
menos no meu, aqui na Serra) é mais fácil encontrar amoras.
2º) Faça um suco
dessas amoras. O ciclista as espremeu utilizando uma meia, separando o suco da
polpa, cascas. Sem problemas, podemos fazer o mesmo (espero que o autor tenha
usado meias limpas).
3º) Transfira o suco para um grande contênier de
plástico. Experimente um desses utilizados para armazenar água ou combustível,
desde que zero quilômetro. Atenção: não encha até a boca; deixe pelo menos um
terço dele vazio, dando espaço para a fermentação.
4º) Acrescente fermento,
mas os específicos para pão (que, claro, vamos fazer como o autor da matéria:
comprar na padaria mais próxima).
5º) Deixe o suco fermentar por 7 a 10
dias. Entre o quarto e o quinto diz, o suco estará ligeiramente espumante,
carbonatado – mas já bebível. O melhor, porém, é esperar que a fermentação se
complete. Isso acontece quando você der uma olhadinha dentro do vasilhame e
verificar que parou a agitação do suco. Está tudo calmo, calmíssimo.
6º)
Decante o vinho para eliminar sedimentos. Mais uma vez, use uma meia limpa. E
coloque tudo num vasilhame também limpo. Vale, portanto, ter à mão dois grandes
vasilhames, com igual capacidade: um para a fermentação e outro para o vinho já
pronto. Se quiser, divida todo o volume por garrafas de vinho (devidamente
lavadas). Você vai precisar de seis garrafas de 750 ml e uma meia garrafa, 350
ml.
7º) Beba. Claro que o resultado é um vinho rústico, dominado por aromas
de fermento e alguns aromas de amora. Será pobre de taninos (nenhuma
adstringência, portanto) e muito suave. Volume de álcool: uns 8%, bem leve. Bom
para beber nos fins de tarde. É simples assim mesmo. Não custa tentar.
Garrafas personalizadas. Mas as garrafas vão ficar sem rótulo ou ainda com os rótulos antigos, dos vinhos de uva mesmo? Nada disso. A Craft nos ensina como fazer nossos próprios rótulos, todos a partir de rolhas que tenhamos guardado. Quem gosta de vinho tem sempre um bom estoque de rolhas em casa.
Primeiro, faça o desenho que preferir, escolhendo se vai querer utilizar uma extremidade da rolha (que se transformará num carimbo) ou uma das laterais (o rótulo terá, assim, o formato retangular).
Em seguida, consiga uma dessas facas especiais, com cabo longo e lâmina afiadíssima muito curta. São utilizadas em trabalhos manuais de marcenaria, como na montagem de aeromodelos. Pois faça o seu.
Veja só aqui. É só acompanhar pelas fotos. Não precisa saber inglês. É muito fácil e divertido.
Com o vinho de amoras e essas estampas poderemos ter um Château Marcela, um Domaine Diniz, um Finca Soninha, ou o nome que você quiser. Seus presentes de Natal, exclusivíssimos, já estão na linha de produção.
Mais sobre vinhos e trabalhos manuais? É só consultar a Soninha no soniamelier@terra.com.br

As medalhas do vinho

Já que vivemos num clima de olimpíada, não custa verificar as competições no mundo dos vinhos. A revista Decanter realiza a cada dois anos um levantamento das 50 pessoas mais influentes nesse segmento. O primeiro levantamento, em 2005, teve o chefão da Constellation Brands, Richard Sands em primeiro lugar, seguido pelo crítico Robert Parker. Pois agora temos uma segunda pesquisa. A revista consulta críticos, comerciantes, produtores, industriais – e busca saber quem tem mais influência sobre o estilo de vinhos que os consumidores estão bebendo hoje. Consulta também os seus leitores. Vamos aos “medalhistas”, segundo os leitores:
1º) Robert Parker: americano, 59, o mais famoso crítico do mundo. Continua sendo a grande influência no paladar norte-americano e na maneira como os vinhos são produzidos (alcoólicos, frutas, muito carvalho, densos etc.). Também 1º entre não leitores.
2ª) Jancis Robinson: inglesa, 57, Master of Wine, crítica, autora (entre outros livros, do “The Oxford Companion to Wine", mais conhecido como “A Bíblia”). É a pessoa com a maior influência num país onde a crítica de vinhos lidera o mundo. Foi a 9ª entre não leitores.
3º): Michel Rolland: francês, 59, enólogo, consultor e produtor de vinhos. Vilão do filme Mondovino, por diluir a individualidade, padronizar o vinho e por recomendar invariavelmente a micro-oxigenação, solução pronta para melhorar e esconder defeitos de qualquer vinho. Sua influência se estende do Pomerol, França, e chega a dezenas de países, entre eles a África do Sul, Argentina, Chile e também o Brasil (para a Miolo). Foi 8º entre não leitores.
4º) Hugh Johnson: inglês, 68, crítico, autor e consultor. Quando se começa no mundo do vinho, a primeira parada é quase sempre no “A História do Vinho” ou algum outro título com seu nome na capa, como o Atlas do Vinho ou os seus Guias anuais. Foi o 17º entre não leitores.
5º) Marchese Piero Antinori: italiano, 68, diretor da Marchese Antinori, a razão pela qual o Chianti não vem mais com aquela cobertura de palha. Os Antinori, da Toscana, fazem vinhos há 600 anos. Mas foi Piero quem transformou a qualidade do vinho italiano, o primeiro produtor sério a livrar-se das amarras das apelações e produzir os “Supertoscanos”, caríssimos, com uvas que não apenas a Sangiovese. Foi 21º entre não leitores.
A grande e boa surpresa foi a nossa Jancis Robinson ter chegado como a segunda pessoa mais influente no mundo dos vinhos. Numa próxima coluna falo dos outros cinco (não tenho espaço para 50 nomes). Aqui, o Pan também tem seus vinhos: são os exclusivos nacionais da Lídio Carraro.

9.7.07

Objetividade ou emoção?

Existe objetividade nos sistemas de pontuação de vinhos, sejam os pontos do sistema decimal, estrelas, taças etc.? Sim, objetividade, aquilo que revela a perfeição de um produto ou obra, independente do produtor ou do autor (no caso, dos vinhos).
Estamos naturalmente nos referindo ao mais conhecido de todos eles, o sistema de 100 pontos criado pelo imperador do vinho, Robert Parker Jr.
Pois o crítico e professor Tyler Colman (o Dr. Vino) descobriu que não. Descobriu que o próprio Robert Parker admite que avaliar vinhos depende da “emoção do momento”. Mais subjetivo impossível.
Numa entrevista dada há ao jornal Naples Daily News, em agosto desse ano, Parker explica:
“Para a maioria das pessoas, acho, dar 100 pontos é
praticamente estabelecer uma situação para o leitor ... que ficará desapontado
porque existe uma pessoa bem conhecida e com credibilidade dizendo que existe
perfeição em vinhos. E sempre haverá essa questão: existe um vinho
perfeito?
Sempre procurei explicar que sou uma pessoa muito apaixonada e
emocional. Acho realmente que a única diferença entre um vinho com 96, 97, 98,
99 e 100 pontos é realmente a emoção do momento”.
Naples é uma cidade da Flórida onde se realiza anualmente um conhecido festival de vinho. Leia toda a entrevista aqui. Parker admite, na entrevista, que não é nenhum ciborgue. E, portanto, parece reconhecer o relativismo sistema que ele próprio criou. E que gerou filhotes em todo o mundo. Esse mesmo mundo que agora, descobre-se, ele mesmo ameaça a colocar por terra, para gosto de uma parte importante da crítica que não admite toda essa “objetividade”.
Um dos seus braços direito, o Dr. Jay Miller, afirma a pontuação de Parker jamais será alterada. O vinho que Parker pontuou com 95 pontos hoje, será 95 em uma semana, um mês, não importa a emoção do momento.
Vinho para mim sempre foi algo capaz de despertar emoções e reações. Acho deveria ser recomendado na base de palavras sem apelar para pontos ou estrelinhas. Sei que isso não é bom para o pessoal de marketing, que vende mais vinhos apelando para esses sistemas. Mas que o sistema não é objetivo até o próprio Parker concorda.
O Dr. Vino desafiou o representante máximo do clã Parker, o Dr. Jay Miller, para um teste público. Degustar uma série de 10 vinhos às cegas num dia. E repetir o teste, com os mesmos vinhos, em outra data. “Se você conseguir reproduzir exatamente os pontos, nas duas provas, então estarei convencido da exatidão do sistema”. Será emocionante.

5.7.07

O vinho e o seu sorriso

Vinho cura cáries? Pois é, ainda na semana passada falei sobre os cuidados a tomar quanto ao noticiário sobre a saúde e as bebidas. Naquela ocasião dei como exemplo as notícias afirmando que poucos drinques por dia poderiam nos livrar da demência. Beba e não fique demente, eram os títulos. Mas os pesquisadores, da Universidade de Bari, Itália, (no artigo original, no jornal Neurology, especializado) faziam ressalvas. Não tinham dados do estilo de vidas das pessoas pesquisadas, não sabiam de suas dietas, por exemplo. Só as conheciam por relatórios médicos.
Agora, leio que para livrar-se das cáries e evitar ir ao dentista o melhor mesmo é tomar vinho. A fonte é de outra pesquisa italiana. Um grupo da Faculdade de Farmácia da Universidade de Pávia investigou os efeitos antibacterianos de vinhos brancos e tintos em nossa boca e garganta. Com ligeira vantagem para os tintos, ambas as variedades se saíram muito bem ao inibir o crescimento de várias cadeias de estreptococos (gênero de bactérias) relacionadas com a deterioração de nossos dentes e também, em muitos casos, com inflamações na garganta.
“Nossas descobertas parecem indicar que o vinho pode agir como um eficiente agente antimicrobiano contra estreptococos orais e podem ser ativos contra cáries e na prevenção de patologias do trato respiratório superior” – concluem dos pesquisadores de Pávia (referência do relatório original).
Apenas algumas das notícias ressalvavam um dado importante. Os cientistas italianos observam que seu trabalho foi realizado “in vitro”, em laboratório, sob condições controladas, em sistemas fechados, normalmente em tubos de ensaio. Nenhuma boca foi pesquisada. Vamos, portanto, esperar um pouco mais e ver o que acontece na vida real.
A síndrome do vinho tinto. As notas também não falavam nada sobre um outro problema – e grave - envolvendo vinhos e dentes. A bebida pode promover a tal da “síndrome do vinho tinto” e também o “Efeito Drácula”. Acontece normalmente com degustadores profissionais, pessoas que provam até centenas de vinhos por dia. Os dentes acabam manchados, avermelhados. A síndrome compreende o tingimento gradual de seus dentes até levar à sua destruição, pois os ácidos dos vinhos vão aos poucos corroendo o esmalte protetor. O remédio é não deixar de ir ao dentista, pelos menos uma vez a cada três meses.
O caso é que um cientista sul-africano, da Universidade Stellenbosch, ganhou o seu doutorado justamente por um trabalho demonstrando que os dentes de bebedores regulares de vinho tornam-se mais sensíveis, perdem a cor e até se esfacelam.
“Não é o vinho propriamente que estragará seus dentes. Porém, desde que o ácido está presente no álcool, ele vai corroer o esmalte, expondo a delicada dentina que ele protege”, diz o cientista sul-africano Usuf Chikte.
E o problema não se limita apenas aos degustadores profissionais. “Verificamos que quando uma pessoa bebe vinho, gasta bebendo-o pelo menos de 45 minutos a uma hora – tempo bastante para que o vinho afete seus dentes”.
O caso é que, conforme o cientista, qualquer comida ou bebida com um pH (indicação de acidez) menor do que 5,5 pode danificar nossos dentes. E o pH dos vinhos normalmente fica entre 2 e 3.
É por isso que não se recomenda escovar os dentes logo após uma degustação. “O ácido no vinho vai amolecer o esmalte nos dentes e se usamos uma escova vamos, na verdade, ajudar a retirar o esmalte”. A escova não deixa de ser um abrasivo.
O “Efeito Drácula” é quando os dentes (e língua e lábios) ficam tingidos, mas apenas temporariamente, após uma sessão de degustação. Trata-se simplesmente de uma camada de saliva misturada com vinho. Você dá um sorriso e vai parecer com qualquer vampiro do cinema. (Por falar nisso, existe até uma vinícola chamada Vampiro. Fica em Nova York e dizem que é propriedade de um círculo de desmodontídeos. Saiba mais aqui).
Para acabar com esse sorriso draculeano não precisamos de nenhum Van Helsing, o conhecido caçador de vampiros. Basta enxaguar bem a boca e esperar uma hora até que o equilíbrio de acidez natural volte ao normal. Só então escove os dentes. Provoque a salivação (com um chiclete com zero de açúcar, talvez), pois a saliva forma uma camada de glicoproteína (proteína que agrega moléculas de açúcar) que amortece os ácidos. Passe a usar uma escova de dentes mais macia. O creme dental deve ser pouco abrasivo, com um mínimo de flúor e bicarbonato. Escove mais no sentido vertical do que horizontal. Faça tudo isso, mas sem deixar de ir ao dentista regularmente.
Leia, mas de pé atrás, amiga. Não hesite em pesquisar sempre sobre todas as notícias envolvendo saúde (promovidas por vinhos, bananas etc.). Caso contrário você é quem vai ficar lelé com as conta dos médicos ou dos dentistas e acabar com um sorriso bem amarelo.
Da Adega
Para quem é de Porco
. A leitora Emília diz que gostou da matéria sobre o zodíaco chinês. E quer saber dos vinhos para quem é de Porco, mas com o elemento Terra dominante e relacionamentos bem sucedidos com Água e Metal.
Esse signo, como vimos, é de gente sociável, harmoniosa, distante de bate-bocas. Daí sempre conseguir amizades duradouras. Mas é ingênua além da conta e vítima de embrulhões.
Naquela matéria, recomendei um branco da uva Gewürtztraminer, que resulta em excelentes vinhos na Alsácia e bons na Áustria, Hungria, Nova Zelândia, nas partes frias da Califórnia e ainda aqui, em Santana do Livramento, RS, que já provei, gostei, mas esqueci o nome. Tem baixa acidez, é muito aromático e seu teor alcoólico costuma ser maior do que 13º. Parece dócil, mas é capaz de acompanhar pratos condimentados. Ou seja:enrola qualquer embrulhão. Mantenho a recomendação.
Lembro também dos Jerez e dos vinhos das Ilhas Canárias, ambos da Espanha, conhecidos pelo alto teor metálico. Os primeiros, famosos fortificados, são fáceis de encontrar (tente o “fino” Tio Pepe), o que não acontece com os segundos. Tente ainda um outro branco, mas com a uva Sauvignon Blanc, bem seco, ácido, refrescante. Pode ser francês, neozelandês, chileno ou brasileiro (como o premiado Miolo Fortaleza do Seival Sauvignon Blanc).
Toda essa lista compreende também o elemento Terra. Os vinhos citados normalmente representam bem a região de onde provêm, trazem quase sempre o cheiro de terra, a marca do “terroir” (o meio ambiente envolvendo o local onde cresce uma determinada variedade de uva; o termo deriva do francês “terre”).
Elos Rio 2007. A Lídio Carraro acaba de lançar mais um vinho da exclusiva e limitada linha comemorativa dos Jogos Pan-americanos Rio 2007. É o Elos Rio 2007, um tinto com 80% da Cabernet e 20% da Malbec, coloração vermelha e bem aromático.
O lote é limitado a apenas 3.500 garrafas. Vai virar vinho de colecionador. Mas você pode encontrá-lo já consultando o site da Lídio Carraro. Veja
aqui Tente também pelo telefone 0xx 54 3459-1222.