26.3.05

Se você vai a uma degustação

Só saia de casa depois de bem alimentada, com o estômago devidamente forrado.
Arrume um motorista que não beba. Ou vá de táxi, ônibus. Mas não dirija – depois da degustação, claro.
Numa degustação profissional, temos cuspidores à disposição – aqueles baldes especiais para deitarmos fora o vinho que está em nossa boca.
Mas na maioria desses eventos, não diretamente dirigidos a degustadores profissionais, não temos esses cuspidores. Temos que beber o vinho mesmo. Afinal, formos ali para isso.
Tomemos o caso da degustação dos vinhos uruguaios, que vai acontecer dia 4 de abril (veja o post abaixo: “Os bons vinhos do vizinho”). Serão apresentados vinhos de 15 vinícolas.
Caso você consiga o improvável, ou seja, provar apenas um vinho de cada bodega, consumirá 15 taças, com pequenas porções de vinho, que modestamente consideramos equivalentes a 8 taças regulares. É muito vinho colocado em seu sistema num espaço de mais ou menos duas horas. É muito pouco tempo.
Logo, não dirija. E beba água após cada taça de vinho. Isso vai hidratá-la, além de evitar que os sabores da primeira taça se confundam com os da segunda – e assim por diante.
Cheire o vinho, em primeiro lugar. Coloque a taça no balcão, gire-a gentilmente (o balcão estará servindo de apoio mais seguro; você pode até fazer isso segurando a taça, mas se não tiver prática, arrisca salpicar de vinho os seus vizinhos). Isso ajudará a que os aromas naturais do vinho sejam liberados. Aproxime a taça de seu nariz e dê uma boa inalada.
Você gosta de vinhos, está ali para conhecer novos rótulos, novas uvas, novos blends, vinhos de outras regiões ou países. Não precisa se preocupar com as palavras para descrever os aromas percebidos por essa inalada. Isso é coisa para os críticos de vinhos, que têm um vocabulário todo especial, muitas vezes lotado de pernosticismos intraduzíveis ou ridículos.
Apenas force um pouco a sua memória: você pode perceber desde aromas de chocolate, baunilha, de grama, de frutas, de flores, de ervas, especiarias, de leite, manteiga e até mesmo de suor, papelão mofado, xixi de gato, óleo diesel. Enfim, quanto mais aromas você detectar, melhor o vinho perceber. Nesses casos, os críticos chamam o vinho de complexo. Ele é mais rico, tem mais qualidades.
O vinho talvez seja a única bebida a proporcionar tanto prazeres intelectuais quanto sensoriais. Deixe os gostos intelectuais com os esnobes, por enquanto, e se entregue aos seus sentidos, treine-os.
Bom, você já deu aquela aspirada e percebeu um punhado de aromas. Já pode provar?
Não, ainda não. Antes, coloque a taça de volta no balcão e agite-a novamente. Mais ar fará contato com a bebida e isso permitirá que você examine melhor a sua cor, sua transparência e clareza.
Os vinhos não devem apresentar-se enevoados. Devemos poder ver até o outro lado da taça. Em alguns deles, você notará algumas partículas, sedimentos naturais de um vinho que não foi filtrado, pois o produtor procurou não retirar elementos naturais da bebida. Normalmente, esses sedimentos não representam problemas. Para melhor examinar a sua cor (repare na variação de cores, do centro da taça para a borda), coloque a taça contra um guardanapo imaculadamente branco, evitando que outras cores (do balcão, das luzes etc.) alterem a do vinho.
No caso da especialidade uruguaia, vinhos com a uva Tannat, repare que rubro profundo, quase negro. Uma beleza.
Agora, sim, está na hora de provar um pouco do vinho. Faça a bebida girar em sua boca, praticamente bochechando. Os melhores vinhos vão liberar diferentes sabores. Numa segunda provada, você poderá descobrir mais detalhes, como adstringência, acidez, presença maior ou menor de açúcar e álcool. Fique apenas no bocejo. Vai pegar muito mal se você gargarejar.
Para encerrar, não tema em fazer perguntas. Os produtores, os representantes das vinícolas estão ali preparadíssimos para tirar quaisquer dúvidas. E farão isso com imenso prazer.
Depois, chame o motorista e volte pra casa, com memória ainda cheia dos sabores, aromas e cores que uma simples taça pode oferecer. O vinho é isso: um calidoscópio de prazeres numa só garrafa. Nenhuma outra bebida se compara. Aquela ida a uma degustação, que você estava pensando ser uma chatice vai se provar mais animada do que um parque de diversões.
Perguntas? Clique para soniamelier@terra.com.br

25.3.05

A taça da alegria

Os primeiros brasileiros a tomar vinho feito de uvas fermentadas foram dois tupiniquins, em 1500, nessa mesma época de Páscoa. Afonso Lopes, um dos pilotos da esquadra de Cabral trouxe dois índios a bordo da nau capitânia no dia 30 de abril. Ofereceram a eles pão, peixe cozido, doces, mel, figos secos. Não quiseram comer nada. Por fim, diz Pero Vaz de Caminha, “trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram na boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais”.
Explica Carlos Cabral no seu imperdível “Presença do Vinho no Brasil” (Editora Cultura, ISBN 85.293-0070-X; o livro começou a ser distribuído para as livrarias em março) que a favor dos indígenas, que recusaram o vinho, “podemos argumentar que a bebida oferecida não tinha a elegância de aromas e paladar que encontramos nos vinhos de hoje. Até porque, após uma viagem de 42 dias no Atlântico, o nobre vinho alentejano tinha passado todas as horas do dia e da noite sacolejando vigorosamente e, por melhor qualidade que tivesse, foi um vinho judiado o tempo todo”.
É que os tupiniquins tinham seu próprio vinho, o cauim, fermentado feito de mandioca que tomavam apenas em rituais, esclarece Carlos Cabral.
Diz o brilhante enófilo e historiador que o vinho de uva e o trigo para a missa faziam parte da logística das primeiras viagens dos colonizadores.
Pois o vinho foi aos poucos entrando na vida do brasileiro e hoje já os estamos produzindo com grande qualidade e até com mais resveratrol do que os chilenos, argentinos e portugueses.
É que os vinhos gaúchos contem uma substância, o resveratrol, em maior quantidade que a dos três concorrentes citados acima, conforme confirmam as pesquisas dos cientistas do Departamento de Tecnologia e Ciência da Universidade de Santa Maria (RS).
O resveratrol é considerado um poderosíssimo antioxidante, peça fundamental no combate a uma das maiores causas de mortalidade no Ocidente: as doenças cardíacas.
Numa outra ponta, o farmacologista carioca Roberto Soares de Moura, 68, trabalha há cinco anos na depuração de um extrato da casca da uva que predomina nos parreirais brasileiros, a vitis labrusca. Esse extrato será em mais uns dois anos uma senhora arma contra a hipertensão.
Por isso, nesses tempos de Páscoa, vamos abrir nossas garrafas e celebrar. A teimosia do vinho no Brasil, e sua importância em nossas mesas. Sim, pois o vinho, até mesmo com base em rituais religiosos, é presença obrigatória.
E o teste? Claro que não esqueci do teste. Você respondeu mesmo as 20 questões formuladas pelos médicos do Hospital Universitário Johns Hopkins? Pois leia essa coluna até o fim: a resposta estará lá.
Mas continuemos, que a Páscoa tem preferência.
A Bíblia tal como hoje a conhecemos tem como base textos em grego, onde a palavra “oinos” só é utilizada para significar vinho fermentado – ou seja, com álcool.
Sabemos que a Páscoa, tal como uma variedade de celebrações cristãs, deriva diretamente de ritos e costumes judaicos, que, por sua vez, se originaram lá nos primórdios do homem, quando apenas se adorava o deus sol, a irmã lua, os raios e os trovões e se festejava, por exemplo, a chegada da primavera. A Páscoa é uma lembrança daqueles tempos.
A Santa Ceia, realizada na primavera, distava apenas seis meses da colheita da uva. Não se conheciam técnicas de conservação então. Logo, seria impossível que tomassem apenas suco de uva: ele já teria virado vinagre. Ou, mais provável, teria fermentado e virado vinho. E os textos originais a respeito só se referem a “oinos”.
Jesus e discípulos fizeram uma ceia dentro da tradição da Páscoa judaica, que comemora a libertação dos hebreus da escravidão no Egito, dois mil anos antes do nascimento de Cristo. E é da tradição judaica que se tome 4 e apenas 4 taças de vinho, cada uma com um significado preciso.
A primeira é a taça da santificação, a segunda a do julgamento, a terceira é a da redenção e a quarta a da louvação ou da alegria. É muito provável que Jesus tenha dito (Mateus, 26:28) “Este é meu sangue... derramado em benefício de muitos ... para que tenham perdoados seus pecados...” na terceira taça, a da redenção.
Quanto ao vinho sacramental, o chamado “vinho de missa”: é um vinho como outro qualquer, com álcool, cuja origem e graduação vão depender da supervisão do padre ou do superior da ordem religiosa. Não existe também qualquer restrição quanto ao estilo, se branco ou tinto, embora esse último tenha a preferência por melhor lembrar o sangue de Cristo.
Na frota de Cabral se rezava missa todos os dias. Tinha que ter vinho. O Brasil foi colonizado por católicos fervorosos. Para isso era preciso ter vinho sempre. E assim a bebida foi sendo implantada na terra dos tupiniquins.
Peixes e Chocolates. A Páscoa é tempo de opostos: peixes, normalmente salgados, como o bacalhau seco que herdamos dos portugueses; e chocolates. Sal em demasia e doce além da conta não são lá muito fáceis de combinar com vinhos.
Não sei bem porque aqui na Semana Santa consumimos mais peixes, o bacalhau em particular, do que carnes. Explico: o católico passa a Quaresma fazendo jejum de carne, substituída por aves e peixes. Logo, seriam aceitáveis pratos de carnes vermelhas. Talvez, a forte herança portuguesa, com seus deliciosos pratos de bacalhau, tenha pesado mais.
E quais os vinhos que vão melhor com peixes e chocolates? O prato tradicional aqui, deliciosa herança portuguesa, é o bacalhau, que, dependendo de sua receita, admite tanto os brancos quanto os tintos. Aqui, preferimos o bacalhau mais salgado e seco, com muito azeite, temperos, sabores fortes.
O resultado é que, nesse caso, a melhor escolha é a de tintos. Se apenas os temperos forem dominantes, mas o sal usado com parcimônia, podem ser tintos jovens, com bons taninos. Muito salgado, devemos escolher um tinto leve, frutado, com taninos ao longe. Pode ser um de Bordeaux, de Beaujolais, os italianos Valpolicella e Dolcetto, um espanhol de Rioja ou um Pinot Noir da Califórnia. Também pode ser um Cabernet Sauvignon da Serra Gaúcha – um Salton, um Baron de Lantier, um Dal Pizzol, um Miolo. Oferecemos boas opções a preços bem competitivos.
Se em vez do bacalhau seco (cujos preços nem o ministro Antônio Palocci consegue baixar), você preferir um peixe fresco ou frutos do mar, é quase certo que resultarão em pratos com uma acidez ligeiramente mais evidente. Nesse caso, experimente vinhos com a uva Sauvignon Blanc: os franceses, chilenos e neozelandeses oferecem ótimas opções.
Já com o chocolate a coisa complica. Seu sabor é muito forte, dominante. E geralmente apenas vinhos igualmente poderosos podem competir. Tente com um bom Syrah, um doce como o Tokaj Azsú, um Banyuls ou um Porto Tawny de 10 anos, que prefiro.
Muita gente gosta de chocolate com Cabernet Sauvignon, como os da Califórnia. Não estou nesse time. Os vinhos tintos com forte presença de taninos, como os grandes de Bordeaux, mesmo os jovens, não suportam o sabor do chocolate, nem mesmo os doces de Sauternes e de Montbazillac.
Mas já o Banyuls é considerado como o tradicional companheiro do chocolate. É um tinto doce natural, dos Pirineus franceses.
Se o chocolate não for amargo ou apenas moderadamente amargo você pode contar também com tintos leves com poucos taninos, como um Beaujolais ou um Rioja. Ou, com um complemento doce, além do Porto: um Sherry, um Madeira ou um Marsala.
Assim, na ceia de Páscoa, vamos confirmar a presença do vinho em nossas mesas. O cauim, afinal, só era usado em cerimônias como as de antropofagia.
Resposta do Teste.
Essa é a resposta às perguntas formuladas no post "Vinho e Alcoolismo: um teste". Veja abaixo.

Segundo o Departamento de Programas para a Saúde do Hospital Johns Hopkins, dos Estados Unidos, que formulou as 20 perguntas contidas na coluna passada, quem respondeu 3 de quaisquer das questões com um SIM tem um padrão de beber negativo e pode ser considerado alcoólico ou dependente de álcool. Deve logo procurar um profissional de saúde.

E agora vamos beber a taça da louvação, a taça da alegria. Feliz Páscoa!
Sonia Melier está no soniamelier@terra.com.br

Os bons vinhos do vizinho

O Uruguai promove seus ótimos vinhos dia 4 de abril, no Sheraton do Rio, numa apresentação de bodegas importantes, seguida de degustação de seus vinhos, num acontecimento especial, já que os vinhos de nossos vizinhos têm tudo para igualar-se aos da Califórnia, Chile, Argentina, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul.
Os produtores uruguaios rapidamente encontraram na uva francesa Tannat um veio para vinhos potentes, de grande qualidade. Um achado equivalente ao da Malbec pelos argentinos, da Shiraz pelos australianos e da Pinot Noir e Sauvignon Blanc pelos neozelandeses. Vinhos de grande qualidade que não perderam a personalidade ao se adaptaram a novas terras.
Mas além de tornarem-se especialistas nessa uva, os uruguaios vêm modernizando o setor. A partir de 1990, por exemplo, aparecem os tanques de aço inoxidável.
O país produz em média um milhão de hl de vinhos anualmente, exporta algo em torno de 4 milhões de litros de vinhos anuais, sendo que praticamente a metade é comprada pelo Brasil, seu principal cliente.
O uruguaio está hoje entre os 10 maiores consumidores mundiais de vinho, com 33,5 litros anuais per capita – todo mundo consumindo principalmente os seus fortes Tannats.
Lá e carne bovina ainda dominam a economia do país. Só a partir dos anos 80 é que vinicultura aparece como fonte de divisas de importância.
Tem 9 mil hectares plantados em solo argiloso e calcário, sob um clima temperado e úmido. Apesar de muita chuva, durante a colheita, entre fevereiro e março, há estiagem.
A cepa Tannat no Uruguai é um acaso. O imigrante Pascual Harriague, um basco francês, conseguiu mudas da uva de um conterrâneo seu, na Argentina, lá por volta de 1870. O cultivo da Tannat rapidamente se espalhou que a cepa acabou conhecida pelo nome de Harriague.
Mas lá se plantam também outras variedades, como a Sauvignon Blanc, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Riesling, Gewürztraminer e até a Viognier. Uma outra especialidade de sua vinicultura é a Vidiella, uma forma de Folle Noire.
O acontecimento é promovido pelo INAVI - Instituto Nacional de Vitivinicultura do Uruguay – e por Bodegas de Uruguay.
As seguintes vinícolas estarão apresentando seus vinhos:

Ariano Hermanos, Bodega Bouza, Bruzzone Y Sciutto, Carlos Pizzorno, Castel Pujol-Bodegas Carrau, Castillo Viejo, Dante Irurtia, De Lucca, Los Cerros de San Juan, Juan Toscanini e Hijos, Juanico, Montes Toscanini, Nelson H. Stagnari e Pisano.

Essa será a quinta apresentação de vinhos uruguaios no país e acontecerá apenas no 4 de abril, das 15 às 21 horas, no Sheraton Leblon, São Gávea (Av. Niemeyer, 121).
Se quiser maiores informações, falem com a Aline, da Cristina Neves Comunicação & Eventos: (11) 5092-3247/48 ou pelo aline@cristinaneves.com.br
Eu não perderia esse acontecimento.
Sonia Melier agora está no soniamelier@terra.com.br

20.3.05

Spurrier vem aí

Vem aí a maior feira de vinhos da América Latina, a Expovinis Brasil 2005, na sua 9a. edição. E com ela, chega o mestre Steven Spurrier, consultor de vinhos, escritor, assessor editorial de uma das mais importantes revistas de especializadas em vinhos no mundo, a inglesa Decanter. Pode marcar na agenda: de 3 a 5 de maio, em São Paulo, no ITM Expo (Avenida Roberto Zuccolo, 555, Vila Leopoldina).
Em paralelo à Expovinis, acontece também a Epicure 2005.
O evento está aberto a profissionais do vinho, hotelaria e enogastronomia. E também ao público. Se você tiver mais de 18 anos, paga uma pequena entrada, visita uma área de 11 mil m2 com centenas de expositores e centenas de vinícolas da África do Sul, Argentina, Austrália, Brasil, Chile, Espanha, Estados Unidos, França, Itália, Nova Zelândia, Portugal, entre outros. Pode naturalmente degustar vinhos.
O ingresso custará R$ 25,00 para quem não trouxer taça (ou trouxer uma de casa) e R$ 30,00 para fazer provas com uma taça ISO (a taça de degustação recomendada pela International Standards Organisation). Vale por um curso de vinhos.
Mas vou me abalar de Secretário para São Paulo especialmente para assistir à palestra de Steven Spurrier, cuja data ainda não está marcada (e talvez nem seja palestra, mas a condução de uma degustação).
O inglês, hoje na casa dos 60, tem de 41 anos de vinho. Começou em 1964 como trainee de um comerciante de vinhos em Londres. Em seguida, mudou-se para Paris e abriu a sua loja de vinhos, a Les Caves de la Madeleine.
Consultor editorial da revista Decanter há 11 anos, Spurrier é um dos três únicos agraciados, em 20 anos, com o Grande Prêmio da Academia Internacional do Vinho.
Autor e editor de livros sobre vinho, o inglês recebeu também o Maestro Award, da Vinícola Beaulieu, por destacados serviços à indústria vinícola dos Estados Unidos. Pois é, Steven Spurrier tem um papel muito importante, histórico até, na divulgação dos vinhos do Novo Mundo.
Em 1976, em Paris, ele organizou um teste cego que reuniu os mais prestigiosos vinhos de Bordeaux e da Borgonha e apenas dois vinhos da Califórnia, um Cabernet Sauvignon e um Chardonnay. Pois, os vinhos americanos chegaram em primeiro – e com pontos concedidos por uma maioria de degustadores profissionais franceses. Um repórter da revista Time estava presente e anunciou para o mundo o novo Waterloo francês. Hoje, as garrafas dos vinhos vencedores, um Stag’s Leap 1973 Cabernet Sauvignon e um Château Montelena Chardonnay 1973, da vinícola Barret, fazem parte da coleção permanente no Smithsonian.
Eu colocaria Steven Spurrier entre as 10 pessoas mais importantes do mundo dos vinhos. Até porque ele acha que o palato das mulheres é superior ao dos homens em particular na prova de vinhos.
Falei em 10 pessoas? Vamos reduzir para cinco. Pode ter certeza, em maio estou lá na Expovinis.
Sonia Melier agora no soniamelier@terra.com.br

18.3.05

Vinho e Alcoolismo: um teste

Só mais uma palavrinha sobre o filme Sideways. Na verdade, sobre um problema mais grave: alcoolismo.É que Robin Garr, responsável pelo ótimo site Wine Lover’s Page abriu um debate sobre um tópico que raramente aparece nas conversas entre amantes do vinho: o tênue limite entre conhecimento, prazer, beber demais e alcoolismo. A pergunta que ele faz é se os personagens do filme retratam os tipos do mundo real, as pessoas que conhecemos adeptas dos vinhos. Ou seriam personagens grosseiramente exagerados, estereotipados.
A pergunta tem como base o fato de Miles (Paul Giamatti) e Jack (Thomas Haden Church), os dois amigos que decidem visitar vinícolas no Vale de Santa Ynez, Califórnia, encherem a cara a maior parte do filme. Miles é um professor de inglês, novelista recusado, divorciado, duro. Jack é um ator, mulherengo e está para casar: a viagem é justamente a sua despedida de solteiro. Miles é um pretensioso conhecedor de vinhos com uma tara por Pinot Noir, mas parece andar por essa estreita trilha entre o gosto pelos vinhos e o alcoolismo.
O debate aberto por Robin Garr é provocativo, pois a maioria dos amantes de vinhos conscientemente recusa-se a pensar na bebida como elemento inebriante. Ouço muitas pessoas afirmando que, como apenas bebem vinho, não podem ser dependentes de álcool. Bebo vinho, logo sou “superior”?
Acho que o próprio filme tem essa resposta. Miles abusa, sim, mas não é um alcoólico. No filme, ele sabe precisamente o que quer e o que não quer beber (vinhos com a uva Merlot, por exemplo), retirar-se de lugares onde poderia continuar a beber. Ele deseja experimentar a maior quantidade de vinhos possível. Não bebe outra coisa que não seja vinho. Os efeitos do álcool são um infeliz subproduto. O álcool não me parece o principal objetivo de Miles.
Esse é um personagem que não demonstra falta de vontade, característica como em qualquer dependente. Talvez, no máximo, repita Santo Agostinho quando moço: “Dá-me a castidade e a continência, mas não agora”. O próprio Agostinho reconhecia a covardia dessa posição.
Miles não precisa que lhe amarrem a um mastro para que possa resistir ao canto das sereias, como fez Ulisses, numa artimanha destinada a suprir a falta de autocontrole que aconteceria se atravessasse com seu barco o país das sirenas descuidadamente. Ele não superestima sua firmeza de caráter.
Estamos primeiramente tratando de uma obra de ficção e o cinema tem um filme que retrata perfeita e brilhantemente o alcoolismo, essa espécie de carência de vontade. É Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945), de Billy Wilder.
Aqui temos Don Birnam (Ray Milland, acho que no melhor papel de sua carreira, pelo qual mereceu um Oscar) que rouba para beber. Miles rouba a mãe, mas para viajar com o amigo por uma semana de farras.
Don Birnam quer ser novelista, mas vende sua máquina de escrever para tomar mais um copo, não se importando com o fato de que “os copos estão unidos uns aos outros como as cerejas num cesto”, como explica o filósofo espanhol Juan Antonio Rivera no seu esplêndido “O que Sócrates Diria a Woody Allen” (Editora Planeta do Brasil, ISBN 85-7665-019-3).
O personagem aqui trava uma luta sem fim e sem piedade pela próxima garrafa. É um alcoólatra, um ser que perdeu a tração, a vontade.
O alcoolismo é uma doença que compreende uma compulsão pela bebida e a inabilidade em limitar o seu consumo, resultando em dependência física, em grande tolerância à bebida, na necessidade de quantidades cada vez maiores, não importando se nesse caminho o portador perca o emprego, a família, a saúde e se exponha a problemas com a lei.
Mas para a ajudar as amigas a terem uma idéia melhor sobre se Miles é ou não um alcoólatra, tente responder ao questionário abaixo, criado pelos médicos do Hospital Universitário Johns Hopkins. É muito simples.
1) Perde tempo de trabalho por causa de bebida? (Sim ou Não?);
2) A bebida lhe causa problemas em casa? (S/N);
3) Você bebe porque é tímido? (S/N);
4) A bebida está afetando a sua reputação? (S/N);
5) Já sentiu sensação de remorso depois de beber? (s/N);
6) Teve problemas financeiros por causa da bebida? (S/N);
7) Prefere companhias e lugares “inferiores” (botecos “pés-de-chinelo” etc.) quando bebe? (S/N);
8) A bebida o torna descuidado com o bem-estar da sua família? (S/N);
9) Ficou menos ambicioso depois que passou a beber? (S/N);
10) Fica ansioso pela hora de tomar um drinque? (S/N);
11) Na manhã seguinte, acorda com vontade de beber? (S/N);
12) Acha que a bebida tem dificultado o seu sono? (S/N);
13) Tem sido menos eficiente depois que passou a beber? (S/N)
14. A bebida está atrapalhando seu trabalho ou seus negócios? (S/N);
15) Acha que bebe para fugir de problemas ou de amolações? (S/N);
16) Você bebe sozinho? (S/N);
17) Já perdeu a memória como resultado da bebida? (S/N);
18) Já recebeu tratamento médico em razão da bebida? (S/N);
19) A bebida faz aumentar a sua autoconfiança? (S/N);
20) Já foi hospitalizado ou internado como resultado da bebida? (S/N).
Esse teste lhe ajudará a conhecer um pouco melhor o Miles e inclusive a você mesma. É a ficção nos ajudando a conhecer melhor o mundo real.
Espere só um pouquinho pela resposta, pois passei esse teste em outros veículos e não quero ninguém “colando” a resposta nesse blog. É só um tempinho.
Sonia Melier agora no soniamelier@terra.com.br

14.3.05

Além dos rótulos

O que esperamos de um rótulo de vinho? Em primeiríssimo lugar, que ele nos diga o que existe dentro da garrafa. Contudo, muitas vezes eles não cumprem essa obrigação e, ao contrário, despertam gostos sinistros no público.
O que dizer de rótulos com a foto do cruel ditador soviético Josef Stalin? Ou de Hitler, de Lênin, de Mão Zedong, de Guevara e Fidel Castro?
Rótulos que procuram vender a garrafa e não o vinho. Transformam o produto numa piada de tremendo mau gosto, forçando algum tipo de propaganda adicional, já que a qualidade do vinho certamente não vai ajudar.
Veja o caso das nossas cachaças, que levam nome indicativos de machismo (água-de-briga, água-que-passarinho-não-bebe, brasa) ou de uma falta dele (amansa corno etc.), entre dezenas de alusões. A maioria delas, porém, não dá para passar do segundo gole.
Há pouco tempo, em 2003, as relações entre a Alemanha e a Itália ficaram arranhadas porque o produtor Alessandro Lunardelli torna seus rótulos apelações do terror político: fotos de Hitler com a triste saudação nazista, ou opcionalmente, fotos de “heróis” nazistas, como Goering e Rommel, além do ditador italiano Benito Mussolini.
A venda desses vinhos é permitida na Itália, mas o governo alemão protestou contra a comercialização dos mesmos através da Internet. Na Alemanha, são proibidos, pois o governo veta qualquer referência gráfica ao nazismo.
Lunardelli criou em 1995 uma coleção, “série histórica”, eufemismo para valorizar uma idéia grosseira, que no fundo mantém viva a fama de genocidas. No caso do rótulo com Hitler, só podemos concluir que se trata de propaganda do nacional socialismo: o ditador aparece com o braço direito estendido na saudação nazista. Numa legenda da foto, as palavras de ordem do III Reich: “Ein Volk, Ein Reich, Ein Fuehrer” (um povo, um império, um líder).
Lunardelli talvez não venda mais pela internet, mas continua faturando o genocído.
O caso dos vinhos com Stalin é bem mais recente, aconteceu agorinha. A histórica vinícola Massandra, da Ucrânia, resolveu comemorar a Conferência de Yalta, realizada num castelo bem próximo da vinícola, na Criméia, há 60 anos. Nessa conferência, os líderes mundiais de então, o presidente americano Franklin Delano Roosevelt, o Primeiro Ministro Winston Churchill e o ditador Stalin retalharam geopoliticamente a Europa Ocidental, o que foi efetivado ao término da II Guerra. Os três líderes pousaram para uma foto, hoje utilizada como referência obrigatória da conferência: aparecem os três sentados no tal castelo, olhando para a câmera. Pois foi essa foto que a vinícola utilizou. Uma atitude talvez bem intencionada, mas que acabou em desastre.
Os três líderes estão no rótulo de um vinho ao estilo de Jerez e em outro à moda de um Porto.
Só que quando esses dois vinhos chegaram a Winnipeg, Canadá, a comunidade de ucranianos que habita a região protestou. Vive no Canadá forçada por aquele acordo em Yalta, que levou centenas de milhares de europeus orientais a viver em países controlados pelo antigo bloco soviético – e onde muitos foram assassinados.
“Não quero que Stalin seja esquecido, mas lembrado exatamente por aquilo que era: um genocida assassino”, declarou Lubomyr Luciuk, dirigente da Associação Canadense-Ucraniana de Liberdades Civis.
Cerca de 3% dos canadenses, mais de um milhão de pessoas, são descendentes de ucranianos. Depois da guerra, aproximadamente 40 mil deles, refugiados políticos, abrigaram-se no Canadá.
Evidentemente, os vinhos foram retirados da prateleira. Serão devolvidos ao importador ou receberão rótulos novos.
Aqui na América do Sul, já tivemos um vinho com o ditador chileno Pinochet no rótulo. Um caso de puxa-saquismo descarado, bastante comum nos tempos de ditadura.
Sim, temos essa linha de rótulos, que tenta vender através do sinistro, através da bajulação ou da crítica política, caso do vinho com o rótulo da atual Primeiro Ministro italiano Silvio Berlusconi. Que, claro, foi retirado das prateleiras. Mas fez lá o seu barulho.
O que começa bem. Pois é, nem sempre acaba bem. Em 1924, o Barão Philippe de Rothschild comissionou o pintor cubista Jean Carlu para desenhar o rótulo do seu Château Mouton-Rothschild, daquele ano, o primeiro vinho a ser engarrafado na própria vinícola (até então, eram embarricados e engarrafados pelos negociantes, na maioria das vezes em Londres).
A partir de 1945, o Barão transformou o evento de 1924 numa prática anual, que não só deu prestígio ao seu vinho como facilitou a vida de colecionadores, que podem comprar rótulos de uma determinada safra e substituir pelos velhos, rasgados etc. do mesmo ano.
Desde então, artistas de grande prestígio vêm criando os rótulos do Mouton. Entre eles, temos Miró, Chagall, Braque, Picasso, Warhol, Bacon, Balthus. Para a safra de 2002, agora no mercado, o rótulo foi criado pelo russo (emigrado para os Estados Unidos) Ilya Kabakov.
A invenção do Barão é até hoje imitada em todo o mundo. Mas nunca conseguiu os resultados conseguidos pelo Mouton. Em 2002, o grande produtor português Herdade do Esporão teve que retirar do mercado 300 mil garrafas do seu Esporão Reserva, recusado pelos americanos, pois o desenho do rótulo mostrava um sultão ou califa barbado e de turbante extraordinariamente parecido com Osama bin Laden. O pior é que esse vinho chegou a Nova York um dia depois da catástrofe de 11 de setembro. O rótulo foi substituído pela imagem de um rei e rainha medievais bebendo vinho.
Temos vinhos que buscam homenagear personalidades bem mais simpáticas e que até hoje concentram admiradores.
O Marilyn Merlot explora a foto em que a atriz, Marilyn Monroe, aparece nua no célebre calendário – nudez disfarçada por borbulhas de vinho.
Os vinhos da Marilyn existem desde 1985, transformaram-se numa curiosidade e vendem muito bem. São licenciados pelos representantes legais da atriz.
Esses rótulos prestam tributo a artistas mortos. E são bem comentados pela crítica de vinhos. A coleção de vinhos que levam a imagem da lenda do rock Elvis Presley, por exemplo, adotam nomes dos sucessos do interprete: King Cab (Rei Cabernet), Jailhouse Red (tinto), Blue Suede Chadonnay – com vendas extraordinárias nos Estados Unidos.
O líder do famoso grupo The Grateful Dead, Jerry Garcia, é lembrado não por uma marca especial de maconha, mas por uma coleção de vinhos - um merlot, um chardonnay e um cabernet – muito elogiada.
Temos vinhos oportunistas. A mesma vinícola que produziu o vinho do Pinochet, na última Copa lançou um saudando o astro argentino Maradona, tentando arrebatar torcedores portenhos. Claro que esse vinho durou pouco tempo. O oportunismo tem pernas curtas.
O mundo dos vinhos é um grande chamariz. E o que vemos nos últimos tempos e uma quantidade cada vez maior de celebridades dedicarem-se à produção de vinhos. Temos gente como o Francis Ford Coppola, do Poderoso Chefão, até Bob Dylan, o veterano cantor pop Sir Cliff Richard, o ator Simon Neill (do Parque Jurássico, Piano e Caçada ao Outubro Vermelho), o cantor Sting, com uma rica propriedade na Toscana, o ator francês Gerard Depardieu com vinícolas espalhadas pela França, Itália e Argélia.
Nesse ponto, a história fica um pouco diferente. Essas celebridades não querem aparecer nos rótulos, apenas fazer bons vinhos.
Você pode até encomendar vinhos com rótulos personalizados. Por exemplo: eu posso criar um “Sonia Melier Noir”, naturalmente um Pinot Noir com a minha assinatura e a vinheta que aparece aí em cima. Claro que o vinho vem de um vinícola, eu entro apenas com a minha figura, nome e o farol que farei para amigos e amigas. Os rótulos também satisfazem vaidades.
O que você acha de Lula, Ronaldinho, Danielle, Gisele, Chico Buarque em rótulos de vinhos brasileiros? Venderiam mais ou menos? Acho que fariam sucesso por alguns momentos e depois sumiriam do mapa, num ciclo de vida que corre em paralelo com o das celebridades: são apenas 15 minutos e acabou.
O desenho de Kabakov, para o Mouton 2002 que mencionamos acima, tem o título de Okho, janela em russo. Através dessa janela, vemos uma miríade de asas, numa alegoria da mágica de um grande vinho. E é isso que os rótulos devem passar, a mágica, a alegria dos vinhos. E não esquecer de informar o que está dentro da garrafa.
Não deixe de dar sua opinião: escreva para soniamelier@terra.com.br

O nome da uva

Quando as coisas vão mal, costumamos mudar. O desempenho da indústria vinícola francesa vai pra lá de mal, com as vendas internas e externas caindo sem parar. Então a França resolveu mudar, mudar inclusive regras centenárias.
A partir de junho, os rótulos dos vinhos do país vão poder exibir o nome das uvas contidas nas garrafas. E assim, ao lado da região de origem do vinho, teremos os nomes das uvas utilizadas. Uma traição ao império do “terroir”, nome que os franceses dão ao conjunto de solo, clima, subclima, regime dos ventos, de chuva, sol e dos tipos de uvas mais apropriadas para uma região, e que destacam nos seus rótulos? Nada disso.
A França tenta reagir, talvez com atraso, ao sucesso dos vinhos do Novo Mundo, os do Chile, Argentina, África do Sul, Califórnia e principalmente da Austrália. São vinhos normalmente acessíveis ao consumidor, em termos de sabor, preço e marca. Ninguém se engana com vinhos que tenham no rótulo os nomes Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Syrah, Merlot, Pinot Noir, Sauvignon Blanc, entre outras. E olha que são varietais de origem francesa, conhecidas em todo o mundo. Logo, porque não fazer o que já devia ter sido feito?
O consumidor pode a essa altura diferenciar um Cabernet de um Merlot, mas geralmente não sabe que num Châteauneuf-du-Pape, do Vale do Ródano, impera a uva Syrah. Convenhamos: não é nada fácil entender as diferenças entre as 466 apelações francesas – e que vinhos são permitidos em cada uma delas.
Os franceses ainda são os maiores exportadores de vinho do mundo, mas a sua taça, seja por volume ou por valor, não está mais cheia. Temos o declínio do mercado doméstico, dizem que em função de leis contra beber e dirigir, contra publicidade “apelativa” (por exemplo, juntar sensualidade e vinho: uma mulher com decote mais generoso segurando uma taça, não pode) e de uma maior atenção com a saúde, com as cinturinhas e as barrigas. Temos também a situação de um euro mais forte que o dólar. Fica mais difícil vender assim, com os preços em euro.
O nome da varietal nos rótulos, porém, será opcional. É improvável que os grandes produtores de Bordeaux ou de Champagne adotem essa mudança. A reforma foi feita mais para ajudar os pequenos produtores, aqueles desconhecidos do grande público e que competem numa faixa de preço mais baixa (entre 5 e 15 dólares), onde os vinhos do Novo Mundo estão fazendo a festa.
Na França, colocar o nome da uva nos rótulos é permitido desde 1980, mas apenas para os vin de pays, os vinhos regionais, uma categoria intermediária, acima dos vin de table, a mais básica. Esses vin de pays não são de apelação – aqueles que geralmente alcançam um mercado melhor e respondem por 55% da produção de vinhos no país. Há apelações, como a da Alsácia, que autoriza o nome da varietal no rótulo – embora seja minoria. Quem quiser colocar o nome da uva no rótulo é obrigado a transformar-se numa simples vinho de mesa e sair da vendedora condição de vinho de apelação (AOC).
Os vinhos que no país não conseguem vender são destilados, transformados em álcool. Mas pela primeira vez, o equivalente a 22 milhões de caixas de vinhos de apelação, a maioria de Bordeaux, virou álcool, o que dá idéia do tamanho da crise que os produtores franceses estão enfrentando.
O consumidor americano está comprando mais vinhos do Novo Mundo. Ele é hoje o alvo número um de todos os produtores de vinho. Isso porque por volta de 2008 os americanos serão os maiores consumidores de vinho do globo. E quem afirma são os próprios franceses, via estudo conduzido pelo grupo VinExpo, da famosa exposição de Bordeaux. Segundo essa pesquisa, em 2008 os norte-americanos responderão por 25% de todo o vinho consumido no mundo. Ou seja: de hoje até lá, o crescimento será de astronômicos 19%. Os EUA ficam, então, à frente da França, Itália e Espanha. O mercado total, hoje somando 100 bilhões de dólares, aumentará 14,7% em 2008. Acontece que os americanos não só beberão mais vinhos. Eles já concordam em pagar mais pelas garrafas do que os europeus. Logo, quem não mudaria? A alteração nos rótulos é simples, apenas fará com que os consumidores saibam o que tem dentro das garrafas. Como é que não tinham pensado nisso? O grande problema vai ser fazer um vinho ao gosto do americano. O problema está aí: a qualidade muda também.
(Veja “Éramos felizes”, abaixo.)
Sonia Melier está no soniamelier@terra.com.br

5.3.05

Degustação de vinhos Franceses

O Club du Taste-vin fará, dia 9 de março, um tour de france, pelas mãos de François Dupuis, selecionador de vinhos do clube. Serão degustados vinhos de pequenos produtores franceses. para acompanhar pães, queijos e frios.
A seleção de vinhos é a seguinte:
Alsácia - Riesling Grand Cru Saering 1999 - ( Domaine Schlumberger);
Borgonha - Pouilly Fuissé 2002 - (Domaine Jean-Yves Eloy);
Beaujolais - Saint-Amour 2000 - (Dominique Piron);
Cotês du Rhône - Crozes Hermitages 2001 - (Delas Frères);
Bordeaux Supérieur - Château Couronneau 1999 (Christophe Piat);
Reserva mediante pagamento: R$ 108,00 por pessoa.
O Club du Taste-vin fica no Condado de Cascais Av. Armando Lombardi, 800 lj. H
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, tel: 2491-1200.
Sonia Melier agora no domaine

Bafômetro para pássaros

Sabe o bafômetro, aquele medidor da quantidade de álcool consumido, particularmente pelos motoristas?
Pois o biologista Ken Hatch, da Universidade Brigham Young, em Utah, Estados Unidos, desenvolveu uma máscara especial de bafômetro para testar o que os pássaros estão consumindo quando migram. Eles têm de dar uma parada para comer e é nesse momento que caem nas arapucas do cientista. Uma máscara especial é colocada no bico deles e seu bafinho é tomado.
O que o biologista está descobrindo é que muitos pássaros chocam-se com prédios de tão embriagados, pois comem frutas em processo de fermentação, o que inevitavelmente acaba em álcool.
Ken Hatch está monitorando as dietas dos pássaros para protegê-los em seus hábitats naturais, onde habitualmente fazem as suas paradas para descansar, alimentar-se e continuar suas rotas migratórias. Sem desvios, choques. Vivos.
O biologista não vai parar apenas no teste com os pássaros. Pretende usar o bafômetro em cobras e ursos. Esperamos sinceramente voltar a falar do cientista. Vivo.
Esses momentos de embriaguez promovidos pela natureza têm levado a que alguns cientistas acreditem que nós, os humanos, tenhamos desenvolvido um gosto pelo vinho e outras bebidas, pois aprendemos a procurar frutos maduros, ricos em açúcar. Gostar de birita seria inseparável de nossa natureza. Volto ao assunto se o álcool não me fizer esquecê-lo – o que seria muito natural.
Nota retirada da Wine Spectator, somente para assinantes. Aqui.
Sonia Melier também voa, sem bafômetros, no: soniamelier@terra.com.br

Deguste Espanha

Não perca o festival de vinhos que o Instituto Espanhol de Comércio Exterior está promovendo no Rio. Numa lista muito selecionada de restaurantes, os vinhos espanhóis serão oferecidos a preços promocionais. O festival começou dia 25 de fevereiro e se estenderá até 11 de março. Os vinhos são aqueles já constantes das adegas dos restaurantes, alguns dos quais criarão pratos especiais para acompanhá-los.
As casas são: Eça (Av. Rio Branco, 128, Centro;2524-2300); Fratelli Barra (Av. Sernambetiba, 2916; 2494-6644); Garcia & Rodrigues (Av. Ataulfo de Paiva, 1251, Leblon; 2512-8188); Laguiole (R. Sete de Setembro, 63ª, Centro; 2509-2636); Margutta (Av. Henrique Dumont, 62, Ipanema; 2259-3887) e Quadrifoglio (Av. J. J. Seabra, 19, Lagoa; 2294-1433).
Em São Paulo, reserve no Baby Beef Rubayat (Alameda Santos, 86; 3141-1188), no Rubayat da Brigadeiro Faria Lima, 86 (3078-9488), na Figueira Rubayat (Haddock Lobo, 1738; 3063-3888), na Cantina Matterelo (Rua Fidalga, 120, Pinheiros; 3813-0452), no Fogo de Chão da Bandeirantes (5505-0791), da 23 de Maio e da Santo Amaro (5524-0500). E mais na Plaza del Tablao (Rua Cotovia, 325; 5093-9685); no Restaurante Cantaloup (Rua Fidalga, 120; 3814-0233) e na Vinheria Percussi (Rua Cônego Eugênio Leite, 523; 3088-4920).
É certo que vamos encontrar mais facilmente os vinhos de Rioja. Mas torço para colocar na mesa exemplares de Ribera del Duero, Jerez, Penedes, Rias Baixas e da ascendente Priorato.
O crítico de vinhos John Mariani, que escreve para a Esquire, Bloomberg, Wine Spectator, entre outros veículos, arrisca que a Espanha tem hoje maior diversidade, melhor qualidade e relação valor por preço de vinhos do que qualquer outro país produtor. Não deixe de fazer sua reserva.
Escreva para Sonia Melier, agora no: soniamelier@terra.com.br

Não só severina

Não fui completamente justa no título do post abaixo, “Essa vida severina”.
A Câmara dos deputados aprovou na noite de quarta-feira a Lei de Biossegurança. E agora as comportas ficam abertas para que os transgênicos cheguem aos nossos pratos e estômagos sem maiores (e menores) pesquisas.
Abaixo, mais uma nota da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, a ONG AS-PTA, instituição de utilidade pública que promove o desenvolvimente da agricultura brasileira com base nos princípios da agroecologia e no fortalecimento da agricultura familiar.
Fui injusta com os severinos, pois a tal lei foi aprovada com o apoio do governo Lula. Quem defendeu a lei que beneficia as multinacionais no senado foi o senador Aloísio Mercadante, do PT de São Paulo.
Severinos e petistas: são gatos do mesmo saco.
Lei a nota da ONG abaixo, veja como conferir como votaram os deputados e senadores que você ajudou a eleger.
E não deixe de enviar uma mensagem ao presidente Lula cobrando que ele vete da lei os artigos que dão poderes excessivos à CTNBio. Veja a nota:
Com sinal verde do governo, a Câmara dos deputados aprovou na noite desta quarta-feira a Lei de Biossegurança, que abre as comportas para a entrada de transgênicos no país. Este projeto ficou mais de dois anos rolando entre Executivo e Congresso e não avançou enquanto o governo Lula (leia-se o próprio presidente, os ministros José Dirceu, Aldo Rebelo e Gushiken) deixou correr as contradições internas e ambigüidades de seu governo.
O governo Lula começou a sair da moita e assumir sua postura pró-transgênicos no segundo semestre do ano passado, enquanto o projeto tramitava no Senado. À época, o encarregado de defender o projeto de lei que beneficia as multinacionais da transgenia foi o líder do governo na Casa, senador Aloísio Mercadante (PT/SP).
Com o projeto de volta à Câmara, o governo abandonou qualquer cerimônia em relação aos temas ambientais e tratorou a ministra Marina Silva e demais interessados na questão, como os ministros da Saúde e do Desenvolvimento Agrário. O líder do governo na Câmara, professor Luizinho (PT/SP), foi claro tanto na reunião dos líderes partidários como na votação em plenário e reafirmou que o governo queria ver aprovado o PL do Senado, já que isso não representava apenas a aprovação de mais uma lei, mas sim “uma questão de Estado”. A reunião da bancada do PT que precedeu a votação de quarta-feira apontou um racha no partido, com 21 deputados para cada lado. Mas a orientação de voto para o partido feita pelo deputado Paulo Rocha (PA), líder do PT na Câmara, foi também em defesa do PL do Senado, com a ressalva de que os parlamentares do partido estavam liberados para votar como quisessem.
Quem canta vitória publicamente não é a Monsanto, discreta manipuladora por trás dos bastidores e verdadeira beneficiária desta decisão, mas os grandes produtores agrícolas representados na Câmara pela bancada ruralista. Ainda vamos ver estes personagens “se levantarem puxando os próprios cabelos” arrependidos de terem entregue seus interesses estratégicos em troca de vantagens aparentes e conjunturais.
De fato, os dados que o governo não quis pesquisar vão surgindo aos poucos. A produtividade de todas as variedades de soja transgênica se revelou menor do que as convencionais recomendadas, nas pesquisas realizadas em Cruz Alta (RS) pela Fundacep. O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aponta uma redução de produtividade da soja transgênica entre 5 e 11% em relação às convencionais. As quantidades de herbicidas aplicadas na soja transgênica são superiores em 86% àquelas aplicadas na soja convencional, nos Estados Unidos, após 9 anos de cultivo. Na Argentina não só o emprego do herbicida glifosato aumentou em 14% na soja transgênica, como o uso de outros herbicidas (necessário pela perda de eficiência do glifosato) cresceu 116.7% após 7 anos de cultivo. Tudo isto indica que as “vantagens” da soja transgênica se evaporam rapidamente, enquanto a dependência dos agricultores frente aos fornecedores destas sementes é permanente. Como o mercado de sementes atualmente é fortemente concentrado, nos EUA e na Argentina não se acham sementes de variedades convencionais e os agricultores estão presos na engrenagem.
Com os fatos derrubando uma a uma as promessas da transgenia na agricultura, restam impávidas as patentes e a cobrança que as empresas fazem pelo uso de sua tecnologia. No Rio Grande do Sul, desde o ano passado a Monsanto tem mostrado que não medirá esforços para receber seu quinhão, independente de as sementes plantadas terem vindo de contrabando da Argentina. Aliás, lá, onde suas patentes não são reconhecidas, após ter ameaçado deixar o país, a Monsanto ameaça agora recolher seus royalties nos portos dos países compradores da soja argentina. Caso contrário, as cargas terão que de voltar. O que está em jogo de fato são os direitos de patentes.
Para se ter uma idéia da realidade que passaremos a enfrentar com a decisão do Congresso, nos EUA, que plantam transgênicos há dez anos, a Monsanto gasta 10 milhões de dólares por ano com um time de 75 advogados dedicados exclusivamente a investigar e perseguir agricultores que supostamente fazem uso indevido da tecnologia da empresa. Leia-se aqueles que tiveram suas lavouras contaminadas por plantações vizinhas, os que multiplicaram sementes ou os que querem voltar ao sistema convencional mas ainda têm resquícios de transgênicos em suas propriedades. Os casos conhecidos somam 147 agricultores acusados e processos contra outras 39 pequenas companhias. A nova legislação brasileira sobre transgênicos não estabelece nenhuma forma de proteção aos agricultores que não querem aderir à transgenia, nem mesmo aos orgânicos.
Ao sancionar essa lei, o presidente estará autorizando a comercialização de sementes transgênicas. E se for repetida aqui a forma como ela é feita nos Estados Unidos, os produtores terão que assinar um contrato concordando com os termos da companhia para uso de suas sementes patenteadas. Esses contratos permitem que a Monsanto conduza investigações privadas, expõem o agricultor a taxas elevadas de responsabilização e incluem uma série de outras condições que definem quais direitos que o agricultor tem ao plantar, colher e comercializar sementes geneticamente modificadas.
Mas, embora possa não parecer, as disputas em torno deste tema não terminam com a votação da última quarta-feira. Segundo o governo, o objetivo ao se criar uma nova legislação sobre biossegurança (o Brasil já tinha uma, criada em 1995) era encerrar as disputas judiciais sobre a questão. No entanto, a lei aprovada, fruto de um governo transgenicamente modificado, apresenta tantos aspectos inconstitucionais (como a retirada de competências legais de ministérios), que o resultado certamente será o inverso. Novas disputas judiciais terão início em breve, complicando ainda mais um cenário já bastante tumultuado.
Veja abaixo como conferir como votaram os deputados e senadores que você ajudou a eleger.
Para os Deputados, clique aqui e depois selecione o dia 02/03 e depois a opção "PL Nº 2401/2003 --Substitutivo do Senado Federal" e clique em OK. Nas orientações apresentadoas pelos partidos, SIM defende a versão do Senado e NÃO é em favor do PL anteriormente aprovado pela Câmara. A mesma interpretação é válida para os votos nominais.
Para os Senadores, clique aqui. No resultado da primeira votação, SIM é em favor da versão da Câmara e NÃO em favor do PL modificado pelo Senado. Nos resultados que aparecem mais abaixo, SIM aprova o substitutivo do Senado e NÃO defende a versão original da Câmara.
ATENÇÃO!
Para ser convertido em lei, o texto saído do Congresso precisa ainda da sanção presidencial. Clicando no endereço abaixo você poderá enviar uma mensagem ao presidente Lula cobrando que ele vete da Lei de Biossegurança os artigos que dão poderes excessivos à CTNBio (Artigo 14, inciso XX e parágrafos 1º e 2º; e Artigo 16, parágrafos 2º. e 3º). Participe! O endereço está aqui.
Sonia Melier também é participação e está no soniamelier@terra.com.br

3.3.05

Essa vida severina

Recebi o seguinte da AS-PTA, Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, uma ONG que busca promover o desenvolvimento da agricultura brasileira com base nos princípios da agroecologia e no fortalecimento da agricultura familiar. Ela é reconhecida oficialmente como instituição de utilidade pública e de caráter filantrópico. Há nos correspondemos e a mensagem de Recebi o seguinte da AS-PTA, Assessoria e Serviços a Projetos em hoje é um convite a que façamos algo de bom pelo país. Segue a mensagem, na íntegra:
É muito provável que a Câmara aprove hoje o projeto de lei de Biossegurança vindo do Senado, que libera definitivamente a soja transgênica e escancara o país a entrada de outros transgênicos. Mais grave ainda é saber que isso será feito com a orientação e o apoio do governo.
Abaixo enviamos uma nota em manifestação a essa grande traição. Sugerimos que você copie e cole o texto abaixo numa nova mensagem, faça as modificações que achar pertinente e envie-o aos endereços do governo e Congresso citados abaixo.
Sua manifestação neste momento decisivo será muito importante.
Com cópia para:
sg@planalto.gov.br,
TRAIÇÃO E BURRICE
02/03/2005
A votação da Lei de Biossegurança chega ao seu desenlace de forma revoltante para todos os movimentos ambientalistas e sociais e para muitos cientistas preocupados com critérios sérios de preocupação com os riscos desta tecnologia.
O governo Lula traiu seu programa eleitoral onde uma visão prudente sobre a transgenia aparece em três diferentes momentos: nos cadernos "Meio Ambiente e Qualidade de Vida", "Vida Digna no Campo" e no "Fome Zero".
O governo Lula (leia-se o próprio presidente, os ministros José Dirceu, Aldo Rebelo e Gushiken) traiu os próprios Ministros mais interessados na questão: Marina Silva, Humberto Costa e Miguel Rosseto, dando apoio aos ministros pró-transgênicos: Eduardo Campos, Furlan e Roberto Rodrigues.
No afã de agradar as multinacionais da transgenia e os grandes produtores iludidos com a promessa desta tecnologia o governo Lula agiu de forma irresponsável e foi muito além das piores iniciativas do governo FHC. As conseqüências para o meio ambiente e para a saúde podem levar algum tempo para aparecerem de forma mais contundente, mas quando o fizerem (e as informações de outras partes do mundo o indicam) serão dificilmente controláveis e reversíveis.
Mais grave no curto prazo são as conseqüências para os agricultores que não querem plantar transgênicos e que sofrem da contaminação provocada pelos cultivos geneticamente modificados. O governo vai garantir os direitos destes agricultores? E os direitos dos consumidores que até hoje não viram ser aplicada à legislação sobre rotulagem?
A "burrice" da posição pró-transgênicos que o próprio candidato Lula identificou se confirma atualmente pela rápida perda das vantagens artificiais do plantio de soja transgênica e da crescente restrição do mercado internacional ao produto contaminado.
A traição do governo Lula se manifesta ainda no campo estratégico com a entrega da soberania alimentar brasileira às multinacionais de transgenia, pois o monopólio desta tecnologia e das patentes sobre as sementes dela derivadas nos deixa na mão dos interesses econômicos da Monsanto e outras que tais.
A luta contra o descalabro desta política vai continuar em todos os campos: jurídico, político e, sobretudo no econômico, através da denúncia de riscos para os consumidores e para os agricultores. Não vamos permitir que a Monsanto, os ruralistas e o governo Lula levem a agricultura do país para o desastre.
Assinado,
___________________________________
Veja o Boletimtgransgenicos

**********
Carapuça
A luta contra os transgênicos acontece em todo o mundo. A União Européia já aprovou o uso de material geneticamente modificado (os GM) em vinhedos, numa atitude que ameaçará a biodiversidade e toda a cultura do vinho européia. E terá reflexos em todo o mundo.
Na Europa, a importante organização italiana Slow Food, promotora da boa alimentação, e permanente opositora das ameaças à biodiversidade, conseguiu mais de 200 mil assinaturas na sua campanha contra o uso dos produtos geneticamente modificados (GM). Ela conta com o apoio de organizações de peso no mundo dos vinhos, como o respeitado Office International du Vin, francês; a Associazone delle Città Del Vino (Associação Italiana das Cidades Vinícolas), além do Greenpeace.
A engenharia genética permite que cientistas usem os organismos vivos como matéria prima para mudar as formas de vida já existentes e criar novas. Um gene é um segmento de DNA que, combinado com outros genes, determina a composição das células, que, por sua vez, fixam o seu comportamento (e de um produto natural). É o núcleo da evolução.
Mas ela “corta e cola” genes de um organismo para outro, mudando suas características e manipulando sua biologia natural, a fim de obter resultados específicos. Uma planta manipulada para produzir toxinas contra pestes, por exemplo, num processo que não pode ser controlado completamente, pode causar resultados inesperados, como afetar os genes de outras partes do organismo (o nosso e o das plantas).
Grupos ligados à produção de transgênicos propuseram em 2202 ao Office International du Vin que as vinhas de variedades de uvas transgênicas não fossem identificadas como tal, mas rotuladas como “clones”. Argumentam que o rótulo de transgênico ou de geneticamente modificado “confundiria o consumidor”. Esconder a verdade? Colocam a carapuça?
Todos sabem que clones sempre foram criados naturalmente em vinhedos e são claramente reconhecidos como sendo da mesma variedade de uva. Por que alterar artificialmente uma Chardonnay e ainda assim querer manter o mesmo nome da nova “espécie” (que - é sabido - não virá de uma espécie vinífera, mas de outros organismos ou de um material sintético)? Isso é fraude!
Os nossos políticos sabem que não precisamos de transgênicos por aqui (mais de 90% do que consumimos é natural). Sabem que para votar tal matéria precisariam de pesquisas – inexistentes. Sabem mais que poderosos grupos, como o Monsanto, e governos como o canadense e o norte-americano estão muito interessados na aprovação dessa matéria. Colocamos a carapuça também?
Essa vida severina, leitor, pode ser melhorada com um e-mail seu para aqueles endereços acima. Por causa disso, em outro caso lamentável (e naturalmente envolvendo políticos profissionais) é que a proposta de aumento salarial dos parlamentares morreu.
Sonia Melier também é participação e está no:

2.3.05

Removendo rótulos

A leitora Fernanda Vianna, que faz treinamento e consultoria gastronômica em São Paulo, tentou retirar rótulos de vinho com papel contact e não conseguiu. Pede dicas.
Eis, abaixo, os métodos que conheço e o sucesso que tenho tido com eles:
Molhar o rótulo. Você pode encher uma pia e deixar lá a garrafa por um tempo. Pode fazer isso também num balde para não ocupar a pia.
Pode utilizar também uma garrafa pet de dois litros, de refrigerantes (devidamente vazia, claro). Corte a extremidade da pet, de modo a facilitar a passagem da garrafa de vinho.
Encher a pet com água quente e introduzir nela a garrafa de vinho, também cheia de água quente. O procedimento é o mesmo caso utilize o balde.
A garrafa de vinho cheia d’água impede que ela fique boiando, seja na pia ou em qualquer recipiente, muitas vezes com o rótulo voltado para a superfície.
Deixe ficar uma noite. De tempos em tempos, tente retirar o rótulo, puxando-o delicadamente por uma de suas extremidades. Mas não precisa acordar de madrugada para fazer isso. Durma um bom sono e, após aquele café da manhã, faça as suas tentativas. Cuidado para que a sogra ou a diarista não joguem a garrafa no lixo.
Usar uma lâmina. É utilizado principalmente quando o rótulo desejado tem muito dourado ou prateado, papel envernizado e utiliza cola sintética. O papel sob a camada de ouro ou de prata normalmente não fica úmido. O rótulo poderá ficar opaco, sem brilho, sem cor, nessas áreas, se molhado. E normalmente será rasgado nesses pontos (já que a cola ali ficará mais resistente). O procedimento é o seguinte:
a) Encher a garrafa com água quente e esperar uns 10 minutos.
b) Em seguida, esvazie-a e coloque apenas um copo de água fervente. Ponha a garrafa com o rótulo voltado para baixo (com sua face voltada para a superfície onde repousa a garrafa), de modo que o calor se concentre apenas na área ocupado pelo rótulo.
c) Deixe ficar uns cinco minutos.
d) Em seguida, com uma lâmina (gilete, navalha, canivete bem afiado), comece a remover o rótulo. Cuidado para não se queimar. Muita gente usa luvas de cozinha para proteção.
A maioria dos rótulos pode ser retirada a quente ou a seco. Mas alguns deles, como os do famoso Château d’Yquem, considerado o melhor dos vinhos doces, de Sauternes, França, tem ouro no rótulo, o que facilmente tornam as letras quebradiças, ao ser retirado. O rótulo é produzido assim, deliberadamente, para dificultar falsificações (o pessoal retira o rótulo de uma garrafa com o vinho verdadeiro e o coloca noutra com vinho de qualidade inferior).
Papel Contact. A Fernanda empregou papel contact e não deu certo. Nunca utilizei esse método. Sei de pessoas que importam papéis contac especiais, como o Wine Appeal ou Label-OFF dos Estados Unidos.
São plásticos transparentes com um adesivo potente numa de suas faces. A face com o adesivo é colocada sobre o rótulo. Com a base de uma colher, esfregam e esfregam e esfregam o adesivo, que é em seguida retirado. Muita gente só o retira depois de alguns dias. E dizem que dá certo. O problema é que são produtos que precisamos importar e devem custar caro. Já li que, quando conseguem retirar o rótulo, partes de cor, texto e desenhos ficam no adesivo. Trabalho perdido.
Variações. Também se utiliza o frio em vez do calor. Colocam a garrafa cheia dágua num balde com gelo e deixam. É uma operação que tenta reproduzir o que normalmente acontece com os rótulos de champanhe ou de vinho branco em restaurantes. Geralmente, quando estão servindo a terceira taça, o rótulo já está “dependurado” na garrafa ou boiando no balde com gelo.
Molham também o rótulo e o colocam no freezer para que congele. Uma vez congelado, é retirado, esperando que volte à temperatura ambiente. Em seguida, tentar descolá-lo com as mãos, unhas ou lâmina. A garrafa deverá estar vazia, claro, para não estourar dentro da geladeira.
O problema em qualquer método que utilize água é a possibilidade de enfraquecer o rótulo, que pode rasgar facilmente.
Alternativas quentes. As mais comuns variações utilizando o calor são:
a) Colocar água numa chaleira até que comece a despejar vapor. Colocar o rótulo diretamente em contato com o vapor e esperar que a cola amoleça.
Uma opção é utilizar um secador, no calor máximo, sobre o rótulo. Já tentei esse método e não deu certo: o calor do secador não é potente o bastante.
b) Tem gente que coloca a garrafa no forno lá pelos 150º C. O rótulo deve ficar voltado para cima. Costuma amaciar a cola dos rótulos, principalmente se forem de vinhos do Novo Mundo (qualquer país ou região que não seja a Europa), que geralmente utilizam adesivos sintéticos.
c) Também se usa o método de molhar o rótulo, mas adicionando-se detergente de cozinha no balde ou na garrafa pet.
O rótulo seco. O objetivo é certamente retirar o rótulo intacto. Desse modo, devemos apenas encher a garrafa com água fervente e esperar que a cola derreta. Se der certo e não for necessário o uso de lâminas, o rótulo sairá seco, sem rasuras ou perda de cor, perfeito para entrar no seu álbum.
Caso o rótulo retirado ainda contenha cola, o recurso é colocar um pouco de farinha no verso e esperar que seque.
Se estiver molhado ou úmido, guarde-o entre duas toalhas secas.
Uma vez seco e sem vestígios de cola, guarde-o entre as páginas de um livro bem volumoso, para que volte ao seu formato original, liso.
O método que melhor tem funcionado comigo é o que utiliza água quente (no balde ou na garrafa pet). Uma vez removido o rótulo é que emprego o secador de cabelo.
Teste o contra-rótulo. Existem basicamente dois tipos de cola para os rótulos. Os adesivos (como os dos selos), geralmente utilizados pelos vinhos do Novo Mundo. Ou a simples cola comum, normalmente encontrada nos rótulos de vinhos do Velho Mundo.
A dica aqui é você testar primeiramente o contra-rótulo – aquele rótulo menor que fica na outra face da garrafa, normalmente com informações sobre o fabricante, o importador, endereços etc. Se o teste der certo com ele, dará com o rótulo principal.
Se o rótulo for do tipo adesivo, encha a garrafa com água fervente e deixe ficar por um tempo. Aí, teste o contra-rótulo com uma lâmina. Deverá sair com facilidade.
Se o rótulo utilizar cola comum, como os do Velho Mundo, encha a garrafa com água fervendo e a coloque num balde com água também fervente e espere. Use o mesmo processo de empregar uma gilete para verificar se o rótulo está fácil de ser retirado.
Caso você ache que vai ter problemas, desista. Use uma câmera digital e registre o rótulo. Assim, não vai danificá-lo e ainda ter um registro dele, que você pode imprimir em papel de qualidade e guardar no seu álbum.
Amigas sempre me enviam relatos dos métodos que utilizam para retirar rótulos e o que conseguiram com eles. O que posso dizer é que quase todos que mencionei acima dão certo com parte dessas amigas ou se revelam um desastre com outra metade.
Espero que a Fernanda Vianna dê sorte com a maioria deles.
Sonia Melier agora no soniamelier@terra.com.br