29.6.09

O canibal que vende vinho

Que valor os consumidores dão às regiões produtoras de vinho? O que mais importa no momento da compra? Os argumentos que mais fazem vender a bebida são a uva, estilo do vinho, recomendação da crítica, prêmios, o conhecimento de uma marca ou preço? A Wine Intelligence apresentou um levantamento a esse respeito durante a Feira Internacional do Vinho, em Londres, realizada em meados de maio último. É uma das feiras mais importantes do mundo, reunindo a nata do comércio, dos produtores e da crítica do setor.
A Wine Intelligence é uma empresa de pesquisa e consultoria de marketing baseada em Londres, operando em mais de duas dezenas de países, inclusive o Brasil. A presente pesquisa (“O que os consumidores pensam realmente das regiões produtoras de vinho?”) reuniu dois mil respondentes norte-americanos e mil ingleses. Vejamos o que mais motiva os consumidores:
No ato da compra de um vinho, o consumidor (73% da Inglaterra e 60% dos Estados Unidos) considera a oferta promocional (ou seja: o preço) como argumento mais importante. Em tempos de crise (e agora de crise aguda) parece natural que esse item tenha grande destaque. O consumo de qualquer produto está sendo comandado pelo preço.
A variedade da cepa vem em segundo lugar: 76% dos norte-americanos e 70% dos ingleses. A vantagem norte-americana é fácil de explicar, pois os EUA são o país que criou esse conceito, o do vinho que destaca uma varietal. Já os ingleses estão mais acostumados ao regime europeu, que valoriza mais as regiões do que as uvas.
Por isso, talvez, é que o país de origem seja mais importante para os ingleses (64%) do que para os norte-americanos (49%).
O quarto item nesse quadro é o valor da recomendação de amigos e familiares: 51% dos súditos da rainha e 46% do povo de Barack Obama valorizam particularmente essas dicas.
Se sabemos pedir ou identificar um refrigerante pela marca (Coca, Pepsi etc.) ou um automóvel (VW, Fiat, Mercedes etc.), o mesmo não acontece com os vinhos. Somente 68% dos americanos e 57% dos ingleses têm lembrança de apenas uma marca de vinho.
Jean-Noel Kapferer, talvez o mais conhecido especialista em marcas do mundo, professor da famosa HEC Paris, a Fundação Getúlio Vargas dos franceses, diz que “marca é um conceito enganosamente simples; qualquer um é capaz de sacar logo um exemplo de marca, mas poucos conseguem propor uma definição satisfatória”.
E, contudo, marca seria simplesmente uma coleção de percepções na mente do consumidor; um símbolo de origem e também uma promessa de desempenho. Para os vinhos, funcionaria como uma dica do produto, sua origem, as cepas utilizadas, a região, o produtor, o preço – ou seja, um bom resumo na embalagem para ajudar a decisão dos consumidores. O problema é que marcas de vinho existem aos milhares e geralmente o jargão que envolve a bebida confunde (e atemoriza) o consumidor.
O sexto item que mais motiva os clientes é a região de origem: ela é importante para 51% dos ingleses e 46% dos americanos. Era de se esperar que europeus amantes de vinhos (no caso, os ingleses) tivessem mais afinidades com terroir, regiões de origem.
Eis, portanto, que a região de origem está no meio do caminho: no geral, apenas metade dos respondentes entende que é um item decisivo. E, no entanto, as regiões vinícolas podem comportar-se como marcas, com a capacidade de oferecer argumentos que traduzam as expectativas do consumidor. E na falta de grandes verbas para potentes campanhas de publicidade, marcas regionais têm muito que oferecer para valorizar uma garrafa de vinho.
Em seguida, nessa escala, se apresenta o conteúdo alcoólico, um valor para 30% dos ingleses e 28% dos americanos. Não é um tópico vital para os consumidores.
Aliás, está em pé de igualdade com o valor representado pelas recomendações de vendedores ou de folhetos, nas lojas: considerada por apenas 25% dos ingleses e, bem mais intensamente, 47% dos americanos.
A recomendação de críticos de vinhos também não pesa muito: é considerada por 25% dos ingleses e 31% dos americanos.
Formatos de garrafa e layouts de rótulos são importantes para 24% dos ingleses e 31% dos americanos. Com 21% entre ingleses e 29% de americanos, temos as recomendações contidas nos guias de vinho.
Em último lugar, nessa grade de 12 itens, é o valor de uma medalha ou prêmio: é importante para somente 17% dos ingleses e 21% dos americanos.
Numa seção especial dedicada ao reconhecimento de nomes de regiões vinícolas famosas, a de Marlborough, na Nova Zelândia, e a de Barossa na Austrália foram as menos lembradas pelos respondentes. Só 10% dos americanos tinham ouvido falar no Vale de Barossa e 12% em Marlborough. Entre os consumidores ingleses, as taxas foram respectivamente de 38% e 27%. O mais curioso é que quando os pesquisadores mostraram uma placa com o nome Marlborough, o que primeiro veio à mente dos pesquisados foi a marca de cigarros.
Bordeaux foi a marca de maior lembrança: 94% entre ingleses e 80% entre americanos. A região de Champagne ficou com um nobre segundo lugar: 93% entre ingleses e 75% junto aos americanos.
O mais espantoso, contudo, foi quando mostraram aos três mil entrevistados a placa com o nome Chianti. É claro que a maioria lembrou-se da Itália. Mas o filme “O Silêncio dos Inocentes”, de 1991, o primeiro da série com o Dr. Hannibal Lecter, o “Canibal”, foi quase tão lembrado quanto o nome da Itália.
No filme, o Dr. Hannibal lembra como degustou o fígado de um desafeto seu acompanhado por um Chianti. Por aí, podemos ver como por linhas aparentemente tortas podemos promover um vinho ou uma região vinícola. O mesmo aconteceu com o Sideways, que fez explodir as vendas do Pinot Noir nos EUA.
Nesse nosso cantinho, o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) investigou sobre as preferências dos brasileiros, num estudo que ouviu 1.037 pessoas entre 18 e 69 anos, em Porto Alegre, São Paulo e Recife. Conseguimos reunir uns poucos dados. Mas fica evidente que a falta de informação é o maior problema para o consumidor brasileiro.
Imagine que, para 66% dos entrevistados, o vinho pode ser feito com outras frutas, além da uva. O nosso consumidor confunde sidra com espumante. Pior: 92% dos acham que espumante é uma coisa e vinho outra. Informação é importante, claro. E mais importante ainda para um produto como o vinho, simples de beber, mas aparentemente complexo de entender pelo mundo de facetas que consegue oferecer.
Da Adega
Vinhos do Douro e do Porto. Amanhã, às 20h, acontece uma prova de Vinhos do Douro e do Porto durante jantar oferecido pelo
Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, o IVDP. O evento será realizado no restaurante Terzetto, em Ipanema, e contará com a presença do Diretor do IVDP, Carlos Soares. Mais informações com a Cristina Neves.
Dia 30, terça que vem, será a vez de Brasília, onde a degustação (a partir de mais de 200 rótulos de vinhos do Douro e do Porto) acontecerá no
Naoum Plaza, das 15 às 21 h. Consulte a assessoria da Denise Cavalcante ou ligue: (11) 4612-4341.
O Brasil é um importante mercado para os vinhos da região do Douro e do Porto. As importações dos primeiros cresceram 50% nos últimos 4 anos (996 mil garrafas) e as do segundo dobraram em cinco anos (1.395 mil garrafas até dezembro de 2008). Somos o 11º mercado mundial para os vinhos do Porto, em volume. Merecedores, portanto, de todas essas atenções do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto
Curso de Iniciação ao Vinho e à Degustação. Para quem deseja iniciar-se no mundo dos vinhos, Marcelo Andrade oferece um curso básico, em quatro aulas bem parrudas, a partir agosto, sempre aos domingos e sempre no
Restaurante Buonasera (Rua Araribóia, 253, Niterói). O curso terá apoio de apostila e seu conteúdo acessado on line. Além disso, três vinhos serão degustados e analisados em cada aula. O programa vai desde a história do vinho, a videira, variedades de uvas, regiões e países produtores, vocabulário do vinho, até tipos de vinho, elaboração da bebida, os espumantes, serviço do vinho e noções de harmonização. Reserva sua vaga com o Marcelo Andrade (21-9764-6167).

19.6.09

Os sommeliers e os milagres

Quer ser uma sommelière (ou um sommelier)? Juntamos algumas questões dos exames do Court of Master Sommeliers, entidade criada há 40 anos na Inglaterra para melhorar os padrões de conhecimento de bebidas em hotéis e restaurantes de Sua Majestade. Os testes são progressivos: o primeiro nível, “Introdutório”, é considerado sopa no mel. Seguem-se os exames de “Sommelier Certificado”, o “Avançado” e, por último, o de “Master Sommelier”. As dificuldades aumentam em cada nível. Apenas 10% dos candidatos passam no exame final, quando então podem acrescentar o MS (Master Sommelier) depois de seus nomes. Em 20 anos, somente 171 candidatos conseguiram conquistar esse título.
Selecionei algumas dessas questões e acrescentei outras. Quem sabe a leitora não se exercita um pouco?
1. Qual a história que cerca Neméia, na Grécia, e qual a principal uva utilizada nessa região?
2. Qual das regiões abaixo é exclusiva de um Grand Cru de Chablis?
a) Clos de la Roche; b) Caillerets; c) Blanchot; d) Les Charmes.
3. Qual dessas regiões fica na South Island (“Ilha do Sul”), na Nova Zelândia?
a) Martinborough; b) Tamar Valley; c) Canterbury; d) Walker Bay.
4. Orvieto é produzido em: a) Piemonte, b) Toscana; c) Úmbria; d) Veneto.
5. Qual dessas regiões brasileiras recebeu a Indicação de Procedência, marcando em 2002 a entrada do Brasil no circuito mundial das Indicações Geográficas, tal como existem em Bordeaux, Champagne, Rioja, Porto?
a) Campanha, b) Vale do São Francisco, c) Vale dos Vinhedos, d) Serra dos Sudeste; e) Vale do Anhangabaú.
6. Quais dessas vilas ficam na região do rio Mosela, na Alemanha?
a) Nierstein; b) Deidesheim; c) Rauenthal; d) Bernskastel.
7. O que é “cap classique”?
8. O que é “pigeage”?
9. Dionísio, o deus grego do vinho, não plantou a primeira videira. Para quem ele concedeu esse privilégio?
a) Oenopion, b) Thoas, c) Staphylus, d) Latromis, e) Euanthes, f) Oeneus; g) Tauropolus; h) Ícaro.
10. Nesta terça-feira, 16 de junho, foi festejado em todo o mundo o Bloomsday. Qual o vinho preferido do autor homenageado nesta data?
11. Jesus transformou água em vinho, para o casamento em Canaã (João 2:2-11). Quanto pagou de taxas para as autoridades romanas?
a) 250 dracmas; b) 1.000 talentos; c) 383 denarius; d) 3.000 shekels.
Respostas:
1
. A planície da Neméia é o centro do primeiro dos 12 trabalhos de Hércules. Ele tinha que eliminar o terrível leão, filho dos monstros Tifão (tinha 100 cabeças) e Equidna (meio mulher, meio serpente) e irmão da Esfinge. Esse bicho indigesto não parava de fazer estragos por lá. Mas Hércules o estrangulou. E passou a usar a sua pele.
Neméia é uma das três apelações do Peloponeso, no sul da Grécia (a outras duas são Mantinia e Patras). A única uva autorizada na região é a tinta e resistente Agiorgitiko, para vinhos secos, cuja qualidade é sempre admirada.
2. Na região de Chablis existem sete áreas cujos vinhedos são oficialmente reconhecidos pelo INAO (Institut National des Appellations d'Origine) como Grand Cru: Bougros, Les Preuses, Vaudésir, Grenouilles, Valmur, Les Clos e Blanchot.
3. South Island é a maior das duas principais ilhas da Nova Zelândia (a outra obviamente é a North Island). Temos lá importantes regiões produtoras: Nelson, Marlborough, Central Otago e Canterbury. Esta última compreende duas grandes áreas viníferas: a primeira, próximo da cidade de Christchurch e a mais recente, no Vale do Waipara. Chardonnay e Pinot Noir são as cepas mais plantadas aqui, seguidas pela Riesling e a Sauvignon Blanc.
4. Orvieto é uma região vinífera localizada ao redor da cidade medieval de mesmo nome, na Úmbria, na Itália central, cuja capital é Perúgia. É mais conhecida pelos seus vinhos brancos, feitos em sua maioria por uma mistura de Trebbiano e Grechetto.
5. O Vale dos Vinhedos, uma sub-região na Serra Gaúcha, foi a primeira das áreas no Brasil a conquistar a Indicação de Procedência. Mas sabe-se que outras áreas já estão pleiteando esse selo de qualificação. A Campanha, a Serra do Sudeste e o Vale do São Francisco certamente estão de olho no certificado. Já o Vale do Anhangabaú, em São Paulo, teve no século 18 uma próspera plantação de chá, iniciada pelo marechal José Arouche de Toledo. As principais lembranças continuam lã: o célebre Largo do Arouche e o imponente Viaduto do Chá.
6. Na região do Mosela temos seis distritos vinícolas (Bereiche): Brug Cochem, Ruwertal, Saar, Obermosel, Moseltor e Bernkastel – esse mais conhecido como Mittelmosel, por ser o mais central da região. Um dos mais notáveis vinhedos aqui é conhecido como Doctorberg (com os vinhos Bernksteler Doctor). Contam que esse nome tem origem na Idade Média, quando um clérigo local foi milagrosamente curado de uma doença grave após beber vinho originário desse vinhedo. Os vinhos daqui são considerados os mais completos exemplos dos mais finos vinhos alemães feitos com a uva Riesling.
7. Cap Classique é o nome que ganharam na África do Sul os espumantes feitos pelo método champenoise, ou seja, o adotado pela região de Champagne, onde se provoca uma segunda fermentação na garrafa. Na Cidade do Cabo (Cape Town), a arte do vinho foi introduzida pelos hugenotes franceses. E a primeira garrafa de vinho espumante produzida ali foi chamada de Kaapse Vonkel (Espumante do Cabo). O tempo passou e os produtores de Champagne conseguiram proibir o uso do termo champenoise por quaisquer outros produtores que não os da região francesa. Daí que os sul-africanos criaram um nome alternativo, que, aliás, já estava em casa: Cap Classique.
8. Termo francês para a ação de empurrar de volta para o fundo dos tanques de fermentação a capa de cascas de uvas e outros sólidos que se forma na superfície. Com isso, conseguem que essa capa não se resseque e reforçam a extração de cor e de taninos.
9. Oeneus, rei de Cálidon, na Etólia, Grécia, foi o primeiro mortal a receber de Dionísio a videira. Pois essa era a importante missão de Dionísio: fazer com que os humanos adotassem a cultura da vinha.
Oenopion, Thoas, Staphylus, Latronis, Euanthes e Tauroopolus eram filhos de Dionísio, o deus do vinho, com a adorável e sapeca Ariadne (aquela do Labirinto de Creta).
Oenopion foi o primeiro a ensinar que vinho devia ser bebido sempre misturado com água. A bebida era considerada muito forte. Observo que Oeneus e Oenopion têm a mesma raiz: oinos, vinho em grego.
Contudo, a primeiro a produzir vinho foi Ícaro, filho de Dédalo (o criador do labirinto acima). Parece que Oeneus era muito devagar e Ícaro um apressadinho. Ele ofereceu esse primeiro vinho a um grupo de camponeses, que ficaram tão bêbados a ponto de ver tudo em dobro. Acreditaram que estavam enfeitiçados. E por isso mataram Ícaro.
Sabemos de Ícaro mais pela lenda de ter criado asas de cera e de desastradamente ter voado com ela. Mas a versão como criador do primeiro vinho é muito forte. Veja aqui.
(Na verdade, retirei essas informações do livro “The Greek Myths”, de Robert Graves, da Pelican Books, edição de 1969).
10. James Joyce: o irlandês autor de Ulisses, que relata um dia na vida de Leopold Bloom. A data lembra também o dia em que começou o namoro com sua futura esposa, Nora Barnacle. No livro, é o dia em que Bloom reencontra seu filho e chega às boas com sua esposa, numa paródia dos 10 anos de peripécias que resultaram na volta do herói grego para casa.
O vinho preferido de Joyce era o branco Fendant de Sion (ou Chasselas), uma especialidade que o irlandês aprendeu a apreciar quando morou pela primeira vez na Suíça, onde escreveu parte de Ulisses.
11. Dracma, talento, denarius, shekel eram algumas das moedas circulantes na Jerusalém dos tempos de Cristo. A primeira era grega, as duas seguintes romanas e a terceira utilizada pelos judeus. É claro que Jesus não pagou nada. Milagre é milagre.
Da Agenda
Ganhe uma viagem à Serra Gaúcha. A
Vinícola Aurora está oferecendo um fim de semana na Serra Gaúcha completamente grátis. Quem quiser participar basta entrar no site da promoção Marcus James leva você à Serra Gaúcha. Uma vez lá, basta dar asas à sua criatividade e responder à pergunta: “O que você faria para tornar um fim de semana na Serra Gaúcha inesquecível?” As cinco respostas mais criativas serão premiadas com uma viagem, com direito a acompanhante e a tudo pago. A promoção vai até o dia 31 de agosto deste ano. Imperdível.
Os melhores do ano. Quem foi o melhor chef do ano, e a Personalidade da Gastronomia, em 2009. E o melhor sommelier? E a personalidade do vinho? Saiba tudo sobre essas importantes premiações
aqui.
Vinexpo 2009 e Ventisquero. A
Vinexpo é a maior feira de vinhos do mundo, realizada em Bordeaux, de 21 a 25 de junho. Todo o mundo do vinho que importa, que quer ver e ser visto estará lá. Menos eu: apesar de um gentilíssimo convite da amiga Alessandra Battochio Casolato, da CH2, minhas galinhas estão pedindo que fique pela Serra. Obrigada, Alessandra.
Ela transmite um convite da Viña
Ventisquero para participar de duas degustações especiais promovidas por John Duval (um dos enólogos mais prestigiados da Austrália) e por Felipe Tosso, enólogo-chefe da vinícola chilena. Aqui me quedo com minhas levadas angolanas, mas babando por perder o Vertice e o Pangea, grandes vinhos da Ventisquero, feitos a quatro mãos pelos festejados produtores acima, com a Syrah, representando a Austrália, e a Carmenére, defendendo as cores chilenas. Fica para a próxima.

3.6.09

Por que não...

...divertir-se com suas taças de vinhos? Veja como é provar um vinho branco na taça dedicada ao tinto. Ou o vinho tinto na taça do branco. Ou o branco e tinto na tulipa de espumante. Se amamos os vinhos, somos levadas por suas cores, aromas e sabor. Nem sempre, porém, consideramos as taças um instrumento importante para transmitir o que os vinhos têm para nos contar sobre suas cores, aromas e sabores. Sabe-se que o formato delas influencia em muito seus aromas e sabores. Afirma-se mesmo que um mesmo vinho oferecido em taças diferentes vai apresentar-se com características diversas. Teste os seus sentidos e veja se faz mesmo diferença ter uma taça apropriada para cada estilo de vinho.
Aproveito para falar sobre a ordem de taças de vinho e de água num jantar formal, motivo de várias perguntas.
Vamos começar com as taças ou copos de água: devem ficar à sua direita, logo acima da faca (o prato como cento, os garfos estão à esquerda e as facas à direita). As taças de vinho devem ser colocadas na ordem em que serão utilizadas, da esquerda para a direita. Então teremos: copo d’água, taça de vinho branco, taça de vinho tinto.
Mas muita gente faz justamente o contrário: começam pela extrema direita, com o copo d’água e, na direção da faca, as taças de vinho branco e do tinto. Só precisamos prestar atenção para que os copos dos vizinhos de mesa não se confundam.
... experimentar uma varietal desconhecida? Que tal conhecer vinhos feitos com uvas completamente desconhecidas para você, que a essa altura já deve estar farta da Cabernet Sauvignon, da Merlot, da Chardonnay etc.? Por exemplo, prove o Casa Perini Ancellotta, uma uva tinta muito utilizada na região da Emilia-Romagna, Itália. Aparece como segunda uva do Lambrusco, um vinho popular na mesma região (feito tento a uva Lambrusco como a principal). Em boa hora a Perini trouxa aclimatou a uva no sul e produziu um ótimo vinho. Pode também conhecer a Tempranillo feita pela Miolo (Fortaleza do Seival Tempranillo). A grande uva tinta espanhola sendo experimentada, como sucesso por uma respeitada vinícola nacional.
Quem sabe, um Alicante Bouschet, tal como produzido pela Pizzato Vinhas & Vinhos? É uma casta originária da França, embora mais cultivada em Portugal. Resulta de uma cruza da Grenache com a Petit Bouschet. Saiba mais sobre o Pizzato-Alicante Bouschet Reserva 2004 no site da vinícola.
A Pizzato também oferece outro vinho feito com uma casta “exótica”, a Egiodola, originária do Languedoc e do sudeste francês e muito utilizada em blends. Aqui, conseguiu-se um tinto bem estruturado, de cor escura e com muita fruta. Egiodola em basco significa “sangue puro”.
E a Humagne blanche, a Petite Arvine, a Heidar? Nunca ouviu falar? Pois dê uma olhada abaixo (Da Agenda) e aproveite.
... “desarmonizar” o seu jantar? Ou seja, em vez de harmonizar vinho branco com peixe, experimenta fazê-lo com um vinho tinto. Veja o que acontece e tome nota. Não fique presa a regras, a maioria delas ultrapassada em se tratando de harmonizar vinhos e comida.
... tentar um vinho que você não gosta? Digamos que no passado você tenha experimentado um vinho alemão e não gostou. O mesmo com outro da África do Sul. Além disso, acha que a Hungria não está com nada. Que tal tomar coragem e experimentá-los. Veja algumas ofertas de vinhos alemães, sul-africanos e húngaros. Quanto mais você experimenta, quanto mais você varia e diversifica, mais você fica sabendo sobre os vinhos e mais prazeres poderá tirar deles.
... escolher o vinho mais barato do restaurante? Será que você é daquelas que escolhe pelo preço? Os restaurantes sabem que a maioria dos fregueses não vai pedir o vinho mais barato para não parecer muito miserável ou ignorante. Daí que o segundo vinho mais caro costuma ser lastimável. Tente o mais barato: muitas vezes será surpreendida pela bela escolha que fez.
Há pouco tempo, cientistas da Califórnia fizeram um estudo onde se comprovou a relação entre os vinhos e seus preços. Os pesquisadores selecionaram um grupo de 20 pessoas para experimentar cinco diferentes vinhos (Cabernet Sauvignon).
Colocaram as pessoas em máquinas de ressonância magnética e fizeram com que cada uma experimentasse os vinhos enquanto ainda na máquina.
Para cada pesquisado foi informado o preço dos vinhos que estavam experimentando. Solicitavam a cada um deles que se concentrassem apenas no sabor e se pronunciassem a respeito.
Porém, os pesquisadores fizeram um truque: na verdade, apenas três vinhos estavam sendo oferecidos, com dois deles aparecendo com preços diferentes. Havia o vinho de 5 dólares (o vinho 1, com o seu preço verdadeiro); o vinho de 10 dólares (o vinho 2, cujo preço real era de 90 dólares); o vinho de 35 dólares (vinho 3); o vinho de 45 dólares (vinho 1, com seu prelo falsificado) e o vinho de 90 dólares (vinho 2, com seu preço verdadeiro).
Não houve surpresa que os participantes preferiram os vinhos 1 e 2, assim que eram informado dos seus preços, como comprovou o equipamento de ressonância magnética, com uma agitação extra nas partes do cérebro onde se registra a experiência do prazer.
O preço, portanto, pode alterar a natureza de sua percepção, leitora. Ao pedir a marca mais barata, você está colocando a lista do restaurante de cabeça para baixo e ensinando a você mesma que preço não é tudo, que você quer se relacionar com o vinho de maneira diferente.
O mesmo podemos afirmar sobre a influência da origem (“os vinhos importados são os melhores”), dos rótulos (é um Château, tem um “Dom” ou um “Reserva” no texto). Tente abstrair-se desses conceitos (que facilmente se tornam preconceitos): com os vinhos, o melhor aprendizado é experimentá-los todos.
Da Adega
Mais sobre como retirar rótulos.
Olha o que diz a Celiacm. “Sei como retirar rótulos de qualquer recipiente: não passe na água, simplesmente, espalhe azeite de cozinha sobre o rótulo e deixe por 24 horas. No dia seguinte, ele estará completamente solto”.
Vinhos suíços. A
Vitis Vinifera realizará dia 17 de junho, quarta-feira, às 20 horas, uma degustação de vinhos suíços, originários do Valais, talvez a mais importante região produtora do país. A apresentação será feita pelo diretor da cooperativa Provins Valais, Sebastien Ludy. O evento, que inclui jantar, será no Giuseppe Grill Leblon (Av. Bartolomeu Mitre, 370, Leblon, Rio). Mais informações pelos telefones: 21_2235-7670/2235-3968. Ou pelo e-mail.
Licor Advocaat. A Tania quer comprar o licor Advocaat, da Bols. Mas já pesquisou, inclusive pela internet e não encontrou. Pede ajuda. Tania, também procurei, mas só na internet. E não achei. No site da
Bols, temos dezenas de licores, mas nenhum Advocaat. Mas não me incomodei muito com isso. O Advocaat é apenas um licor de ovo.
Na origem, é um licor holandês, mas com um pé no Brasil. Diz uma lenda que, lá pelos idos do século XVI, os índios da Amazônia faziam um licor de abacate que caiu no gosto dos marinheiros holandeses. Como? Índios fazendo licor de abacate? Outros mitógrafos substituem os índios brasileiros por nativos das Índias Ocidentais. O caso é que, de volta para o seu terrão natal, os holandeses não encontraram abacate. E pularam nas tamancas. Contudo, acharam de substituir o abacate por gemas de ovos. O nome lembra abacate, embora advocaat seja advogado, pois quem bebe esse licor, garantem os holandeses, não para de falar. E eloqüentemente. Veja uma receita, que peguei no site da
Ana Maria Braga.
Agora, Tania: só mesmo um advogado para explicar como os holandeses acharam de substituir abacate por gema de ovo.
Espumante da Valduga comparado aos champagnes. O Casa Valduga Gran Reserva Extra Brut 2002 foi o vencedor na categoria “Espumantes Nacionais” do concorrido Top Ten Expovinis Brasil 2009, concurso que elege os dez melhores vinhos em exposição no evento.
De acordo com o “Master of Wine” Dirceu Vianna Júnior (o único brasileiro a conquistar até agora esta importante graduão do mundo dos vinhos), o Gran Reserva Extra Brut mereceu esta premiação por apresentar a qualidade e supremacia dos grandes espumantes da região de Champagne. Dirceu fez parte do júri que acabou por eleger o Espumante da
Valduga.