25.1.11

O mundo dos vinhos e as vítimas das chuvas

Você não pode faltar a essa degustação em benefício das vítimas das chuvas em Itaipava. Será realizada agora, dia 27 de janeiro, a partir das 19h, na sede do Botafogo, na Avenida General Severiano, 97, Rio de Janeiro.

Diversas importadoras também participarão e seus rótulos serão degustados. E degustados com a participação e orientação do mestre Dânio Braga; dos sommeliers João Souza, Dionísio Chaves, Marcos Lima; dos jornalistas Alexandre Lalas e Bruno Agostini; dos críticos de vinho e gastronomia Oscar Daudt e Luciana Plaas; do conceituado consultor Paulo Nicolay e dos diretores da ABS Ricardo Farias, Célio Alzer e Roberto Rodrigues, além de Anderson Barros (Diretor de Futebol do Botafogo).

O valor da entrada custa R$ 100,00 e o ingresso poderá ser adquirido na Confraria Carioca (21 - 2244-2286) ou pelo e-mail duda@confrariacarioca.com.br Toda a renda será revertida para as vitimas da cidade.

Não falte: Na ocasião também serão rifadas garrafas de vinho, uma Jamoneira e de duas camisas oficiais do botafogo autografadas. As importadoras que doaram seus vinhos e participarão do evento são: FTP Wines, Mercovino, Enoforum, Hannover, World Wine, Grand Cru, Vinci, MM Vinhos, Confraria Carioca, Wine Experience, Vinícola Maximo Boschi, Vinícola Santo Emilio, Cava de Vinhos, Península, Premium, Wine Society, KMM e Casa Flora. Além disso, o evento ainda conta com a participação da Caprilat, que doou os queijos de Cabra, e do Danes Buffet do Mauricio, que gentilmente cedeu o espaço e o Buffet.

Essa degustação será prazerosa em todos os sentidos, pois você estará igualmente ajudando a salvar vidas.

Liga agora, reserve o seu lugar, participe, ajude o povo da Serra.

22.1.11

O que é o que é?

Não chega a ser tradição, mas em 2010 (lembra dele, quando também aconteceram chuvas catastróficas no Sudeste, mas menos intensas no Rio?) comecei o ano com um quiz (“Um teste para começar”). Para não perder o costume, essa terceira coluna é também um teste, que vai ter muito de vinho e um pouquinho de desastres. Melhor dizendo: tragédias.

1. Sancerre é o quê? Um vinho ou uma região francesa? O famoso vinho branco de Sancerre é feito com que variedade de uva?

Chardonnay, Chenin Blanc, Sancerre, Sauvignon Blanc, Colombard?

2. O que é VDL?

3. E o que é Acavitis? Uma eau de vie francesa, um schnapps alemão, uma grappa italiana, um orujo espanhol ou uma bagaceira portuguesa?

4. Cheirando a querosene? Quando os fabulosos Rieslings alemães produzem seus tradicionais aromas de lanolina ou de petróleo quer dizer que seus vinhedos estão próximos a pastagens de ovelhas (no caso da lanolina, a cera bruta de lã) ou de campos de petróleo?

5. Qual a relação entre tragédia, vinho e o Caramelo?

Respostas:

1. Sancerre é uma Appellation d'origine contrôlée (AOC) que dá nome aos vinhos ali produzidos, a leste do Vale do Loire. Seus elegantes vinhos brancos são feitos com a Sauvignon Blanc, a principal uva da região.

2. VDL: Vin de Liquer, um vinho cuja fermentação é encerrada com ajuda de álcool (um licor, uma aguardente) com o fim de aumentar o seu volume alcoólico (que costuma ficar entre 15-22%). É um vinho doce fortificado, normalmente utilizado como aperitivo. Alguns VDL famosos: Pineau des Charentes (com a Ugni Blanc, Colombard e Sémillon, produzidos na região de Cognac). O Floc de Gascogne, produzido na Gasconha e na província de Armagnac, França, é fortificado com o supremo Armagnac, um destilado que não perde em nobreza e sabor para o Cognac. E o Macvin du Jura é uma AOC também no leste francês exclusiva para esse VDL, feito com a uva Savagnin, fervida até que o suco restante seja misturado a um aguardente. Na União Europeia, o termo Vin de Liquer pode também referir-se a qualquer vinho fortificado, como os Porto, Madeira, Jerez, Marsala.

3. ACAVITIS. Acavitis talvez seja mais quente do que qualquer das aguardentes citadas. Com prazer lhe apresentamos a Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude, a Acavitis. Ouviu falar em vinhos finos de altitude, certamente ouviu falar dos vinhos de São Joaquim, com vinhedos entre 900 e 1400 metros de altitude, produzindo dentro dos melhores padrões de qualidade. Ela foi criada em 2005 para orientar os produtores de uvas e vinhos finos de altitude do estado e atualmente representa três regiões produtoras: de São Joaquim, de Campos Novos e de Caçador. A variedade predominante no momento é, sem surpresas, a Cabernet Sauvignon. Merlot, Pinot Noir, Cabernet Franc, Sangiovese, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Trincadeira, Malbec, Sauvignon Blanc e Chardonnay já estão a caminho.

4. Lanolina, petróleo: muitas vezes os vemos citados em avaliações de vinhos com as Rieslings ou com as Chenin Blancs. Mas, nesses casos, essas expressões significam apenas o aroma de óleo. A lanolina é um óleo derivado da lã de carneiros. Para mim, tem delicioso aroma de um suéter. Já petróleo, óleo cru, pode cheirar a gasolina, querosene, aromas clássicos dos Rieslings.

5. Tragédia, vinho e Caramelo. A palavra tragédia teria vindo do grego antigo, formado por tragos (bode) e odé (canto), que formavam tragoidia (mais ou menos “canção dos bodes”). Há uma segundo explicação, dada pelo autor e gramático grego Ateneu de Náucratis, colônia grega no Egito, onde nasceu (cerca de 200 a. C.) Dele, só restou uma obra, “O banquete dos filósofos”. Ateneu afirma que a forma original da palavra tragédia era trygodia, de trygos (colheita da uva) e ode (canto). Nas duas versões significava a apresentação de dramas (e comédias) em homenagem a Dionísio, deus do vinho. Do vinho e da loucura ritual.

Se na Grécia Clássica, tragédia era uma representação teatral, aqui na Serra ela aconteceu e ainda está em cartaz infundindo horror, infortúnio, desespero, lágrimas.

Moro em Secretário, como sabem. Perdi vizinhos. Cadê o Vale do Cuiabá, Cadê o Tambo, pousada pioneira que abriu as portas para atividades importantíssimas no turismo, na hotelaria, na gastronomia e na enofilia em todo o Estado? Há 20 anos, o Tambo e seus seguidores abriram espaço para que a região pudesse oferecer algo mais do que camisetas.

Sobra nada para o vinho nessa tragédia, amiga leitora. Dos gregos, lembro Sócrates: ele dizia que não se pode definir erro sem que também definamos conhecimento. Pois em 2005 o Brasil e mais 167 países firmaram acordo estabelecendo sistemas de alerta para reduzir riscos de desastres naturais. Isso aconteceu logo após o tsunami na Ásia. Nada foi feito e o desastre aconteceu. Conhecimento havia e há. É a população de todo o país, com sua incrível insuperável demonstração de solidariedade, que está tentando reparar o erro.

Lambo minhas feridas, como o Caramelo, o cão que ainda cata o que perdeu.

(Para quem puder ajudar acesse o G1 e saiba como ajudar os desabrigados da chuva na Região Serrana do Rio)

Da Adega

S.O.S. Caramelo. Raquel Geraldi, Julia Pessôa e Katia Zonta são voluntárias para ajudar os animais, cães e gatos, sem casa, comida, água, remédios. Sem seus donos, enfim.

Elas não querem doações em dinheiro, mas ajuda através de produtos como: rações de qualquer marca e tamanho; comidas pastosas para os filhotes; coleiras, guias; potinhos/recipientes para colocar comida e água; toalhas (limpas), panos, lençol, caminhas (tudo limpo, por favor!); sabonete neutro, de coco ou shampoo para animais; remédios - vermífugos, de pulgas, rifocina, enfim qualquer remédio na validade para gato ou cachorro.

As voluntárias podem ser achadas pelos celulares: Raquel G: (21) 9936-3965; Julia Pessôa: (21) 7867-8815; Katia Zonta: (21) 9175-6782.

(O título, S.O.S. Caramelo é meu; o trio de moças lança apenas um S.O.S).

Seleção Mercosul: A Vinitude está com um promoção de tintos argentinos e chilenos, todos com pontuação acima de 88. Dê uma olhada. A Vinitude é a loja on-line da importadora Vitis Vinifera.

Espanhol pontuadíssimo. Um espanhol 100% Tempranillo, mais 91+ da Wine Advocate (Robert Parker), você encontra na Península Vinhos de Espanha. Peça pelo Finca Villacreces Pruno 2008.

18.1.11

Vinho em casa

“Boa tarde, meu nome é Fernando e gostaria de saber como posso fazer um vinho em casa...”

O Fernando quer saber ainda se pode utilizar as uvas encontradas no mercado, qual o tipo de fermento, quanto tempo deve esperar pela fermentação, quais equipamentos empregar. Quer começar o ano metendo a mão (e talvez os pés) na massa.

Imereti, uma cidade da Cólquida, na Geórgia, descoberta por Jasão, o herói grego, é ainda hoje uma tradicional produtora de uvas. Há videiras por toda a parte, mas nenhum sinal de vinho, de barris, jarras etc. As famílias chegam com as uvas em cestas cônicas e as despeja num tronco oco. O agricultor tira o sapato, lava os pés com água quente de um balde e lentamente põe-se a pisar as uvas até não sentir mais nenhuma resistência.

Depois, despeja as uvas esmagadas em grandes jarras de cerâmica, kwevris, enterradas no chão até a boca. É ali, escondido, em meio à terra fresca, que acontecerá a fermentação. Estamos no verão. Na primavera, o lavrador transfere o vinho para outra jarra (com uma cuia fixada num cabo), deixando as cascas que servirão de aguardente para os imeretianos. Essa segunda jarra está também enterrada até a boca. Ela é fechada e o vinho se conservará. Mas não por muito tempo, pois de tempos em tempos os vizinhos do agricultor vão aparecer com suas tigelas de argila.

Esse é o relato do historiador, autoridade em vinho, o inglês Hugh Johnson, no seu best-seller “A História do Vinho”. Os costumes dos imeretianos nada mudaram desde os tempos de Homero. Sabe-se que a Geórgia e a Armênia, ali nas fraldas do Cáucaso, são berços da videira. O vinho pode ser sido criado por um acaso: um cacho de uvas caiu num buraco, então as uvas fermentaram, alguém bebeu, gostou e repetiu ao seu modo o incidente. Na Geórgia foram encontradas caroços próprios de uvas cultivada que pertencem ao final da Idade da Pedra, de 7000 a 5000 a.C.

Em setembro passado, arqueólogos descobriram a talvez mais antiga vinícola do mundo, numa caverna no Monte Cáucaso, na atual Armênia. Bem perto de Imereti, na mesma área montanhosa na qual foi descoberto o mais antigo resíduo de vinho feito de uvas, datado de 5.400 a.C., em jarras de barro.

Lembra, Francisco, que Noé desembarcou no Monte Ararat, entre a Armênia e Turquia? Desembarcou e logo começou a plantar vinhas e a fazer vinho, segundo o Gênesis. Pois Ararat e essa caverna ficam bem perto de Imereti. E Noé teria feito vinho tal e qual os imeretianos.

A vinícola descoberta estaria em plena operação entre 4.100 e 4000 a. C. Na caverna, acharam uma prensa rudimentar (algo um pouco melhor do que um tronco oco), um tanque de fermentação para uns 50-60 litros, vasilhames e até mesmo restos de cascas e sementes de uvas. De lá pra cá, efetivamente pouco mudou. Talvez tenha ficado um pouco mais complicado, pois somos mestres em fazer adições, “temperar” as coisas.

Em 2007 contei a história de Alistair Bland, que bicicletou pela Califórnia no ano anterior. Alimentava-se do que colhia das árvores, amoras, figos, amêndoas, uvas. Sentiu sede e resolveu fazer o seu próprio vinho. Sua receita é simples e sempre repetida (basta pesquisar na Internet). Alistar fez um vinho de amoras, mas poderia ser de qualquer outra frutinha vermelha ou de uvas. São apenas seis etapas na minha versão:

1ª) Compre cinco quilos de uvas de mesa. Elas também são da espécie Vitis Vinífera, de origem europeia. Pode escolher as com semente (a Itália, a principal variedade de uva fina de mesa do país; ou a Red Globe, a Benitaka e suas primas, a Rubi e a Brasil; e a Patrícia). Ou sem semente: Superior Seedless ou Festival, Crimson Seedless e a Thompson Seedless ou Sultanina, a mais importante uva de mesa consumida no mundo. Saiba mais sobre essas uvas no site da Embrapa.

2ª) Faça o suco. Imagino que não tenha em casa uma árvore oca (como os imeretianos) ou um tanque grande o bastante para amassar as uvas com os pés. Então, use uma meia, como fez o repórter americano. Vá colocando os cachos no pé de meia e torcendo. Despeje o suco numa vasilha de tamanho adequado. Para vasilha deverá, depois, ir também tudo o restou na meia: cascas, talos e sementes (se existirem). O ciclista não fez isso: só utilizou o suco. Minha preferência é a de que o suco da uva mais cascas etc. vão ajudar principalmente na cor e eventualmente mais taninos e ácidos. Atenção, não substitua a meia por liquidificadores, processadores: o amargor das cascas e das sementes será incorporado ao sabor do vinho.

E você vai precisar de pelo menos duas dessas vasilhas. Tente dessas para armazenar água ou combustível, assegurando-se que estejam zero quilômetro, bem limpas. Tudo o que fizemos até agora foi para a primeira vasilha- que não deve ser preenchida até a boca: deixe pelo menos um terço dela vazia, dando espaço para a fermentação.

3ª) Acrescente fermento seco, desses comprados em padarias: tente com um envelope, para começar. Se não começar a fermentar nas 12 horas seguintes, acrescente mais um saquinho e uma concha de feijão de açúcar.

4ª ) Deixe o suco fermentar por 7-10 dias. Quando você der uma olhadinha e verificar que a agitação do suco cessou, que está tudo calmíssimo – então a fase da fermentação estará completada. Tampe o vasilhame com um plástico furado: utilizo um simples balão de festas como uma capa em torno da tampa e faço uns três furos de modo a deixar que gases naturais da fermentação escapem, sem deixar que o oxigênio entre. Há quem use um bloqueador de ar (ou airlock) em lugar o meu simplório balão. O nosso repórter não usou nada. E deu certo!

5ª) Decante o agora vinho, novamente usando uma meia (limpa, pois não?) para filtrar todo o suco e separá-los de cascas, sementes e talos). Passe tudo para o segundo vasilhame.

Se quiser, divida todo o volume por garrafas de vinho (devidamente limpas). No presente exercício, você vai precisar de seis garrafas de 750 ml (4.500 ml no total), mais uma meia garrafa de 375 ml. Crie rótulos: “Château Francisco”?

6ª) Beba. Deverá ser um vinho dominado por aromas de fermento e de uvas, pobre em taninos, com um volume alcoólico de uns 8%, bem leve. É simples assim mesmo. Os imeretianos só iriam estranhar as meias e o airlock (o fermento já vinha com as uvas). O restante, Fernando, é quase tudo como acontecia nos tempos de Jasão e Noé.

Referências:

- Matéria do Alistair Bland

- Vinho Artesanal.

- Wine Making Articles (Artigos sobre vinhos caseiros).

Da Adega

Clube do Vinho. Ou ClubeW (o clube do vinho da Wine.com.br). Você visita o site da Wine.com.br e assina e serviço. E a partir daí passa a receber mensalmente uma série de vantagens, como, por exemplo, quatro garrafas selecionadas pelo site com descontos de até 50%, sem cobrança se frete e com descontos garantidos de até 15% em todas as compras. Dê uma olhada.

Compra coletiva. Ou mais gente comprando fica mais barato. Essa é a ideia de um site dedicado à compra coletiva de vinhos. Eles conseguem até 60% de redução nos preços desde que um mínimo de garrafas seja comprado a cada vez. Vale analisar.

7.1.11

Sugestões para 2011

Partimos sempre do fim para começarmos alguma coisa, disse um poeta. O que o ano passado nos deixou, como será o novo ano em termos de vinho? Li algumas das costumeiras resenhas de fim de ano, aquelas listas com os “melhores” e os “piores”, os momentos mais e menos marcantes do mundo dos vinhos em 2010 e mais os esforços de tentar ver nas bolas de cristal como será 2011.

Estou fora. Prefiro fazer como o colunista Matt Kramer, da revista Wine Spectator. Sua atual coluna diz tudo: Open to Suggestions (“Aberto a Sugestões”), onde ele propõe que reconsideremos algumas das práticas ainda comuns entre os amantes da bebida. Bobagens que não valem a pena ser repetidas, pois só nos prejudicam. E não fazer o errado é uma ótima maneira de começarmos o ano.

O efeito Cinderela. Por exemplo: só levar para a adega aqueles vinhos que consideramos nossas primas donas, os vinhos finos, rótulos nobres, necessariamente caros. Será que só os vinhos caros merecem ir para a adega? O colunista nos apresenta então o efeito Cinderela, quando uma pobre empregadinha se transforma na sensação do baile.

“Os vinhos Cinderela são aquelas joias baratinhas que em razão de sua obscuridade, moda ou apenas por marketing mal feito não conseguem um preço que sinalize vinho fino”, explica o colunista americano. Vamos, portanto, passar por cima de algum esnobismo e da ilusão do preço. Damos sempre mais atenção (ou preferência) ao que é mais caro.

A sugestão é esquecer os preços e tentar achar as Cinderelas. O mundo dos vinhos chegou a um ponto tal de preparo tecnológico que hoje existem mais vinhos baratos de grande qualidade do que os suspeitos de sempre, sempre caríssimos, inacessíveis. Temos aí uma multidão de Cinderelas esperando ser encontradas. E são elas as que deverão ser guardadas. Um vinho de preço modesto pode transformar-se numa preciosidade depois de um tempo na adega. Daqui a pouco falarei sobre os que tenho em minha adega: você vai entender mais sobre o efeito Cinderela.

Pra geladeira. Outra sugestão de Matt Kramer é repensar como guardar vinhos já abertos e desistir de tentar resolver o problema da guarda de restos de garrafa com, por exemplo, essas Vaccumm Pumps, bombinhas de vácuo, apresentadas num estojo acompanhadas normalmente de duas tampas plástica. Não funcionam, perdem o vácuo numa noite.

O que funciona mesmo é a nossa geladeira. Sobrou vinho, volte a tampar a garrafa e coloque a garrafa no refrigerador. Punto e basta. A bombinha é a esquifosa. Existe algo bem mais eficiente, barata e à mão. Está na sua cozinha. Se o caso é reduzir a oxidação do vinho, o frio é a melhor maneira.

Maneira provada pelo químico sueco Svante August Arrhenius (1859-1927), prêmio Nobel de 1927, pela criação da fórmula chamada depois de Equação Arrhenius. Ela demonstra que quando há um aumento de 7,7º C na temperatura, a taxa média de reação química num determinado material dobrará. E o mesmo acontecerá com o inverso: quanto mais fria a temperatura, menor a taxa de reação. Ou seja: menor a taxa de oxidação. Nossa vida ficará mais fácil, pois certamente a maioria dos vinhos que vão sobrar são jovens, justo aqueles que menos sofrerão com a oxidação (se devidamente guardados na geladeira).

Engrosso a receita de sugestões do Matt Kramer com algumas minhas. Elas dizem respeito ao vinho perfeito, às pesquisas e ao vinho brasileiro.

Vinho perfeito? Como vinho perfeito entenda-se aquele feito com todos os requintes e recursos técnicos, com levedos especiais para a fermentação, enzimas para clarificar o vinho e “quebrar” correntes de proteínas, micro-oxigenação para amaciar taninos, cones giratórios para concentrar ou reduzir o conteúdo alcoólico da bebida; e bastante carvalho para dar novos sabores ao vinho. A lista de macetes é grande. No fim, ficamos sem saber a identidade do que está na garrafa, de onde veio aquele vinho, qual o seu jeito, sua graça, se o seu balançado é mais que um poema. E saberiam que ela é de Ipanema. Tom e Vinícius não fariam um poema a partir de uma peituda oxigenada do Playboy, o original das mulheres melancias.

É mais provável que você encontre mais vinhos mais naturalmente produzidos, quase que artesanalmente, entre os mais desconhecidos, de pouca produção, não muito fáceis de encontrar. E nem sempre com preços justos. De certo modo, podem parecer gatas borralheiras. Mas achá-los seria como tentar encontrar a Ana Luíza, a do Tom Jobim: onde anda Luíza, em que lago, em que serra, em que mar se oculta? Dá trabalho, sim, mas vale a pena.

Não acredite nelas. Quanto às pesquisas, vale a pena ler a matéria The Truth Wears Off (“A verdade cansa” ou opcionalmente “A verdade danifica”), na New Yorker de 13 de dezembro. Nela o repórter Jonah Lehrer demonstra que muitos dos resultados de estudos científicos que passam por rigorosamente provados e aceitos começam a mostrar falhas, a “cansar”. Os produtos que antes seriam milagrosos começam a não dar no couro nos capítulos seguintes.

É por isso que ouvimos sempre as pessoas reclamando que “primeiro nos dizem que isso faz bem ou mal, para em seguida afirmar o oposto”. O ovo era do mal, agora é do bem. Até quando?

Para arrematar um catedrático americano, John Paulos, revela que a maioria dos estudos sobre saúde está impregnada de “ses”: se isso, se aquilo, se ainda aquilo outro e tome “ses”. Ele cita um renomado pesquisador, John Ioannidis, da Universidade de Ionannina, na Grécia, que estudou 45 estudos científico-médicos, que alcançaram grande publicidade entre 1990 e 2003. Suas conclusões: os resultados de aproximadamente um terço desses trabalhos foram desmentidos por trabalhos posteriores.

Temos a história da terapia por reposição hormonal que supostamente protegeria contra doenças cardíacas entre outras. Mas que aparentemente negou fogo. Ou o caso dos efeitos protetores da vitamina E. Não, ela não protege contra problemas cardíacos, reza uma grande pesquisa recente.

E os conhecidos estudos sobre os milagrosos efeitos antioxidantes do vinho tinto? Ninguém duvida que as uvas tintas, o chá e os vegetais possuem qualidades maravilhosas. Só que seus efeitos são bem mais modestos do que imaginam os amantes do vinho.

Recentemente o laboratório GlaxoSmithKline suspendeu pesquisas sobre uma nova droga baseada no resveratrol, um polifenol farto nas uvas tintas considerado quase como milagroso para o tratamento de uma série de problemas de saúde, a começar pelos cardiovasculares. Em boa hora, o laboratório verificou que as doses que pareciam benéficas para os animais demonstraram-se impraticáveis para o ser humano. Não duvido que tenha aparecido na mídia algo como a cura do câncer pelo resveratrol.

Continuamos respeitando as notícias sobre vinho e saúde, assim como continuamos lembrando que a bebida está aí para nos dar prazer, ajudar no convívio – tarefas importantíssimas. Logo, a sugestão continua: não busque no vinho um remédio. E não deixe de ler o artigo do Dr. John Paulos.

Fique com os brasileiros. Nossa última sugestão para 2011: prestigie mais os vinhos brasileiros.

A qualidade dos vinhos sul-americanos já está consolidada no Hemisfério Norte. Estão, por exemplo, na lista de tendências para 2011 do gerente de uma importante adega na Califórnia, a Bernard's Wine Gallery.

A Tannat uruguaia, a Carménère chilena e a Malbec argentina conseguiram furar o bloqueio e tornaram-se símbolos da boa qualidade vitivinícola desses países.

O Brasil também tem uma arma poderosa, ‘mas sem nome – pelo menos um nome tão específico quanto, digamos, a Malbec (falou em Malbec, falou em Argentina).

Dois respeitados críticos ingleses visitaram recentemente a Serra Gaúcha e concluíram que nossos espumantes são ótimos, o nosso símbolo vinífero. Mereceriam até tornar-se uma categoria exclusiva.

Jonathan Ray (veterano crítico de vinhos do londrino The Daily Telegraph) e Charles Mecalfe, também crítico, um dos criadores de um dos maiores eventos do mundo dos vinhos, a International Wine Challenge.

Ambos afirmam que “os espumantes são o futuro do Brasil. Poderão ser para o país o que a Carménère é para o Chile”, dizem. Sugerem que encontremos um nome para essa nossa maravilha e sugerem: Brut de Brazil. Lembram que a África do Sul já criou o seu Cap Classique, que promove o espumante sul-africano, feito pelo método champenoise, tal como na Serra Gaúcha. Não espanta que Jonathan Ray tenha selecionado o Miolo Brut Millésime 2006 entre os 10 melhores vinhos sul-americanos.

Que nossos vinhos brancos, em particular os espumantes, têm grande qualidade é de conhecimento geral. Mas sem dúvida os dois ingleses ajudam a melhorar nossa foto lá fora.

Assim é que você vai ter que passar 2011 procurando. Não aceitar que o vinho brasileiro seja apenas mais uma gata borralheira. Tenho que certeza que, assim como o Richard Gere tirou da obscuridade uma Julia Roberts, você vai encontrar no vinho brasileiro a sua Cinderela, cheia de graças.

Em tempo, os dois críticos ingleses sugerem para os nossos espumantes o nome promocional de Brut de Brazil. Será que pega, que é melhor do que Cap Classique? Copa e Olimpíada estão aí. O que vamos oferecer para os visitantes? Taí mais uma sugestão: crie um nome para as nossas bolinhas e quem sabe você não dá uma bela faturada para começar 2011.