26.3.10

Bebendo as estrelas

1. Sabor e aroma nas bolhas. Elas são responsáveis por muito das delícias dos espumantes, do champanhe em particular. Não calcule o que pode fazer uma minúscula bolha. O cheiro típico da maresia, por exemplo, deve muito às bolhas. As ondas as formam, delas sobem bolhas que carregam consigo componentes que promovem a maresia.
Esses componentes são chamados de tensioativos. Possuem uma extremidade que se dá bem com a água, fica em contato com o mar. A outra ponta, que não tolera água, fica dentro da bolha. Quando ele finalmente explode, esses componentes são liberados para o ar nas vizinhanças das ondas que os formaram
Esses tensioativos são importantes nos produtos de limpeza, nos detergentes, por exemplo. Removem a sujeira, pois sua estrutura possui uma parte que hidrófila, que “gosta” da água, e outra hidrofóbica, que evita a água. No processo de limpeza, a sujeita é deslocada para o interior das bolhas, ficando em suspensão, evitando que volte a depositar-se na superfície que está sendo limpa.
Uma taça de Champagne é como se fosse um oceano em miniatura. Ao retirarmos a rolha da garrafa, bolhas de dióxido de carbono se formam e sobem para a superfície. Trazem com elas esses compostos tensioativos, carregados de aromas e odores. Quando as bolhas explodem liberam esses aromas ficam pairando no ar sobre a bebida.
Essa propriedade foi descoberta graças a uma pesquisa feita pela Universidade de Reims (a maior cidade da região de Champagne, França, produtora dessa maravilhosa bebida). Uma garrafa de Champagne pode produzir cerca de 100 milhões de bolhas e oferece ainda uma boa área para hospedar os tensioativos.
Os pesquisadores, usando espectômetros de massa de alta resolução, analisaram as diferenças entre o champanhe na taça e no ar sobre a mesma. Registraram centenas de componentes concentrados no ar, todos originários da garrafa. As análises demonstraram que esses componentes tinham seu papel na composição do sabor e do aroma da bebida.
O que acontece é que essas bolhas funcionam como aerossóis, projetando-se por vários centímetros sobre a superfície do líquido, onde pipocam e liberam aromas e sabores.
2. Quanto mais bolhas, melhor. Como conseguir o máximo de bolhas nas taças? Em primeiro lugar, mantenha a bebida bem resfriada. As bolhas são produzidas pelo dióxido de carbono (criado por uma segunda fermentação na garrafa), um gás que se faz mais solúvel quando o líquido em que habita está geladinho. É por isso que em bebidas carbonatadas – do Champagne ao guaraná – perdem logo o seu gás quando mornas ou quentes.
As bolhas são formadas pelas imperfeições da taça. Alguns fabricantes produzem arranhões no interior da taça (com dispositivos a laser ou com ferramentas especiais) de modo a que a formação de bolhas seja contínua. Por falar nisso: as tulipas ou flutes são as taças preferidas, com o seu formato agindo com uma chaminé para capturar e ao mesmo tempo canalizar as bolhas.
3. Como preservar as bolhas? Talvez a compra de Champagne ou de espumantes fosse maior se não fôssemos obrigados a beber toda a garrafa. Com os vinhos parados, podemos simplesmente recolocar a rolha (ou a rosca metálica) e beber o que restou depois. Mas com o champanhe temos o problema das bolhas. Como poupá-las? Suas rolhas, uma vez retiradas, só por mágica podem ser recolocadas.
Resolvo isso com uma tampa específica para isso, vendida em qualquer boa casa de acessórios. Bebo meia garrafa num dia, coloco essa salvadora tampa e deixo o resto para o dia seguinte. Inclusive, acho que alguns champagnes mais jovens ficam mais interessantes depois de abertas por um dia. Veja essa tampa.
4. Mais leves. Agora mesmo, os produtores de Champagne anunciaram uma redução no peso de suas robustas garrafas. A garrafa padrão, de 750 ml, pesando 900 gramas, ficará mais leve 65 gramas. Tudo em nome de reduzir os custos com transporte e com ele reduzir as emissões de gás estufa. Com isso, o pessoal de Reims calcula que essas emissões de dióxido de carbono cairão para oito mil toneladas métricas, iguais ao produzido por quatro mil automóveis.
As novas garrafas foram testadas por dois anos de modo a assegurar que não explodam na cara dos consumidores.
5. Champagne: uma exceção. O ótimo crítico inglês Andrew Jefford fala que essa lendária bebida é cheia de paradoxos. Nota que a “poesia do vinho francês é expressa pelo verso da safra”. Em todo o lugar é assim: a colheita desse ou daquele ano foi boa, ótima, sofrível. Como virá o vinho. Em todo o lugar é assim, menos na região de Champagne, onde a maioria dos vinhos não traz no rótulo o ano da colheita.
Observa também que os espumantes são um bicho diferente dos vinhos parados. São mais industriais: são vinhos de processos, mais industriais, mais manipulados do que de lugar (de terroir). Os champagnes têm sabor desses processos (aqueles sabores de biscoito, de levedo). Mais do que de um lugar, de uma região. São sabores que resultam de misturas de vários vinhos parados, feitos em anos diferentes.
Mas o que importa mesmo, no fim das contas, é a soma de belas surpresas que essas bolhinhas produzem. Dom Perignon, quando provou champagne pela primeira vez, declarou: “Estou bebendo as estrelas” (sem se importar se as bolhas tinham componentes tensioativos ou não).
Da Adega
Páscoas.
Tanto a cristã como a judaica acontecerão em datas muito próximas. A primeira, domingo, quatro de abril. A segunda, um pouco mais cedo, 30 de março.
A butique de doces comandada pela chef pâtissière Mara Mello, em São Paulo, criou doces, bolos, tortas e bavaroises (sobremesa fria feita com um molha de leite e ovos, creme e gelatina) que certamente vão servir e agradar judeus e cristãos. No cardápio cristão destacam-se os ovos de ganache de framboesa com manjericão. Para a festa judaica, tortas de marzipã com ganache de mel e a macaron de chocolate com banana e gianduia, ambas, claro, sem fermento, como manda a tradição.
Na loja, podemos também comprar bombons feitos com chocolate francês Valrhona. Ou belga, o Callebaut, kosher. A Pâtisserie Mara Mello fica na Alameda Monteiro da Silva, 1308, Jardim Paulistano, São Paulo, SP. Veja o site.
Vinhos e chocolate. Não me arrisco a recomendar. No máximo, tente com um Tokay Azsú, um Bual, tintos bem maduros: Syrah, Zinfandel.
Para quem quer evitar confrontos com o chocolate, a
Casa Valduga, entre outras, oferece uma linha exclusiva de vinhos kosher, tanto os parados como os espumantes.

17.3.10

Mamãe eu (não) quero

Acho que não estamos honrando Darwin e nossos genes não estão evoluindo lá essas coisas. Vejamos:
1. O vinho da caveira. Em 1805, o Tenente Gabriel Moraga foi enviado pelo governador da Califórnia para explora o Grande Vale Central e tirar de lá os nativos e dar nomes a tudo o que encontrasse. Um dia, Gabriel e seus cavaleiros chegaram a um rio, cujas margens estavam coalhadas de crânios. Ninguém conseguiu explicar como aquelas ossadas apareceram por lá. Talvez o que restou de alguma batalha ou de uma peste. Alguma coisa, muito tempo atrás tinha dado errado. Só que, honrando sua missão, Gabriel deu um nome ao rio recém descoberto. E conseguiu ser o mestre do óbvio: “El Rio de Las Calaveras” – “O Rio das Caveiras”.
Corta para os tempos atuais. Não é que um vinicultor, Jeff Stai, dono da Twisted Oak Winery, que funciona ali pertinho do rio, em Vallecito (na Califórnia, claro), resolveu dar a algumas de suas marcas o nome de caveira. Temos o “Calaveras County Viognier”, o “Calaveras County Grenache” etc. No rótulo, um fundo preto com a figura de uma caveira em vermelho.
No mínimo de mau gosto. Mas dizem o que o vinho é até razoável. Não o beberia sozinha.
2. Perfume de vinho. Já pensou em usar perfumes inspirados em cepas? Digamos, aparecer num jantar com aromas de Sauvignon Blanc, Chardonnay, Riesling, Merlot?
Eu jamais me interessaria por essa novidade. Num jantar, por exemplo, quando certamente eu teria um vinho à minha frente, como poderia analisar ou desfrutar de seus aromas, com o nariz deformado por um dos tais perfumes de vinho. Ou por qualquer outro perfume.
O fabricante, Salud, confessa que conseguiu essas suas fragrâncias estudando várias cepas e tirando delas “suas notas individuais, como grama fresca, frutas vermelhas e taninos”. Como? Qual o aroma do tanino? No meu quintal, grama fresca tem um cheiro. Será que é igual em todo lugar?
Reconhece também que “o verdadeiro conhecedor de vinho nunca usaria perfume numa degustação em razão da interferência do bouquet da varietal”. E tenta remendar o soneto: “Acreditamos que (essa interferência) é que faz de nossos perfumes de vinho tão intrigantes, pois nossos blends vão na verdade destacar os atributos de ambos”. Inacreditável.
O pior, porém, é você, cheirando a vinho e dirigindo um carro. De repente, os guardas mandam que pare e, pronto: vai direta para o bafômetro. Ninguém vai acreditar que esteja transpirando um Merlot – ou qualquer das outras possibilidades.
Veja como funciona toda essa idiotice no site do fabricante: Salud Spa Bar.
3. Queijo de peito. A impressão que dá é de que o dono da Klee Brasserie, um bistrô especializado em pratos alemães e austríacos, no bairro de Chelsea, em Manhattan, NY, resolveu meter os peitos pra valer. Não só os dele, o da mulher também.
O chef Daniel Angerer está fazendo um queijo especialíssimo a partir do leite materno. Sim, do leite com o qual sua esposa, Lori, deveria estar alimentando sua filha, Arabella, hoje com dez semanas. Talvez, Lori seja muito produtiva e o queijo é produzido com uma sobra de seu leite.
Daniel divulgou a novidade do queijo humano em seu blog e logo os clientes começaram a pedir para experimentar. O chef preparou canapés feitos com figos, pimenta húngara para que os freqüentadores do restaurante experimentassem.
Diz o chef que a resposta tem sido positiva, na média. Algumas pessoas ficam um tanto melindradas. Muitos criticam o que acham uma combinação de sexo e queijo. Porém, argumenta a esposa: “Os seios estão aqui para produzir alimento”.
“Algumas pessoas aceitam a prova explicando que não foram amamentadas quando criança. E que essa é uma grande oportunidade para saciar essa necessidade”. (Não deram o nome de seus psicólogos).
O Departamento de Saúde norte-americano não proíbe essa prática explicitamente, mas aconselhou ao chef a evitar dividir o leite de sua mulher com o mundo. “O restaurante sabe que queijo feito com leite materno não é para o consumo do público, seja vendido ou ofertado”, disse um representante do departamento.
Você já percebeu que estão roubando o doce da criança. Talvez o casal, lembrando o sucesso da Carmem Miranda, esteja dando a chupeta para o bebê não chorar.
A estupidez humana é infinita, disse Albert Einstein. Temos aqui três exemplos.

13.3.10

Mais testes

1. Você está precisando perder peso e luta desesperadamente contra a barriga que está crescendo. Deve: a) parar de beber completamente já que o álcool contém calorias; b) beber sem susto, pois as calorias do álcool não se convertem em gordura; c) consumir apenas bebidas com uma contagem baixa de carboidratos; d) beber vinho pode ajudar a perder peso.
2. Frizzante é: a) o mesmo espumante; b) é um termo italiano para vinhos semi-espumantes; c) como os portugueses radicados no Brasil, ao tempo de D. Pedro I, denominavam o Champagne bebido pela Corte.
3. Viscosidade é uma palavra que faz parte da linguagem do vinho, o “vinhês”. Significa: a) que a garrafa ficou engordurada em razão do manuseio pelos produtores e comerciantes; b) resistência que o líquido (o vinho) oferece ao movimento: ou seja, o seu atrito na boca, quando bebemos; c) é o mesmo que “corpo” (“vinho com bom corpo”, dizem os críticos).
4. Mosto é outro termo nesse vocabulário técnico. Quer dizer: a) o mesmo que suco de uva; b) o vinho que ainda não foi filtrado e ainda apresenta galhos dos cachos, sementes, cascas e polpas da uva; c) nem uma coisa, nem outra.
5. Oscar de melhor ator, após seis indicações, pelo filme “Crazy Heart”, Jeff Bridges, 60 anos, possui um vinhedo em Santa Bárbara, Califórnia. Lá ele produz e comercializa: a) um vinho comum para o dia-a-dia, ainda não batizado; b) vinagre; c) suco de uva; d) o vinho “Be Here Soon”, nome de um dos seus álbuns.
Respostas:

1. Uma pesquisa recentíssima informa que a resposta correta é a última: se bebermos moderadamente (de uma a duas taças de vinho) vamos nos sair melhor em termos de perda de peso do que mulheres que absolutamente não colocam uma gota de álcool na boca. Esse trabalho foi realizado por pesquisadores do Brigham and Women’s Hospital (afiliado à Escola de Medicina de Harvard), em Boston, EUA. Eles reuniram uma amostragem de 19.220 mulheres, com 39 anos ou mais, todas com pesos considerados normais para essa faixa. Essas mulheres responderam a questionários sobre seus hábitos quanto a bebidas alcoólicas, o que bebiam normalmente no dia-a-dia. E por 13 anos foram acompanhadas, os pesquisadores interessados em saber o que o álcool conseguiria fazer com suas cinturas.
As taxas de consumo diário de álcool variaram muito entre elas. Mais de 38% responderam que eram abstêmias, enquanto 32,8% informaram que bebiam o equivalente a um terço de uma taça de vinho por dia (menos de 5 gramas de álcool). Um grupo de pouco mais de 20% registrou que bebiam o equivalente a uma caneca de cerveja ou a uma taça de vinho. Menos de 6% disseram beber duas taças diárias e 3% bebiam mais do que duas.
A má notícia ficou com o grupo de abstêmias. Embora todas as mulheres pesquisadas tivesse ganho peso ao longo desses 13 anos, foram as abstêmias que ganharam mais peso. As que beberam moderadamente ganharam menos peso, não importando a bebida de preferência: vinho tinto, vinho branco, cerveja ou destilados.
A pesquisa informa que 41,3% dessas mulheres tornaram-se gordas ou obesas. Mas foram as abstêmias as que engordaram mais. As mulheres que bebiam de um a dois drinques diários eram as menos prováveis em ingressar na categoria das gordas.
Segundo o estudo, as mulheres verificaram que a melhor bebida para ganhar pouco peso era o vinho tinto, enquanto o branco, na opinião delas, era o que mais inofensivo quanto a não ganhar peso algum.
Os pesquisadores alertam, contudo, que o álcool não deve ser utilizado como instrumento para a perda de peso. “O papel desempenhado pelo álcool no controle ou no ganho de peso ainda está longe de ser claro”, afirmam.
Quanto aos carboidratos: no caso dos vinhos, eles são fornecidos pela quantidade de açúcar que permanece no vinho após a fermentação. A quantidade é mínima: qualquer vinho seco contêm em média de 3 a 4 gramas de carboidratos (fornecidos pelo açúcar residual) em cada taça de vinho. Nenhum vinho seco deve preocupar quem procura perder peso. Afinal, é muito menos do que as 50 ou 60 gramas recomendadas por dietas do tipo Atkins e menos ainda do que contêm uma tulipa de cerveja ou um coquetel. Quanto aos vinhos, evite os doces e os fortificados.
Em tempo: um item não pesquisado foi a dieta dessas 19 mil mulheres ao longo desses anos. Será que o grupo de abstêmias não se controlava diante de um prato de comida ou ao passar pela lojinha de doces?
2. Frizzante é o termo italiano para vinhos semi-espumantes (esses, por sua vez, são completamente espumantes). Eles devem as suas bolhas a uma segunda fermentação em tanques de fermentação (normalmente pelo processo Charmat; a fermentação é interrompida num determinado estágio).
3. Segundo minha guru, Jancis Robinson, no “
The Oxford Companion to Wine”, viscosidade é a resistência de uma solução, no caso, do vinho ao fluxo ou ao seu movimento. O mel é mais viscoso do que um xarope, por exemplo, que é consideravelmente mais viscoso do que água. Viscosidade é mais ou menos o que os enófilos chamam de corpo: pode ser percebida pelo nosso paladar na forma de uma resistência quando bochechamos o vinho em nossa boca. Um vinho doce é bem mais viscoso do que um vinho seco, por exemplo.
4. Mosto, conforme a mesma guru, é o nome utilizado pelos vinicultores para o espesso líquido, que nem é suco, nem vinho, mas uma mistura de suco de uva e os fragmentos de talos, cascas, sementes originárias da prensa e da desengaçadora no início do processo de vinificação.
5. Jeff Bridges só não teve sucesso, até agora, em fazer vinhos de suas próprias uvas. Mas isso não o desanimou de ajudar a produzir vinho, mas para fins de caridade. Ele encomendou a uma vinícola de Sonoma, a Ledson, a criação de um vinho especial para a
Fundação Harmonia para Crianças (ajuda crianças em risco ou necessitadas). Daí surgiu o Ledson Harmony Collection Meritage 200, que é vendido a 98 dólares a garrafa na vinícola. Esse é o vinho que tem o nome do seu álbum no rótulo.
Na sua vinícola mesmo, só produz vinagre e suco de uva – que o ator qualifica como “esplêndido”. Jeff diz que gosta muito de vinho, embora não seja um conhecedor.
Fala que seu irmão e irmã, Beau e Cindy são os verdadeiros experts da família.

Da Adega.
Vinhos Kosher. A Páscoa Judaica está aí: dia 29 de março as famílias judaicas estarão reunidas em suas casas para uma ceia celebrando a libertação do jugo no Egito. Nessa ocasião, tomarão quatro taças de vinho. E esse vinho só poderão ser kosher, feito segundo os preceitos dietéticos judaicos. Para isso, a
Casa Valduga está oferecendo uma coleção de vinhos feitos segundo aquelas leis, o kashrut. Experimente o Casa Valduga K Cabernet Sauvignon, o Chardonnay, o Espumante Demi Sec e o Moscatel. É a Linha K feita com a supervisão de rabinos da BDK do Brasil.

5.3.10

O Chile, a orca e o índio

Qual seria a relação entre a orca que afogou sua treinadora no SeaWorld, em Orlando, e o terremoto no Chile? E o que como esses dois fatos se relacionam com um pele-vermelha? Eu percebo um enredo aí. Para começar, acho que a natureza está reclamando da situação em que a colocamos. Sei que o terremoto do Chile pode ser classificado como um desastre natural. Porém, não vamos nos enganar: os humanos estão chutando o balde. Espoliam, desrespeitam a natureza, tornando esses desastres ainda piores.
As orcas não se conformam em viver confinadas, alimentando os bolsos de seus captores (cada uma delas vale em torno de um milhão). Em cativeiro, onde são obrigadas a trabalhar 365 dias por ano, conseguem sobreviver por uns poucos anos. Livres, nos mares, podem viver entre 30 e 60 anos. O que houve em Orlando não foi um “incidente”, como pretendem os produtores desses shows. Mas uma revolta, mais uma entre tantas já acontecidas.
Os tremores continuam no Chile. Apesar da potência do choque original, de 8,8 de magnitude, o maior em 50 anos, que chegou a alterar o eixo terrestre e fazer com que nossos dias ficassem mais curtos, a infra-estrutura do país, que já prevê esse tipo de desastre, resistiu mais. Os estragos foram bem inferiores aos do Haiti. Porém, ao terrível abalo, um dos maiores já registrados até hoje, seguiu-se um tsunami, devastando vários portos e áreas costeiras. Ontem, 5ª. feira, ocorreu um novo terremoto próximo a Antofogasta. Sem a potência do anterior, felizmente aconteceu longe do mar e de áreas habitadas.
O Chile está com estradas, portos e aeroportos inoperáveis, portanto, afetando a transmissão de energia, transporte e comunicações. Além da poderosa indústria do cobre, que terá sua produção e distribuição afetadas, outro importante segmento da economia do país está à deriva, justamente o do vinho.
A área que sofreu o maior impacto, Maule e Bio-Bio, está no coração da produção vinícola do país. Vinícolas do porte de uma Concha y Toro têm grandes propriedades por lá. Os danos foram excessivos e ainda não puderam ser contabilizados. O positivo é que em termos de vidas humanas as perdas foram praticamente zero. A Concha y Toro suspendeu suas operações na área, o mesmo fazendo o resto das vinícolas. Tanques e barris vazaram, milhares de garrafas se quebraram. E isso acontece num momento em que a indústria se preparava para começar a colheita.
Um comunicado do presidente da Vinos de Chile, René Merino Blanco, informa que a indústria em geral perdeu 125 milhões de litros de vinho, seja a granel, engarrafado, ou em tonéis, um total equivalente a US$ 240 milhões. Como a colheita de 2009 chegou aos 1.010 milhões de livros, a perda é relativamente pequena, uns 12,5% do total. Ele afirma que a colheita desse ano já foi iniciada e que seus volumes não serão afetados pelo terremoto. Fora problemas com transporte e comunicação, as vinícolas, revela o presidente, estão dando prioridade a “apoiar e satisfazer as necessidades morais e materiais de seus trabalhadores”.
Longe do Chile, temos novos tremores, agora em Taiwan (de 6,5 de magnitude). E mais: são nevascas terríveis afligindo o hemisfério norte, enchentes na França; um iceberg de 2.550 km quadrados, do tamanho de Luxemburgo, solto de sua geleira na Antártida, avançando pelo Oceano em direção a Melbourne, Austrália, ameaçando afetar as correntes oceânicas, além de perturbar a biodiversidade (a vida de milhares de pingüins está desde já ameaçada). No Ártico, as geleiras estão rachando e liberando gás metano, um gás-estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono: provocará mudanças climáticas ainda mais extremas.
Calor extremo? Fique certa de que temos aí a mão do homem. Cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, o principal órgão da ONU para estudos sobre o que está ocorrendo no clima do globo, acaba de confirmar a responsabilidade dos humanos pelos desastres que não cessam de acontecer. São danos que vão do aumento de vapores de água para a atmosfera, a partir dos oceanos, tornando as águas mais salgadas. Não há dúvidas, dizem os cientistas, de que o planeta está aquecendo e a única causa possível é a atividade humana através da emissão de dióxido de carbono. A umidade atmosférica já é maior, assim como maior a salinidade dos mares. O gelo nos Pólos está derretendo sem parar. Saiba mais aqui.
Fora isso, temos o desmatamento descontrolado, os criminosos incêndios de florestas. Vamos sempre encontrar a mão do homem nesses desastres.
Antes de Tillikum, orca que atacou e matou sua treinadora em Orlando, outras baleias se rebelaram e atacaram seus treinadores (alguns casos foram fatais). Tillikum foi capturado nas costas da Islândia. Fazia oito apresentações por dia, todos os dias. Era a atração do parque. E não tinha descanso, pois dele retiram esperma e, por isso, mantido longe das orcas fêmeas. Não há registro de incidentes com orcas, quando livres nos oceanos. Ficam violentas apenas se provocadas. A resistência de animais em zôos e aquários não tem nada de estranho. As orcas, entre outras “atrações”, têm uma longa história de ataques a seus treinadores. Animais são animais, resistem à escravidão, ao trabalho forçado. E atacam de volta. Leia a matéria do counterpunch aqui.
Para mim, todos esses acidentes, naturais e promovidos pelo homem, servem para demonstrar que o futuro de nossa e de outras espécies não está em bases lunares, onde agora descobriram água (enquanto aqui em baixo a esgotamos e poluímos).
No final do século XIX, em 1852, o governo americano quis comprar as terras o chefe Seattle, líder das tribos Suquamish e Duwamish. Os índios seriam deslocados para reservas dando lugar a imigrantes. O chefe Seattle respondeu ao presidente americano através de uma carta:
“Como é possível comprar ou vender o céu ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade d água, como vocês poderão comprá-los? Cada parte desta terra é sagrada para meu povo. Cada arbusto, cada porção da praia, cada bruma na floresta escura, cada campina, cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo. Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, pertencem todos à mesma família...”
Existem várias versões dessa carta (outros dizem que foi um discurso). Uma delas versões está aqui. A que utilizei, acima, tirei do livro O Poder do Mito, do professor Joseph Campbell.
A longa carta é um testemunho da ordem moral paleolítica e nela o chefe Seattle sugere uma ética para o planeta, um planeta sem divisões. Avistado da Lua, não distinguimos nações ou Estados, etnias e religiões. Somos todos globais, somos todos iguais, irmãos. Muito depois de Seattle, em 2009, 187 países assinaram e ratificaram o Protocolo de Kyoto. Por ele, as nações industrializadas se comprometeram a reduzir suas emissões de gases estufa. Estão mesmo? Sereá que ainda falta muito para pertencermos todos à mesma família e voltarmos a respeitar a natureza, tal como o chefe índio propôs.
Da Adega
Dia Internacional da Mulher
. Para comemorá-lo, agora, 8 de março, a Confraria Carioca, a conhecida butique de vinhos no Ri Plaza Shopping, em Botafogo, Rio, estará oferecendo vinhos nacionais brancos, rosados e espumantes com 15% de desconto. Desde que comprado efetivamente por uma mulher. A Confraria fica na Rua General Severiano, 97, loja 35, Botafogo, Rio. O telefone é (21) 2244-2286.
As melhores cartas de vinho da América do Sul. A revista
Prazeres da Mesa já abriu as inscrições para a sétima edição do prêmio Cartas de Vinho. Restaurantes, bares e hotéis de 12 países, incluindo o Brasil, concorrerão nas categorias Excelência, Grande Excelência e Cartas Especializadas. As duas primeiras consideram o compromisso de manter a oferta de vinhos acima da média, o bom condicionamento e o equipamento, profissionais especializados no serviço e a atenção à qualidade dos vinhos oferecidos. A categoria Cartas Especializadas vai distinguir as casas que primam pela seleção de rótulos brasileiros e portugueses, bem como aquelas dedicadas a vinhos argentinos e chilenos. Saiba como participar aqui.
Salve a Caipirinha. A Cachaça Leblon está lançando o movimento Salve a Caipirinha, de modo a comprovar “que o mais brasileiro dos drinques deve ser feito com uma boa cachaça”. Comprovar no caso é comparecer a uma degustação de caipirinhas, dia 8 de março, às 7 da noite, no
Mr. Lam (Rua Maria Angélica, 21, Lagoa, Rio de Janeiro). Saiba mais sobre a Leblon aqui.