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30.4.09

Às nossas mães

Dois dos maiores vendedores de vinho britânicos, os supermercados Tesco e Marks & Spencer, promovem degustações de vinho a partir dos ciclos lunares. Essas empresas respondem por mais de um terço de todo o vinho vendido na Inglaterra (o que pode ser mais do que a produção de vinhos em alguns países, como o Brasil).
Pois esses dois gigantes só convidam críticos para experimentar seus vinhos quando a lua, segundo o calendário biodinâmico, está em posição propícia para que as bebidas exibam as suas melhores qualidades. Soa esotérico, não? E mais hermético ainda, pois não expliquei ainda o que tudo isso tem a ver com a “grande mãe” do título.
Vamos recordar um pouco o que já falamos aqui sobre biodinâmica. Ela não é principalmente um sistema agrícola. É mais uma filosofia ou visão que pode promover impacto na prática da agricultura. Quem produz vinhos biodinâmicos tem, em primeiro lugar, que pensar biodinamicamente.
Misto de filosofia, ciência e técnica a biodinâmica aplicada aos vinhos tem sua origem em palestras que o filósofo e cientista austríaco Rudolf Steiner realizou em 1924. Ele havia criado um método para estabelecer uma ponte entre o mundo material e espiritual através de seu sistema filosófico, a “ciência espiritual” da antroposofia, usada até hoje como base do sistema pedagógico da Escola Waldorf, criada na Alemanha em 1919.
Vital para a biodinâmica é considerar a terra como um sistema vivo, auto-sustentável, entendida no contexto dos ritmos cósmico e lunar. Para ela, o solo é um organismo vivo de direito e não apenas um resíduo para o crescimento de plantas. A idéia de utilizarem-se fertilizantes sintéticos ou pesticidas é condenada. Em seu lugar emprega uma série de preparados para melhorar a vida do solo. E que são aplicados em ocasiões apropriadas, de acordo com o ritmo da natureza. As doenças e pragas são vistas como um sintoma de moléstia dentro do próprio sistema ou do organismo que a terra representa. Uma vez corrigidos os problemas nesse sistema, as doenças serão vencidas.
Enfim, os citados supermercados utilizam-se de um calendário lunar criado em 1950 pela alemã Maria Thun, seguidora do movimento de Steiner. Ela plantou grupos de raízes, um por dia, durante toda uma estação. Verificava o desempenho de cada uma dessas raízes em bases diárias. Algumas desenvolviam raízes maiores, outras produziam folhas mais largas; num terceiro lote as flores brotavam mais rapidamente. As áreas com raízes maiores, que resultavam nas mais plantas produtivas, eram as mesmas semeadas quando a lua estava ascendente e passando pelas constelações de Virgem, Capricórnio ou Touro. Por isso, os agricultores biodinâmicos plantam suas sementes nesses dias – dias que Maria Thun chamou de “raízes”.
A alemã categorizava os dias como “raiz”, “fruto”, “flor” e “folha”, de acordo com as configurações da lua e das estrelas. “Fruto” e “flor” sendo os melhores para degustação e “folha” e “raiz” os piores.
A leitora já deve estar vendo druidas dançando em torno de uma fogueira, em devoções para a lua. Só que os dois gigantes das vendas de vinhos na Inglaterra de certa maneira fazem a mesma coisa e promovem suas garrafas já há dois anos com base no calendário de Maria Thun.
Não são poucos hoje os produtores renomados que decidiram adotar as práticas biodinâmicas. É o caso, entre muitos outros, de pesos pesados como Nicolas Joly, James Millton, Michel Chapoutier, Alvaro Espinoza, Randal Grahm e Domaine de la Romanée Conti, a mais famosa vinícola da Borgonha e provavelmente a mais elitista (em termos de qualidade, prestígio e preço) em todo o mundo. No final, temos centenas de produtores de peso adeptos senão da biodinâmica, pelo menos da prática orgânica de cultivar suas uvas e produzir seus vinhos (a colheita, a vinificação e o engarrafamento são também regidos pelas fases da lua).
No Brasil, o primeiro produtor de vinhos orgânicos foi Juan Carrau, com o seu Cabernet Sauvignon Orgânico, de 1997. Conheço apenas ele, mas sei que existem outros. As práticas orgânicas e biodinâmicas são primas, mas a primeira é menos radical.
Podemos pensar que tudo isso é algum tipo de alquimia. Mas Pierpaolo Petrassi, Master of Wine e Diretor de Vinhos da Tesco não pensam assim. “Para degustação de vinhos pensamos logo num dia de “fruto” e evitamos os de “raiz” e “folha”, numa referência do calendário de Maria Thun. O mesmo pensa outro Master of Wine, Joa Aherne, do Marks & Spenser.
Bem, não podemos negar que a lua afeta as marés. Sei que mexe com nossa imaginação e corações. E talvez tenha mesmo a ver com nossa análise sensorial. Não é bom degustar nada, seja vinho, água ou café quando sob resfriados, dívidas, dor de dente, brigas com o namorado, marolinhas políticas etc. Tudo isso influencia os nossos sentidos e humores. Estamos muito bem num dia e péssimas no outro.
Mas isso acontece conosco. Será que o mesmo ocorre com o vinho que está preso dentro da garrafa? Ele está preso, mas não está morto. Ao contrário, está bem vivo e operante. Será que a lua ajuda, mesmo? Vamos experimentar, não tenha dúvidas.
Louvo tudo o que possa ajudar a Mãe-Terra a sobreviver. A nossa biosfera, essa película de terra firme, água e ar que envolve o nosso planeta Terra, nunca sofreu tanto quanto nos últimos duzentos e poucos anos. Ela contém um estoque limitado de recursos de que todos os seres vivos dispõem para a sua sobrevivência. Seu tamanho é pequeno, como também são os recursos que oferece. Ela é bem mais nova do que o planeta que ora envolve. Começou a existir muito tempo depois do globo ter esfriado para que partes de seus componentes, originariamente gasosos, se liquefizessem ou solidificassem.
É o nosso único habitat. E precisamos lutar para que continue habitável, pois o poder material da humanidade aumentou em tal grau que está a caminho de torná-lo inabitável, em razão da extrema poluição e espoliação infligidas à biosfera pela ganância cega da humanidade.
A adoção de práticas agrícolas sustentáveis, não poluidoras, não espoliativas como as dos cultivos naturais, orgânicos ou biodinâmicos são ótimos sinais de uma tentativa de recuperação.
E o que poderia ser uma corriqueira promoção de vendas de vinhos é na verdade uma declaração de adesão a essas práticas. Apesar de seu formato em nada ortodoxo, a degustação dos ingleses está, afinal, premiando a nossa Mãe-Terra.
Hoje, 30 de abril, pelo calendário de Maria Thun, a lua é crescente e está em Câncer. Dia bom para plantar flores e ervas e cozinhar um pão.
No Dia das Mães, teremos lua cheia, em Escorpião, dia propício a atividades, à construção. Ótimo para mexermos com plantas frutíferas. Será um dia de “fruto”, ótimo para abrirmos um vinho. E saudarmos nossa outra mãe, igualmente provedora.
Da Adega.
A Experiência da WinePro
. Aberta há alguns meses, a
WinePro oferece mais do a venda de vinhos. Nela, seus clientes podem degustar conhecimentos sobre a bebida. E assim apreciar melhor os mais de 500 rótulos das principais regiões produtoras do mundo distribuídos num amplo e elegante espaço. Nas suas prateleiras não estão produtos de preços altos, mas sim os de boa relação preço X qualidade. Beber bem, sem gastar muito é a norma da casa.
Os donos da nova loja, Egidio Silvestri e Marcelo Toledo, com mais de 20 anos de experiência nessa área, oferecem cursos, degustações, palestras temáticas, mostras de filmes, bibliografia especializada. O objetivo é transmitir conhecimento de modo simples e atraente.
Egidio Silvestre observa que “a opção não é encher a loja de garrafas e deixar o cliente escolher como se estivesse num supermercado, mas sim a de dar todas as informações que o cliente, conhecedor ou não de vinhos, pode precisar para ajudar em sua decisão”.
A WinePro conta com um wine bar, com vinhos em taças e petiscos; mesas confortáveis para degustar vinhos na loja; sofás onde se pode folhear revistas especializadas, sala de leitura, sala de degustação, sala de aula para 30 pessoas, com mesas para degustação.
Além de cursos, o espaço é utilizado para reuniões de confrarias, formação de enófilos. Seu sommelier pode se deslocar para empresas e treinar executivos, dar aulas ou acompanhar harmonizações. Os donos ainda montam e avaliam adegas e indicam vinhos para festas, formam grupos para viagens de enoturismo, escolhem vinhos para restaurantes e montam eventos externos onde o vinho é a principal atração.
Enfim, a WinePro é mais uma visita obrigatória para quem se interessa por vinho. Tire a prova: WinePro, Av. Cidade Jardim, 976, Jardins, São Paulo, tel.: (11) 2609-2822. Ou use o
e-mail. Para maiores informações, fale com a Denise Cavalcante