29.4.10

Alergias e Álcool

Você sabe é alérgica a bebidas alcoólicas? Minha querida dentista, a Flávia Yoshimura, não pôde vacinar-se contra a H1N1 porque é alérgica a, entre outras coisas, mertiolate. A vizinha e grande amiga Rejane é alérgica a, entre outras coisas, flores amarelas. Perto de um ramo de flores de outras cores, nada acontece. Com as amarelas, fica com o rosto vermelho, começa a empolar, a se coçar, sente falta de ar, um inferno.
Ambas fazem tratamentos com anti-histamínicos, apelam para acupuntura, homeopatia, naturopatia, um sem número de vias para escapar dessa praga. E como reagem depois de um copo de cerveja ou uma taça de vinho? Ambas não sabem responder: se o álcool é o agente de algum mal alérgico, elas desconhecem. Atribuem a fungos, mudança de estação (principalmente a primavera), cor das pétalas ao mertiolate etc.
Semana passada dei com um blog do New York Times afirmando que “O álcool piora as alergias”. Há estudos, diz ele, demonstrando que o composto pode causar ou piorar sintomas comuns de asma e rinites alérgicas (tosse, espirros, coceiras, dores de cabeça etc.). O problema nem sempre estaria relacionado ao álcool diretamente. Cerveja, vinho e destilados contêm histamina produzida por levedos e bactérias durante o processo de fermentação. Nos vinhos e cervejas, além disso, encontram-se os sulfitos, que podem provocar asma e outros sintomas alérgicos.
A matéria do jornal americano cita um estudo sueco, de 2005, atestando que pessoas com diagnóstico de asma, bronquite e rinite alérgica apresentavam mais chances de problemas respiratórios, espirros, narizes escorrendo, após apenas um drinque. Vinhos, tintos e brancos, seriam os principais disparadores desses sintomas. E esses males, por razões ainda desconhecidas, afetariam mais as mulheres do que os homens. Um segundo estudo, citado no artigo, descobriu que mais de duas taças de vinho por dia praticamente duplica o risco de sintomas alérgicos, mesmo entre mulheres aparentemente livres desses problemas.
O Times recomenda que pesquisemos outros alimentos que possam conter ou liberar histaminas, como queijos curados, picles ou produtos fermentados, alimentos contendo levedos, como pão e cidra.
Bastante preocupante, não é? Um colega blogueiro, Dr. Vino, também ficou preocupado e consultou um famoso alergista, o médico Sumit Bhutani, pertencente à equipe da respeitada Allergy & Asthma Associates. Bhutani é amante de vinhos e leitor do Dr. Vino.
E foi esse alergista que me fez entender melhor esse quadro. Diz o médico que as histaminas nos alimentos (e nos vinhos, cervejas e destilados) não têm nada a ver com reações alérgicas, pois sua quantidade é inexpressiva. Ele apresentou um link para outro estudo que afirma: “Não há correlação entre intolerância a vinho e o conteúdo de histamina na bebida”. Em 100 gramas de peixe, em 100 gramas de berinjela temos mais histamina do que em 100 ml de vinho tinto. Olha que esse trabalho foi publicado pela Biblioteca Nacional de Medicina e pelos Institutos de Saúde do governo americano.
Quantos aos sulfitos (ocorrem durante o processo de fermentação dos vinhos e, ainda, são acrescentados pelo produtor como conservantes), tidos como causadores de alergias ou perigosos para quem sofre de asma, o médico explica que essas substâncias promovem sintomas alérgicos numa pequena faixa da população já sensível a elas (nos Estados Unidos, um em cem adultos). Para quem já tem asma, as reações acontecem geralmente sob a forma de espasmos brônquicos. É um grupo de risco: 5% da população americana. Daí a advertência nos rótulos dos vinhos norte-americanos sobre os sulfitos. Porém, podemos encontrá-los em frutas, verduras e peixes. Damascos secos costumam ter níveis mais altos de sulfitos do que uma taça de vinho. O sulfito, utilizado desde os tempos remotos, citado até na Bíblia, sempre foi um poderoso aliado no combate a fungos e micróbios.
O Dr. Bhutani fez referência a uma outra pesquisa, específica sobre a reação de pessoas com alergias respiratórias diante de vinhos seja com alto ou com baixo teor de sulfitos. O resultado foi que quaisquer que fosse os teores desses sulfitos, eles não se provaram responsáveis por induzir a crises de asma ou bronquite.
Quanto ao álcool propriamente: ele pode piorar os quadros alérgicos? Ninguém é alérgico ao álcool, diretamente. Contudo, quando uma pessoa está sob uma crise (como no caso da amiga Rejane, diante de flores amarelas), a bebida pode agir como um congestionante, da mesma forma como uma pessoa sensível a elementos excitantes, como fumaça de cigarro ou aromas muito fortes. São irritantes indiretos e não a alergia propriamente dita. Outro exemplo: algumas pessoas podem ser alérgicas não ao álcool, mas a alguns ingredientes comuns a certas bebidas, como a cevada, trigo e centeio nas cervejas.
Assim, se a amiga está sob uma momentânea crise alérgica, evite beber (ou a ficar perto de um fumante). Passada a crise, sinal verde. E se você não sofre de qualquer problema alérgico, dificilmente o álcool provocará congestões. Ah, sim, o médico confirma que as mulheres são mais afetadas do que os homens (a minoria que sofre com esse tipo de problemas, claro). Acho que o artigo do New York Times foi desnecessariamente alarmista. Deviam ter consultado o Dr. Buthani.
Da Adega.
Dia das Mães I: Mil Frutas
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Hotel Jangadeiro. As meninas não param. Saibam mais no site da Confraria.

25.4.10

Muito barulho por nada

As pesquisas, na maioria das vezes, servem mais para nos divertir do que para nos educar. A frase, que não é minha, apareceu quando li duas pesquisas, uma sobre mulheres “educadas” e outra sobre o barulho. E o que essas universitárias e bares barulhentos se relacionam com as bebidas.
Universitárias bebem mais. É o que afirma um estudo feito pela London School of Economics (Escola Londrina de Economia): universitárias consomem mais bebidas alcoólicas do que as “menos educadas”. As aspas se explicam pela fragilidade do que possamos entender por mais ou menos educada. Podemos não ter um título universitário, mas nem por isso deixamos de ser cultivadas, desenvolvidas pelo estudo etc. O jornal inglês que originou essa matéria coloca no título essa jóia: “Mulheres inteligentes são as que bebem mais”. Como se título universitário fosse o ingresso para capacidade de aprender, destreza mental, habilidade ou qualquer outra definição para inteligência.
As autoras desse estudo, Francesca Borgonovi e Maria Huerta, doutoras e ciências sociais, pesquisaram bastante. Chegaram a coletar informações de quase 18 mil mulheres, todas britânicas, nascidas a partir de 1970, um grupo hoje de quarentonas, uma parte com graus universitários e outra de níveis inferiores. Checaram suas capacidades acadêmicas e suas respostas a questionários onde havia perguntas como “Alguma vez achou que deveria reduzir seu consumo de bebidas?” ou “Assim que acorda, você bebe, seja para acalmar os nervos ou curar-se de uma ressaca?”
As doutoras verificaram, então, que 71% das mulheres com em alguma fase da vida universitária bebiam mais vezes do que as sem essa qualificação. Quanto às mulheres com grau universitário completo, 86% delas bebiam mais.
Descobriram que mulheres com alta qualificação educacional tinham quase duas vezes mais (1,7 vezes) probabilidade de apresentar problemas de alcoolismo do que suas correspondentes menos educadas. Verificaram que aquelas que tiravam altas notas nas provas estavam também em grave risco de alcoolismo. O estudo das doutoras afirma, inclusive, que o padrão de consumo alcoólico nas mulheres pode ser antecipado desde sua infância, já pelos seus cinco anos de idade, através das notas de suas provas nas escolas. Notas altas significando que essas meninas teriam 2,1 vezes mais chances de consumir álcool diariamente quando adultas.
Para as pesquisadoras as universitárias bebem mais porque formam o grupo que têm filhos mais tarde e possuem uma vida social mais ativa. E também porque trabalham em lugares dominados por homens, cujos hábitos com as bebidas são mais aceitos.
Eu até entenderia melhor essa pesquisa, se ele considerasse não a universitária exclusivamente, mas a mulher que trabalha. Ele tem, quase sempre, a responsabilidade de cuidar dos filhos, da casa e de um ambiente de muita pressão (para não dizer de preconceito) no trabalho.
Para não citar as dezenas de universitárias que conheço e que ou não bebem ou só o fazem socialmente, fico com apenas uma: Dona Ruth Cardoso, doutora em antropologia, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo e em outras instituições universitárias de diferentes países, autora de vários livros e criadora do importante programa Comunidade Solidária, de combate à exclusão social e à pobreza. Foi primeira-dama desse país no governo de seu marido, Fernando Henrique. Mas sempre recusou esse título. Conheci Dona Ruth porque trabalhei algumas vezes para o Comunidade Solidária. Não é necessário falar do seu comportamento firme, sério, otimista. E sóbrio, em todos os sentidos.
No fim, somos induzidos a olhar todas as universitárias como beberronas.
Decibéis e álcool. Falamos aqui de duas pesquisas, uma confirmando a outra. A primeira foi realizada em 2004, pelo professor Nicolas Gueguen, mais um doutor formado em psicologia, pesquisador das ciências do comportamento, como revela em seu site. Em 2008, o psicólogo repetiu a dose e visitou dois bares na Bretanha, sul da França para confirmar o que observara antes: nas noites de sábado, quando maior o volume de som (seja da música ambiente, das pessoas ou do tráfico local) fazia aumentar o consumo de bebidas alcoólicas.
Gueguen mediu dois níveis: 72 decibéis e 88 decibéis. Para comparar, o primeiro equivale ao som do tráfico numa rua movimentada, enquanto o segundo o de um cortador de grama.
Quanto mais decibéis, maior o consumo de cervejas. O pesquisador teve a pachorra de medir esse notável fato: na média, com a música num volume normal, os consumidores levavam 14,5 minutos para entornar uma tulipa de chope. Bastava o som aumentar para que esse tempo caísse para 11,5 minutos. O inevitável acontecia: com a música alta e a tulipa vazia, o consumidor pedia mais um. Gueguen chegou a mensurar o número de goles necessários para entornar o copo todo: não eram influenciados pelo barulho. O psicólogo então verificou que a rapidez com que os copos ficavam vazios não resultava de goles maiores, aqueles de estufar as bochechas.
Essa pérola de estudo inútil foi confirmada por um estudo, feito também em 2008, por dois escoceses: Alasdair Forsyth (professor de sociologia) e Martin Cloonan, professor e pesquisador de música popular. Os dois pesquisaram em pubs de Glasgow, Escócia, para observar a mesma coisa: a influência do barulho sobre o maior consumo de bebidas
Observar consumidores de botecos na Bretanha e, principalmente, na Escócia, lugares onde não se precisa de som, silêncio, de quaisquer pretextos para que se entorne amazonicamente, é o mesmo que concluir que durante um batizado se gasta mais água benta.
As explicações são as mais óbvias: com barulho, ninguém conversa; se ninguém conversa, se bebe mais. No fim, você pode concluir que a solidão serve para que se beba mais. Ora: se você vai a um bar, quer tudo, menos solidão. Não fecha. Eu não suporto barulho, estou fora de lugares onde não possa conversar. E continuo achando que um vinho, uma cerveja etc. ajuda a esquentar o convívio social.
Essas duas pesquisas servem apenas para nos distrair. Podem nos confundir ao ponto de retirarmos nossas filhas das escolas, caso comecem a tirar notas altas. E a só entrar em bares que respeitem os 72 decibéis. No máximo.
É tudo muito barulho por nada. A peça de Shakespeare (Much ado about nothing) é sobre o um amor atrapalhado, os obstáculos das convenções sociais, os problemas das modas que mudam, as estruturas da sociedade. Enfim, um quadro que vai da desarmonia à harmonia. E o do que precisamos: bom senso, harmonia.

17.4.10

En primeur

Provar um vinho que ainda não foi engarrafado e antecipar suas qualidades quando for lançado no mercado quase dois anos depois. Isso em resumo é o que significa en primeur. Comerciantes, importadores, colecionadores, degustadores profissionais e, claro, críticos de vinho de várias partes do mundo estiveram mês passado em Bordeaux (nessa região principalmente) para avaliar os vinhos feitos imediatamente após a colheita do ano passado. É tudo muito excitante. Todas esperam pelas avaliações de críticos, como as de Robert Parker, que certamente vão influenciar os preços que os produtores fixarão para seus vinhos.
Em inglês, en primeur se traduz na maioria das vezes como futures, pois toda essa turma que visitou Bordeaux está envolvida na compra desses vinhos antes que cheguem ao mercado. É um processo similar ao da compra de algodão, café e outras mercadorias (tecnicamente chamadas de commodities). Compram por um preço na expectativa de que o mesmo seja mais baixo do que o que o vinho alcançará quando for oficialmente oferecido ao mercado. Se isso acontecer, poderão vender com lucro assegurado.
Falei que Bordeaux é o alvo principal de toda essa ação. Mas existem outros mercado importantes para o en primeur, como as regiões de Borgonha e do Vale do Rhône, na França, e do Porto, em Portugal.
Os vinicultores já tinham anunciando que a safra de 2009 foi espetacular. Mas isso eles fazem quase todos os anos. Puxar a brasa para a sua sardinha não é pecado. Contudo, a turma interessada acompanha tudo de muito perto: desde o plantio até a colheita. Houve sol o bastante, ventou quanto, e as chuvas? Alguma praga? Eles estão sabendo de tudo.
Enfim, mês passado cerca de seis mil profissionais visitaram a região para provar basicamente os grandes vinhos, os Cru de Bordeaux (a partir da classificação oficial de 1885). Cru designa qualidade, a natureza de um terreno. Um vinho du cru é um vinho da própria localidade onde foi plantado, colhido e produzido. Pois essa turma está atrás dos grandes crus.
A região vinícola de Bordeaux consiste de 57 appellations, áreas legalmente definidas como produtoras, que se espalham pelas margens direita e esquerda do rio Gironde. Para o noroeste, temos a península do Médoc, aquela que reúne famosas appellations como as de Pauillac, Margaux, St. Julien e St. Estèphe. No nordeste, encontramos St. Émilion e Pomerol. A margem esquerda é dominada pelos blends de Cabernet Sauvignon. Na direita, temos vinhos feitos predominantemente com a Merlot (o Petrus, por exemplo) e a Cabernet Franc. É muito chão, é muito vinho. E talvez seja muita adivinhação.
Tudo começou logo após a Segunda Guerra. A maioria dos châteaux era mal administrada, mal podia pagar suas contas. Naquela época, seu mercado comprador era limitado pela Inglaterra, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, a Escandinávia pela própria França. Uma base de consumidores muito menor do que atual. Além disso, não existia ainda a mídia de vinho. Então, os principais comerciantes de vinho de Bordeaux negociaram com os principais châteaux comprar seus vinhos antes que fossem engarrafados. As compras eram feitas sur souche – ou seja: literalmente, “no tronco”, enquanto as uvas ainda estavam nos seus cachos. Era um jogo de pôquer (e continua sendo). Com isso, os negociantes podiam fixar os preços que quisessem, sem a interferência dos vinicultores. Esses não tinham como reclamar, pois estavam recebendo dinheiro adiantado, que começou a ser reinvestido nas suas propriedades.
A partir dos anos 70, o mercado para os vinhos de Bordeaux aumentou, até chegarmos aos tempos atuais, onde com os châteaux bem menos dependentes dos comerciantes.
Agora, não tenho dúvidas que o sistema é uma espada de dois gumes. É possível ganhar muito, se o valor futuro do vinho comprado aumentar. Mas pode também quebrar a cara: quem comprou o Château Haut-Brion 1997, comprado antecipadamente por US$ 150,00 a garrafa, não conseguiu um centavo a mais, ainda em 2003, cujo preço continuava nos 150 dólares.
O problema, pelo menos para mim, é o que todos esses profissionais provam. Sobre o que eles vão julgar. E julgar a priori. Vão provar vinhos que foram recentemente vinificados e colocados em barris. E lá ficarão ainda entre 18 e 24 meses antes de serem engarrafados e chegar às prateleiras.
Ele provaram vinhos que ainda são bebês, difíceis de avaliar. Estão ainda muito crus, fechados, com taninos amargos de doer. E, importante, não estão acabados. A maturação em barril, como dissemos, pode levar de 18 meses (o mínimo) a dois anos ou até mais. Eles ainda poderão de clarificados e filtrados. E o blend alterado: em vez de 20% de Merlot e 80 de Cabernet, o vinicultor pode acrescentar a Cabernet Franc e alterar os volumes das duas outras cepas.
O degustador pode ser o mais experiente e perspicaz, mas seu veredito eventualmente morre na praia. Os vinhos podem desenvolver-se de modo diferente do imaginado. Todo mundo falou mal dos vinhos de 2001. Acontece que eles maturaram muito bem e foram um sucesso. (Só que agora ninguém mais se lembra disso).
De qualquer modo, a voz geral (desses mesmos degustadores) é a de que Bordeaux 2009 será um grande sucesso. Vamos confiar nisso (mas com um pezinho atrás). Eu já coloquei minhas fichas em namorados en primeur. Nada deu certo. Estou na fase de só provar maduro, aqueles prontos para beber.
Da Adega
Hamburger oficial. Para a segunda edição do Skol Sensation, no Sambódromo de Sampa, que acontece amanhã, 17, a General Prime Burger foi selecionada hamburgueria oficial do evento. Veja mais no
site.
Prazeres da Mesa. A publicação da editora 4 Capas foi eleita a melhor revista segmentada pelo Prêmio Veículos de Comunicação, em sua 23ª. edição. Um júri formado por membros da Academia Brasileira de Marketing decidiu por premiar a publicação. A revista tem seis anos de mercado, tira 40 mil exemplares e é fruto da pareceria entre os jornalistas Ricardo Castilho, Mariella Lazaretti e o marketólogo Georges Schnyder. Saiba mais
aqui.

9.4.10

Em casa, com medo

Passa o tempo e o pavor continua sempre lá. As devastações e mortes continuam sempre acontecendo. A culpa sempre é da chuva. As desculpas também continuam sempre lá. Não, isso não combina com vinho.
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E o que combina com vinho? Talvez, algumas histórias curiosas que colecionamos desde que as chuvas desabaram, deixando-nos ilhadas, como o restante da população.
A história das ovelhas e dos babuínos. Na Nova Zelândia e no Canadá, vinicultores estão utilizando ovelhas para podar seus vinhedos. Num vinhedo de Ontário, por exemplo, 40 ovelhas do tipo mignon espalham-se pelo vinhedo aparando grama e folhas de parreira. Nenhuma máquina ou mão de obra humana são utilizadas. Veja aqui.
Mas os sul-africanos estão utilizando babuínos (aqueles macacos com caninos grandes, focinhos pontudos e bundas calosas) para substituir completamente o trabalho humano nos vinhedos. São treinados para colher eles mesmos as uvas. O segredo, leio, é mantê-los bem alimentados para que não provem das uvas. Dizem que está dando certo. A experiência está sendo realizada na região de Stellenbosch, a segunda colônia européia mais antiga na África do Sul, depois da capital, Cidade do Cabo, de onde fica próxima. É também a mais importante região vinícola do país. A PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), a maior organização mundial que luta pelos direitos dos animais, já está protestando.
A história dos novos rótulos alemães. A Associação de Estados Produtores de Vinhos de Qualidade da Alemanha (ou, simplesmente, VDP - Verband Deutscher Prädikats- und Qualitätsweingüter e.V.) quer modificar os rótulos dos vinhos alemães. Puxa, elas já são pra lá de informativos! Pelas novas regras, os novos rótulos deverão informar a appellation (designação que descreve a origem geográfica do vinho), a safra, a variedade da uva, o prädikat (seu “predicado, a “distinção” do vinho, em que categoria de qualidade ele se classifica), o número AP (Amtliche Prüfnummer, código de números, cada um deles indicando a região onde o vinho foi produzido, a vila ou cidade de origem, o estado, quem produziu e, por fim, o ano em que o vinho foi provado, normalmente um ano após a colheita), o percentual alcoólico, a data e a hora da colheita pela hora média de Greenwich (GMT), um mínimo de duas sugestões de harmonização do vinho e, pasmem, a letra de uma das músicas de David Hasselhoff que o vinhateiro preferir. Hasselhof é um ator americano, meio canastrão, que gravou em 1988 um álbum, Looking for Freedom, sucesso na Alemanha, através de covers feitos por cantores alemães.
A história da boneca que virou marca de vinho. Quem não conhece a Hello Kitty, a “gatinha” criada pelos japoneses em 1976, sucesso entre a criançada de todo o mundo? Talvez seja a maior concorrente da Barbie.
Entre dezenas de derivados da bonequinha (variações com roupas e tamanhos diferentes, acessórios, como bolsinhas etc.), a Sanrio, o fabricante japonês que a criou, lançou agora a linha de vinhos Hello Kitty. Veja aqui.
A história do relançamento do vinho de Júlio César. O vinho preferido do célebre imperador romano (100-44 a.C.) vinha da Sicília, da região do Mamertino. Era um tinto presente em todas as festas promovidas por César. Pois agora um reputado produtor local, Planeta, com a ajuda de um professor de avicultura da Universidade de Milão, está tentando descobrir a variedade da uva original que era misturada à casta Nocera para produzir o Mamertino tão ao gosto do líder romano. Uma pequena vinícola foi construída na cidade de Capo Milazzo, Sicília, especialmente para produzir esse vinho. Espera conseguir uma bebida o mais próximo possível da consumida pelo imperador. Uma bebida para tomar nos helicópteros enquanto nossas autoridades vêm do alto os estragos que, eles dizem, as chuvas estão ainda promovendo. Os imperadores romanos faziam o equivalente no Coliseu.
A história dos norte-coreanos que compraram Latour. Pois é, o fechadíssimo governo do ditador Kim Jong-il está colocando um pé no ocidente, através do vinho, nada menos do que comprando o segundo vinho do lendário Château Latour, em Bordeaux, o Les Forts de Latour.
Se o presidente Obama pensava em aparecer diante do ditador com uma garrafa de um Cabernet da Califórnia, agora, ficou desarmado. Será mais uma etapa na guerra dos vinhos? Falam que o “Querido Líder” adora mulheres e vinhos. Além da sabida queda por bombas atômicas. Só bebe Bordeaux de safras premiadas (em lugar das garrafas de conhaque Hennessy que entornava, proibido que foi pelos médicos). De um excêntrico que vive assustando o mundo com ameaças nucleares podemos esperar atitudes como essa. Resta saber o que os franceses acham disso. Como eles deixaram isso acontecer? A crise é tão grave assim?
A história do vinho e o Dia dos Tolos. Agora, amigas leitoras. A maioria dessas histórias foi recolhida de primeiro de abril para cá. Algumas delas são pegadinhas. Em qual delas você caiu?
A primeira, das ovelhas e dos babuínos, a parte das ovelhas é verdadeira. Ignore os babuínos. A dos babuínos foi inventada pelo colunista Harvey Steiman, da Wine Spectator, exclusivamente para o Dia dos Tolos.
Sobre os rótulos alemães, também de autoria de Steiman, o que vigora é o nome do produtor ou da propriedade, a safra, o nome da cidade ou vila e da vinícola, a variedade da uva, a classificação de qualidade (o prädikat) e o número AP. Esqueçam do resto.
Mas a linha de vinhos Hello Kitty é notícia quente. Já estão até a venda. Será que vamos chegar em casa e pegar nossa garotinha brincando com uma garrafa dessas? Vamos induzir nossas crianças a beber álcool? Será uma estratégia de marketing válida?
O relançamento do vinho favorito de Júlio César também não tem nada de primeiro de abril. Daqui a pouco, vamos ter um Mamertino em nossas mesas. E beber como imperadores (só evitando aceitar convites de políticos para qualquer tipo de reuniões).
A compra do segundo vinho do Château Latour é o tradicional Primeiro de Abril da revista Decanter. Eu caí nele. O ditador coreano é capaz dessas coisas.

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Darwin dizia que não devíamos sair de casa sem um senso de perigo. É verdade, como se comprova agora com todos esses acontecimentos no Rio. Porém, Darwin não contava com o que mais poderia acontecer por aqui. Ficar em casa pode ser até mais perigoso.
Da Adega
S.O.S Niterói
. Repito aqui o apelo da Confraria Amigas do Vinho. Não podemos nos omitir diante dessa calamidade. É simples: doações (alimentos não perecíveis, água, fraldas descartáveis (infantis e geriátricas) devem ser enviadas para o Canto do Rio Futebol Clube (Rua Visconde do Rio Branco, 701, Niterói, Centro. Tel.: 21-2620-8018). Vamos mostrar do que as mulheres são capazes.
O melhor sommelier do mundo em Belô. Uma pena que não tenha podia publicar essa nota antes. Fiquei ilhada, inclusive por falta de energia elétrica. Quando ela chegava, não havia sinal para internet, nem para celular.
Enfim, hoje, dia 9, o restaurante O Dádiva, de Belo Horizonte, está recebendo o sueco Andreas Larsson, considerado o melhor Sommelier do Mundo
O título de melhor sommelier do mundo é concedido a cada três anos pela Association de la Sommelerie Internationale, baseada na França, que reúne associações de sommeliers de 44 países. Andreas ganhou o dele em 2007. O jantar inclui pratos como salada de algas (com champagne Cattier), tomate recheado com pêra (um tinto de Bordeaux, o Bad Boy), sardinhas em azeite com pimentas de cheiro (o Dom Virginie Thunevin, outro tinto), favas com caldo queimado (Château Vallandreau), entre outras delícias. O jantar começa às 22:30 horas. As reservas ainda podem ser feitas pelo telefone: 31-32828810. Veja mais no
site.

2.4.10

As duas Páscoas

Páscoa é tempo de confraternização, de reunir a família, de celebração, de fé, tanto para judeus, para cristãos e mesmo para quem não é religioso: afinal, todos queremos paz e amizade entre nós. Mas para a colunista é também uma temporada aberta para polêmicas – a maioria delas em torno da Última Ceia. Quase todas as minhas colunas a respeito resultaram em algumas controvérsias. A maioria delas a respeito do vinho servido na Santa Ceia: seria suco de uva para um grupo, pois o uso de álcool seria proibido pelas escrituras.
Agora mesmo, o debate gira em torno do tamanho dos pratos e alimentos retratados nas pinturas da Santa Ceia ao longo dos últimos mil anos. Os tamanhos aumentaram: o prato principal cresceu 69%, os demais 66%. E o pão em 23%. Essas pinturas comprovariam que a humanidade caminha para a obesidade.
É o que querem demonstrar Brian Wansink e seu irmão, Craig. O primeiro é diretor do Laboratório de Alimentos da Universidade de Cornell, EUA, e autor de um livro sobre obesidade. E o segundo um especialista em Bíblia, ligado a uma igreja metodista Wesleyana.
Eles analisaram 52 quadros retratando a mais famosa refeição da história, pintados entre os anos 1.000 e 2.000, por autores como Leonardo da Vinci, El Greco, Lucas Cranach (o Velho), Rubens, entre outros.
Os dois utilizaram o tamanho das cabeças dos comensais como base de comparação, empregando computadores para cotejar com a grandeza dos pratos em frente aos apóstolos, das porções de comida nesses pratos e do pão na mesa.
Assumiram que as cabeças não aumentaram de tamanho no período estudado e chegaram a uma escala para medir o aumento das porções servidas. E elas aumentaram, assim como o tamanho dos pratos (em 65,6%).
Com isso, os irmãos Wansink acham que conseguiram demonstrar que as porções aumentaram nos últimos 1.000 anos, resultado da abundância dos alimentos, da industrialização, do consumismo, até chegarmos aos tamanhos gigantes e no problema da obesidade.
No máximo, um estudo divertido. Uma especialista em nutrição da Universidade de Nova York, Lisa Young, diz que não há evidência de que a massa do corpo humano tenha atingido a proporções anormais nos últimos mil anos. A obesidade seria um problema surgido apenas nos últimos 30 anos. Estudar anatomia a partir de quadros medievais e renascentistas talvez seja o mesmo que analisar o corpo humano a partir da Barbie.
E a taça utilizada por Jesus na Ceia? É outro bafafá. Onde estaria ela, como seria ela? A Bíblia só faz referência a um cálice utilizado por Jesus apenas no contexto da Última Ceia, quando disse que nela esta seu sangue, o sangue do pacto que naquele momento celebrava. Apenas isso, mas o bastante para que se transformasse numa lenda e motivo de uma busca interminável.
O comércio de relíquias em torno de Jesus foi enorme na Idade Média: pedaços da cruz e até ela inteira, partes do manto, da coroa de espinhos. E, claro, o famoso cálice. Uma lasca, um prego da cruz, um pedaço de qualquer desses e de outros supostos vestígios de Cristo eram negociados avidamente. Uma relíquia dessas fazia crescer enormemente o prestígio de uma cidade. Hoje, podemos ver o que seria o Cálice Sagrado na Catedral de Valença, Espanha. É uma peça feita de ágata, um tipo de quartzo, pedra utilizada em jóias. Ao longo dos séculos a peça teria sido trabalhada e enriquecida, com adornos etc.
Mas nos tempos de Cristo, entre judeus pobres, teria sido este o cálice utilizado? Acho que vamos encontrar mais verdades no filme Indiana Jones e a Última Cruzada, que trata justamente da busca pelo Santo Graal. No filme, lá está Indiana num momento de vida ou morte decidindo qual seria esse cálice. O herói ignorou dezenas deles, os ricamente adornados e escolheu uma taça simples, de madeira. “Esse é o copo de um carpinteiro”, diz. E essa é uma fantasia muito próxima da realidade.
Um estudioso da Bíblia, o americano Stephen Pfann, afirma que o Cálice Sagrado seria provavelmente de barro, segundo descobertas arqueológicas. Ele se baseia na cerâmica utilizada pelos Essênios, uma seita de judeus, que vivia em isolamento nas bordas do Mar Morto e que teriam tido influência no mundo de Jesus e de seus seguidores. Eles faziam tal como Jesus fez, passando a sua taça para seus discípulos. E essa taça era feita de barro. Essas taças, descobertas por arqueólogos em Qumram, são facilmente identificáveis por suas bordas mais finas. Serviam para beber. E beber vinho. Saiba mais aqui.
Por fim, o vinho. Fermentado ou suco de uva? Os judeus fazem vinho há milênios e, claro, o consumido em sua Páscoa é o fermentado. Já escrevei algumas vezes sobre o assunto. Veja a coluna de 2008, Dúvida histórica. Para judeus e cristãos, na celebração do Pessach e da Páscoa, o vinho continua sendo um elemento de significância crucial, tanto ritual como festiva. Para os cristãos, o chamado fruto do vinho (o vinho tal como o conhecemos, fermentado) é parte importante da Eucaristia. Os judeus são até mais rigorosos, em razão de suas leis kosher (o que é apropriado). Para eles, o vinho é feito unicamente de uvas fermentadas. Só não aceitam aquele vinho que foi clarificado usando gelatina (proteína de ossos, cartilagens e fibras bovinas) e cola de peixe, pois deixam de ser kosher.
Ambas as escrituras reconhecem o vinho (o fermentado). Ele é citado como a bebida das celebrações, utilizada até medicinalmente. A recomendação de que fosse bebido sempre com moderação é recorrente.
Agora, quem acha que Jesus jamais aprovaria bebidas alcoólicas, que beba suco de uva. No fim das contas, as duas Páscoas celebram a liberdade, o perdão (vamos lembrar do lava-pés) e o amor pela próximo. Saúde e paz a todas vocês.