28.1.09

A nova jurubeba

Um médico e vinicultor australiano está aditivando seus vinhos com 100 mg/litro de resveratrol uma quantidade até 10.000% acima da quantidade normal desse famoso antioxidante. As quantidades típicas de resveratrol nos tintos ficam m torno dos 3 mg/litro e, nos brancos, até 1 mg/litro. E estão em cada garrafa por obra e graça da natureza.
Philip Norrie é clínico geral em Sydney, Austrália há mais de 30 anos, autor de vários livros sobre vinho e também estudioso do impacto da bebida na saúde. Fundou recentemente a
Pendarves Estate REW (REW: Resveratrol Enhanced Wine – Vinho Enriquecido com Resveratrol). E já lançou dois vinhos assim turbinados: um Chardonnay e um Shiraz, ambos sob o rótulo “The Wine Doctor” (“O Doutor do Vinho”). O Dr. Norrie diz que esse processo, já patenteado por ele, não altera cor, clareza, aromas e sabores da bebida.
O governo espanhol persegue igualmente o mesmo objetivo, investindo pesado em projetos para aumentar a dosagem do polifenol nos vinhos de alguns produtores da região de Rioja.
O resveratrol é um componente químico produzido pela uvas (e outras plantas como o amendoim e o eucalipto) em resposta a ataques microbianos ou de agentes externos como radiação ultravioleta. Começou a ficar famoso quando nos anos 90 pesquisadores norte-americanos comprovaram sua contribuição para a saúde e sua importância para o fenômeno do “Paradoxo Francês”. Em 1991, o correspondente do programa “60 Minutos”, Morley Safer, levou ao ar a reportagem “The French Paradox”, que buscava uma resposta para a baixa taxa de doenças cardíacas entre os franceses, logo eles com sua dieta rica em gorduras. E por pesquisas, concluiu que a explicação estria nos vinhos tintos. A partir daí, a demanda pelos vinhos tintos explodiu em todo o mundo. E a mola de tudo isso era o nosso resveratrol. Desde então, ele pontifica em pesquisas como solução de uma miríade de problemas de saúde: de doenças cardíacas e inflamatórias a obesidade, de câncer ao mal de Alzheimer, de doenças hepáticas, renais e pulmonares ao aumento de longevidade etc.
A indústria farmacêutica não perdeu muito tempo e hoje o resveratrol é produzido quimicamente e vendido como suplemento nutricional. A indústria de cosmético também se utiliza do produto, como um ungüento da juventude. Não é de estranhar que o resveratrol voltasse ao vinho em quantidades cavalares, mesmo sem o aval de departamentos de saúde ou de pesquisas científicas, ainda as voltas com os efeitos do polifenol nos ratinhos de laboratórios.
O resveratrol, encontrado nas cascas das uvas, faz parte do sistema imunológico da videira. É uma fitolexina, proteína que atua como protetora das plantas. Ela atua como uma toxina contra os organismos que a atacam, defendendo a planta contra herbívoros, pássaros (tornando a planta amarga, difícil de digerir) e até contra raios ultravioletas.
Ela manipula diretamente as sirtuinas, moléculas que agem como alteradores de metabolismo. Essas alterações podem acontecer em vasta gama de organismos, de fermentos a mamíferos e sempre obedecendo a duas diferentes estratégias: viva pouco e dinamicamente ou viva longa e vagarosamente. A natureza, ao que parece, criou essas duas diferentes estratégias de modo a que os organismos possam adaptar-se em ambientes, ora de fartura, ora de escassez. Por exemplo: a restrição de calorias, que se provou capaz de estender o período de vida de uma grande variedade de organismos, resultará num metabolismo de queima caloria muito lenta, onde os organismos ficam em compasso de espera até que as coisas melhorem. Em estudos experimentais, o resveratrol pode levar a um estado de restrição calórica o que pode servir de proteção contra várias doenças relacionadas à idade e até ao câncer.
Não é à-toa que o interesse por essa molécula seja enorme, embora ainda existam questões a resolver, com a das dosagens. Para desfrutar da saúde de alguns ratinhos, precisaríamos de mais do que uma garrafa de vinho tinto diariamente.
Pesquisadores da Escola Médica de Harvard, EUA, davam aos seus ratinhos de laboratório uma senhora dose de resveratrol (num estudo em torno da longevidade): 24 miligramas por quilo de peso. O vinho tinto pode ter entre 1,5 a 3 miligramas de resveratrol por litro. Portanto, uma pessoa com os seus 70 quilos precisaria beber entre 1.500 a 3.000 garrafas de vinhos todos os dias para chegar à dose consumida pelos ratinhos!
Numa rápida busca pela Internet, vamos achar muitas empresas oferecendo suplementos à base do resveratrol, todos trombeteando incríveis benefícios para a saúde. Mas ainda é muito cedo para transferir para os humanos o que ainda se está aprendendo à custa dos ratinhos.
A evidência de séculos de história é a de que o vinho, consumido com moderação, pode ser muito bom para a saúde. Logo, qual a vantagem e adicionar o resveratrol? Além disso, vinho não é remédio. O consumimos por prazer.
Vamos deixar os cientistas fazer o trabalho deles. Sabemos que há boas razões para a indústria farmacêutica ser pesadamente regulada, e para que os consumidores sejam protegidos contra remédios perigosos (ou não pesquisados devidamente) e falsos reclames.
Se o Dr. Norrie pesquisasse pra valer não daria no nome “The Wine Doctor” a seus vinhos. Pois esse é o nome de uma dos mais antigos e sérios sites sobre vinhos em toda a internet, assinado por um outro médico, Chris Kissack. Veja
aqui.
O Dr. Norrie vai faturar uma nota, tenho certeza. Poderá também percorrer um caminho que beira o supersticioso, o falso, o enganoso e ajudar a transformar a bebida num xarope milagroso, numa catuaba, numa nova jurubeba.

Da Adega
Cinco Sentidos
. A
Confraria Carioca apresentará no próximo dia 2 de fevereiro a linha Cinco Sentidos, da produtora Finca Algarve, de Mendoza, Argentina, trazidos pela importadora Madalosso Martins para a charmosa butique de vinhos de Duda Zagari.
A
Finca Algarve fica a 850 metros de altitude nas bordas do Rio Mendoza, na província de mesmo nome, na Argentina. Foi fundada em 1955 e dos seus 100 hectares saem agora uma linha completa de vinhos: Cinco Sentidos.
Temos o Gran Reserva 2004, um blend de Malbec (50%), Cabernet Sauvignon (44%) e Syrah (6%). Foi Medalha de Ouro na
Vinandino em 2007. Seguem-se o Reserva 2004 (metade Malbec, metade Cabernet), medalhas de ouro na Vinandino 2007 e de prata no Hyatt Awards 2007; o Torrontés 2007 (a grande uva branca argentina), o Chardonnay 2006, o Cabernet Sauvignon 2005, o Malbec 2005 (medalha de prata o Hyatt Awards 2007 e também de prata no Vinandino 2007) e o doce Tardio, um blend de Torrontés e Chardonnay, numa belíssima garrafa.
No dia 2 de fevereiro a degustação começará às 15 horas. Confraria Carioca fica no Rio Plaza Shopping, na Rua General Severiano, 97, loja 35, Botafogo, Rio de Janeiro. Não perca.
Carnaval na Vitis Vinifera. Dê só uma olhada no link da
Vitis Vinifera. Uma ótima promoção de preços para tintos, brancos e roses.

20.1.09

Cozinhando com vinho

Vira e mexe, lemos que ao cozinharmos com vinho, o seu conteúdo de álcool irá evaporar-se aos 78º C, enquanto a água ferverá aos 100º C. Logo, o molho ou a redução feita com vinho estaria apta para quem não pode consumir álcool, seja por questões de saúde, éticas ou religiosas.
Depois do sangue, o vinho é tido como o fluido mais complexo existente, uma mistura de água, álcool, ácidos, açúcares, polifenóis e muito mais. Na média, um vinho contém 85% de água e 12% de álcool. Os 3% restantes são representados por sulfitos, ácidos, glicerol, fenóis, açúcar, minerais, ésteres etc. Até agora, perto de mil componentes já foram identificados.
Só que na panela, água e álcool, mais aqueles milhares de componentes não se comportam como azeite e vinagre, bem separadinhos, não funcionam independentemente. E, por isso, cada um deles altera a temperatura de ebulição do outro.
Assim, não existe uma regra geral para sabermos quando um e outro irão ferver, quando o álcool efetivamente vai evaporar e sumir da panela. Os vinhos apresentam variações em seu conteúdo alcoólico: quanto mais álcool o vinho tiver, a ebulição ficará mais próxima dos 78º C. Quanto mais água, ele chegará perto dos 100º C. Além disso, está comprovado que a perda de álcool por evaporação se processa muito mais lentamente do que a da água.
Li no meu pai dos burros da cozinha, “O que Einstein disse a seu cozinheiro” (Robert L. Walker, Jorge Zahar, 2003), que em 1992 nutricionistas da Universidade de Idaho, EUA, mediram os níveis de álcool em pratos regados a vinho tinto (o boeuf bourguignon e o coq au vin) e uma cassarola de ostras ao xerez, o grande vinho fortificado espanhol.
O resultado é que nos pratos ainda ficaram entre 4 e 49% de álcool. O caso é que tudo fica na dependência do tipo de alimento e do método de cozimento. “Verificou-se sem surpresas que em temperaturas mais altas, tempos mais longos de cozimento, panelas destampadas e mais largas, cozimento em cima do fogão e não em forno fechado- tudo isso fez aumentar a quantidade geral de evaporação”, afirmam os nutricionistas. Pode parecer óbvio, mas muita gente acha que é só deixar ferver que o álcool evapora. Repare que, no link acima, a receita do Olivier Anquier para o boeuf bourguignon sugere duas horas de cozimento, “até a carne ficar macia”. No coq au vin recomenda-se 30 minutos de cozimento em fogo branco após a adição do vinho. Nem em duas horas e muito menos em 30 minutos se pode garantir que o vinho tenha se evaporado.
Veja o que acontece com os Crêpes Suzette, que é flambado com licor, normalmente com o Grand Marnier? As chamas que fazem o sucesso desse famoso prato cessam assim que a quantidade de álcool se reduzir. E muito álcool ainda restará na sobremesa. Os nutricionistas de Idaho estimam que apenas 20% do álcool total tenha se evaporado. Não precisaríamos nem de pesquisar. As chamas dos flambados, em geral, não conseguem durar mais do que um minuto, muito pouco para evaporar álcool.
Outra pesquisa, realizada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, mostra que, ao juntarmos vinho a um líquido fervente e em seguida removemos o conjunto do calor, 85% de álcool ainda restarão no molho.
Como vimos, quanto maior o tempo de cozimento, menos álcool restará na redução. Caso não levemos o molho ao fogo e o deixemos descansar de um dia para o outro, ainda teremos 70% de álcool. Se um alimento é cozido por 15 minutos, 40% de álcool ficarão no molho. Em trinta minutos, 35%. Se o tempo aumentar para uma hora, restarão apenas 25%. Em uma hora e meia, 20%. Em duas horas, 10%. Em duas horas e meia, ainda restará 5%.
Para que todo o álcool numa redução seja evaporado, teríamos de cozinhar por pelo menos três horas.
Agora, não custa lembrar que utilizamos vinhos na panela para acrescentar sabores ou melhorar os já existentes, realçá-los, qualificá-los ainda mais. É no processo da fermentação que o vinho ganhará os seus sabores e aromas. O fermento gosta mesmo é do açúcar contido nas uvas. Ele vai digerir o máximo que pode até morrer. Nesse processo, deixará para trás dióxido de carbono e álcool etílico. Mas se o álcool fosse a única coisa dentro dos barris, todos os vinhos teriam o mesmo sabor. Acontece que parte do álcool é convertida é ácido (tal como é feito o vinagre), que, por sua vez, combinado com outros componentes da uva e com o próprio álcool vão se transformar no que os químicos chamam de “ésteres”. E esses tais de ésteres são nada mais do que os componentes de sabores do vinho.
Quando dizemos que um vinho branco apresenta notas de pêra ou maçã ou que um tinto de frutinhas vermelhas (amora, framboesa, mirtilo etc.) é porque o fermento utilizado está reproduzindo ésteres naturais da maçã, da pêra e das frutinhas vermelhas. Muitas vezes lemos que um Chardonnay é “amanteigado”. Ele é assim porque o fermento produziu um componente chamado diacetil, o mesmo que dá a manteiga o seu sabor.
Assim, ao utilizarmos um vinho na panela, o álcool não deverá ter qualquer efeito no sabor. O objetivo será utilizarmos vinhos que, depois de reduzidos, possam emprestar sabores apropriados para o prato que você está preparando.
Portanto, jamais utilize o chamado “vinho de cozinha”, aquele que fica ao lado do vinagre nas prateleiras dos supermercados. Ele feito com um vinho base muito ralo, sal e algum corante alimentício. Não é o vinho que você compraria para beber. Na cozinha use um vinho que você beberia. Não precisa ser um Margaux ou muito caro, mas qualquer outro que você consumiria com prazer.
Tente um Sauvignon Blanc se sua receita pedir frescor e sabores herbáceos. Para sabores mais picantes, experimente vinhos com as uvas Riesling, Gewürztraminer (felizmente os alemães ainda não aboliram o trema) ou Viognier para conseguir sabores de frutas e aromas florais que vão contrabalançar com os temperos mais provocantes.
Se temos um assado de carne vermelha vamos recorrer a vinhos tintos mais encorpados (com a uva Syrah ou Cabernet Sauvignon, por exemplo).
E bom apetite. Mas não esqueça, se algum convidado seu é, por algum motivo, adverso ao álcool, prefira cozinhar sem vinhos. Com vinhos ou qualquer outra bebida alcoólica haverá sempre o risco de restar aquela gotinha na redução.

15.1.09

Soninha in concert

Elton John, que dia 17 se apresentará em São Paulo e dois dias depois no Rio, costuma instituir uma cláusula em seus contratos exclusiva sobre vinhos. No seu camarim exige uma garrafa de um excelente braço, um Sancerre ou similar, e dois de um grande Bordeaux. No camarim da banda que o acompanha, uma seleção que inclui Chablis, Montrachet, Pouilly-Fuisse, Châteauneuf-du-Pape, Pommard e Margaux. O homem conhece bem seus vinhos.
Recentemente, o site The Smoking Gun, especializado em fuxicos e escândalos envolvendo celebridades, publicou uma longa matéria sobre as “band riders” exigidas por celebridades do cenário musical americano (principalmente) para que se apresentem em público. “Band riders” são parte das cláusulas contratuais com as exigências sobre camarins e serviços de bebidas e comidas. Costumam ser documentos confidenciais, mas o “Smoking Gun”, conseguiu reunir centenas desses “riders”, utilizando-se, entre outros meios, da legislação que permite liberdade de informação. São 238 “riders” e quase todos muito divertidos. Eis mais alguns deles:
A Van Halen, célebre banda de hard rock, na estrada desde os 80, é bem pobre, para dizer o mínimo, em seus pedidos: apenas duas garrafas do Blue Nun, um dos brancos alemães que ajudaram a derrubar a imagem dos Rieslings em todo o mundo.
O líder do U2, Bono, com reputação de grande admirador dos vinhos, exigiu em 1992, que seu camarim tivesse três bons Chardonnays franceses, o equivalente em brancos de Bordeaux, dois Mouton Cadet (tintos), além do champanhe Moët & Chandon.
Jon Bon Jovi, líder da banda Bon Jovi, pede duas garrafas de Mouton Cadet. O segundo vinho do Château Mouton Rothschild, um genérico de Bordeaux parece popular entre roqueiros, como se vê.
Britney Spears até que exige pouco: duas caixas da água mineral Evian, litros de sucos (maçã, laranja, uva etc.), garrafas de Gatorade. Sua exigência mais séria é um telefone no camarim com número exclusivo, fora da lista e que não permita receber ligações. A revelação desse número valerá uma multa de cinco mil dólares ao promotor.
Christina Aguilera, fora a exigência de quatro velas votivas (mais fósforos), vai de muitas garrafas de água mineral (que não seja a Evian), seis latinhas de Coca-Cola comum (nada de diet), uma caixa de leite orgânico, mais leite de soja sabor baunilha, além de serviço de café e chá.
As exigências de Sting para a sua turnê de 2000 eram simples: muita água mineral Evian, chá quente, uma jarra de mel, 12 limões frescos e uma garrafa de vinho tinto bem encorpado (poderia ser francês, italiano, californiano ou espanhol). De 2000 lá pra cá, o antigo líder do Police, comprou uma enorme propriedade na Toscana onde está produzindo vinhos com a uva Sangiovese, como nos Chianti que deram fama àquela região.
Só que, para decepção da plebe em geral, o cantor e compositor só produz vinhos numerados e com a sua assinatura e apenas para presentear amigos, chiques e famosos. Talvez, hoje, Sting já traga na bagagem o seu próprio vinho.
A premiadíssima Mariah Carey exige champanhe Cristal, a famosa criação de Louis Roederer, reconhecida pelo seu fundo chato, caríssima (a garrafa da safra 2000 está custando os seus 400 dólares nos EUA. E garrafas de um branco israelense, o Camus, da Vinícola Sea Horse, estabelecida em 2000 em Moshav Bar Giora, nas montanhas de Jerusalém. O Camus é difícil de ser encontrado, inclusive em Israel. Além disso, pede água mineral polonesa (?) e canudinhos (daqueles de poliestireno) para beber. Será que Mariah bebe a Cristal com canudinhos?
É de admirar que Frank Sinatra tenha ficado inteiro até os 83 anos. Ele queria em seu camarim a vodca Absolut (ou Stoli), o Jack Daniels, o famoso whiskey do Tennessee, o seu preferido; Chivas Regal, conhaque Courvoisier, gim Beefeater; vinhos tinto e branco premium – uma garrafa de cada. Isso tudo e mais Coca diet e normal, Club Soda e garrafas de Perrier e Evian.
Para mim, o destaque fica mesmo é com a cantora e pianista de jazz Diana Krall. O seu “rider” inclui uma detalhada lista de vinhos, tintos em sua maioria, originários dos seguintes produtores: Planeta (Sicília, Itália), Neyers (EUA), Shafer (Napa, EUA), D’Arenberg (Austrália), Peter Lahmann (Austrália), E. Guigal (França), Falesco (Itália), Henry’s Drive (Austrália), Parson’s Flat (Austrália), Bodegas Mauro (Espanha). Isso entre os tintos (cuja lista completa soma 27 produtores). Entre os brancos, apenas oito. Alguns deles vêm inclusive com as safras preferidas. Além disse, ela nomeia trinta e tantos tintos pela marca, a maioria dos EUA.
Diana, casada do o cantor Elvis Costelo e mãe de gêmeos, não se esquece de incluir na lista leite da Nestlé (da marca Good Start). Ela, sempre que pode, leva os dois pequenos em suas turnês.
Depois dessa matéria estou pensando em criar cláusulas especiais para as minhas eventuais palestras. Quem sabe uma mistura dos “riders” de Elton John, Diana Krall e Frank Sinatra?
Da Adega
Douro-Porto, Dão, Bairrada, Verdes, Alentejo?
Rita Fernandes, confreira da
Amigas do Vinho, está promovendo um sorteio muito simples e simpático: qual a região de vinhos portugueses que você mais gosta? Você escolhe a preferida entre 29 regiões. E responde para a Rita através do e-mail Rita.belfer@yahoo.com.br. Mas responda até 25 de janeiro de 2009. Quando enviar o e-mail receberá um número por ordem de e-mails recebidos, a ser sorteado no dia 25 de janeiro pela Loteria Federal. Se ganhar, recebe uma caixa (12 unidades) de um vinho com a variedade Tinta Roriz, popular na região do Vale do Douro. Um senhor prêmio.
A força feminina. Será no dia 7 de fevereiro próximo a posse das novas diretorias da
FEBAVE (Federação Brasileira de Confrarias e Associações Femininas do Vinho e do Espumante) e da CAV (Confraria Amigas do Vinho). Será em Bento Gonçalves, num almoço no Parque de Eventos da Fenavinho, devidamente capitaneado pelo sommelier italiano Roberto Rabacchino. Além da cerimônia de posse e do almoço estão programadas visitas a vinícolas e a pontos turísticos. Mulheres de todas as partes do país apaixonadas por vinho certamente estarão lá. Participe! Confira a programação nos sites da FEBAVE e da Confraria Amigas do Vinho.
Fenavinho 2009. Por falar nessa importante feira: ela será realizada entre 30 de janeiro e 24 de fevereiro, às sextas, sábados, domingos e feriado de Carnaval. Será também em Bento Gonçalves, onde são esperados pelo menos 150 mil visitantes. Confira no site da
Fenavinho.

7.1.09

Tintin 2009!

Em épocas mais abonadas, meu pai conseguia trazer um vinho para casa, a ser consumido sempre nos almoços de domingo por toda a sua pequena família. Ele adorava os vinhos, para ele obrigatoriamente europeus. Ora era um alemão ou um italiano, por vezes até um francês. Com mais freqüência, os portugueses.
Naqueles tempos para a menina aqui, além do copo de vinho diluído com água e açúcar, sobravam exemplares dos álbuns do Tintin, aquele jovem repórter belga, cujas aventuras bem comportadas, ao lado de seu cachorro Milou, sempre me distraíram, embora estranhasse que o moço não fosse dado a namoros, além de não fumar e beber.
Naquela época, os quadrinhos americanos é que faziam sucesso por aqui: Super-homem, Capitão Marvel, Mandrake, Flash Gordon (com suas mulheres belas e sensuais), o Príncipe Valente, Spirit etc. Em todas elas, as mulheres têm vez, o romance amoroso aparece é permitido e as fantasias são exacerbadas. Mas os as historinhas americanas visavam mais crianças e jovens.
As aventuras de Tintin eram mais realistas, buscavam enfocar cenários existentes e ambientes culturais, sociais e políticos conhecidos e ganhavam simpatias entre crianças, jovens e adultos. Embora as tiras fossem criação do belga Hergé, Tintin nunca revelou sua nacionalidade. Era um europeu nato e ponto.
Fácil entender, portanto, o fato de sempre associar Tintin aos vinhos europeus. Afinal, os vinhos do Novo Mundo eram ilustres desconhecidos em minha casa.
O valente repórter (que nunca chegou a publicar uma matéria, pelo que sei) tinha uma rígida ética de conduta: a busca da verdade, a proteção dos fracos e oprimidos, a luta contra os malvados de carteirinha (e nada de sexo).
Era fácil associar esse código tão rígido aos vinhos europeus, com suas severas regras, do cultivo à vinificação, impostas por lei, em geral relacionadas ou baseadas nas tradições culturais das várias regiões de produção do continente europeu.
E o que mudou? Bem, do Tintin ao Super-Homem, todos esses heróis lutavam pela democracia. Dos anos 80 para cá, o consumo de vinho não para de crescer em todo o mundo. E esse mundo deixou de ser exclusivo dos europeus. Os Estados Unidos talvez já estejam em primeiro lugar como consumidor de vinhos. Os seus vinhos são louvados como dos melhores do planeta.
Mas surpreende também a reputação dos vinhos da África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Chile, Argentina, Uruguai. O Brasil espanta o mundo com seus espumantes e os vinhos parados produzidos no sul e no nordeste. O consumo aumenta até em insuspeitadas regiões como a China e a Índia. Encontramos bons vinhos não mais em vetustos e arrogantes importadores, como acontecia com meu pai. Hoje, eles estão em qualquer supermercado.
Além disso, na média, os vinhos estão cada vez melhores e com preços cada vez mais acessíveis, graças à crescente adesão dos consumidores, a uma concorrência cada vez mais acirrada e ao já universal moderno know-how em vinicultura, capaz de produzir vinhos respeitáveis. As ofertas estão cada vez mais diversificadas, com variedades até então desconhecidas, da Grécia, até a Sicília ou de regiões até então improváveis, como o nosso Vale do São Francisco. O consumo se democratizou.
Não desconheço que pelo menos metade dos vinhos hoje oferecidos é globalizada, de marca, cujo destaque é sua monótona uniformidade em sabor e aroma, vendida na base da barganha, do preço baixo, onde a origem está fora da experiência gustativa.
Essa é uma alteração substancial, do vinho como agricultura (contingente, dependendo da graça e do favor de uma estação e de um solo) e do vinho como indústria, uniforme, consistente, mas sem a característica multifacetada e variada dos produtos agrícolas. E quando tiramos do vinho o seu sentido de lugar ele se torna apenas mais uma bebida alcoólica.
Mas isso de modo algum altera o que se conseguiu até agora. Temos hoje duas culturas vinícolas convivendo lado a lado. Os últimos anos continuam sendo uma festa para os consumidores que buscam por diversidade, por características de varietais aliadas a um sentido de lugar. E tudo isso por um preço relativamente modesto. E não tenho dúvidas que nesses últimos 20 anos os vinhos do Novo Mundo ajudaram a promover um rejuvenescimento da indústria, a começar da européia.
Tintin completará 80 anos em 2009. Seu criador, Hergé (iniciais do seu nome verdadeiro, Georges Remi, lidas ao contrário em francês), vendeu em 1983, um ano antes de morrer, os direitos de filmagem para Steven Spielberg. O cineasta americano produzirá uma trilogia a partir deste ano. Ele usará tecnologia digital criando um híbrido de animação e ação ao vivo. Dizem que Hergé não se incomodou nem um pouco a ouvir que iam transformar Tintin num “Indiana Jones para crianças”, com aventuras mais dinâmicas e até mais agressivas, fora do estilo europeu original.
Afinal, meu herói de infância vai se modernizar. Não que eu perca de vista os vinhos com o senso de lugar que meu pai trazia para casa. Mas assim como a indústria do vinho se democratizou e modernizou, o Tintin estava precisando de um banho de loja, de uma sobrevida. Os novos tempos também chegaram para ele. Tintin 2009!