21.6.11

Também não aguento

Leram o Artur Xexéo? O colunista não aguenta mais um bocado de coisas, como começar qualquer frase com a expressão “Na verdade...”, ou responder cansativamente “Com certeza...” O jornalista não aguenta mais o Luan Santana nem a Regina Casé bancando a simpática. Nem eu.
E como eu, Xexéo não aguenta mais “pesquisas científicas amaldiçoando o ovo e seus efeitos no colesterol, anos depois de o ovo ter sido abençoado por pesquisas científicas porque, afinal, o ovo tem bom colesterol, apesar de, anos antes, outras pesquisas já terem amaldiçoado o ovo etc. etc. etc.”
E isso, claro, vale também para a alface, a beterraba, o agrião e o que mais quisermos incluir, e no caso presente, as uvas e os vinhos. Depois do fenômeno do Paradoxo Francês, em 1991, quando o resveratrol apareceu como o John Wayne da luta contra as doenças cardíacas, a pesquisas não pararam mais. E as vendas dos vinhos passaram a crescer como nunca, particularmente a dos tintos.
Por conta do resveratrol (e de mais alguns outros componentes), o vinho foi transferido para as prateleiras das farmácias, indicado para tratar de doenças circulatórias, hepáticas, metabólicas, renais, mentais, cancerígenas é curar cataratas e transformar-se numa nova fonte da juventude. Tal como a história do ovo mencionada pelo Xexéo, com frequência vemos que a pesquisa B, mais recente, invalida a pesquisa A, mais antiga. E fique certa que o vindouro estudo C vai desbancar a pesquisa B.
O resultado é que grande fatia do consumo mundial do vinho se concentra em gente preocupada com saúde, gente que bebe vinho como remédio. Portanto, não é de estranhar que um novo comerciante de vinhos inglês, a Vinopic, esteja vendendo vinho (on-line) com base num baseado em suas qualidades para a saúde.
A Vinopic criou uma espécie de placar, um Intrinsic Quotient (“Quociente Intrínseco”), criado por um famoso pesquisador dos vinhos, o professor Roger Corder. Seu livro, “A Dieta do Vinho” (da editora Sextante) está até esgotado em português.
O cientista considera que o que tornam os vinhos mais protetores são os polifenóis, componentes químicos encontrados nas cascas e sementes das uvas, os principais contribuintes da cor e sabor dos vinhos tintos. Entre os polifenóis, os mais significativos seriam as procianidinas, encontradas também nas sementes das uvas e que podem funcionar como vasodilatadoras e, assim, proteger contra doenças cardíacas.
O professor descobriu também que certos vinhos contêm mais procianidinas do que outros e que, para a nossa saúde, deveríamos consumir de 300 a 500 mg delas diariamente. Verificou também que quanto menor a uva e maior o número de suas sementes, a quantidade potencial desse polifenol seria maior. E logo chegou aos vinhos com a uva Tannat, uma das variedades tradicionais do sul da França (e, agora, também do Uruguai). Outras castas teriam também boas quantidades daquele componente: Cabernet Sauvignon, Malbec (argentino), a italiana Sangiovese, entre outras.
O tal “Quociente Intrinsic” terá notas, exatamente como as que os críticos dão aos vinhos que degustam, à la Robert Parker e Wine Spectator. Podem ir de 50, para um tinto genérico, 80 para um tinto genérico com a “qualidade Vinopic”, 120 para um tinto de qualidade de Madiran, região das uvas Tannat. E não aguento igualmente esses excessos de pontos, marcas etc. para simplesmente falarmos de vinho.
Não tenho dúvidas que o site será um sucesso. Só não me vejo comprando vinhos em razão de saúde. Faço exercícios, como muita fruta e legumes, minha dieta é de colesterol reduzido. Não tenho nada contra a Tannat ou qualquer outra casta. Mas vinho é original e insuperável, a mais deliciosa e complexa das bebidas do planeta. Ele nos oferece estilos diferentes, do branco ácido ao rico tinto, ao encorpado sedoso, parados ou espumantes, secos ou doces. Podem ficar conosco de um dia a dez anos, a centenas de anos. Nenhuma outra bebida nos oferece tanta história, tantos costumes, tantas culturas e, de certa maneira, tanta espiritualidade. Quanto à geografia, o vinho é uma das poucas coisas no mundo da qual podemos identificar a sua origem. Vinho sobretudo é convívio, calor humano, um enlevo, uma ajudinha para irmos levando nossa vida numa boa.
Mas a turma de meia idade em diante não vai parar de comparar o seu tinto de 120 com outro de 110, como aquelas pessoas que trocam impressões sobre a qualidade da aplicação de injeção de suas farmácias preferidas.
Não aguento mais ouvir de vinho e medicina, que os tintos são mais saudáveis etc. E os Rieslings, os Sauvignon Blancs, os Chardonnays, os Viogniers? E a imensa tribo dos tintos não tão fartos dessas procianidinas? Não vou trocá-los por uma receita. Não me importo se papiros egípcios ou tabletes sumerianos já recomendavam vinho como ajuda para alguma aflição. Já pensou beber um copo d’água há 4 mil anos? Melhor o vinho, né? Ah, os soldados romanos só bebiam vinho. Aliás, de péssima qualidade, praticamente um vinagre, mas melhor que água, pois senão seriam varridos do mapa pelos Asterix do caminho.
Lembro que em dezembro de 2010, a empresa farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK), a segunda maior do mundo, interrompeu o desenvolvimento, em dezembro de 2010, da droga SRT501, baseada no resveratrol, destinada à prevenção de doenças circulatórias em razão de sua pouca eficácia e potencial em agravar problemas renais. Veja mais.
Nada demais. Afinal, a empresa pesquisou, investigou e, por fim, verificou que ia morrer na praia. E pararam: nada mais profissional e ético. O problema está no consumidor: ele quer transformar a bebida num remédio e pode até remexer numa gaveta de saúde até então fechada.
Que tal continuarmos a bebericar nosso vinho pensando em outros méritos? O colunista Dr. Vino diz que comprar vinho por motivos de saúde o deixa doente. Eu já disso que não aguento isso. E você, amiga?
Da Adega
Vinexpo. O grande salão mundial do vinho e destilados abriu domingo, 18, em Bordeaux, e vai até quinta-feira. Está reunindo 2.400 empresas produtoras de 47 países, mais de 50 mil profissionais de hotéis, bares, restaurantes, companhias aéreas, pessoal de imprensa. Uma senhora festa.
Wine Day Cantu. A importadora apresentará algumas novidades de seu portfolio em evento no Hotel Porto Bay (Av. Atlântica, 1500), dia 26 de julho, das 15 às 21 horas. Entre as novidades: os italianos Tenute Folonari e Tenute La Poderina e os franceses da Le Grands Chais de France. Os supertoscanos da I Giusti e Zanza, os chilenos da Viña Ventisquero, os argentinos da Susana Balbo/Dominio del Plata e os portugueses da Quinta do Vallado também estão na carta de vinhos preparada especialmente para o evento.
Mas as novidades ainda incluem vinícolas francesas, espanholas, chilenas, argentinas e uruguaias. Esse será o primeiro Wine Day Cantu no RJ. Imperdível.
Punto Final. Esse festejadíssimo Malbec, da vinícola Renacer, de Perdriel, ao dos Andes, está sendo oferecido por uma senhora barganha: R$ 39,00. Estamos falando do Punto Final Etiqueta Preta 2009. Veja aqui.

10.6.11

Quem não bebe e não beija

Amiga de longa data está emitindo sinais de fumaça de que algo está para acontecer. Anda me perguntando sobre que vinhos combinam com peixes (e cita truta, salmão, linguado, dourado etc.), com carnes (assadas, ragus, de panela, rosbife, estrogonofe), galinhas (ao molho disso e daquilo). Quer saber também sobre vinhos como aperitivos: o que oferecer antes e depois de um jantar. Essas coisas. Hum...
Pra começar, ela mal entra na cozinha. Seu filhote está naquela fase de comer papinhas. O que é, sem ironias, uma sopa. Comida mesmo, encomenda da cantina que funciona em seu condomínio: é tudo baratinho e bem variado. E, para ela, mais fácil, mais prático. Vive sozinha e trabalha. Deixa o filho numa creche e reserva as noites para se dedicar à cria.
Quanto a beber, ela mal sabe diferenciar vinho de wine cooler. Como não sai, vive inventando reuniões com amigas: ver um DVD, jogar um biriba. É quando eu apareço com uma garrafa de vinho para acompanhar o papo. E ela mal consegue terminar uma taça.
E os sinais de fumaça ficam mais intensos: acabou de me ligar perguntado sobre uma música do Elton John, Elderberry Wine. Quis saber se eu já tinha tomado vinho de sabugueiro (“elderberry”) Se a planta cura tudo, da caxumba ao resfriado. Se é verdade que sua frutinha vermelha dá sorte no amor. Hum, hum! Que eu saiba, os ânimos masculinos ficam quentes e de pé apenas na letra do Elton John.
Fucei mais e descobri que a cara amiga está preparando um jantar para o Dia dos Namorados. Só para dois. Mora ela e seu filho, o ex já foi embora há tempos. O candidato a namorado ainda desconhece existência do herdeiro. O plano é realizar o jantar depois de colocar o garoto na cama. Ela tem certeza do que o inocente (veja como o batido termo está corretamente empregado) vai ficar sossegado no seu quarto enquanto rola o jantar. Vai arrumar sarna pra se coçar.
Os perigos não param por aí. Segundo ela, o convidado é um verdadeiro sommelier. Se ela não distingue um wine cooler de vinho, certamente não sabe bem o que seja um sommelier. “Ah, ele manja muito de vinho!” Por isso, me pede dicas de vinhos para combinar com o que ela não sabe, pois desconhece o cardápio da cantina para o dia 12, a grande data.
Só não entendi muito bem o que ela está querendo com o Elton John. Pergunto se está produzindo uma trilha sonora especial para o jantar. Olha que o garoto acorda e o ágape será a três, com direito a choradeiras.
Não, a idéia era a de criar um CD, só com músicas destacando os vinhos. Um presente para o convidado. Dei cartão vermelho ao que ela selecionou. Por exemplo: “Bebendo Vinho” (com a Banda Ira), “Água em Vinho”, da Adriana; “Baladas” (Nei Lisboa), o infalível “Days of Wine and Roses” (Henry Mancini) e “Cálice”, de Chico e Gilberto Gil.
Pare por aí, amiga! “Bebendo Vinho” fala em alguém que quer morrer “bem velhinho, assim, sozinho, bebendo um vinho e olhando a bunda de alguém”. A cantora gospel Adriana está num embrulho existencial, não sabe dizer direito o que se passa dentro dela e pede ao “Pai” que transforme a água em vinho, pois já não pode ir sozinha...
A belíssima música do Mancini é um ótimo resumo do filme: os “dias de rosas e vinhos” te levam a uma porta do “nunca mais”. Um casal de apaixonados, onde o marido é alcoólatra, transforma a mulher amada numa parceira de birita. Ele consegue parar, mas ela não. E vinho mesmo não é o que não se bebe no filme: é uma metáfora para os Brandy Alexanders e Martinis consumidos em profusão. Uma história triste.
Em “Cálice”, temos um belo manifesto contra a ditadura militar, onde cálice é homônimo de cale-se e a bebida um “vinho tinto sujo de sangue”. O que é isso companheira? A sedução aqui são os nossos direitos, em particular os de pensar e falar. Um cálice que temta na porrada nos afastar deles.
Pronto, deixei minha amiga desanimada. Ela não cozinha, mal bebe, mas quer esse relacionamento. Afinal, vive só, vive em função do filhote. Acha um absurdo que não haja vinho no encontro já que esse, parece, é o dó-de-peito do rapaz.
Penso numa frase de Goethe, mas fico calada. Então, proponho um arranjo dos mais honestos. Vou contribuir com algumas garrafas de vinho: tintos, brancos, espumantes, além de um vinho do Porto. Ela arruma na cantina um cardápio que inclua uma entradinha, um peixe, digamos. E um prato principal, uma carne. Ela charmosamente abre os trabalhos com o espumante. E elegantemente pede que o rapaz selecione os vinhos que melhor combinem com o peixe e a carne. E encerra a festa, pelo menos nessa fase gourmet, com o Porto (um Quinta do Portal Tawny, 20 anos). Ela tem tudo para não ficar embaraçada. Precisa apenas prestar atenção no quanto beberá. Quanto ao resto, não me preocupo, ela já é bem grandinha.
Tem uma ligeira pegadinha: se o rapaz ainda for adepto de regrinhas de combinação, tipo vinho branco com peixe, vinho tinto com carnes, não haverá problemas. Mas se ele for um pouquinho mais atualizado e queira combinar comidas com molhos muito ricos, muito presentes (o que eu acho não acontecerá, pois não é a norma das cantinas) a milha seleção inclui também vinhos ricos (mais encorpados).
Pode ser um clichê, mas amor e vinho sempre andaram junto. Mesa de namorados sempre terá flores, velas, taças e uma garrafa de vinho. A Bíblia já dizia que “o vinho faz a vida feliz” (Eclesiastes 10:19), ele também “alegra o coração do homem” (Salmo 104:15). Ele nos faz feliz, nos alegra e é seduz: “Seus lábios são como o melhor vinho” (“Cântico dos Cânticos 7:9-10).
Acho que minha amiga se sairá bem. A frase de Goethe que engoli é a que segue: “Uma jovem e um copo de vinho curam qualquer necessidade; quem não bebe e não beija está pior que morto”. Minha amiga mal bebe, mas sabe beijar. Morta é que ela não vai estar. Semana que vem conto o final desse jantar.

Da Adega
Para os namorados. Eis o que selecioneis para mandar para a minha amiga. Foi fácil, pois a mídia especializada está sempre me enviando novidades. Por exemplo: enviei dois espumantes. Um, o Nero Rosé, da Domno do Brasil, empresa do Grupo Famiglia Valduga, localizada no Vale dos Vinhedos (RS). No Rio, consulte a Lidador. Em Sampa, veja na Specialitá Vinhos, Metapunto ou na Liquor Store. O outro, o premiadíssimo Baccio na versão Brut, safra 2010, produzido pela Famiglia Zanlorenzi (menção honrosa no The International Wine Challenge 2011, realizado em maio, em Londres).
Para tintos encorpados selecionei o Aurora Reserva Tannat 2009 e o Aurora Pequenas Partilhas Carmenère. Também da Aurora, separei o Reserva Chardonnay (veja onde encontrar no site) e o chileno Tabali Reserva Sauvignon Blanc (que ainda não experimentei; deixo por conta dos casal).
Estou ainda catando mais um par de vinhos. Afinal, não quero que minha amiga apresente um batalhão de ofertas. Mas por hoje, chega.
Leo Bello. Vocês todas sabem que o rapaz é o grande campeão brasileiro de pôquer, o homem que está na origem do sucesso da modalidade de jogo que pratica, o Texas Hold’em, que se transformou-se numa coqueluche por aqui.
Pois não é que o Leo Bello tuitou: “Um dos blogs mais interessantes e divertidos sobre vinhos que conheço é o da Sonia Melier”. Veja em: http://twitter.com/#!/leobello E eu falando em biriba. Aprenda a jogar pôquer com o Leo.



3.6.11

Um gás salvador

Conservar vinho é uma das mais antigas preocupações do homem. Tem 6.500 anos, pelo menos. Até hoje, ao tirarmos uma rolha ou uma tampa de rosca, sabemos que o vinho na garrafa vai ter pouco tempo de vida, mesmo que voltemos logo a tampá-lo. Por isso, sequer cogitamos em abrir uma garrafa e beber o vinho aos poucos, de tempos em tempos, deixar o que sobrou para semana seguinte ou mesmo para o próximo mês.
E desde que a Terra existe, a solução para esse problemaço sempre esteve diante dos nossos narizes. Melhor, sempre fez parte do ar que respiramos, na forma de um gás inerte, o argônio.
Até aí nada demais: o argônio, um dos três principais gases componentes da atmosfera terrestre, ao lado do nitrogênio e do oxigênio, foi isolado ou “descoberto” em 1894 no Reino Unido e seu nome vem do grego “argon” ou “inerte”.
Que ele combate a oxidação também não é novidade: é usado para conservação de peças em museus, pelo seu comportamento inerte; em lâmpadas incandescentes, evita a corrosão do filamento de tungstênio e também de válvulas eletrônicas; é gás protetor para soldas e tem aplicação medicinal, através de lasers, em cirurgias dos olhos, entre outras.
Como conservante de vinhos, também não é novidade. Quem já não conheceu a Enomatic, esse aparelho com várias garrafas de vinhos, próprios para o serviço em taças? Cada vez que cada taça é servida, automaticamente um jato de argônio é injetado na garrafa. São mais comuns em bares de vinho – onde (até em razão desse equipamento) podemos provar brancos, tintos, rosados e espumantes, à vontade. O que seria improvável fazermos em casa (pelo tamanho e pelo alto preço). O quê, abrirmos quatro garrafas num mesmo dia para dar apenas uma provadinha e deixarmos o que sobrou pra depois? Nos bares de vinho e em alguns restaurantes, o argônio vai garantir que o vinho sobreviva por semanas, por meses até. E como nos viramos em casa? Voltamos à velha rotina de recolocar a rolha ou a rosca na garrafa e torcer para que o vinho suporte por uns dias.
Encomendei de uma amiga que foi conhecer a Califórnia. Ela incluiu na viagem uma excursão por algumas vinícolas do Vale de Napa. Imediatamente pedi que me trouxesse uma novidade que promete transformar esses 6.500 anos de sufoco em solução caseira para a conservação de nossos vinhos.
É a Winesave, que você pode ver aqui. Criação australiana, a Winesave é uma elegante garrafinha de alumínio, bem leve, segura, fácil de manejar e baratinha contendo 100% de gás de argônio, que é inerte, inodoro, insípido, incolor, inócuo, e sem sabor.
Porém, ele é 2,5 mais pesado que o oxigênio. Assim que você serve o vinho e pousa a garrafa sobre a mesa, dá uma borrifadinha de um segundo dentro da garrafa (pelo link acima, você poderá assistir a uma demonstração dessa ação). O argônio, mais pesado, vai ocupar completamente o lugar do inimigo número um dos vinhos, oxigênio, e assentar-se sobre a camada superior do líquido. Melhor vedação, impossível.
A revista inglesa Decanter, onde pela primeira vez li sobre o assunto, afirma que a Winesave é indispensável nas casas dos amantes do vinho, até mesmo por sua simplicidade. E acho também que bares e restaurantes que não podem ter a Enomatic, por questões de tamanho e economia, a utilizarão pela sua praticidade, eficiência e economia.
O grande problema é que a Winesave, que pode ser encontrada em quase todo o mundo, ainda não tem que eu saiba representantes comerciais na América do Sul. Também ainda não vendem online para cá. O que é de tirar o nosso gás.
Mancadas. Mancadas em degustações de vinho, bem dizendo. A primeira delas é beber muito. A amiga que me trouxe a Winesave esteve uma vez em Napa, na Califórnia, o mais badalado centro vinícola do país. E pagou por uma excursão de ônibus a algumas vinícolas. E anotou o seguinte: boa parte das pessoas já descia dos ônibus com uma latinha ou garrafa de cerveja nas mãos. Estavam ali pra encher a cara. E ninguém com a cara cheia vai conseguir provar nada, o que me parece óbvio. O ônibus parou em três vinícolas. Em cada uma, você tem uma provinha (digamos, um terço de taça) de vinho; se provar três-quatro vinhos, teremos aí uma taça completa. Em todos os salões de provas, temos um balde para que o vinho seja cuspido. Afinal, o objetivo é degustar e não beber, entornar o vinho. Alguém usou o balde. Não, ninguém. A turma estava mais a fim de chutar o balde. Minha amiga teve vontade de abandonar a excursão.
A segunda é também muito comum: pessoas tentando impressionar os colegas de excursão e os atendentes das vinícolas com um conhecimento sobre vinho que na verdade não têm. Não é vergonha alguma não conhecermos nada sobre vinhos. Por isso mesmo estamos ali, visitando as vinícolas. Algumas pessoas encheram o saco dos sommeliers da casa, dando palpite em tudo, atrapalhando a degustação. Veja como é fácil transformar-se num enochato, o dono da verdade, falando alto e imperativamente que aquele vinho “é muito ácido”, aquele outro “não é bem o meu estilo”. E vai por aí.
E as pessoas que aparecem super maquiadas e perfumadas. Os batons vão tornar qualquer taça difícil de lavar. Sua mancha só vai sair esfregando-a com as mãos. E os perfumes vão prejudicar nossa capacidade de degustar. A nossa e a das pessoas à volta. Nossos sentidos vão se afastar da taça. Voltaremos a esses probleminhas em breve.
Da Adega

1. Quinta do Rocio 2007, que vem lá da Estremadura, das terras de Pedro Álvares Cabral, com carne vermelha e carne de caça. O vinho é um blend pouco comum de Shiraz, Merlot, Touriga Nacional e Grenache.
2. Paxis Douro 2007, da região do Douro: Touriga Franca, Touriga Nacional e Tinta Roriz. Harmoniza com carnes assadas, peixes no forno, pratos condimentados. E até queijos.
3. Paxis Lisboa 2006, também da Estremadura: Caladoc (um corte de Grenache com Malbec) e Tinta Roriz. Vinho encorpado, com aromas de cerejas pretas, framboesas e especiarias. Vai bem com carnes assadas e recheadas e massas.
4. Las Estrellas Carménere. Como o nome diz, com a cepa que faz a fama do Chile. Frutas vermelhas com notas de pimentão acompanhando carnes, massas e pizzas.
5. Las Estrellas Cabernet Sauvignon. Aromas de cereja e morango para fazer par com carnes grelhadas, massas com molhos vermelhos leves e até queijos meia cura.
Daniel Lage é sommelier formado pelo Senac-SP, tem experiência em hotelaria e restaurantes. Saiba mais sobre a Lusitano Import.



Harmonizações lusitanas. O sommelier Daniel Lage, da Lusitano Import, experiente importadora de vinhos e azeites, apresenta aqui sugestões de harmonização de vinhos (portugueses e chilenos, as especialidades da Lusitano) e alguns pratos: