28.8.07

Para relaxar e gozar

Apenas comentários sobre duas notícias que li recentemente e que dizem respeito à presença dos vinhos em nosso cotidiano e ao desenvolvimento da imagem que se faz dessa bebida, como elitista, esnobe, pretensiosa, um mundo nada banal, colocado no topo do Olimpo, livre de todas as mazelas. Será?
Uma polícia de sommeliers. A Associação Italiana de Sommeliers, em Roma, acaba de diplomar 25 oficiais de elite do seu esquadrão antifraude (lá chamados de Carabinieri del Nac) como sommeliers. Não é pouca coisa.
Pois é: a Polícia Militar italiana está se equipando com pessoal especializado para combater fraudes na indústria do vinho. Ainda agora, descobriram uma quadrilha internacional que contrabandeava vinhos da Itália para a Alemanha e Dinamarca. Eles transportavam vinhos de mesa simples, baratos e sem rótulo da Puglia e do Piemonte, mas com nova identidade, travestidos de Barolos, Brunellos di Montalcino, Amarones e Chiantis, vinhos famosos e bem mais caros.
Eles acabavam em supermercados, restaurantes e até na internet. Vinhos custando menos de dois euros eram vendidos ao público por 100 euros.
A produtora de um dos vinhos falsificados, Rafaella Bologna, disse que o trabalho era até sofisticado, que só poderia ter sido realizado por alguém bem familiar com o seu vinho. “Não só os rótulos com as caixas de madeira eram boas cópias, como a própria bebida, que, apesar de não ter nada com o seu Barbera, tinha o mesmo nível alcoólico mencionado no rótulo”.
E foi a nova brigada de policiais sommeliers que ajudou a acabar com essa rede de falsificadores. Essa equipe opera em parceria com o Ministério da Agricultura e participa de investigações especiais em conjunto com o Organismo Europeu de Luta Antifraude (OLAF), como foi o caso dos vinhos vendidos na Alemanha e Dinamarca.
A missão é, no mínimo, muito difícil. As fraudes são limitadas apenas pela imaginação humana e acontecem desde que a bebida começou a ser um item importante no comércio entre os povos, desde os egípcios, fenícios, gregos, romanos etc., até hoje.
Mas as leis mudam conforme os tempos. Na Grécia antiga era impensável tomar um vinho sem diluí-lo com água. Hoje, na maioria dos países, é crime adicionar água à bebida. Acrescentar açúcar durante a fermentação melhorando a presença do álcool é outra controvérsia. Na França de Napoleão, o ministro Chaptal tornou a prática legal e respeitável (daí o termo chaptalização). Mas em regiões mais quentes, onde o fruto amadurece com boa quantidade de açúcar, esse uso é evitado ou ilegal. Era comum, no século XVIII, misturar os caros Bordeaux com vinhos mais baratos do Ródano ou do sul da França. Hoje é crime.
A revista Wine Spectator estima que 5% de todo o vinho produzido no mundo é falso. E adulterar rótulos seja talvez o crime mais comum. Os prósperos, nascentes e inexperientes mercados asiáticos, em particular o chinês, sofrem mais com essa prática. Em 2002, centenas de garrafas do Château Lafite-Rothschild, de uma safra pobre, a de 1991, receberam rótulos de uma colheita aclamada, a de 1982. E foram vendidas na China.
As autoridades italianas juram que seus policiais feitos sommeliers, mesmo disfarçados como civis, não vão beber em serviço. Será?
E aqui, como seria? A prática de “dar uma cervejinha” pro guarda seria abolida? Aquelas garrafas de cachaça sem rótulos nos pés-de-chinelo seriam apreendidas? Seriam chamados de “Milícia do Vinho”? Andariam em dupla, como faziam os “Cosme-Damião” de antanho? Um bebe e o outro é que fica tonto?
Relaxe e goze. Que tal degustar o Cabernet Seduction (Cabernet Sedução) ou o Chardonnay Foreplay (Chardonnay “Amasso” – ou “Preliminares” – não encontrei outras possibilidades para Foreplay)?
Sim, esses vinhos foram servidos, dia 15 último, a uma seleção de convidados lascivos, com um acompanhamento de queijos exóticos, trufas refinadas e frutos banhados em chocolate – tudo ao som de poesia erótica.
O local foi o mais apropriado possível: uma loja de produtos eróticos muito bem considerada em Nova York, a Babeland, que oferece, entre outros, cursos de sexo oral e uma centena de brinquedinhos eróticos de ponta (sem segundas intenções).
A Babeland, propriedade exclusiva de um grupo de mulheres, foi o lugar escolhido pela Perfect Palate New York para apresentar a sua soirée especial, a “Degustação de Vinho Erótico”. A Perfect Palate é uma empresa que planeja eventos privados envolvendo o vinho. Quer fazer uma degustação (por assim dizer) no seu jatinho? Chame-os: o serviço é completo, das taças, aos vinhos e ao serviço. Ah, esse então: eles oferecem as suas (e seus) Sexy Sommeliers, que fazem as coelhinhas do Playboy parecerem moças do colégio Sion (a ministra Marta Suplicy passou por lá – pelo Sion, bem entendido). São garotas e rapazes que qualquer crítico daria 90 pontos ou mais. A empresa diz que seu objetivo é mudar a maneira pela qual o vinho é visto, “eliminar a associação comum com a pretensiosidade”.
Sim, é verdade que a indústria do vinho sofre com essa imagem de elitismo, esnobismo – que afasta o consumidor, em particular os mais jovens. Há esse jargão estranho dos críticos, a maneira pela qual a bebida é reverenciada, a etiqueta rebuscada do serviço – uma imagem de “alta cultura” jogando o vinho para um Olimpo difícil de escalar.
Mas aí é que está: moravam no Olimpo deuses e deusas pra lá de sacanas. Eles odiavam, amavam, invejavam, guerreavam, gatunavam, fuxicavam, extrapolavam tal como os mortais. O antropomorfismo era completo.
É antiga essa história de vinho e sexo. Não estou falando do mundo clássico, das orgias dionisíacas. Temos, hoje, sites “de vinho” especializados em encontros amorosos (veja o Wine Lovers Meet), bem como revistas (como a Wine Adventure Magazine, onde colabora a Baronesa Sheri de Borchgrave, autora do autobiográfico “Uma ligação perigosa”, de corar o fauno mais libidinoso), jornais, blogs etc. A lista é grande.E o sexo é o destaque.
Sim, muitos tratam o vinho como sedução, sensualidade, romance, quando querem dizer sexo. A Perfect Palate diz que busca eliminar o nexo do vinho com esnobismo, mas, claro, sem perder de vista maiores vendas.
Se não há “pretensiosidade”, há o risco da banalização: do sexo e do vinho. E o vinho pode ser muitas coisas, menos uma bebida banal.
Só espero que os convidados no Babeland tenham evitado os brinquedinhos de origem chinesa. Quanto ao tema vinho e sexo, a alternativa é relaxar e gozar.
A amiga já fez alguma degustação erótica? Conte aqui para a Soninha, no soniamelier@terra.com.br
Da Adega
Associe-se à SBAV. Não perca essa oportunidade, amigas: quem se associar à SBAV-Rio ainda esse mês estará isenta da taxa de adesão, pagando mensalmente o valor de R$40,00, semestralmente R$ 200,00 (isenta de uma mensalidade) e anualmente R$400,00 (isenta de 2 mensalidades).
A SBAV, Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, surgiu em 1980, formada por pessoas que se reuniram com a intenção de agrupar apreciadores de vinho que quisessem aprender e aprofundar seus conhecimentos num assunto tão vasto, além de difundi-lo. A entidade cresceu e hoje existem SBAVs em São Paulo, Rio Grande do Sul (Porto Alegre, Blumenau, Serra Gaúcha, Novo Hamburgo e São Leopoldo), Pará (Belém), Ceará (Fortaleza), Minas Gerais (Belo Horizonte), Rio Grande do Norte (Natal), Brasília, Pernambuco (Recife), Amazonas (Manaus), Alagoas (Maceió) e recentemente no Rio de Janeiro.
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23.8.07

De pé atrás

Ainda outro dia li notícias afirmando que poucos drinques por dia poderiam nos livrar da demência. Beba e não fique demente, eram os títulos. Mas os pesquisadores, da Universidade de Bari, Itália, (no artigo original, no jornal Neurology, especializado) faziam ressalvas. Não tinham dados do estilo de vidas das pessoas pesquisadas, não sabiam de suas dietas, por exemplo.
Agora, leio que para nos livramos das cáries e dos dentistas o melhor mesmo é tomar vinho. A fonte é outra pesquisa italiana. Um grupo da Faculdade de Farmácia da Universidade de Pávia investigou os efeitos antibacterianos de vinhos brancos e tintos em nossa boca e garganta. Com ligeira vantagem para os tintos, ambas as variedades se saíram muito bem ao inibir o crescimento de várias cadeias de estreptococos (gênero de bactérias) relacionadas com a deterioração de nossos dentes e também, em muitos casos, com inflamações na garganta.
“Nossas descobertas parecem indicar que o vinho pode agir como um eficiente agente antimicrobiano contra estreptococos orais e podem ser ativos contra cáries e na prevenção de patologias do trato respiratório superior” – concluem dos pesquisadores de Pávia.
Apenas algumas das notícias ressalvavam um dado importante. Os cientistas italianos observam que seu trabalho foi realizado “in vitro”, em laboratório, sob condições controladas, em sistemas fechados, normalmente em tubos de ensaio.
A notas também não falavam nada sobre um outro problema envolvendo vinhos e dentes. A bebida pode promover a tal da “Síndrome do Vinho Tinto” e o “Efeito Drácula”. Acontece normalmente com degustadores profissionais, pessoas que provam até centenas de vinhos por dia. Os dentes acabam manchados, avermelhados. A síndrome compreende o tingimento gradual de seus dentes até levar à sua destruição, pois os ácidos dos vinhos vão aos poucos corroendo o esmalte protetor. O remédio é não deixar de ir ao dentista, pelos menos uma vez a cada seis meses.
O “Efeito Drácula” é quando os dentes (e língua e lábios) ficam tingidos, mas apenas temporariamente, após uma sessão de degustação. Trata-se simplesmente de uma camada de saliva misturada com vinho. Basta enxaguar bem a boca e esperar uma hora até que o equilíbrio de acidez volte ao normal. Só então escove os dentes. Provoque a salivação (com um chiclete sem açúcar, talvez), pois a saliva forma uma camada de glicoproteína (proteína que agrega moléculas de açúcar) que amortece os ácidos. Faça isso, mas também não deixe de ir ao dentista regularmente.
E não hesite em pesquisar sempre sobre todas as notícias envolvendo saúde (melhorada por vinhos, bananas etc.). Caso contrário você é quem vai ficar lelé com a conta dos médicos ou dos dentistas. Benjamin Franklin dizia que se aconselhava com vinho, mas só decidia com água. Leia, mas de pé atrás.

22.8.07

O custo da bolha

Já que o assunto é a “bolha” norte-americana, falemos dos preços dos espumantes: Por que essas bolhas são sempre mais salgadas? Em particular as dos champanhes. Claro, nem todos: os mais baratos, espumantes, são quase sempre nacionais (e dou graças a isso). Porém, um Casa Valduga Natura Gran Reserva Exellence 2002 já está na casa dos R$ 60,00. Um simples Veuve Clicquot Rosé Reserve 2000 está na casa dos R$ 300,00 (em nove vezes sem juros nas Americanas).
Será que são mais caros por uma questão de imagem? Sim, não podemos negar que os preços dessas bolhas, principalmente se forem francesas, têm um pé na reputação que conseguiram graças à sua qualidade e ao perfil de seus consumidores.
Agora, tirando a fama de lado, o que temos? Começando do alto (das garrafas), tanto os vinhos parados quanto os espumantes vêm com cápsulas, o material que cobre o “pescoço” e a rolha das garrafas. Mas há diferenças. Nuns as cápsulas não passam de uns cinco centímetros e mesmo nos vinhos mais caros usam um plástico bem fino, comum.
Já as cápsulas dos espumantes são normalmente feitas de metal impresso e colorido e ainda incluem uma “aba” (falo aba por desconhecer o termo técnico) que chega até a metade da garrafa.
Quando retiramos essas cápsulas, temos apenas uma rolha enfiada na garrafa e nada mais. Isso, nos vinhos parados. Nos espumantes, encontramos o tal colorido medalhão de metal, com o nome e logomarca da vinícola. Essa peça é coberta por uma rede metálica, obrigatória por lei em qualquer vinho que contenha grande quantidade de CO2, dióxido de carbono.
Tem mais: a rolha do vinho parado não é lá muito longa. Já no espumante, uma vez retirados o tal medalhão e a rede, temos uma rolha, um bulbo, uma senhora cabeça de alho, duas vezes o tamanho e o peso da tampa do vinho parado. E feita de várias camadas de cortiças de qualidades diferentes: a que fica em contato com o vinho é um disco de 5 a 6 mm de espessura.
Agora, chegamos às garrafas. Umas são simples, leves. Já as de espumantes são mais espessas, gordas, pesadas, por razões de segurança, pois o gás que está lá dentro estilhaçaria uma garrafa comum em três tempos.
A todos esses itens juntamos o custo da embalagem final. Garrafas mais pesadas pedem caixas mais resistentes – nada de papelão comum, mas daquele com o dobro da espessura utilizada nos vinhos parados. Logo, mais caras. Se o papelão e muitas vezes a madeira pesam mais, o seu transporte custará mais também. Assim, com o peso real mais o da sua reputação, ao nosso espumante somamos o peso dos impostos. É o governo invadindo a nossa festa. Com o dólar subindo graças à outra bolha, o leitor deve começar em brindar apenas com os nossos ótimos espumantes.

A pêra na garrafa

Leitor ganhou uma garrafa de Poire Williams, um destilado, um eau-de-vie, como é chamado na França. Notou, porém, que fabricado por G. E. Massenez. E o que faz o Williams no rótulo? Curioso, o leitor não perguntou como é que o fabricante conseguiu colocar uma pêra dentro da garrafa do poire (pêra, em francês), que é a apresentação mais chamativa desse tipo de destilado. Veja aqui..
Sim, Massenez é o nome do fabricante. Muitos outros fabricam poire. como, por exemplo, as também francesas Trimbach, Olivet e Danflou, a suíça Etter e a americana Clear Creak (cujo poire é considerado o melhor do mundo, atualmente).
Já Williams é o nome de uma variedade de pêra; é uma espécie de Cabernet Sauvignon das pêras. Descoberta originalmente em 1765 por um mestre-escola inglês, um tal de Stair, passou a ser conhecida por esse nome, pêra Stair. Mais tarde, um jardineiro chamado Williams adquiriu a propriedade de Stair e com ela as suas pereiras. E tornou essa fruta muito popular em toda a Inglaterra, quando ela passou a ser conhecida pelo seu nome, Williams.
Em 1799, James Carter importou várias pereiras Williams para os Estados Unidos, onde foram plantadas numa fazenda de Massachussetts. Mais tarde, Enoch Bartlett comprou a propriedade de Brewer e, sem saber da origem das pereiras inglesas, as propagou por todos os Estados Unidos sob o seu nome. Assim, as Williams são conhecidas como Bartlett nos Estados Unidos.
Claro que existem outras variedades. Se temos quase oito mil tipos diferentes de maçãs em todo o mundo, as pêras apresentam apenas 850 variedades. As mais conhecidas, fora as Williams (ou Bartlett), são a pêra d’água (entre nós), a japonesa, a Rocha, a Anjou e a Comice, a mais doce e suculenta variedade da fruta, com carne muito macia, muito rotunda, com o “pescoço” curtíssimo, desenvolvida por cientistas americanos no Oregon lá pelo século XIX, derivada de sementes francesas. São as mais raras e caras.
Mas para fazer um eau-de-vie de pêra só mesmo com a Williams, uma variedade muito aromática, de sumo intenso, mais ácida, de polpa rígida, com casca verde e manchas avermelhadas quando jovem e completamente dourada quando madura.
Eau-de-vie é o que chamamos aqui de aguardente, um tipo de brandy. Bem, já falamos sobre brandy aqui. Seria estritamente uma aguardente de vinho. A origem de seu nome, holandesa, diz tudo: brandwijn - vinho queimado, ou destilado. As formas mais famosas e nobres de brandy são ainda hoje o Cognac e o Armagnac, produzidos na França. Mas o termo passou a ser aplicado a qualquer destilado feito de frutas, de damasco, a ameixa, a pêra, a maçãs (das quais o Calvados, da Normandia, França, é o exemplo mais famoso), cereja (o saboroso kirshwasser, aguardente alemã), entre outras.
A França e os Estados Unidos, contudo, obrigam a que brandy seja estritamente um destilado de vinho.
Eau-de-vie vem do latim, aqua vitae, “água da vida”. A palavra whiskey tem origem no gaélico, uisge beatha, também com o mesmo significado. A mesma coisa no sueco e no norueguês (akvavit). no polonês (wōdka) e no russo vodka.
Na Idade Média atribuíam a esse destilado propriedades medicinais, até mesmo mágicas, recomendado para quase todo o tipo de mazela. A destilação foi inventada no século XVII e veio em busca de curas para pragas, como a da cólera.
A maioria desses “espíritos” não tem cor e são derivados uma ou mais frutas, fermentadas e, em seguida, destiladas. Você colhe a fruta apropriada quando bem madura, esmaga-as e deixe-as fermentar. Diferente do seu primo, o cognac, as eaux-de-vie raramente são envelhecidas em barris de madeira, como fazem com o Calvados, para aproximá-lo do sabor do cognac.
A nossa cachaça é da mesma família, só que feita a partir destilada a partir da cana-de-açúcar. Entre as destiladas com base nos resíduos da uva (da borra resultante da prensagem das uvas), temos a bagaceira portuguesa e a grappa italiana.
As águas da vida, uma arte secular, praticada em toda a Europa, especialmente na Alsácia, são fruto da necessidade. Afinal, precisamos beber qualquer coisa, seja para curar um calo no pé ou na alma. Não tem uva? Então pega a primeira fruta que encontrar! A base sempre é a mesma: o fruto maduro é fermentado, destilado e rapidamente engarrafado de modo a preservar o frescor e aroma da fruta original. Não custa pouco, não: são precisos 14 quilos de pêra para uma garrafa de 750 ml de destilado.

Mas como ela entrou na garrafa? Como diz o Eric Azimov, do New York Times, eau-de-vie seria a anti-vodka, cuja sua destilação busca remover quaisquer sabores. Já o destaque desse tipo de aguardente é preservar o máximo da fruta original. A vodka foi feita para misturar-se em vários coquetéis. Mas não existem coquetéis de eau-de-vie, ou pelo menos não deveria, segundo os puristas.
Sim, mas como é que a pêra foi parar dentro da garrafa?
Ah, pois é. Ninguém poderia imaginar passar uma pêra pelo gargalo de uma garrafa e ainda assim mantê-la intacta, integral, não é?
Na verdade, a pêra cresce na garrafa. É uma prática tradicional na Alsácia, onde o destilado da fruta é feito há séculos.
Parece simples, mas dá trabalho. Primeiro, colocar as garrafas nas árvores, em maio quando o pequeno fruto da pereira ainda passa pelo gargalo da garrafa. E dentro dela vai crescer durante todo o verão (no hemisfério norte). Em fins de agosto, será colhido (a pêra já crescida dentro da garrafa). Quando a eau-de-vie estiver pronta, colocam o líquido na garrafa e a vedam. Pronto. Veja aqui.
Da Adega
A festa da Thalita
. Ela quer dar uma senhora festa para 210 pessoas e dispõe de R$ 15 mil. Pergunta se dá para fazer a festa.
Usei um site que há muito recomendei, o
Evite.com.
Estimei uma festa de 6 horas de duração, onde de bebidas alcoólicas fossem servidos uísque, cerveja e vinho, na seguinte medida: 42 pessoas (2% do total) seriam bebedores pesados; 147 (70%) bebedores medianos e 59(28%) bebedores leves.
O calculador do site que, para as bebidas escolhidas, eu iria precisar de:
559 latinhas de cerveja; 112 garrafas de vinho (750 ml) e 28 garrafas (litro) de uísque.
Utilizei preços de supermercados para produtos medianos e considerei também uma negociação para volumes: R$ 2,00 para a lata de cerveja, R$ 40,00 para a garrafa de vinho (tanto para o tinto quanto para o branco) e R$ 45,00 para o litro de uísque.
Assim, meus totais foram de R$ 1.118,00 para cerveja, R$ 4.480,00 para vinho e R$ 1,80,00 para uísque.
Total de bebidas: R$ 6.870,00
Ainda restariam R$ 8.130,00 para alimentação (sanduíches, tira-gostos, canapés etc.), água, sucos e refrigerantes, aluguel de salão e algum entretenimento (música mecânica, DJ, CDs).
Portanto, Thalita, acho que dá para dar uma boa festa.
Vinhos da Casa Marin. A importadora Vinea está trazendo para o Brasil vinhos da Vinícola Casa Marin (quatro de seus vinhos receberam acima de 90 pontos de Robert Parker, o imperador dos críticos).
Aqui, a Marin é representada pela Vinea Store, onde você vai encontrar o Casa Marin Sauvignon Blanc Cipreses 2006 e o Marin Pinot Noir Lo Abarca 2004 (ambos com 92 pontos); o Sauvignon Blanc Laurel 2005 (91 pontos), o Pinot Noir Litoral 2004 (90 pontos) e o Casa Marin Gewürztraminer 2005, (89 pontos).

16.8.07

Sabe com quem está falando?

Imagine que a um cliente de um restaurante serviram um vinho tinto chamado Sonia Melier – Bordeaux, França. Na mesa ao lado ofereceram o mesmo vinho, mas com o rótulo ligeiramente diferente. Era o Sonia Melier, Vale do São Francisco, Brasil. O Cliente que recebeu o "Bordeaux" elogiou tanto o vinho quanto o prato escolhido. Na outra mesa, o resultado foi negativo.
Esse foi, em resumo, o resultado de um teste realizado por pesquisadores da Universidade de Cornell, Nova York, liderados pelo professor Brian Wansink. Eles selecionaram um restaurante de uma cidadezinha da distante Illinois. Todos os clientes receberam uma taça de Cabernet Sauvignon como oferta da casa para acompanhar um mesmo prato de comida francesa.
Uma garrafa de vinho foi colocada em cada mesa. Em metade das mesas, as garrafas traziam um rótulo informando que se tratava de um Cabernet Sauvignon da Vinícola Noah, Califórnia. Na outra metade, as garrafas tinham dizeres quase idênticos. A vinícola era a mesma Noah, só que de Dakota do Norte (estado do meio-oeste, fronteira com o Canadá). Ninguém sabia que nas duas metades o vinho era o mesmo: um baratíssimo Charles Shaw (o produtor que criou o “Two Buck Chuck”, o vinho de dois dólares a garrafa, um fenômeno de vendas no país).
Aqueles que pensavam ter bebido um vinho da Califórnia (o maior e mais famoso produtor de vinhos do país) avaliaram muito bem o vinho e o prato que comeram (e chegaram a comer mais 11% do que a outra metade), além de indicarem que voltariam ao restaurante.
Era de se esperar que a outra metade não se saísse tão bem. As pessoas não acreditavam que os vinhos de Dakota do Norte fossem lá essas coisas. “Os rótulos dos vinhos podem tanto iluminar como sombrear tanto um vinho quanto uma refeição”, explicou o professor Brian Wansink, diretor do Laboratório de Alimentos de Cornell, com foco na psicologia por trás do que comemos e a freqüência com que nos alimentamos. É também autor de sucesso, como o “Por que comemos tanto?” (ISBN: 8535221956, Elsevier Editora).
Para confirmar esse teste, uma pesquisa similar foi feita entre 49 estudantes de grau acadêmico, durante uma degustação de queijos e vinhos. Novamente, aqueles que receberam vinho indicando a Califórnia como origem qualificaram bem melhor a bebida e os queijos.
Essa é a “carteirada” no mundo dos vinhos, o famoso “Você sabe com quem está falando?” Os rótulos influenciam tanto quanto preços: vinho quanto mais caro melhor é o mito comum. No caso desse teste, não. A origem do vinho foi o fator decisivo.
Tão decisivo, tão forte que até transpirou para a comida. Incrível. Será que sexo depois do vinho seria igualmente bem avaliado?

14.8.07

Imagine um vinho

Se em vez de números, estrelas, palavras estruturadas a partir de um dialeto particular, a linguagem dos críticos, dos especialistas. Se em vez de tudo isso nos mostrassem apenas uma imagem, como a do girassol num novo blog? Pois agora, um pessoal do sul da Califórnia criou uma revolucionária maneira de comentar vinhos.
Conheça um dos mais intrigantes blogs sobre vinhos, o Château Petrograsm, um jeito impressionista e inédito de abordar a bebida.
Podemos olhar para a foto do girassol acima e imaginar como foi avaliado o vinho a que está associada, no caso, o Summerland Chardonnay 2005, da Vinícola Bien Nacido. Uma representação de sua cor, do seu frescor, capaz de nos dar prazer num dia de muito sol e calor, suas frutas maduras, uma presença marcante, a lembrança que deixará em nosso paladar, sua forma solar revelando todo o seu alcance e potência.
Achava que já tinha visto de tudo em termos de avaliações, das pioneiras estrelas do Guia Michelin, até as escalas numéricas, de um a cinco, de um a 10, a 20, até 100; polegares para cima ou para baixo, inclusive em forma poética, como faz Lane Steinberg e seus haiku.
Recentemente, a Michelle Lentz, do seu blog Wine-Girl lançou uma escala com as carinhas (ou “emoções”, como quer o Messenger), que vai da mais sorridente, passa pelas sérias ou neutras até chegar à mais triste. Veja aqui.
Tanto o Lane Steinberg quanto a Michelle se recusaram a juntar vinhos com números, optaram pela poesia num caso ou pela imagem caricatural e bem humorada em outro.
O fundador do Château Petrograsm, Benjamim Saltzman, diz que seu objetivo é relaxar os padrões das resenhas de vinho e equilibrar pragmatismo com diversão de modo a que mais pessoas possam desfrutar dos prazeres de beber (vinho) e dividir essa experiência.
“Quando tentamos descrever um vinho encontramos problemas. Primeiro, como se parece o vinho? É certo, eficiente dizermos que o vinho possui uma cor que lembra a de um prego enferrujado? Ou devemos simplesmente reproduzir essa cor (que certamente vai variar, dependendo da luz sob a qual o vinho será consumido)?
“Não importa quanto de esforço utilizamos para tentar reproduzir um vinho (seja por palavras ou por alguma forma de arte), sempre faltará alguma coisa. Por isso, nada substitui uma prova de vinho. É isso que torna falidas as tradicionais resenhas e, ao mesmo tempo, faz do vinho um grande prazer”.
Falidas, falsamente esnobes (esnobe de verdade foi Oscar Wilde, um autor genial), afastando o leitor dos verdadeiros prazeres do vinho. Vejam só um exemplo, enviado pelo amigo Roldão Simas. E um tópico sobre o tinto alentejano Vinhas da Ira 2004, da Herdade da Mongorra:
Completamente opaco no centro, com curtíssima auréola de tons rubis/violeta, quase imperceptível. Nariz em evolução, de média a elevada intensidade, com um aroma super definido: feijão verde recém cozido. Abanando o copo aparece alguma cera e suave químico. Muito original e ganha pontos por isso. Boca de acidez média a elevada, a dar um toque de classe ao conjunto. Muito encorpado, mas curiosamente mais firme que rechonchudo. Taninos em elevada presença, algo incisivos, Fruta suficiente, em média+ quantidade, do tipo silvestre, muito bem combinada com o interessante sabor de feijão verde que também aparece na boca. Algum eucalipto e chocolate preto. Final de média+ persistência, com personalidade original, pecando apenas pela sensação de alguma secura devido à supremacia dos taninos.
(Publicado na revista portuguesa
Blue Wine, de 9 de fevereiro último).
A revista diz, no seu site que “pretende juntar à sua volta todos aqueles que sintam paixão pelo vinho e que queiram viver melhor através da partilha de bons momentos”.
Sim, o vinho é isso: paixão, viver melhor, partilha de bons momentos.
Mas... opaco no centro, com curtíssima auréola...nariz em evolução, feijão verde recém cozido, alguma cera, boca de acidez média a elevada, mais firme que rechonchudo...?
Isso me afasta da idéia de um gole relaxado e prazeroso, me distancia do Vinhas da Ira.
E isso é tudo o que o Château Petrograsm não faz. Ele avalia e descreve vinhos afastando-se dos métodos tradicionais de resenha (como é o exemplo do Blue Wine acima).
O pessoal do site utiliza cores, desenhos, fotografias e outras mídias visuais de modo a transmitir tanto os componentes intrínsecos de um vinho em particular além de uma impressão geral do mesmo. “Vinho é arte, bebê-lo deveria sê-lo também”, afirma seu fundador.
“Se vinho é uma forma de arte, então falar sobre ele deveria ser como descrever uma pintura. Logo, pode parecer duvidoso submeter uma pintura como resenha de outra pintura”.
Porém, explica Benjamin Saltzman, “desde que o prazer que temos pelo vinho retrata claramente uma experiência subjetiva, ela não pode ser descrita apenas por palavras. Usando arte abstrata de transmitir tanto a experiência de beber quanto a impressão de um vinho podemos ir além dos limites das palavras. E se um vinho cheira como mel, então precisamos fazer com que esse mel marque a nossa imaginação e, portanto, a imagem utilizada”.
No Château Petrograsm as palavras mais importantes utilizadas são aquelas inscritas nos rótulos das garrafas resenhadas, não importa de que países se originam. Assim, eles conseguem vencer até a barreira dos idiomas, meramente utilizando imagens.
Posso concordar que esse modo “impressionista” de resenhar vinhos pode não ser tão preciso quanto uma boa descrição escrita. Contudo, como já argumentou Saltzman, a palavra escrita não consegue descrever completamente o vinho em função da natureza subjetiva que vinho tem sobre cada um de nós.
Seria como uma recriação do famoso Teste de Roschard, onde, no caso, somos levadas a interpretar imagens que, sabemos de antemão, podem nos levar a prazeres ou decepções escondidas em algumas garrafas.
É um trabalho de desconstrução, um divertido exercício intelectual, quando paramos para considerar as implicações e significados das imagens sem qualquer ajuda de palavras, de legendas.
Um bom exercício para nossas mentes e melhor ainda para nossos espíritos.
Faça um teste agora, amiga: o que está pensando do girassol lá de cima. Ou melhor, do Summerland Chardonnay 2005?
Da Adega
Mundvs Malbec 2006. Não é da Argentina que vem o melhor Malbec? Pois a Casa Valduga criou um Malbec, sob controle e supervisão do enólogo da família, João Valduga, na localidade de Lujan de Cuyo, Mendoza, um dos melhores redutos dessa variedade. E, assim, o Mundvs Malbec 2006 já está à venda no Brasil.
João Valduga adianta que o vinho apresenta um bouquet elegante, lembrando especiarias e intensas notas de frutos vermelhos, com destaque para ameixas e amoras, e toques de coco e frutas vermelhas, corpo robusto, com acidez equilibrada, taninos maduros e intensa persistência gustativa.

10.8.07

Chutando o balde

O crítico de vinhos do New York Times, Eric Asimov comenta sobre a pizza que comeu num restaurante da cidade, Una Pizza Napoletana, que só serve quatro tipos de pizza e vinhos, mas, como napolitano, do sul da Itália. Ele experimentou um Aglianico del Taburno (a aglianico é uva comum nessa região). Foi servido num copo de refrigerante, cheio quase que até a boca. E achou a experiência das mais perfeitas em termos de combinação vinho-comida.
O esnobe torceria o nariz para tomar vinho num copo que não fosse uma taça de cristal Riedel (pelo menos). Para muita gente, o mundo dos vinhos é mais feito mais de negativos do que de positivos. Não pode isso, não pode aquilo, a etiqueta torce o nariz para um monte de coisas, é um tal de Tsk, Tsk, Tsk. A vontade que dá é de chutar o balde. Vamos lá?
Use o copo correto. Faça como o Eric Asimov e o Anthony Mangieri (o dono do Napoletana) aí em cima. Serve qualquer copo, serve até beber direto da garrafa (numa emergência, quem sabe). A própria Riedel não respeitou tradições e lançou com sucesso a taça sem haste (chamada O glass), muito prática. Então, não tem taça, vá de copo de geléia mesmo (O glass é na verdade um copo, mas de cristal). O que interessa mesmo é o que está no copo.
Nada de pedra de gelo. Claro: não se deve diluir o vinho. Isso se ele já estiver na temperatura correta ou se dispormos de uns vinte minutos para ele gele no balde ou na geladeira. Mas se ele vier para mesa morno e quisermos algo refrescante naquele momento? A solução é colocar uma pedra de gelo na taça, girá-la algumas vezes, retirar o que sobrou da pedra e pronto. Se os vinicultores adicionam água no vinho, você também pode, não é? Harvey Steiman, editor da Wine Spectator, e Jennifer Rosen, a crítica mais iconoclasta que conheço, também. Eles é que me deram as dicas para esses chutes no balde. Não perdem tempo e pedem logo um copo com gelo na mesa. Tomar vinho morno nem pensar!
Gelados só os brancos. A propósito de temperaturas: os tintos devem ser servidos à temperatura ambiente, não é? Claro, todas moramos num gelado castelo dinamarquês com umidade escorrendo pelas paredes. O caso é que o calor vai destacar o álcool. Os tintos encorpados, com bons taninos, são bebíveis lá pelos seus 18º C. Os tintos mais leves e os rosados devem ser servidos ainda mais frios, a partir dos 16º C em diante (os rosés devem ter a mesma temperatura dos brancos). Afinal, como pode uma bebida morna ser refrescante com uma comida quente? Nos restaurantes, os vinhos ficam guardados, na maioria das vezes, em prateleiras lá no alto, perto do teto ou da cozinha: nos locais mais quentes. Assim, não dispense o uso de um balde com gelo.
Não dilua o vinho. Veja só: combinamos bourbon e uísque com água, não é? Uma gotinha d’água abre os sabores desses destilados. O mesmo acontece num tinto encorpado. Experimente.
Microondas? Pois é. Um vinho gelado demais, com taninos muito evidentes ou escondendo sabores de frutas ficam logo redondos depois de seis ou sete segundos num microondas. (Não esqueça de retirar a cápsula protetora da rolha; ou mesmo substituir tampas metálicas por rolha: no microondas nada de metal).
Nunca congele o vinho. Pois, sim. Cubos de gelo feitos a partir sobras de vinhos são ótimos para usar em saladas. O mesmo com espumante congelado. A bebida vai ficar como neve derretida dentro da garrafa, na verdade, uma saborosa raspa de gelo, ótima para ser usada em pratos frios, um toque muito especial e elegante.
Quanto mais velho, melhor. Quer dizer: você compra o vinho e o deixa na sua adega (ou debaixo da escada) por cinco, dois anos? Ou por cinco minutos? Pois saiba que 95% de todos os vinhos produzidos no mundo são feitos para serem bebidos assim que chegam em casa. Não perca tempo, amiga.
Gire a taça gentilmente. Mas se, de repente, você erra a mão, e vai vinho para tudo quanto é lado. Eu não penso duas vezes: tampo a boca da taça com a palma da mão e giro, giro bem. E aí é que vou sentir os aromas. Se ainda não se liberaram, repito a operação. Não tem vinho que não “fale” com você depois desse “susto”.
Nunca misture vinhos. Em Bordeaux, França, os vinhos por lei são misturados: Cabernet Sauvignon com Merlot, com Cabernet Franc, com Petit Verdot, com Malbec, com Carmenère. Os blends mais comuns hoje são os da Cabernet com Merlot e com a Cabernet Franc. Ora, se temos na mesa, um tinto áspero e outro mais suave, vale misturá-los para ver como é que fica. Brinque de cientista. Descubra sabores novos e entenda melhor o trabalho dos vinicultores.
Não bagunce o vinho. Aprendi sobre acidez lendo livros da famosa Jancis Robinson. Numa limonada sem açúcar, você vai ajustando a acidez colocando açúcar. Faça o mesmo com seu vinho. Se achar que um branco poderia ficar melhor mais ácido, coloque umas gotinhas de limão. Se estiver pra lá de ácido, coloque um tantinho de açúcar. Nada de desistir da taça à sua frente.
Vinho barato é vinho ordinário. Os esnobes garantem isso: vinho bom é caro. Verdade? Alguns vinhos são caros ora porque são escassos, ora porque o famoso crítico deu-lhe mais de 90 pontos, ora porque ficaram na moda. Às vezes, a razão está na longínqua região onde foram produzidos ou do alto custo da mão-de-obra. Mas hoje em dia, no mesmo instante em que um produtor fica na moda e encarece seu vinho, aparece outro com um vinho fabuloso bem baratinho. O segredo é procurar, buscar dicas com pessoal informado, inclusive na sua loja de confiança.
Fuja da caixa. Besteira: os vinhos em caixa devem ser apreciados. As caixas (ou “bag-in-box”, com um saco plástico lá dentro à prova de oxigênio) são hoje uma das mais confiáveis maneiras de conservar vinhos. E os produtores estão cada vez mais utilizando vinhos de boa qualidade. As versões nacionais são ótimas: o Marco Luigi Bag-in-box Tributo Cabernet Sauvignon vem numa caixa de 5 litros. A Valduga também (linha Alto Vale, para tintos e brancos). Idem, a Amadeu, a Aurora, a Dal Pizzol, a Garibaldi, entre outras. Você não sabe como é prático, econômico, seguro. E igualmente delicioso. Conserva o vinho durante meses e inalterado da primeira à última gota.
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8.8.07

Tamanho é documento?

Por que as caixas de vinho têm 12 garrafas? Qual tipo de vinho engorda mais: o tinto ou o branco? Por que encontramos rolhas de diferentes tamanhos? São as perguntas da semana, todas, de certo modo, relativas a tamanhos, a segunda, então, de particular importância para nós, pois diz respeito às calorias, ao tamanho de nossas cinturinhas. Olha, seria mais fácil responder o porquê dos 18 buracos dos campos oficiais de golfe.
Principalmente a primeira pergunta. A resposta mais simples seria: não sei. Não encontrei nenhuma referência, nada em enciclopédias de vinho, nem mesmo no Google e nem na “Bíblia”, o Oxford Companion to Wine, da Jancis Robinson, que tanto cito aqui. Apenas uma rápida dica antiga do Robin Garr. O jeito é improvisar a partir dessa dica.
As caixas com 12 garrafas. Elas teriam essa apresentação por uma questão de tradição, baseada no tamanho e formato da caixa, que é razoavelmente fácil para qualquer adulto levantar e guardar em algum canto com segurança. Pensando bem, o peso das garrafas de vinho varia um pouco, mas por uma verificação caseira podemos dizer que uma garrafa típica cheia possa pesar até 1,4 quilos. Assim, uma caixa de 12 chega a pesar quase 17 quilos. Não é tão fácil assim de carregá-la.
Mas como seria uma caixa com 11 garrafas ou com 13? Sobrariam espaços nas caixas, haveria desordem na arrumação das garrafas.
Uma caixa com 9 garrafas arrumadas em 3 fileiras de 3 garrafas ficaria muito pequena. Uma de 16 garrafas (4 fileiras de quatro garrafas) ficaria muito mais pesada. A de 10 garrafas (2 fileiras de 5) resultaria numa caixa longa e estreita demais: onde arrumar um canto para ela? Mas o citado Robin Garr já viu dessas caixas. Pior ainda seria uma caixa com 14 garrafas (duas fileiras de 7). Mas já vi ocasionalmente caixas de 15 garrafas (3 fileiras de 5).
E assim voltamos ao número mágico de 12, em 3 filas de 4 garrafas: a alternativa mais razoável.
Qual o mais calórico: o vinho tinto ou o branco? Nenhum dos dois, segundo o médico Geoff Kalish (o primeiro colunista sobre vinho e saúde, com uma coluna na revista Wine Spectator, onde debutou em 1980).
“A cor do vinho não faz diferença em termos de calorias”. O que pesa é o nível alcoólico. Uma taça com 120 ml de vinho com 12% de álcool terá umas 120 calorias. Uma taça com o mesmo volume de vinho (seja lá qual for a sua cor) mas com 14% terá entre 140 e 160 calorias. Com 16% de álcool ficamos entre 160 e 190 calorias. Nossa!
Para o especialista, o açúcar residual no vinho (nenhum vinho é totalmente seco: há sempre uma sobra de açúcar) não influencia muito. O problema é com o álcool, que proporciona mais calorias por grama do que o açúcar. Prosecco, Champagne Brut são exemplos de vinhos de baixa caloria.
Seria o caso, então, de eliminarmos os vinhos de nossa dieta para reduzirmos calorias? O médico afirma que não. “Pesquisas já demonstraram que uma pequena quantidade de vinho numa dieta para perda de peso pode na verdade agir como um supressor do apetite, tanto pelo nível alcoólico quanto pela quantidade de pectinas”. (A pectina é uma substância encontrada em frutos e vegetais e muito utilizada como espessante pela indústria alimentícia, em particular, nas gelatinas).
“Mas esse efeito supressor não acontece em tintos mais jovens e com muitos taninos”. O Dr. Geoff Kalish explica que os taninos são benéficos à nossa saúde, mas não atuam como supressores do apetite. (Essa entrevista apanhei em outro blogueiro, também muito citado aqui: o Dr. Vino).
O tamanho das rolhas. Sim, temos rolhas de vários tamanhos. E isso quer dizer o quê? Essas variações podem indicar diferenças na qualidade dos vinhos. É claro que o leitor já topou ora com rolhas curtas, ora mais longas e por vezes as que ficam na entre umas e outras.
Talvez a primeira coisa que notamos ao retirar uma rolha seja o seu tamanho. E daí: sejam compridas ou curtas cumprirão sempre a sua missão de impedir a entrada do ar, certo?
Em princípio, sim. Mas pelo tamanho da rolha dá para deduzirmos com alguma segurança o que o vinicultor tinha em mente ao escolher uma determinada dimensão de rolha para tampar o vinho que você acabou de abrir. Se a rolha é curta, o provável é que o vinho que protege foi feito para ser consumido imediatamente. Nada de ficar “envelhecendo” na adega.
O vinho faz contato com a superfície inferior da rolha, se devidamente armazenado na horizontal, de modo a que a cortiça não se resseque, deixe entrar o ar e facilitar a saída do líquido. E essa é outra observação a fazer: se essa ponta está seca é um sinal de que o vinho foi guardado na vertical. Um mau sinal.
Mas esse contato vai aos poucos como que corroendo, degradando a base da rolha. E se ela for curta poderá facilitar a entrada do ar mais rapidamente, inutilizando o vinho. Podemos verificar esse tipo de dano ao retirá-la: sua superfície costuma estar um tanto esfacelada.
Ocorre que as rolhas curtas costumam ser mais ordinárias, não apresentando a densidade das mais longas: e esse é outro indício das intenções do produtor ao escolher que rolha utilizar.
Fica claro que se a rolha é mais longa (e densa) o produtor antecipa um vinho de maior qualidade, feito para consumo em alguns meses, talvez alguns anos. Alguns contra-rótulos costumam dar essa informação. Com a rolha mais longa o processo de desgaste vai continuar existindo, só que resistirá um tempo bem maior e, com sua maior densidade, as possibilidades de danos serão bem menores.
Contudo, como sempre, pode haver algum truque nessa história. Não necessariamente uma tramóia contra o consumidor. Alguns produtores se utilizam de rolhas bem longas para efeito de imagem, um “exibicionismo”, como ensina Jancis Robinson no seu Oxford Companion to Wine. É o caso, por exemplo, do Barolo do famoso Gaja, o mais renomado produtor de vinhos de qualidade do Piemonte. Enquanto as rolhas curtas têm em média 45 mm e as longas chegam aos 52 mm, as dele são exclusivas e chegam aos 60 mm. Haja saca-rolhas (e força no braço)!
Um terceiro tipo de observação é dado pelo que vem impresso nas rolhas: ora é algo do tipo “Engarrafado na propriedade”, apenas a safra, um logotipo, ditos de humor. Ou nada: outro mau indício.
E, de volta à questão do tamanho: você já deve saber que 80% dos vinhos foram feitos para consumo rápido. E grande parte deles é deliciosa. É quando tamanho não é documento. Beba logo o seu vinho.Em que ocasiões, amigas, tamanho é documento? Vale qualquer resposta.