30.10.07

Cápsulas

1. Essa é a cápsula mesmo. Elas ainda continuam populares entre produtores e consumidores. Você sabe: são esses invólucros cobrindo a tampa e o pescoço da garrafa. Elas emprestam às garrafas um acabamento limpo, ajudam a identificar o vinho e podem também revelar se a bebida foi adulterada.
Existem desde o século XVII, feitas de uma lâmina de chumbo, uma escolha fácil, pois praticamente indestrutível, maleável, fácil de amoldar-se às garrafas e de remover. Foram criadas para proteger a rolha contra insetos e ratos que infestavam as antigas adegas. Falam também que protegiam o consumidor de fraudes: nas tavernas, retiravam as rolhas, batizavam os vinhos e os rearrolhavam em seguida. Isso é feito até hoje, quase sempre fora dos restaurantes.
A partir de 1990, a lâminas de chumbo foram proibidas na Europa e nos Estados Unidos. Quem não limpava bem a boca garrafa acabava consumindo chumbo, com resultados nocivos para a saúde. Além disso, esse material representa um lixo tóxico, nocivo para o solo e para o que nele se cultiva.
Até hoje, temos esse ritual da retirada das cápsulas: o garçom retira a tampa da cápsula com a ajuda de uma pequena lâmina embutida no saca-rolha. Com ela, em seguida, raspa a boca da garrafa e a limpa finalmente com um guardanapo.
Mas qual seria a finalidade das cápsulas hoje? Não impedem a entrada do ar nas garrafas (algumas têm até pequenos orifícios para a passagem do ar), nem que a bebida vaze. Sua função acaba sendo apenas decorativa. Sem ela, muitos acham que a garrafa vai parecer “nua”, inacabada. Outros a julgam necessária para evitar mãos sujas ou contaminadas nas rolhas.
Assim, em lugar do chumbo tivemos folha de flandres (folha de ferro laminado revestido de estanho) e plástico (raios, vez por outra me corto com as pontas do PVC). Noto que cada vez mais utilizam um selo de papel ou de cera sobre a rolha – que, assim, é deixada à mostra para nosso exame. É uma boa solução para reduzir custos de produção - o que igualmente nos beneficiaria, consumidoras, e principalmente, o meio ambiente.
Aliás, as tampas de rosca, rolhas de plástico e as cápsulas representam um sério dano ao meio ambiente – são um lixo difícil de ser absorvido. As garrafas ainda podem ser reutilizadas, recicladas – com novos custos e mais emissão de gases.
Um crítico sugeriu a abolição de garrafas, tampas de qualquer tipo e de cápsulas. O vinho seria oferecido em pequenos barris de aço inoxidável, o que baratearia o custo da bebida e pouparia substancialmente o meio ambiente. Traríamos o vasilhame para casa e beberíamos o vinho direto da torneirinha ou o passaríamos para garrafas esterilizadas ou decantadores. Já pensaram, o clima de confraternização em volta do barril?
O crítico sonhou, é certo. Acho que os marqueteiros do vinho não topariam. Mas alguma coisa terá de ser feita com relação a materiais como as cápsulas, mais um pesadelo para o planeta.
2. Essa é uma cápsula informativa. A grande especialista inglesa Jancis Robinson, Master of Wine, comandou dia 25 de outubro uma grande degustação em São Paulo, onde destacou o vinícola Salton como a fabricante do melhor vinho brasileiro ao provar do Salton Talento 2004. Estamos no “caminho certo”, afirmou a crítica.

Uma questão de idade

Um leitor viu na lista de vinhos do famoso Amadeus, restaurante português com uma medalha do Guia Michelin, o vinho Luis Pato Vinhas Velhas 1999. Ele não se interessou pelo, mas ficou intrigado com a expressão “Vinhas Velhas”.
Vinhas velhas, vielles vignes, alte Reben, old vines – são indicativos de que vinhos produzidos a partir de, óbvio, vinhas velhas, a partir do conceito de que possuem uma qualidade extra, de que produzem vinhos melhores. Essas videiras anciãs são facilmente reconhecíveis: muito nodosas, de troncos grossos e raízes longuíssimas.
O fato é que não existem nos Estados Unidos, Europa e, acho eu, em nenhuma outra parte do mundo, regras relativas a essa expressão. Se o vinicultor tem uma vinha com mais de 15, 20, 30 anos pode colocar esse termo no rótulo.
E porque ele faria isso? A lógica do produtor seria essa: uma vinha velha produz menos quantidade de frutos e daí resultar num vinho de maior qualidade (“menos é mais”). Isso faz algum sentido já que muita quantidade de um mesmo vinho pode resultar em sabores difusos. E uma concentração maior de sabores normalmente se origina de uma produção menor e dar, no fim das contas, um vinho mais saboroso.
O racional do produtor é o de que, na medida em que envelhecem, as raízes da videira penetram cada vez mais fundo no solo. Quando jovens, essas raízes estão mais próximas da superfície e podem ser rapidamente afetadas por doenças, fertilizantes. Seus frutos dificilmente resultarão em vinhos de qualidade. Se o solo próximo à superfície não fornece nutrientes suficientes, as raízes vão procurá-los mais abaixo, muitas vezes descobrindo fontes importantes para melhorar o sabor do fruto.
O produtor acredita nisso e imediatamente adorna o rótulo com essa informação, tal como fez o Luis Pato descoberto pelo leitor.
A realidade é a de que não existem quaisquer provas científicas de que vinhas mais velhas produzem frutos melhores e, por isso, vinhos melhores.
Essa linha de argumentação nos leva a pensar que quanto menor a produção, melhor o fruto e melhor o vinho. Acontece que, quando menininha, uma videira foi podada de modo a produzir menos frutos, fazer com que a árvore se concentrasse nos poucos frutos restantes e assim eles ficassem mais densos, mais saborosos. Logo, o que está acontecendo agora com um vinha velha já acontecia há 50, 80 anos. Não parece confuso?
A idéia de que velhas vinhas produzem um vinho melhor é cultuada na legislação das Appellation Contrôlée, o sistema francês que controla todo o plantio e produção de vinhos em regiões determinadas. A legislação de lá exclui a produção das vinhas com menos de três anos. Quando ainda muito jovens, essas vinhas serão utilizadas apenas para um simples vinho de mesa.
Como uma regra geral, o produtor do Velho do Novo Mundo acha que as nossas vinhas velhas oferecem a mesma qualidade do que as jovens videiras, respeitando-se que tenham ambas os mesmos cuidados no controle de qualidade.
Já do produtor do Velho Mundo, cujos vinhedos estão com a sua família há gerações, vamos ouvir que as velhas vinhas oferecem mais concentração e complexidade em seus vinhos, desde que, como vimos, sua produção seja menor e que tenham um sistema de raízes tão profundo que conseguem buscar o melhor daquele solo.
Uma vez que uma vinha produza de uma a três safras normais e tenha entre e seis anos de idade, ocupe o seu lugar acima do solo, o seu rendimento anual se vai se estabilizar (só se alterando se houver alguma grande mudança nas condições de cultivo, plantio ou de políticas por parte do vinicultor). Uma vez que essa vinha esteja devidamente protegida de estresses, pestes, doenças, de muita ou pouca irrigação e nutrida com os minerais suficientes, ela pode ter vida muito longa.
O vigor a produção de muitos vinhedos comerciais começam a declinar depois de 20 anos. E lá pelos seus 50 anos muitos deles produzem tão pouco que normalmente são considerados antieconômicos.
Assim, o curso normal das coisas é o das vinhas perderem vigor à medida que envelhecem, tal como nós. Mas em razão de sua pouca produção, com poucas uvas e folhas expostas ao sol, temos indiretamente uma explicação para o efeito da idade da vinha sobre a qualidade do vinho.
Quando uma vinha pode ser considerada velha? Muitos produtores afirmam que é a partir dos 35 anos. A mais antiga vinícola familiar da Austrália, a Yalumba, no Vale Barossa, quer codificar o termo “Velhas Vinhas” nos rótulos. Para ela, só as vinhas que tenham pelo menos 35 anos podem receber esse galardão.
Há um mérito nisso, pois como não existem padrões para o uso dessa expressão, os produtores podem promover essas vinhas de modo arbitrário e potencialmente confuso. Ele propõe um critério, onde define o que é velho (35 anos), indica o que é “antigo” (ou “muito velho”: 70 anos) e o que é “centenário” (ou “excepcionalmente velho”): 100 anos.
Quando a leitora estiver fazendo turismo pela Inglaterra, vale visitar a famosa videira do Hampton Court Palace, perto de Londres. É o maior palácio da Inglaterra, feito há 400 anos e lá residiram vários Tudors. A videira foi plantada em 1768, tem ramos de mais de 30 metros de comprimento, um tronco de 3 metros de circunferência, e produz 300 quilos de uvas tintas, doces, a cada ano. Estando lá, compre um cacho delas – são as mesmas uvas que serviam à realeza britânica do século XVIII. Com 239 anos, é a maior e mais antiga videira do mundo.
Se quiser perguntar sobre outras idades (que não seja a nossa) é só clicar aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br
Da Adega.
Hora de ajudar
. A Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, capítulo Rio de Janeiro está em busca de vinhos e afins para serem leiloados em benefício da Casa Maria de Magdala, (de Niterói), que atende a crianças e adultos portadores do vírus HIV. O evento será realizado dia 28 de novembro na sede da SBAV-Rio (Av. Nestor Moreira, 11, Botafogo).
O leilão será conduzido pelo vice-presidente da entidade, Marcelo Copello. Os interessados em contribuir para o leilão, através de vinhos, acessórios e afins, devem entrar em contato com a SBAV-Rio através do telefone: (21) 2543-2382 (13h às 18h) ou pelos e-mails: mcopello@mardevinho.com.br / secretaria@sbav-rio.com.br
A Casa Maria de Magdala, fundada em 1991, é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos. Funciona como abrigo para crianças e adultos portadores da doença. Todos recebem assistência médica, acompanhamento farmacêutico e nutricional, cuidados de enfermagem e de uma equipe multidisciplinar composta de profissionais de diversas áreas, 24 horas por dia. São mais de 300 profissionais cuidadores. Atende também a 160 famílias, com distribuição de cestas básicas mensais, oferecendo palestras onde são abordados temas voltados à promoção humana e à superação de dificuldades pessoais e vícios.
Maiores informações com o Leo Caldeira, da MLR Comunicação, via 55 21 3027-2340 ou 55 21 8255-1855.
Duvido que a amiga não tenha uns vinhos sobrando em casa e, mais importante, não queira ajudar a Casa Maria de Magdala.
Vinhos Salton entre os melhores. Na degustação da quarta edição do Prazeres da Mesa ao Vivo, realizada em São Paulo, no último dia 25 de outubro, a especialista inglesa Jancis Robinson, Master of Wine, classificou a Salton como o fabricante do melhor vinho brasileiro, durante a degustação do vinho Salton Talento 2004.
Na maior feira de alimentos e bebidas do mundo, a Anuga Wine Special 2007, realizada em setembro, em Colônia, na Alemanha, a Salton ganhou medalha de ouro.
O Salton Talento tem produção limitada a 30 mil garrafas. É um corte de 60% de Cabernet Sauvignon, 30% de Merlot e 10% de Tannat. Passa por um ano em barris de carvalho e descansa nove meses em adegas caves subterrâneas. Mais informações com a Elisângela Lima (elisangela@mdassessoriacom.com.br), da MD Assessoria & Comunicação.
Pesquisa: valorização dos consumidores de vinhos. Recebi da
Confraria Amigas do Vinho material relativo a uma pesquisa que vai certamente interessar a todas nós leitoras.
Essa pesquisa é parte de uma dissertação de mestrado, pré-requisito para titulação de mestre em agronegócios, orientada pelo Prof. Dr. Jean Philippe Revillion, que está sendo desenvolvida no Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios – CEPAN - da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O objetivo do questionário é identificar a percepção e a valorização dos consumidores de vinhos em relação à indicação geográfica, estratégia de diferenciação que vem sendo foco de muitas empresas brasileiras, seja no setor vitivinícola ou não.
Os resultados obtidos deste questionário possivelmente auxiliarão as empresas nacionais a melhor desenvolverem suas estratégias de mercado com relação aos diferentes segmentos de consumidores de vinhos.
Para que a pesquisa siga seu cronograma, é conveniente que a leitora encaminhe o questionário devidamente preenchido (não demora mais do que 15 minutos) 15 de novembro de 2007.
O link de acesso ao questionário é:
http://cepa.ea.ufrgs.br/pesquisa/alunos/thays/

25.10.07

Vinho: para beber ou comer?

Li que o vinho está para ser classificado como alimento e não mais como bebida alcoólica, segundo projeto antigo do senador Pedro Simon, ora em votação. Acho uma ótima manobra para a redução dos impostos e dos preços da bebida, o que ajudaria bastante a nossa indústria vinícola e todos nós, consumidores.
A argumentação do veterano político concentra-se nos benefícios do vinho para a saúde, o que, em minha opinião, não justificaria que ele abandonasse a sua condição de bebida alcoólica: bastaria, talvez, uma informação no rótulo sobre alguns benefícios comprovados do vinho para a saúde.
Alimento, como substância nutritiva, que faz subsistir, o vinho não é. No máximo é o que chamam de “alimento de poupança”: apenas estimula o sistema nervoso e produz energia passageira, com poupança das reservas do organismo (como faz a rapadura para o sertanejo).
Se a lei passar, é provável que haja uma regulamentação obrigando o “novo alimento” a se comportar como todos os demais: tenha no rótulo uma lista de seus ingredientes e dos respectivos valores nutricionais. E aqui temos um primeiro problema.
Em contraste com a maioria dos alimentos e bebidas, a legislação sobre o vinho na maioria dos países não exige que os produtores apresentem essa lista nos rótulos da bebida. A indústria do vinho vem resistindo fortemente aos esforços de mudar essa atitude.
Em agosto desse ano, o governo norte-americano apresentou duas propostas que, se aprovadas, obrigarão todas as bebidas alcoólicas vendidas no país a informar sobre o conteúdo alcoólico e o que contem cada dose (calorias, carboidratos, gordura e proteína etc.).
Pelo menos, uma parte substancial da indústria do vinho de lá está protestando: falam que essa medida é uma faca de dois gumes, vai representar mais uma despesa para o pequeno produtor, o vinho é promovido como um produto agrícola e parte de um estilo de vida saudável. E, de fato, é difícil determinar o valor nutricional exato do que está numa garrafa. A vinícola teria que analisar praticamente tanque por tanque, barril por barril.
Com base em análises nutricionais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e de uma série de outras fontes cheguei a uma lista que representa os valores nutricionais da média dos vinhos. É uma idéia geral, embora saibamos que variações podem existir em função de estilos de vinho. Por exemplo, um Riesling tem mais calorias derivadas do açúcar e mais carboidratos do que um tinto e branco secos. Um vinho com 13,5% de álcool por volume tem um pouco mais de calorias do que o vinho médio apresentado aqui, com 12% de álcool.
Vejamos: o vinho é 85% água, 12% álcool e 3% todos os demais componentes. Numa garrafa (750 ml ou 750 gramas) de vinho tinto, com capacidade para cinco taças, de 147 gramas (147 ml) cada uma. Em cada taça, teremos:
Calorias: 102,06; gordura total: 0 g; gordura saturada: 0 g; colesterol: 0 g; sódio: 7,09 mg (0,3%); total de carboidratos: 2,41 g (1%); fibras: 0 g; açúcares: 0 g; proteína: 0,28 g (0,44%), vitamina A, C, cálcio e ferro: nada: 0%; tiamina: 0,1%; riboflavina: 0,4%; niacina: 0,11%, folato (ou ácido fólico): 0%.
Os rótulos deveriam também dar informações adicionais sobre os valores percentuais diários com base numa dieta de tantas mil calorias. Os ingredientes desse vinho seriam: suco de uva fermentado, sulfitos naturais usados como preservativos. Fermento e itens de clarificação (albumina, bentonita, gelatina ou cola de peixe) que poderiam ter sido utilizados embora desapareçam no vinho acabado.
No vinho branco, na mesma quantidade, temos menos calorias (96,39), o total de carboidratos também é menor (1,13 g ou 0,35%), proteínas um pouco mais baixas (0,14g ou 0,22%).
Nos vinhos doces, considerando a meia garrafa (375 ml ou 375 gramas), cada taça com 88 ml, tem: calorias (130,13 gramas); gordura total: 0 g; gordura saturada: 0 g; colesterol: 0 g; sódio: 7,65 mg (0,3%), total de carboidratos: 10,04 g (5%); fibras: 0 g; açúcares: 8 g; proteína: 0,17 g (0,27%); vitaminas A e C, cálcio e ferro: 0%; tiamina: 0,02%; riboflavina: 0,02%; niacina: 18%. folato: 0%.
De qualquer modo, o projeto do senador Pedro Simon poderá reduzir pela metade as alíquotas de impostos atualmente pagas nossa indústria, fazendo-a mais produtiva, ajudando-a a modernizar-se.
Mas podemos desde já esperar que o segmento da saúde proteste. Pois sempre há quem abuse, amiga. Sob a cínica desculpa de que “estou me alimentando”, muita gente vai encher cara.
Nas vinícolas da Califórnia começa a haver um controle maior para acabar com excessos. Turistas entram lá para visitar, degustar vinho e eventualmente comprá-lo. Mas acabam entornando demais. Ninguém degusta, todos bebem mesmo. Então, numa turma de turistas, que chega de ônibus, ninguém está preocupado em dirigir e ser pego na estrada. Mas se os problemas não existem nas rodovias, existem dentro das vinícolas. Barulho, bagunça, briga etc.
O argumento utilizado pelo senador, os benefícios para a saúde do vinho, também pode ser utilizado de maneira abusiva. A desculpa será na base do “bebo para me tratar”.
Para mim, o vinho vai continuar sendo a bebida mais deliciosa, variada e a mais rica em sutilezas que existe. É incrível como uma bebida, quase 90% água, ser tão leve, cheia de vida, rica, aparecendo em várias cores e estilos, e que pode durar décadas e mesmo madurona ainda surpreender.
O leitor vai passar a se “alimentar”, a “se tratar” ou apenas a apreciar os vinhos? Opine!!
Da Adega.
II Encontro do Fórum de Eno-Gastronomia
. Esse não dá para perder. Vai acontecer no Rio, de 8 a 11 de novembro, no
Hotel Rio Internacional. São degustações de vinhos e comidas, palestras, exposições, shows musicais, não apenas no Hotel Rio Internacional, mas em outros hotéis e em restaurantes. Você poderá adquirir ingresso para um dos dias (70,00) ou para todos (135,00). O passaporte (válido para os 3 dias) dá livre acesso às palestras, show rooms, mesas redondas, exposições, ao almoço de confraternização no domingo, 11 de novembro, e ao pocket show na 6ª feira. Saiba mais, faça reservas e compras de ingressos ou passaportes via forumenogastronomia@yahoo.com
Papa da Gastronomia Molecular no Brasil. A Universidade Anhembi Morumbi está trazendo ao Brasil o químico-físico francês Hervé This, famoso por suas descobertas científico-culinárias. Estará no país de 28 de outubro a 1º de novembro e fará palestra aberta ao público na Universidade (29 de outubro) sobre Os Fundamentos da Gastronomia Molecular: O Fazer Culinário e a Nova Fisiologia do Gosto. Se a amiga quer saber o porquê da sua maionese desandar, como seu suflê pode crescer mais ou se o bife deve ser salgado antes ou depois de ir para a frigideira, basta assistir ao seminário do professor This. Ele vai deslindar essas questões e muito mais. This é doutor em Gastronomia Molecular e Física e trabalha no Laboratório de Química de Interações Moleculares do College de France, Paris.
Inscreva-se já no seminário, dia 29 de outubro, a partir das 20h30, no Campus Vila Olímpio, Auditório Theatro Casa do Ator. Procure o site da
Universidade ou peça informações pelo telefone: 11-3847-3050.
Mumm Cordon Rouge Magnum. Pois não é que a Pernod Ricard está importando para cá a versão de 1,5 litro dessa preciosidade, em edição limitada? Apenas 200 garrafas serão comercializada no país – todas em estojos especiais. Ela terá um preço médio de R$ 400,00 e poderá ser encontrada em restaurantes, delicatessens e empórios. No seu rótulo, a lendária faixa vermelha da Légion D`Honneur (Legião de Honra), a mais alta distinção francesa, concedida por Napoleão Bonaparte – que não saia de casa para suas batalhas em passar por Reims e se abastecer com a Mumm. A Mumm Cordon Rouge também é a marca oficial de Champagne da Fórmula I. Saiba mais com o SAC da Pernod Ricard (0800 014 20 11) ou através do seu
site.
Helicópteros salvam vinhedos. Na Nova Zelândia 100 helicópteros foram utilizados recentemente para livrar da geada alguns vinhedos na região de Marlborough. As hélices dos helicópteros fazem o ar quente descer e circular pelos vinhedos.
Veja o
filme feito por uma emissora de TV da NZ.

23.10.07

Vinho, uma ferramenta

Os colecionadores de vinho continuam comprando muito, ignorando até a grave crise da maior bolha imobiliária da história. Para eles, vinho é igual a prestígio, a poder, vale qualquer preço, está acima de qualquer crise. Não é preciso sequer apreciá-lo, apenas desfrutar da força que inspiram alguns de seus rótulos e safras. Ele certifica celebridades, empresta fama, concede autoridade.
É o enocentrismo, um sistema onde as pessoas idolatram não a bebida, mas a sua influência, a sua magia. Só assim entendo que alguém dê 157 mil dólares por uma garrafa, com o fez, em 1985, Christopher Forbes, o filho do bilionário Malcolm Forbes, o dono da revista Forbes, já morto. Ele comprou em leilão uma garrafa de um Lafite do ano de 1787, que teria pertencido a Thomas Jefferson, um dos pais da América. Outro multimilionário, Bill Koch, comprou quatro dessas garrafas por meio milhão de dólares. E hoje processa o ex-proprietário delas por achar que são falsas. Até o FBI investiga esse caso.
E a Martha Stewart, a Ana Maria Braga norte-americana? Ela é muito mais rica e poderosa, mesmo depois de ficar um tempo na prisão por mentir para o fisco. Sua empresa tem braços no mundo editorial (revistas e livros), programas de TV e rádio, sites na internet e promove ações de merchandising. E agora oferece uma coleção de vinhos. Vinhos da E&J Gallo, a maior produtora dos EUA. Da bebida, Martha sabe mesmo é que ela harmoniza com celebridade. Logo, precisava ter a dela. Poderia continuar falando do vinho da atriz pornô Savanna Samson, dos vinhos de celebridades vivas e mortas, todos embalados por esse tipo de magia.
Mais recentemente, a japonesa Nintendo lançou um jogo eletrônico no qual você escolhe um dos 120 vinhos listados para tentar combinar com algumas sugestões de comida. Parece instrutivo, mas não deixa de chamar a atenção que um mundo estranho ao vinho esteja já caidinho pelo que a bebida pode simbolizar (e ajudar a faturar).
Isso me lembra da febre pelas relíquias religiosas. Ter pedaços da cruz de Cristo, cueiros do menino Jesus, ossinhos de santos, sudários – valiam na Idade Média milhares de moedas de ouro e muito mais. Parodiando Eça de Queiroz (em A Relíquia), essas tão ambicionadas garrafas não valem pela autenticidade que possuem, mas pelo poder que inspiram.
Jefferson, o 3º presidente norte-americano, amava os vinhos, mas para degustá-los. Ocupava-se em construir um país, fazer história, ao contrário de Forbes: “Comprei mais do que uma garrafa, comprei um pedaço de história”.
A garrafa do Lafite 1787 ficou exposta num salão da revista, em Nova York, recebendo luz direta. Se ainda não era, virou vinagre de vez. Quando saiu vitorioso da Christie’s, de Londres, em 1985, colocou a garrafa (provavelmente falsificada) numa sacola com a logomarca e o famoso slogan de sua empresa: “Capitalist Tool” (“Ferramenta Capitalista”).

18.10.07

Como degustar um vinho ruim

E quando você encontra um vinho ruim, muito, muito ruim? O que diz a etiqueta a respeito? Falo daquele vinho oferecido pela sua melhor amiga, comprado exclusivamente para você, escolhido por ter conseguido medalha de ouro no Concurso Regional de Piririburgo da Serra (que você jamais imaginou que existissem, tanto Piririburgo quanto o concurso), para ser provado numa ocasião especial, numa reunião onde todos a têm como “doutora em vinho”.
Já passei por isso e todas as vezes que escrevo sobre etiqueta do vinho (que taças utilizar, como servi-lo, como degustá-lo, o que apreciar nele, seus aromas, seus sabores etc.) lembro de comentar como é essa experiência beber um vinho imprestável, estragado, defeituoso. E diante de sua amiga do peito.
Olha que não estou falando precisamente dos defeitos mais comuns nos vinhos. Um vinho não é ruim só porque não caiu no seu gosto, não faz o seu estilo etc. Não é ruim porque o rótulo está rasgado ou a base da rolha veio cheia de pequenos cristais brancos. (o tais cristais de tártaro, inofensivos, subproduto natural de vinhos que não foram filtrados). Não é ordinário porque a rolha parece mofada ou se partiu em pedacinhos dentro da garrafa. Nada disso altera o vinho ou o torna intragável.
Os principais defeitos poderiam ser: o da chamada “doença da garrafa” ou TCA, numa linguagem mais técnica: você coloca o nariz na taça e o aroma parece com algo que saiu do lugar mais mofado da casa. TCA (2,4,6 tricloroanisole) é um elemento químico tão potente que mesmo em quantidades ínfimas causam aromas e sabores de mofo na bebida. Tem origem numa reação do cloro utilizado para esterilizar rolhas de cortiça.
Outro defeito seria o do vinho oxidado: você sabe que o oxigênio é o inimigo invisível dos vinhos, que se tornam oxidados quando expostos a ele. A bebida fica sem vida, insípida, já a caminho, literalmente, do vinagre.
Outro problema seria quando a garrafa fica por muito tempo exposta ao calor (certamente, porque foi armazenada inadeqüadamente). Chamam isso de “madeirização”, pois o vinho, geralmente o branco, fica com uma cor mais escura, oxidada, mais acastanhada e adocicada, algo que pode lembrar o vinho Madeira, que cuja produção implicava em propositadamente numa grande exposição ao sol, ao calor. O sabor do verdadeiro Madeira lembra amêndoas, frutas cristalizadas. Muitos críticos colocam oxidação e madeirização num mesmo saco. É fato que ela compreende também uma dose de oxidação. Mas esse tipo de sabor num vinho de mesa não fortificado (como é o Madeira verdadeiro) é considerado um defeito.
Uma quarta falta aconteceria quando alguns fermentos dorminhocos ficaram no vinho – e resolvem acordar e a trabalhar – dentro da garrafa. E, dentro dela, o vinho é refermentado, por acidente. Se fosse um champanhe, tudo bem. Mas quando você prova de um vinho de mesa tranqüilo sentirá na língua pequenas bolinhas, aspecto não recomendável nesse tipo de vinho.
Mas, no meu caso, o vencedor do concurso de Piririburgo era a soma de todos os defeitos e mais uma dezena. Era execrável em todos os sentidos. Achei que podia me livrar dessa situação com alguma elegância. E o que eu fiz pode servir como guia para as amigas que venham a enfrentar embaraços semelhantes (algumas das dicas abaixo foram inspiradas pela blogueira americana que escreve no WineScamp):
1º) Beba sem pressa. Aceite com graça a taça e prove um mínimo do vinho. Em seguida, após um diplomático intervalo de tempo, procure um canto, uma pia, um vaso de plantas, por exemplo, para esvaziar a taça e corra para beber água. Se alguém estranhar, diga que está um pouco desidratada e quer dar um tempo no álcool.
2º) Mantenha o vinho bem gelado – a refrigeração é sua aliada quando se trata de vinho danado da peste. O gelo emudece o sabor da bebida. Se ele é assim, péssimo, peça gelo e coloque na taça. Diga que os melhores críticos também fazem isso. Você é a “doutora em vinho”, lembra?
3º) Nada de cheirar. Sei que é um reflexo girar e cheirar qualquer coisa, como café, água e, claro, o vinho. Mas não coloque o seu nariz nessa droga. Sua situação ficará mais miserável ainda se liberar os aromas dessa bebida e cheirá-la.
4º) Não deguste. Beba em goles absurdamente grandes. E não respire ao sorver o vinho – tal e qual fazemos ao tomar um xarope de gosto ruim. Isso diminuirá o quanto de sabor e aroma você pode perceber.
5º) Misture. Seja espumante ou vinho tranqüilo, discretamente pegue o que tiver pela frente, de refrigerante a suco de frutas, e misture com o vinho. Ou, com todo o garbo possível, após a primeira provada, afirme que aquele vinho é ideal para uma Sangria. E torça para que sua amiga tenha algumas frutas em casa. Se tiver pouca, junte suco de frutas. Faça a sua Sangria salvadora com muito gelo e, se possível, um licor.
A outra saída é apelar para a mãe de todas as desculpas, pelo menos entre nós, mulheres. Após o primeiro gole, pouse a taça e peça um comprimido para dor de cabeça, urgente. Alegue que a sua velha e querida enxaqueca acaba de acontecer. Nesse caso, não saia de casa sem os óculos escuros na bolsa.
Se a amiga tem mais sugestões para sair de situações como essa com panache, por favor, conte para nós aqui.
Da Adega
GP Brasil de Fórmula I com o vinho da casa
. Um espumante, um rosé e um tinto nacionais foram selecionados para serem servidos nos camarotes do Hopitality Centre e nas áreas VIPs do autódromo de Interlagos durante a corrida do dia 21. São eles o Casa Valduga Espumante Premium Moscatel, o Casa Valduga Duetto Rosé Sangiovese-Barbera e o Casa Valduga Duetto Pinot Noir-Shiraz. Aliás, esses vinhos serão os únicos a serem servidos nos três dias do evento. A Casa Valduga fica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, RS, e produz vinhos há quatro gerações.
Spa do Vinho no Brasil. Fazer um tratamento de beleza com produtos e técnicas assinadas pela famosa Caudalie agora podem ser feitos na Serra Gaúcha. A amiga não precisa mais viajar a Bordeaux. Saiba o que é o Spa Villa Europa, um hotel cinco estrelas em pleno Vale dos Vinhedos, RS, em meio, sim, em meio a belos vinhedos, degustando ótimos vinhos e vivendo um ambiente sofisticado, muito romântico. Veja mais
aqui.
Encontro nacional dos produtores de Vinho. A Vinotech e a Mercosul Bebidas, um dos maiores eventos da indústria vitivinícola e de bebidas em geral do Brasil e da América Latina, contará em 2008 com o Encontro de Municípios Produtores de Uva e Vinho do Brasil – são 162 municípios produtores em vários estados.
O encontro será feito em Bento Gonçalves, RS, nos dias 10 e 11 de abril e terá o apoio da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
Produtores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Pernambuco estarão presentes para troca de experiência e análise de problemas diversos.
Em Bento Gonçalves, durante a Vinotech 2008, mais de 160 participantes
Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, fará mais uma Vinotech de 2008, e desta vez com o Encontro de Municípios produtores de Uva e Vinho do Brasil que somam mais de 160 em vários estados. Será nos dias 10 e 11 de abril.
O evento terá o apoio da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), e vai integrar a programação da Semana Internacional Brasil Alimenta que será realizado no Parque de Eventos de Bento Gonçalves, de 8 a 11 de abril de 2008
Cidades produtoras de uva e vinho de nove Estados brasileiros deverão estar presentes ao evento. O Brasil conta com 162 municípios produtores de uva e vinho distribuídos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Bahia e Pernambuco. o fortalecimento do setor vitivinícola nacional. e a troca de experiência com análise dos problemas diversos

15.10.07

#%+@$*&!!

“O que esse #%+@$*& do Al Gore sabe de vinhos? O melhor é encher sua boca de rolhas e mandá-lo passear”. Li esses comentários na Decanter online sobre a conferência que o Prêmio Nobel da Paz e ex-vice-presidente norte-americano fará sobre mudança de clima e seu impacto sobre os vinhos, em fevereiro de 2008, em Barcelona.
O fato de Gore ter dividido o Nobel com os cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças de Climáticas já o credencia. Ele sabe que o clima nas regiões apropriadas para o cultivo da vinha (entre os paralelos 30 e 50, em ambos os hemisférios) já começou a mudar. Nas tradicionais áreas frias e úmidas, como a Inglaterra, já se produz vinhos de qualidade. E, ao contrário, nas regiões temperadas e quentes as dificuldades já se apresentaram. Continuar a cultivar as variedades clássicas começa a ficar difícil. Estudam já novas variedades, novos clones e uvas híbridas, com maior resistência às novas condições climáticas. Diferentes técnicas terão de ser pensadas. O efeito estufa promove prejuízos em todos os setores (não apenas o do vinho) em conseqüência de secas e enchentes, tornados e tormentas devastando grandes áreas do planeta: os prejuízos exorbitantes com a perda de vidas, reconstrução de cidades, portos, fábricas, cultivos, fome, saúde etc.
Al Gore pedirá atenção, por exemplo, para as destrutivas pegadas de carbono deixadas pela produção e transporte. Poderá comentar sobre itens algo esquecidos, como a moda em produzir garrafas bem mais grossas, de modo a induzir o consumidor a pensar que dentro delas vai um vinho melhor. Uma pesquisa inglesa demonstrou que os consumidores ao examinarem uma garrafa de vinho dão preferência, pela ordem: à variedade da uva (74%), ao preço (66%), ao país de origem (63%), à cor da garrafa (10%) e ao peso da garrafa (7%). 63% dos pesquisados acham que o vinho, qualquer vinho, deve se apresentar numa garrafa de vidro. Embalagens de plástico e em Tetra Pak tiveram 37% de aceitação. Al Gore e todos nós sabemos que o problema do aquecimento é obra dos homens.
E o prejuízo causado pelo transporte? Australianos estão começando a embarcar vinho a granel em containers para a Inglaterra. A bebida será engarrafa no destino. Os chilenos fazem isso há anos (para os EUA principalmente). É muito mais barato. O planeta acabará implodindo com a emissão de gases resultantes do transporte de garrafas pra lá e pra cá.
Imagino que Gore não vá girar uma taça, cheirar o vinho, provar dele e dar a sua nota. Vai mais uma vez explicar que o problema é gravíssimo, que está em nossas mãos minimizá-lo e adotar medidas severas, caso contrário nossos filhos e netos vão conviver com os efeitos catastróficos dessa atitude irresponsável de consumir sem remorsos os recursos naturais do planeta.
Sabe o que mais? #%+@$*& é quem fez o tal comentário.

11.10.07

Decantar ou não?

Descobriram que você gosta de vinhos e, logo, logo, acabou presenteada com um decantador. É uma peça linda, decorativa, na qual qualquer vinho fica mais vistoso. Mas a pergunta é: a amiga alguma vez já usou o decantador?
Usar ou não usar, quando usar, para vinhos jovens, maduros, só para tintos, para tintos e brancos? Para espumantes? A controvérsia é grande.
Um dos mais reverenciados enólogos do planeta, o Professor Émile Peynaud, francês responsável por muitas das mais modernas idéias sobre vinificação, não achava necessário decantar – a não ser para eliminar sedimentos: cristais de tártaros nos brancos e partículas de componentes de cor e fenóis polimerizados (taninos, em sua maioria), nos tintos maduros. Jancis Robinson, no seu “The Oxford Companion to Wine” a define como “uma opção controversa para servir vinho”.
Começa a história. A origem dos decantadores está na Roma clássica, onde a técnica de produzir objetos e utensílios de vidro soprado foi bastante desenvolvida. O vinho era servido em jarras (ou decantadores) de prata ou de vidro, primeiro porque a bebida era armazenada em vasilhames enormes, em ânforas de argila ou em barris de madeira. Desse modo, algum tipo de recipiente era necessário para trazer o vinho desses grandes vasilhames, nas adegas, para as taças na mesa. Surgem então jarras de vidro (ou de metal) para fazer esse serviço. Seriam os primeiros decantadores. Mas lá pelo século V, o império Romano entrou em colapso e a produção de vidro declinou.
No século XVI, os Venezianos redescobriram a tecnologia do vidro de sopro e suas belas e rebuscadas taças, garrafas e outros vasilhames percorreram o mundo e foram largamente copiadas.
No início do século XVII, conseguiu-se produzir garrafas mais resistentes, além de muito escuras e pesadas, com um formato de cebola, com a base chata, e gargalo muito curto e corpo globular - um formato impossível de colocá-las na horizontal, mesmo que tivesse uma rolha tampando-as. Eram utilizadas mais para servir vinhos e não para guardá-los. Ou seja: uma espécie de decantadores.
Artefatos de cortiça, como as tampas, representavam uma tecnologia muito nova no século XVI e ninguém pensou em tampar as garrafas com rolhas de cortiça. Assim, tampas de vidro eram ocasionalmente utilizadas para selas essas garrafas, pelo menos temporariamente.
Com o costume de uma tampa de vidro para cada garrafa, tornou-se imperativo que os dois itens não mais se separassem, pois as tampas não eram intercambiáveis. Cada uma cabia apenas na garrafa para a qual havia sido feita. Assim, eram permanentemente presas por um cordame ou fio metálico ao gargalo. Podemos verificar vestígios dessa prática em algumas das garrafas de hoje, que possuem uma aba em suas bordas.
É no início do século XVIII que se redescobriu algo muito importante: as safras, a idade dos vinhos e o que pode acrescentar na qualidade da bebida. Se pudéssemos guardar os nossos melhores vinhos bem guardados eles poderiam melhorar enormemente. E a melhor maneira de armazenas um vinho seria numa garrafa de vidro se tampada com um novo e exótico material: a cortiça.
A guarda de vinhos, ótima para desenvolver a bebida, resultava, porém, num probleminha: camadas e mais camadas de sedimentos na garrafa. É compreensível: na época, as técnicas de filtragem, estabilização, afinamento não estavam ainda desenvolvidas e muitos vinhos liberavam sedimentos, cristais de tártaro, ficavam foscos, enevoados. A resposta para isso foi, naturalmente, decantar os vinhos num vasilhame límpido deixando para trás os detritos.
Assim, as pessoas podiam decantar seus vinhos bem antes de amigos ou visitas chegassem para um jantar. Os vinhos estariam dispostos em diferentes decantadores, cada um apropriado para os vários tipos de pratos, cada um com um etiqueta de identificação dependurada no gargalo.
O decantador hoje. Ele ganhou uma nova função, a de fazer com que os vinhos despertem para seus aromas e sabores.
A maioria dos decantadores é feita de vidro transparente, incolor, com volume entre 30 a 50% maior do que o da garrafa padrão (750 ml), com bastante espaço para deixar o vinho “respirar”, esticar as pernas, liberar seus aromas. No caso dos sedimentos, a operação é mais delicada: você tem de despejar o conteúdo da garrafa no decantador e, com uma lanterna ou vela sob a o gargalo da garrafa, ficar atento para os sedimentos não passem para o decantador.
Pela minha experiência, esse “respiro” não apenas levanta os aromas, como ajuda também a eliminar o que eventualmente restou de dióxido de carbono (CO2) na garrafa (deixando o vinho um tantinho frisante). A bebida fica mais macia. Se ela apresenta uma apreciável quantidade de sulfitos, a decantação vai oxidá-los e eliminar esses aromas (de fósforo queimado). Isso acontece muito nos vinhos com rosca metálica (é a tal da “redução”, uma condição que resulta da ausência total de ar). Os vinhos marcados fortemente com sabores e aromas de madeira (como muitos Chardonnay do Novo Mundo) vão perder um pouco essa característica e mostrar mais as frutas. Aqueles muito tânicos ficarão menos adstringentes e mais amistosos, saborosos e aromáticos.
Decantar vinhos mais delicados, como um Pinot Noir, um Sauvignon Blanc, um Riesling ou um Beaujolais não vai melhorá-los. Mas um Chardonnay com muito carvalho, um Cabernet Sauvignon encorpado ou um Amarone vão se beneficiar. Alguns livros, inclusive, recomendam que o caríssimo toscano Brunello di Montalcino, feito com a Sangiovese, deve ser decantado um dia antes de servi-lo.
Ah, ia me esquecendo: até mesmo os espumantes podem ser decantados. Isso é feito de modo a que esses vinhos liberem um pouco do gás carbônico e se tornem mais cremosos, frutados e menos ácidos. O dono da Riedel, Maximiliam Riedel, criador das mais famosas taças de cristais para vinhos, homem refinadíssimo, diverte-se e espanta convidados quando decide decantar champagne. “Surpreendo meus amigos americanos quando decanto Champagne. Os americanos pensam que é necessários termos muitas bolhas, mas para mim uma Krug ou Dom Pérignon são até melhores sem elas, pois você então pode efetivamente provar o vinho”. Leia a entrevista de Riedel aqui.
O caso é que se decantam espumantes desde o século XIX. O objetivo, claro, não é fazer com que eles percam suas bolhas, mas que seus aromas e sabores se apurem mais, não se deixem esconder pela efervescência, fiquem mais macios. É só um tempinho no decantador (que tem o gargalo bem menor do que o feito para vinhos tranqüilos, como você pode ver aqui).
Afinal, decantar ou não? Tire a dúvida você mesma, amiga. Faça um teste e comece a usar o decantador que você ganhou e largou num canto. Com duas garrafas de um mesmo vinho, da mesma safra, decante o primeiro meia hora antes de servi-lo. Abra o segundo e sirva-o imediatamente. Compare-os. Pelo meu gosto, o do decantador sai-se melhor.
Da Adega.
Um gás para a vodca. A Orloff reformula a sua linha, o que compreende não só embalagens, mas uma família de vodcas cinco vezes destiladas (a bebida passa de três vezes destilada para cinco) e a Orloff Gás: uma vodca efervescente, mais refrescante. A Orloff é uma vodka nacional produzida no Brasil desde a década de 60. Elaborada a partir do álcool de cereais, a marca sempre é pioneira no mercado nacional. Em 2006, ganhou a sua primeira variante com sabor, a Orloff Mix Lemon e agora chega com fórmula evoluída (cinco vezes destilada) e a versão efervescente. Veja mais no site da
Pernod-Ricard.