29.1.10

É aqui mesmo

Pelo que sei, a Coca-Cola, da sua sede às suas afiliadas, foi das primeiras empresas do segmento de bebidas a enviar auxilio ao Haiti, tanto em dinheiro como em água potável e sucos que fabrica, como também convidando os consumidores a doar recursos à Cruz Vermelha. Numa campanha interna, seus funcionários estão sendo motivados a ajudar os haitianos. (Veja mais no site da empresa.)
Nos Estados Unidos e em vários países da Europa, vinícolas estão também enviando ajuda, através principalmente de leilões de vinho (o dinheiro arrecadado é enviado para alguma agência especializada ou ONGs.
E os outros segmentos? Nos Estados Unidos e em vários países do Hemisfério Norte registrei a movimentação de várias vinícolas em direção à solidariedade para com o que está acontecendo com o Haiti. Vinícolas, colecionadores e até simples consumidores estão enviando rótulos que consideram valiosos para leilões, cujos resultados serão enviados para o país caribenho. Não apenas as vinícolas, como também restauradores, a imprensa especializada em vinhos estão em campanha.
Soube agora que um bar de Goiânia, o Moon Beer House, está promovendo um show musical ao preço de 2 quilos de alimentos não perecíveis, que serão enviados ao Haiti. É o SOS Haiti, que acontecerá hoje, quinta-feira.
Tenho certeza empresas de todos os setores estão fazendo como a Coca-Cola. Mas sua ação não está sendo visível, ou tão visível quanto à da Coca. Talvez eu não tenha ainda percebido. Enfim, todos os segmentos devem ajudar de alguma maneira e não apenas do de bebidas. Mas foi essa a que, no setor privado, a primeiro a se mostrar visível. E visibilidade nesse caso é importante pela motivação, pelo exemplo, fazendo de uma marolinha uma grande onde, um tsunami de solidariedade. O que faz um time, uma companhia, uma sociedade funcionar é o compromisso individual ao esforço de um grupo.
Não deixe de ajudar, leitora. Você aí entusiasta de vinhos, junte outros fãs da bebida, promova um, dois, vários leilões. Cada participante oferece uma garrafa e o leilão acontece. O dinheiro arrecadado pode ser enviado para qualquer um dos endereços abaixo.
Nunca a frase “Um por todos, todos por um” foi tão oportuna. Alexandre Dumas e seus mosqueteiros sabiam que se não formassem um time solidário jamais poderiam vencer o terrível Cardeal. E agora temos que nos unir para tentar fazer com que um povo, o mais pobre do Ocidente, que já sofreu das piores calamidades, políticas e naturais, fique de cabeça em pé.
Celebridades como a supermodelo Gisele Bündchen, Madonna, Sandra Bullock, o casal Angelina Jolie e Brad Pitt já enviaram quantias não menores do que um milhão de dólares. George Clooney produziu e apresentou um programa, “Hope for Haiti Now”, exibido em 33 emissoras de TV americanas, e conseguiu arrecadar US$ 57 milhões. Li que usuários das redes sociais no Brasil estão enviando ajuda também.
O estado brasileiro, que há seis anos faz um trabalho elogiável de manter a paz no país, como líder da força da ONU lá instalada, agora se suplantou, descansado seus fuzis e levando água e comida para a população desesperada, além de enviar um treinadíssimo contingente de bombeiros
Agora, é a nossa vez. Aliás, acho que é um dever de cada um de nós: solidariedade para com os fracos, doentes, aqueles em desespero, expressa pelo desejo de dar um sentido nobre e humanitário para uma comunidade.
Se virarmos às costas para esse indescritível desastre e para esse povo mais do que sofrido, podemos ter certeza que o Haiti é aqui mesmo.
Você pode enviar ajuda, entre outras entidades, para:
Embaixada do Haiti no Brasil
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1606-3
Conta Corrente: 91000-7
CNPJ: 04170237/0001-71
Care Internacional Brasil
Banco: ABN Amro Real
Agência: 0373
Conta corrente: 5756365-0
CNPJ: 04180646/0001-59
Comitê Internacional da Cruz Vermelha
Banco: HSBC
Agência: 1276
Conta Corrente: 14526-84
CNPJ: 04359688/0001-51
ONG Viva Rio
Banco: Banco do Brasil
Agência: 1769-8
Conta Corrente: 5113-6
CNPJ: 00343941/0001-28
Ou para Médicos Sem Fronteiras.

21.1.10

Espantando o calor

Canícula, vejo no dicionário, se refere a Sirius, a estrela mais brilhante da constelação do Cão Maior. Seu nome latino é justamente “canicula”, pequeno cachorro. Vem do latim e simpaticamente significa “cadelinha”, é a principal estrela da constelação do Cão Maior, ou Sirius. Quando ela aparece, é sinal que o sol está mais próximo da terra. É o fim: calor escaldante, tórrido. Está fazendo 40º, mas a sensação é de 50º.
Diante disso, minhas preferências vão para os sucos. É a melhor alternativa para o álcool. Calor à parte, ficamos entupidas de álcool com as comemorações de fim de ano. Diante de nós, temos o carnaval, com mais tentações alcoólicas. Nada melhor do que dar um tempo e buscar alternativas aos destilados, à cerveja e ao próprio vinho. Eu faço isso com sucos e mais sucos, de fruta e de vegetais. Eis aqui algumas receitas que, além de serem deliciosas, possuem outras e importantes qualidades.
1. Antioxidante: cenoura, beterraba e pepino.
Dá um belo suco, com um vermelho profundo: li que a beterraba ajuda a reduzir a pressão do sangue e é rica em betanina (um poderoso corante natural e também antioxidante).
Pegue uma beterraba, duas cenouras e meio pepino. Lave-os bem, pique-os e leve-os para o liquidificador. Ou para o processador. As eventuais partes sólidas podem ser peneiradas. E pronto.
2. Bom para a pele: maçã, limão e água mineral com gás.
Duas maçãs e uma rodela de limão (mas do meio da fruta; as extremidades têm muita casca).
Faça um suco com as duas maçãs, acrescente a rodela de limão sem a casca. Junte tudo numa jarra e, no final, acrescente a água mineral gasosa. Bom para a pele porque as maçãs são ótimas para ela e para a nossa digestão.
3. Bom para resfriados: cenoura, laranja gengibre.
A cenoura e a laranja são ótimas para o nosso sistema imunológico. O gengibre é utilizado medicinalmente há muito tempo: ele nos alivia de resfriados, de gargantas inflamadas. E, nesse suco, atenua a doçura da cenoura. É um suco com uma ótima cor rubra e rico em antocianinas, responsáveis por grande variedade de cores nas frutas e vegetais e também por protegê-los. São poderosos antioxidantes.
Use duas cenouras, um rizoma (o caule) do gengibre (de tamanho médio) e uma laranja. Faça sucos separados de tudo isso. Mexa bem antes de beber.
4. Bom para ressaca: laranja, gengibre, banana e mel.
O popular Blood Mary (sem a vodca), com seu molho inglês e Tabasco me acaloram. O suco de tomate de faz inchar. Ele é melhor no inverno. No verão, prefiro uma laranja com sua vitamina C, uma banana com a vitamina B, mais o potássio (que perdemos pelo efeito diurético do álcool e serve como redutor de pressão), o gengibre para acalmar o estômago e a frutose do mel para colocar um pouco de açúcar no sangue, ajudando a equilibrar a pressão. Se, além disso tudo, adicionarmos um ovo (clara e gema), vamos estar fornecendo cisteína, um poderoso aminoácido que nos ajudará a limpar nosso sistema de toxinas. Mas use o ovo só em desespero de causa.
São duas laranjas, uma banana, uma raiz de gengibre (tamanho de um dedo polegar), uma colher das de chá de mel.
Esprema as laranjas e coloque seu suco num liquidificador com a banana e com o gengibre (devidamente ralado) e o mel. Bata até que fiquem cremosos. Utilize água filtrada se quiser o suco menos denso.
5. Bom para desintoxicar: brócolis, espinafre e abacaxi.
O espinafre é um reputado purificador, os brócolis é o nosso conhecido super vegetal: é rico em vitaminas C, K e A, além de fartíssimo em fibras. Contém também nutrientes com propriedades anticancerígenas, como o diindolylmethane e o selênio (que estou agora consumindo bastante: um antioxidante ótimo para alguns problemas da vista). O abacaxi entra aqui para adoçar, atenuar os sabores potentes do espinafre e dos brócolis, além de auxiliar na digestão.
Uma fatia de abacaxi (de uns 5 centímetros) cortada em pedaços, um molho de brócolis (pode utilizar o vegetal inteiro (tudo nele é comestível), um molho de espinafre. Faça um suco de tudo isso (ou esprema, leve ao liquidificador ou processador). Junte água se achar muito espesso.
E para acompanhar? Pipoca: espantei-me quando soube que a pipoca é um rico antioxidante, assim como as frutas e os vegetais. Um químico americano, Dr. Joe Vinson, descobriu que a pipoca (ou o milho da pipoca) oferece polifenóis em altos níveis. Os polifenóis pertencem a um grupo de elementos químicos encontrados em frutas, vegetais e outras plantas, como azeitonas, folhas de chá e nas uvas. São antioxidantes, em constante trabalho de remover de nosso sistema os tais radicais livres, que podem danificar células sadias e tecidos em nosso corpo.
Acontece que o efeito desses polifenóis é dez vezes maior do que as vitaminas C e E.
O Dr. Joe Vinson é professor do Departamento de Química da Universidade de Scranton, Pennsylvania. EUA. Ele explica que pesquisas recentes demonstraram que esses polifenóis, em grãos como os do milho da pipoca, possuem antioxidantes em quantidades comparáveis às das frutas e dos vegetais. Ele ensina que, entre os petiscos salgados, é nossa popular pipoca quem possui a maior quantidade de antioxidantes por grama. Seu trabalho foi apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Química.
Portanto, se quiser acompanhar esses sucos com um petisco também saudável, não se esqueça da velha pipoca. E, pronto, você já está razoavelmente abastecida, com sabor e qualidade, para espantar esse calor de cão, nome que tem origem na mesma constelação do Cão Maior, na estrela Sirius, a “cadelinha” que está agora promovendo toda essa canícula.

12.1.10

A viagem do professor Nutt

Um cientista inglês está criando um substituto para o álcool. Quando pronto, evitará a embriaguês e a vizinha ressaca. Esse álcool-sem-álcool poderá, segundo consta, reproduzir até aquela agradável leseira, a sensação de relaxamento que anuncia a embriaguês. E tem mais: se a pessoa ficar muito aparvalhada, bastará tomar uma determinada pílula para que fique ligada novamente, sóbria como nunca.
Trata-se de um álcool sintético desenvolvido a partir de elementos químicos parentes próximos do Valium, o famoso tranqüilizante cujo princípio ativo é o diazepam. A matéria que eu li e inspirou essa coluna (veja aqui) diz que esse novo formato de Valium agirá sobre nossos nervos de modo a garantir a sensação de bem-estar e relaxamento.
Paciente leitora, acredite: com essa notícia eu me revelo uma profetisa, uma adivinha. Em outubro de 2006, publiquei aqui uma matéria sobre um vinho sintético que era consumido pelo Capitão Picard, comandante da nave estelar Enterprise, na celebrada série Jornada das Estrelas. Naquele mundo ficcional, Picard nascera e fora criado no vinhedo de sua família, na França. Pertencia a uma família de vinicultores, que lamentava pelo famoso filho renegar o produto legítimo e preferir o vinho sintético, interestelar, feito com uma substância chamada de “synthehol”, cujos efeitos intoxicantes eram todos ilusórios e não químicos. Na época, eu falava de transgênicos, de clonagens, tendo como referência um futuro de ficção científica.
Agora, tentam fazer com que a ficção vire realidade - graças ao engenho do Professor David Nutt (e a por um time do Colégio Imperial de Londres), tido como um dos maiores conhecedores de drogas da Inglaterra, conselheiro governamental para matérias envolvendo desde maconha à ecstasy. Pois Nutt está criando um novo “synthehol”, mas os tais efeitos intoxicantes não são nada ilusórios e totalmente químicos.
“Synthehol” é um neologismo, fusão de duas palavras: “sintetizado” e “álcool”. Teria as mesmas características do álcool, mas sem os efeitos prejudiciais da intoxicação, vício etc.
O professor Nutt imagina um mundo no qual as pessoas possam beber sem ficar bêbadas. “Não importa quanto copos tomem, essas pessoas continuariam num agradável estado inebriante e, ao fim de uma noitada, os festeiros poderão tomar uma pílula de “sobriedade” e dirigir em segurança para casa”.
O objetivo final, claro, é substituir o conteúdo de álcool em cervejas, vinho e destilados pelo novo etanol (ou o nome que venha a ter a droga).
Por outro lado. A matéria não diz como é que essa substituição será feita. Imagino que não vão fazer um suco de uva e adicionar um xarope de Valium. Ora, suco de uva tem sabor de uva. O vinho é rico em sabores e aromas. Vai ver vão desconstruir vinhos, cervejas e destilados, usar uma dos muitos processos para a retirada do álcool e em seguida utilizar uma poção de diazepam. O que equivale dizer que vão ter que tirar a espinha dorsal das bebidas alcoólicas, vão acabar com o espírito delas, que é o álcool. Não é à-toa que “spirits” (literalmente espíritos) também designam bebidas alcoólicas em inglês.
O álcool, nome comum do etanol, é o mais potente componente dos vinhos, cervejas e destilados. Sem sabor e cor, tem efeitos importantes, não apenas em nosso sistema nervoso. Sabores e aromas nos vinhos, pelo menos, dependem do álcool. É ele que vai equilibrar elementos vigorosos como os taninos e os ácidos. O álcool é fundamental na longevidade do vinho, realça qualidades e permite que a bebida nos forneça camadas e mais camadas de sabores e aromas.
Durante o processo de fermentação o álcool entra em contato com alguns dos ácidos da uva e produz ésteres que resultam nos aromas e sabores do vinho. Do abacaxi ao cassis, esses ésteres são um subproduto do álcool.
Como solvente orgânico, o álcool ajuda a extrair cor e os chamados fenóis das cascas das uvas durante a fermentação. Também retira sabor do carvalho dos barris. (Esses fenóis são componentes químicos que englobam muitos pigmentos de cor, os conhecidos taninos e numerosos itens de sabor). E além de tudo isso, o álcool dá estabilidade à bebida, em particular a microbiana, o que resulta não sua proverbial longevidade. Tudo isso e mais alguns e importantes benefícios à saúde. Uma bebida sem álcool é como um trapezista solto no ar, sem rede ou sem as mãos de seu parceiro.
O vinho sempre serviu de escada para muita beberagem. Uma delas é a própria Coca-Cola. Em meados do século 19, os chamados “vinhos tônicos” começaram a ganhar popularidade. Eram basicamente uma mistura de vinho “fortificado” com álcool etílico e folhas de coca, a planta sul-americana da qual deriva a cocaína. Um xarope que promovia um “arranco”, um “quique” nos consumidores. Eram vendidas como estimulantes. Na época, o Vin Mariani chegou a ser a marca mais famosa, elogiada até pelo papa e pela rainha Vitória. Mas foi a versão americana que sobreviveu: criada em Atlanta, Geórgia, pelo americano John Pemberton, com o nome de “French Wine Coca”, misturava folhas de coca, noz de cola e damiana, além do etanol. Em 1885, leis locais forçaram Pemberton a criar uma versão não alcoólica e menos Comando Vermelho. De lá pra cá, o vinho de Pemberton, vendido como remédio em farmácias, transformou-se no refrigerante mais consumido do mundo.
Mas o vinho do professor Nutt não tem nada de refresco. E tem tudo para ficar com essa imagem de medicamento, cheio de elementos químicos, sedativos, cujos efeitos sobre nós ainda não foram estudados.
Ah, se não contém álcool só pode ser bom. Em seu lugar, entra um sossega-leão que todo mundo conhece. Até a vovó pode tomar para dormir melhor. Vão dizer que os benefícios do vinho para a saúde (aqueles que o etanol ajudou a promover) continuam na bebida, só que dentro da garrafa eles não vão saber onde se encontrar. Poderemos num jantar tomar algumas garrafas. Basta não nos esquecermos da tal “pílula da sobriedade”.
Será um crime chamarmos essa nova bebida de vinho, caso o “invento” do Dr. Nutt venha à luz algum dia. Afinal, qual a diferença entre ficar bêbada com álcool ou com Valium? O acidente com o carro será diferente? Quem esquecer a tal pílula da sobriedade em casa será punido? Haverá um bafômetro especial para os novos bebuns, para quem se enxaropou com Valium? É intrigante que uma solução para os excessos do álcool já nasça com uma "pílula da sobriedade". Será que essa gente acha que ao bebermos duas taças do vinho (o produto natural), não podemos ficar em paz, serenas, relaxadas? Ou vamos logo mostrar a bunda na janela do carro?
Quer saber, NUT em inglês pode ser noz, mas também insano. O Nutt do professor inglês, com dois tês, talvez indique que ele seja duplamente lelé.
Responsabilizam o álcool por um problema social. O problema que o professor inglês quer resolver é o do excesso de álcool. E ele pretende resolver isso com um excesso de diazepam. Existem leis para os abusos de qualquer ordem, excessos comportamentais, no trânsito etc. Façam com essas leis sejam cumpridas e punam os infratores. Pelo que se lê, o programa Lei Seca vem dando certo, mas o índice de acidentes continua altíssimo em nossas estradas. A culpa é do álcool ou do buraco? Ou da estrada construída sob encostas que sempre desmoronaram? Ou de quem não tampou o buraco? Ou de quem construiu a estrada? Qual a solução para o excesso de desmazelo nas coisas públicas? Algum xarope criado em laboratório?
O importante é não deixar que deformem bebidas que estão entre nós desde os primórdios da humanidade. Vinhos, cervejas e destilados nunca se apresentaram como remédios. Uma ou outra vez foram utilizados como tal, porém, sem que jamais tenham sido descaracterizados.
Acho que o professor Nutt está viajando, não na Enterprise, mas na maionese. Em vez de jaleco deveria estar usando uma camisa de força.
Da Adega
Viña Ventisquero mais sustentável. A vinícola chilena, a única no país a possuir os certificados de qualidade e meio ambiente, além de pagar voluntariamente pela emissão de CO2, acaba de firmar um segundo Acordo de Produção Limpa com a Corporação Chilena de Vinho e várias entidades do governo. O objetivo é não só cumprir todas as normas ambientais vigentes e adicionar elementos a projetos que ainda não são lei.
Os vinhos Ventisqueiro, que chegam ao Brasil através da Cantu Importadora, com rótulos famosos como o Pangea, o Grey e o Queulat.
A maré do verão. Ela é refrescante, deliciosa. E rosada. Em todo o mundo, os vinhos rosés estão em alta. Se existe um setor que nada sofreu, pelo contrário, só fez vender mais, foi o dos vinhos rosés, em particular aqueles da Provença – ou da sua terra natal, pois é de lá que vêm os melhores espécimes de rosados. Até drinques com o rosé ganharam o mundo. O Piscine, por exemplo, que só freqüentava Saint Tropez, agora é servido nos bares mais sofisticados dos quatro cantos do mundo. O Piscine, como o nome diz, é rosé provençal servido numa grande taça de vinho com 7-8 pedras de gelo.
No Brasil, os vinhos da Provence podem ser encontrados em mais de 20 importadoras. Confira abaixo alguns dos rótulos:
- Cep d'or (Rosé 2007) - Celebrity Importadora, R$70
- Château Deffends (rosé 2008) - Le Tire Bouchon, R$68
- Château de Pourcieux (rosé 2008) – Cantu, R$65
- Coste Brulade (rosé 2008) - Casa Nunes Martins, R$41 (Rio), R$51 (SP)
- Domaine de Fontlade (rosé 2008) – Cave Jado, R$53
- Domaine de Pontfract (rosé 2008) - KB-vinrose, R$58
- Domaine Sorin (rosé 2008) – Decanter, R$62
- Provence One (rosé 2008) - Le Tire Bouchon, R$68
- Rimauresq (rosé 2008) - Enoteca Fasano, R$136
- Saint Roch (rosé 2008) - Le Tire-Bouchon, R$49
- Saint Sidoine (rosé 2007) – Mercovino, R$65
Saiba mais, inclusive os endereços dessas importadoras, no site
Vins de Provence. E aproveite essa maré.
Vinhos Pontuados. A propósito da Cantu: a adega da importadora já conta com vinhos cotadíssimos da chilena Ventisquero (veja acima), como o Pangea (eleito como o melhor Syrah do Chile) e mais quatro rótulos da portuguesa Quinta do Valado (Douro Reserva 2007, Touriga Nacional Douro 2007, Douro 2007 e Sousão Douro 2007), além do Ben Marco Expressivo 2007, da argentina Dominio del Plata. Saiba mais no site da
Cantu.

7.1.10

As etiquetas

Pego uma carona no que resta do clima de festas para comentar sobre a chamada etiqueta do vinho. Uma amiga reclama que trouxe uma garrafa para o dono da festa e ele nem a abriu. Outra emenda que ia trazer um vinho, mas não sabia qual a preferência do anfitrião e desistiu. A ordem das taças na mesa está correta para umas e erradíssima para outras. E as taças, são apropriadas para os vinhos que serão servidos? Como sou aquela que “entende” de vinhos, viro um imã. Aproveito o espaço para desmagnetizar:
Sabemos que essas regras, essas formas cerimoniais mudam com o tempo e variam de lugar para lugar. Em São Paulo, vale só um beijo na face. Já no Rio e em Paris, dois são indispensáveis. A Polônia exagera: são três. No século 19, na França, uma carta comercial terminaria mais ou menos assim: “Je vous prie de bien vouloir agréer, Monsieur, l’expression de mes sentiments distingués” (mais ou menos, “Rogamos que bondosamente aceite, senhor, a certeza de minha mais alta consideração”). Hoje, encerraríamos com um simples (mas ainda cerimonioso), “Respeitosamente”. Nessa era da internet bastam reduções como “Bjos”, “Bye”. A idade da “Vossa Excelência” caducou e hoje vivemos tempos mais igualitários, com a afabilidade desbancando a formalidade: até um presidente é tratado, dentro e fora do seu palácio, por um simples apelido. E quando começamos a conquistar postos de trabalhos antes reservados aos homens o tratamento mudou de vez. Recusamos ser chamadas de Sra. ou Srta. Silveira ou Dona Gomide. Não, deixamos de ser o sobrenome do pai ou do marido.
Nos tempos da rainha Vitória, era problemático oferecer presentes. Se você levasse flores, o anfitrião entenderia que você achava seu jardim um lixo!
O mesmo acontecia se você chegasse com uma garrafa de vinho, o que implicaria que a adega do dono da festa estava vazia ou que o mais reles pé-sujo tinha rótulos melhores. Ofensa grave. Agora, não. O indispensável é que não cheguemos de mãos vazias.
Se conseguir apurar direitinho e levar um vinho sabidamente apreciado pelo anfitrião, muito bem. Porém, não se espante se a garrafa for posta de lado e você nunca mais ouvir falar dela. Ora, o vinho foi um presente, o dono da festa é quem decide o que fazer com ele, não tem obrigação de bebê-lo imediatamente. Se quiser que ele abra, informe que trouxe uma garrafa especial que gostaria de saboreá-la com os demais convidados. Em eventos como jantares, é mais comum que os vinhos presenteados entrem na fila para serem degustados.
Muitos anfitriões, embora não obrigados pela etiqueta a fazê-lo, abrem as garrafas temendo desagradar um convidado tão benévolo. Ou simplesmente podem se desculpar: já escolheram os vinhos a serem servidos, a comida a ser servida não combinará tão bem com o que foram presenteados; preferem guardá-lo para uma próxima ocasião.
Às vezes, um item como o da religião pode implicar em problemas de etiqueta. Uma amiga não judia foi convidada para a ceia da Pessach, da Páscoa, a mais importante festa judaica, que celebra a libertação dos judeus da escravidão no Egito. Estava em dúvida se deveria levar um vinho. Ora, o rito religioso nessa festa implica em que os presentes bebam quatro taças de vinho. Logo, uma garrafa a mais não seria má idéia, disse. Observei, contudo, que o vinho deveria ser “kosher”, ou seja, “apropriado”, “próprio” para ser consumido segundo as leis dietéticas judaicas, o “kashrut”. Do momento em que as uvas são prensadas até o engarrafamento, essas mesmas leis proíbem que o vinho seja tocado e, em certos casos, até mesmo visto, por um não judeu ou por algum judeu não religioso. Para garantir essas leis, as vinícolas kosher empregam apenas “haredim” (ou “haredi”), judeus ultra-ortodoxos, observantes rigorosos do Torah.
Recomendei que comprasse um vinho kosher, marcado como “mevushal” no rótulo: ele pode ser manuseado por qualquer pessoa e ainda assim permanece kosher, pois foram pasteurizados como parte de um ritual para proteger sua integridade religiosa. Não é muito fácil encontrar esses vinhos por aqui, mas acho que a minha amiga se saiu bem. Ela comprou um vinho espanhol (se não me engano, o Flor de Primavera) e disse que ninguém reclamou.
Quanto às ordens das taças: é item importante apenas num jantar formal. Comece pela taça de água, que deverá ficar à direita, bem diante de sua faca. As taças de vinho partem daí, da esquerda (da taça de água) para a direita, seguindo a ordem dos talheres. Então, temos: a taça de água, as taças de vinho branco e a taça de vinho tinto. Mas atenção: essa é a ordem que eu mais vejo praticada. Pode ser que você encontre tudo às avessas: as taças fiquem alinhadas na frente do prato, da direita para a esquerda. Fico prestando atenção no que os outros convidados fazem e os imito. Sem dramas.
Quanto às taças: as de champanhe: você sabe que agora não usamos mais as vitorianas, aquelas bojudas (modeladas, segundo a lenda, nos seios de Maria Antonieta). Foram abolidas por oxigenarem demais o espumante: a efervescência logo se perdia. Agora de rigueur são as flutes, com as hastes longas e os corpos bem delgados, elegantes, justo para que as bolhas não se percam logo. As de vinho branco são menores que as do tinto, para melhor concentrar seus aromas. A do tinto justamente para ajudar a liberá-los. Em todas, do espumante, do tinto e do branco, a boca é mais estreita que o corpo para concentrar os aromas.
Em tempos passados, ficaríamos perdidas em repetir um prato ou uma simples xícara de chá. Será que a etiqueta permitiria aplacar minha fome, minha sede? O que fazer? Qual a regra nesses casos?
Etiqueta é uma palavra de origem francesa, originária de estiquette, rótulo, logo adotada para definir os costumes ou regras de comportamento tidas como corretas ou aceitáveis na vida em sociedade. É uma convenção muitas vezes não escrita de um código ou prática seguida até por grupos profissionais, como o dos médicos ou de jogadores de futebol.
Ela muda, tal como as modas. Veja, na década passada os carros prateados eram absolutos. Os pretos eram reservados apenas para os carros oficiais. Agora, eles começam a ganhar terreno e estão virando moda, novamente. O mesmo com as bicicletas, um transporte popular apenas entre os chineses, agora tido como grande solução para o caos do transporte urbano. Li que, além dos alemães e holandeses, os italianos (os milaneses, em particular) estão desistindo de seus carros e começando a pedalar. Já pensou, italiano deixando o carro na garagem? Falam que os restaurantes, mesmo os mais finos, estão abandonando aqueles menus de dezenas de páginas, por cardápios mais simplificados, com prato do dia e mais umas poucas opções. Faz sentido, os bolsos também ficaram mais magros.
Pode estar certa de que existirão regras – ou etiquetas – para que possamos fazer das bicicletas nosso principal veículo de transporte (a natureza agradeceria). Pode ser até que as taças de vinho desapareçam e sejam substituídas por simples canecos. Quem sabe? Em tempos mais remotos era assim que se bebia vinho. E todo mundo gostava. O que não deve ser mudado é a nossa disposição de tocar pra frente, em paz, com alegria, fazendo amigos. Vamos participar das festas descontraidamente. Caso machuquemos a etiqueta e fiquemos numa saia justa, entre Oops!! e etas!!, basta um pedido de desculpas e seguir adiante. 2010 mal começou. E, pronto, desmagnetizei.