26.9.09

Um aperto

Novamente um glossário. O último que publicamos, Glossário em progresso, foi em maio. Vamos, portanto, enriquecê-lo. O título é que ficou um pouco estranho: deveria ser algo como Glossário em progresso II. Mas ficou aperto mesmo, pois inclui uma palavra sobre os problemas e talvez uma solução para quem, como eu, por exemplo, passou longas horas degustando vinhos, bebeu muita água para limpar o paladar e premida pela urgência de atender os reclamos da natureza buscou um banheiro. Só que ninguém sabia onde estava a chave. Um aperto, não é? Vamos, então, a essa nova edição do nosso glossário.
Taça ISO. É a taça de vinho considerada padrão, para a mais perfeita possível avaliação das qualidades organolépticas da bebida. ISO, como sabemos, é a sigla da International Organization for Standardization (Organização Internacional para Padronização), entidade que reúne associações de padronização de normas técnicas em 170 países. Foi criada em 1947, em Genebra, Suíça, de onde opera em todos os campos, exceto eletricidade e eletrônica.
Vinhos podem ser bebidos até em copos de gelatina. Uma taça pode ter essa simplicidade: é apenas um vasilhame para conter uma substância líquida, feita para facilitar a chegada da bebida à boca. Acontece que essa mesma taça pode ser fundamental para a avaliação de um dos mais fundamentais aspectos do vinho: seus aromas. E para isso ela precisa ter um formato específico.
Uma série de estudos realizados nos anos 50, baseados na teoria de que volume e o formato da taça possuem uma conexão direta com o desenvolvimento dos aromas levara a criação dessa taça padrão, que tem o formato chamado de “ovo esticado”. E graças a essas características na forma e na superfície determinou-se o formato da taça ISO de degustação de vinhos, aquela em que os aromas podem melhor se expressar. Sua boca é menor do que o seu corpo, permitindo que os aromas concentrem-se numa área mais limitada, porém o suficiente para permitir que nossos narizes consigam uma análise correta do vinho.
Ela tem aproximadamente 155 mm de altura, com uma haste (incluindo a base) com 55 mm, um corpo (o vasilhame propriamente dito) de 100 mm. A boca, a parte mais estreita, com 46 mm. E a parte mais larga (a “barriga”) com 65 mm. Numa degustação, o vinho deve atingir no máximo essa parte mais larga, o que somaria 50 mililitros de bebida. A base tem 65 mm de largura. Veja aqui.
Quando a taça contém exatamente 50 ml de vinho, a relação entre a superfície do vinho e o ar é considerada perfeita, com suficiente espaço de ar sobre a bebida de modo a permitir que os aromas se desenvolvam por completo. Esse formato permite também que as laterais da taça concentrem aromas e os levem diretamente à superfície, ou aos nossos narizes.
As especificações finais da taça ISO foram definidas em 1970 e consideram que ela deve ser transparente, nada de cores. Ainda, ser de “meio-cristal”, com uma percentagem máxima de chumbo de apenas 9%. Além disso, não se permitem desenhos, relevos ou quaisquer tipos de decoração, nada que distraia a atenção do degustador durante a sua avaliação.
Jules Chauvet. Esse vinicultor, negociante, químico, autor e grande degustador francês (1907-1989), baseado em La Chapelle-de-Guinchay, Beaujolais, é considerado, entre outras coisas, o criador da taça padrão ISO. Seus estudos e teorias levaram ao formato de “ovo esticado” e às dimensões posteriormente adotadas pela ISO.
Chauvet, embora pouco conhecido fora da França, é considerado também o pai do movimento Vin Nature, ou Vinho Natural. Seu pai produzia vinhos, morreu cedo e deixou a Jules os negócios da família em La Chapelle. E produzir vinhos era o que Chauvet gostava mais. Seus vinhos eram muito elogiados. O General de Gaulle os considerada exemplos perfeitos dos vinhos de Beaujolais, bebendo-os diariamente.
Como químico, Chauvet publicou trabalhos sobre levedos, fermentação malolática e maceração carbônica, que foi um dos primeiros a praticá-la.
Como degustador é considerado um dos melhores até hoje na França. Segundo ele, as notas de degustação não deveriam ser impressionistas. Nada de poesia. O papel do degustador deveria ser o de identificar e registrar os aromas presentes no vinho. Para isso, deveria desenvolver habilidades para reconhecer e nomeá-los tão automaticamente quanto se faz com as cores. Para isso, passava grandes períodos em Grasse, a capital francesa do perfume, trabalhando com perfumistas para melhorar o seu nariz.
Vin Nature. Ou, como dito, Vinho Natural. É um movimento nascido na França (e que já conta com adeptos em todo o mundo) que prega (e tenta aplicar) um estilo de produção não admite produtos químicos no vinhedo (fertilizantes, pesticidas, herbicidas, cobre, sulfatos etc.). No processo de vinificação, nada é adicionado pela mão do homem, especialmente levedos comerciais, enzimas, ácidos, açúcar, carvalho novo e agentes de filtragem e clarificação. E, mais grave, nada se sulfito (SO2, dióxido de enxofre) para conservar a bebida.
Voltaremos a esse assunto numa próxima coluna.
Xixi. Pois é: num pequeno bar à vin de Paris, o Racines, é que aconteceu o aperto do título. É um restaurante e wine bar, especializado em vinhos naturais. Fui levada a uma degustação improvisada de umas vinte garrafas de vinhos naturais. Para começar, não tinha cuspidor. Tínhamos que beber alguma coisa do vinho. E depois da décima garrafa, tínhamos bebido o equivalente a mais de meia garrafa. Contando com a água entre um vinho e outro, minha bexiga deu sinal que ia arrebentar. Perguntei pelo banheiro. Me apontaram uma pequena porta. Só que a chave estava com a faxineira. E a faxineira não estava em lugar algum. Não dava tempo. Olhei para fora e vi quase defronte um outro bar. Corri para lá, já cruzando as pernas. O banheiro era unissex, mas turco. Vocês sabem, o banheiro turco é aquele que você fica em pé; faz tudo em pé. Na base, um buraco. Esse era um cubículo. Você se trancava, acendia a luz, um ventilador era acionado. E se “aprontava” para ficar sobre o pedestal de louça. De repente, 30 segundos depois, a luz se apaga automaticamente. Era o dono fazendo economia, com você numa posição ridícula, querendo manejar sua roupa de modo a tentar fazer o que tinha que ser feito sem molhar nada. Consegui achar o interruptor. Sabia que tinha só trinta segundos. E pronto. Aliviei-me. A luz apaga novamente. Aciono a descarga, ainda em cima do buraco. Uma descarga em forma de tsunami me inunda as botas. Raios! Acendo novamente a luz. Tento limpar as botas e... desisto. Saio sem graça, com parte do meu enxoval na bolsa e volto para o Racines. A faxineira já tinha voltado.
Problemaço essa relação de mulheres com banheiros públicos. Filas, atrasos, apertos sem fim. Mas parece que vem da Alemanha uma prática solução. Uma coisa chamada Lady Bag. É, digamos, um penico de bolso, feito de plástico e mais tecnologia de ponta. Você pode ficar apertada no tráfego, no avião, no trem, no carro, na fila que o Lady Bag resolve. É a promessa que eles fazem. Vejam só.
Da Adega.
Aurora em Angola. A vinícola gaúcha, líder no mercado brasileiro de vinhos finos, vinhos de mesa e coolers, além de sucos de uva, já está exportando para Angola o Aurora Varietal Chardonnay e o Aurora Varietal Cabernet Sauvignon. Com Angola, a
Aurora passa a estar presente em 20 países, entre eles Japão, França, Estados Unidos, Alemanha e Rússia.
Encontro Internacional do Vinho. Será novamente realizado na maravilhosa região da Pedra Azul, no Espírito Santo. Vai de 22 a 25 de outubro e promoverá degustações de mais de 60 grandes vinhos. Juntará, além disso, estudiosos, profissionais, enófilos e palestrantes, entre eles o biodinâmico Nicolas Joly e o editor da revista Wine & Spirits, Joshua Greene. Para mais informações, programação detalhada do evento e inscrições, veja
aqui.

21.9.09

Medalhas e Pontos

Falo hoje de medalhas e pontos. Medalhas que os vinhos recebem nas centenas de concursos aqui e lá fora. Pontos que são conferidos pela crítica especializada. Em ambos os casos, juízes e críticos podem tirar um vinho do anonimato e alçá-lo ao estrelado de uma hora para outra. Ou, do mesmo modo, encerrar suas carreiras.
Por coincidência, vou citar adiante vinhos super pontuados e medalhados, sistemas que, de qualquer modo, ainda continuam a gerar atenção do consumidor e ser fonte de polêmica para a crítica.
Os Pontos. Medalhas e pontos são, sabemos, recursos práticos e rápidos de qualificar vinhos. A prática das medalhas foi muito vigorosa até os anos 80, década em que o sistema de pontos começou a despontar, particularmente a partir do protótipo criado pelo “imperador do vinho”, o crítico americano Robert Parker: uma escala de 100 pontos modelada no método de avaliação das escolas secundárias (high school) do país. Parker foi imitado: a revista Wine Spectator é a primeira lembrança a repetir exatamente a mesma escala de 100 pontos. Outros críticos, como a respeitada Jancis Robinson, utiliza um sistema de 20 pontos.
Essas pontuações tornaram-se tão influentes que muitos produtores de Bordeaux ainda aguardam pelas notas de Parker antes de fixar os preços de seus vinhos. Quanto mais altas as notas, mais caros eles serão. Quanto mais alta a pontuação, mais os consumidores buscarão por esses vinhos, tornando-os escassos e, por sua vez, ainda mais caros.
Mas será que na cabeça dos consumidores um vinho de, digamos, 95 pontos é de fato excelente só porque ganhou esses 95 pontos? Uma importante instituição de pesquisa e educação, a ETH Zurich, respondeu essa questão com uma pesquisa sobre o valor desses pontos para os consumidores.
Reuniram 163 voluntários e os fizeram provar do Clos de los Siete 2006, um vinho argentino, feito pelo famoso consultor de vinhos, o francês Michel Rolland, e cujo preço no varejo gira entre 15 e 20 dólares.
Esse vinho ganhou 92 pontos da Wine Advocate, a famosa publicação de Robert Parker, onde centenas de vinhos são avaliadas mensalmente. Ora, 92 pontos de um máximo de 100 equivale dizer que o vinho é excelente. Acontece que os pesquisadores suíços contaram apenas para alguns dos participantes do grupo de 163 voluntários o escore dado por Parker ao vinho argentino, antes que provassem da bebida. Fizeram o mesmo para ou segundo grupo, só que abaixaram a nota do vinho para 72 pontos (o que equivale a um vinho apenas médio para RP). Para um terceiro grupo não revelaram nada. E para dois outros grupos revelaram essas notas (a excelente e a mediana) após a prova do vinho.
O grupo que não recebeu qualquer informação serviu como o controle, dando notas ao vinho numa escala de 10 pontos, indo desde um “não gostei” até “excelente”. Respondeu também o quanto se disporia a gastar para comprar o Clos de los Siete.
O pessoal que sabia dos 92 pontos antes da prova, como seria de se esperar, só exaltou a bebida. A turma sabedora da nota medíocre claro que não gostou do vinho. Os que souberam que o vinho recebera 92 pontos depois da degustação também elogiaram a bebida, embora mais moderadamente. O mesmo aconteceu com o que souberam da nota ruim após a prova.
Os resultados foram os esperados, portanto. Sim, o sistema de pontos influencia o consumidor, o seu sentido de paladar e sua determinação em pagar o preço pedido pela loja. O mesmo acontece com as notas mais baixas: o pessoal dispõe-se a pagar o mínimo pelo vinho. Já comentamos isso aqui, sobre estudo semelhante, centrado em preços: quanto mais cara, melhor seria a bebida.
E essa é uma ocorrência do dia-a-dia. As pessoas esvaziam as carteiras para pagar por grifes caras, por objetos que estão ligados a celebridades etc. E depois ficam sabendo que, em muitos casos, compraram imitações baratas feitas no Paraguai e que as celebridades têm de colocar algum no bolso para desfilar com algum objeto.
As Medalhas. A American Association os Wine Economists (AAWE: “Associação Americana de Economistas do Vinho”) realizou um estudo sobre a conformidade, a concordância entre 13 competições de vinhos nos Estados Unidos. E concluiu pela baixa qualidade e irrelevância dessas competições para o consumidor.
O estudo destaca, entre outras coisas, que dos 2.440 vinhos que participaram de três ou mais competições pelo país, 47% ganharam medalhas de ouro. Mas desse grupo, uma grande quantidade (87%) não ganhou nada, nem medalha de bronze, em outras competições. Como isso é possível? Se eu tenho um vinho com ouro numa competição, ele deveria ter destaque significativo nos demais eventos. Contudo, ao que parece, “ganhar medalhas de ouro pode ser uma questão de sorte, apenas, e não um indício de qualidade”, diz o estudo.
No trabalho, apenas foram consideradas as maiores e mais prestigiosas competições de vinhos nos Estados Unidos, nas quais comparecem dezenas de profissionais do setor para julgar as bebidas. As vinícolas gastam mais de um milhão de dólares por ano, no total, para ingressar nesses eventos. Estão todos buscando um lugar ao sol para os seus rebentos. Precisam de divulgação e essas competições costumam ser úteis para isso.
Até 1980, as competições ainda conseguiam ser notícia, com medalhas adesivadas nos rótulos das garrafas, inspirando respeito e conseguindo atenção do consumidor.
Mas a maré mudou a partir dos anos 90, com a chegada do sistema de pontos de Parker e seus milhares de imitadores em todo o mundo. As medalhas pareciam ter saturado o mercado: ouro, prata e bronze não inspiravam precisão de julgamento, pelo menos não tanto quanto os pontos. E sua proliferação só serviu para passar ao público a impressão que os juízes desses eventos eram mais condescendentes que os críticos adeptos dos pontos.
Contudo, a pesquisa da AAWE me pareceu parcial. Ela só examinou os resultados de 13 competições nos Estados Unidos em apenas um ano sem revelar detalhes importantes, como: a) quem eram os juízes; b) que vinhos diferentes foram submetidos em cada evento; c) quantos vinhos foram provados individualmente pelos juízes.
Você tem que tomar cuidado ao afirmar que um time de futebol é melhor do que outro, só porque um venceu oito partidas em 10 jogos, enquanto que o outro só foi vitorioso em quatro. E se esse segundo time jogou essas 10 partidas em La Paz, 3.660 metros de altitude e o primeiro ao nível do mar. Sabendo desse detalhe acho que você faria justiça ao segundo time.
Com relação ao sistema de pontos: Robert Parker e imitadores não podem ser responsabilizados pelo uso que produtores, comerciantes e a mídia especializada faz dele. Parker e demais críticos estão apenas revelando o que acharam de um determinado vinho através de pontos. Mas eles não deixam de traduzir esses pontos em comentários mais amplos. O julgamento final, tanto do vinho quanto do crítico, será sempre do consumidor.
Numa coluna passada (Somos todos iguais), vimos que uma pesquisa mundial sobre os critérios de compra empregados pelos consumidores, que o número de pontos, quantidade de medalhas estão na lanterninha dos critérios de escolha do público. Uma pena que esses institutos de pesquisa não combinem seus trabalhos, pois no final só servem para confundir.
Da Adega
O Vinho da Copa. Uma maneira de torcer pela Seleção em 2010, sem sair da sala e degustando um bom vinho, é experimentar o vinho oficial da Copa do Mundo, devidamente chancelado pela FIFA.
Pois esse vinho já está à nossa disposição, importado que foi pela
Casa Flora. Tem o nome de Nederburg Twenty Ten, marcando não apenas o ano da Copa, 2010, como o do seu produtor, a Nederburg, respeitada e premiadíssima vinícola sul-africana, fundada em 1791 no Paarl por um imigrante alemão.
É uma edição limitada que pode ser apreciada em três versões: tinto, branco e rosé. Um Cabernet Sauvignon, um Sauvignon Blanc e um rosé seco. Saiba mais sobre esses vinhos
aqui.
Como falei no início da coluna, o site da Casa Flora abre com sugestões de vinhos degustados (e pontuados) pela Wine Advocate de Robert Parker. E no site da Nederburg vamos saber das inúmeras medalhas que ganhou ao longo de sua vida.

11.9.09

Nós e o CO2

Você e eu, leitora, conversamos através de nossos computadores, exatamente como milhares de pessoas em todo o mundo. Ficamos aliviadas por ser essa uma atividade “limpa”, com a graça de não contribuir para o aquecimento global. E o que escolhi para papearmos hoje é sobre movimentos como o que grandes cozinheiros, sommeliers e vinicultores e a mídia de toda a França estão fazendo para que o seu país tome uma posição bem mais firme contra as emissões de dióxido de carbono, na próxima reunião da ONU sobre clima, em Copenhague, dezembro próximo.
É mais do que natural, pois o vinho, grande símbolo da cultura e da economia francesa está próximo de arruinar-se em razão da ação predatória do homem, que não se cansa em entupir a atmosfera desses gases. Assim, chefs, sommeliers e vinicultores de todo o país rogam ao presidente Nicola Sarkozy que consiga que o mundo se comprometa em reduzir 40% das emissões de dióxido de carbono até 2020. O CO2 aparece sempre como o grande bicho-papão do clima, pois ele faz aumentar a temperatura. Num clima ideal, as uvas acumulam o açúcar necessário, os ácidos ficam em seus níveis ótimos e o resultado é o melhor sabor para cada variedade. Já num ambiente mais quente, a uvas amadurecem mais cedo, antes mesmo da época da colheita. Com mais calor, a acidez é perdida através da evaporação, da “respiração” do fruto. E no final vamos ter um vinho flácido, pouco firme, com muito álcool e pouca acidez (e muito pouco frescor).
O Le Monde alerta para o perigo da destruição permanente dos terroirs dos vinhos franceses, para a possibilidade do mapa mundial do vinho alterar-se de vez, com os vinhedos tendo de avançar mil quilômetros para o norte, muito além de suas fronteiras, no que perderá completamente suas características regionais. Ficará órfão, desmemoriado de suas origens. Vinho depende de clima e solo.
Dizem que no hemisfério sul, os aumentos de temperatura serão menores. Mas assim mesmo eles existirão e vão conviver com outros e igualmente graves problemas. Falamos de geleiras derretendo, enchentes, tempestades destruidoras ocorrendo com freqüência cada vez maior. Falamos de secas, do aparecimento de desertos. Enfim, falamos desse predatório relacionamento do homem com a natureza da qual ele é dependente.
Agora mesmo, vemos assustadas os vendavais, enchentes e desabamentos no sul do país. Lemos que quase metade do Cerrado (24% do território nacional, uma área igual a 22 vezes a do Estado do Rio) foi desmatada e que 17% da floresta amazônica já foram destruídos. Isso é feito em nome de novas áreas para plantio, de mais terras para a pecuária etc.
Na medida em que o planeta fica mais quente, a evaporação tanto da terra quanto dos mares aumenta igualmente, resultando seca nas áreas onde uma evaporação maior não é compensada por mais precipitação de chuvas. Mas o vapor de água extra na atmosfera tem de cair novamente, como uma precipitação extra, o que resultará em enchentes em várias partes do mundo. Ponha a culpa no El Niño, na La Niña, nas emissões de CO2, nos desmatamentos. Os culpados, sabemos, somos nós, humanos, grandes predadores.
Enfim, amiga, conversamos através de nossos computadores, com a graça de não contribuir para o aquecimento global, com a consciência tranqüila de não promovermos emissões de dióxido de carbono. Afinal, estamos em casa, nada de carros e aviões, nada de nocivo à natureza.
Infelizmente, amiga, não é assim. Computadores, impressoras, celulares e toda a tralha que os acompanham respondem pela emissão de 830 milhões de toneladas de dióxido de carbono em todo o mundo. Isso é foi mais ou menos 2% do total das emissões desse gás em todo o mundo, em 2007. E, para a minha surpresa, o mesmo total da contribuição feita pela indústria da aviação naquele ano. Um quarto das emissões em questão é gerado pela manufatura de computadores. E o resto vem do seu uso. Não me conformo: mas o meu computador já pode ter descarregado na atmosfera o equivalente ao um Jumbo.
Lá por 2020, essa nossa aparentemente “limpa” atividade responderá por cerca de 6% das emissões de CO2. Daqui a dez anos, uma pessoa em três terá um PC, 1,5 um celular e uma residência em 20 ostentará uma conexão em banda larga. Tudo isso consumirá mais e mais energia elétrica. Quer virá de rios, de geradores nucleares ou movidos a petróleo. (Leia mais sobre emissões de computadores aqui).
Mas, querida amiga, o petróleo vai acabar em mais uns 50 anos. Podemos apelar para a energia nuclear, que está renascendo: uma tonelada de urânio produz a mesma quantidade de energia que 3.600 toneladas de petróleo (cerca de 80 mil barris). E isso sem emissões. Infelizmente, os problemas de segurança com os reatores são muitos. A história está aí mesmo para confirmar. E ainda temos o gravíssimo problema de onde dispor do combustível utilizado, um enorme vilão para o meio ambiente. Tudo isso e mais o chance de passar da produção de energia para a de armas nucleares. O Iran tem sido um bom exemplo, inclusive para o presidente Hugo Chávez, que acaba de visitar os reatores iranianos. Perigo à vista?
E os biocombustíveis? Aparecem como uma energia alternativa, com o Brasil pontificando, já mesmo a partir do álcool. Só que essa alternativa utiliza-se de muita água para a irrigação. A maioria dos carros híbridos (movidos a bateria) utiliza muita água, que fornece eletricidade. A maior parte de usinas de energia precisa de água para resfriar seus engenhos. Até mesmo os chips que estão em nossos celulares e computadores precisam de muita água para ser produzidos.
E, no entanto, 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo já não tem acesso á água potável. Estima-se que em mais 20 anos dois terços da população terrestre viverá em áreas desérticas, com pouquíssima ou nenhuma água para beber. A água já é, na verdade, o novo petróleo.
No final, entendo que o movimento que os cozinheiros, sommeliers franceses estão fazendo é parte da mesma luta. Uma luta na qual você e eu, amiga leitora, devemos embarcar já.
Sim, não deixaremos de usar nossos computadores, amiga, mas que tal ficarmos mais atentas ao que consumimos de energia, seja em casa ou em nossos escritórios? Que tal gastarmos um pouco mais de tempo vigiando nossos representantes, cobrando deles atitudes que revertam toda essa destruição. Afinal, não temos muitas alternativas, como vimos acima. Não é só o vinho francês que está jogo, é claro. O problema é geral: é o ar, a água e o feijão com arroz da humanidade em jogo.
Da Adega
Shaná Tová!
O ano novo judaico está aí (19 e 20 de setembro), marcando a chegada do ano 5770 com grandes festas na comunidade judaica em todo o mundo. Para as comemorações, a Valduga está apresentando uma nova linha de vinhos kosher, feitos no Brasil, sob a supervisão do rabino Ezra Dayan, da BDK do Brasil. A linha da Valduga compreende os rótulos Casa Valduga K Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Espumante Demi Sec e Moscatel. A linha ainda inclui um suco de uva. Saiba mais no
site da Valduga.
Virtude na Noite. A
Vinícola Salton lançará o seu novo Salton Virtude 2008 na Noite na Adega, do restaurante carioca Garcia & Rodrigues, nesse domingo, dia 15/09. Noite na Adega é um evento onde acontece um jantar harmonizado com a presença do renomado chef Christophe Lidy e grandes nomes de vinícolas e importadoras. O Salton Virtude foi premiado como o melhor Chardonnay nacional pelo júri da Expovinis 2009.
Além de um cardápio assinado por Lidy e palestra do jornalista de vinhos Alexandre Lalas, serão degustados não apenas o Virtude, mas o espumante Salton Évidence, os tintos Salton Desejo 2006 e o Salton Talento 2005. Para fechar essa virtuosa noite, o licoroso Salton Intenso.
Reserve já. O
G&R fica no Leblon (Av. Ataulfo de Paiva, 1251). Use o e-mail ou os telefones: (21) 3206-4107 / 3206-4109. V

6.9.09

Somos todos iguais

Como escolhemos nosso vinho? Quer dizer: quando estamos num restaurante, numa loja, num supermercado que critérios utilizamos para comprar vinho? Eis aqui, sumariamente, o resultado de uma grande pesquisa global, envolvendo a Austrália, Brasil, China, França, Alemanha, Israel, Itália, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos buscando achar as razões dessa escolha, seja em lojas ou em restaurantes.
Esse projeto de pesquisa representou o esforço de 10 universidades globais com especialidades em produção, comércio e marketing de vinho. Nos Estados Unidos, ele foi conduzido pela Universidade Estadual de Sonoma. O estudo global teve a liderança da Corporação do Desenvolvimento de Pesquisas sobre a Uva e o Vinho, da Austrália.
No Brasil, o trabalho esteve a cargo do professor Jaime Evaldo Fernsterseifer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele é Doutor pela Universidade da Califórnia e seus interesses por pesquisa vão desde Estratégia de Produção a competitividade industrial e agronegócios.
Foram 203 pesquisas só nos EUA. Nos demais países, somaram entre 154 e 364 estudos por país. No total, tivemos 2.757 pesquisas. Em primeiro lugar, levantaram o perfil dos nortes-americanos (homens e mulheres acima de 21 anos) nas várias situações de compra e depois os compararam com os hábitos dos consumidores dos demais países.
Nas lojas de vinho, o americano escolhe em primeiro lugar o vinho que tenha provado e aprovado previamente. Em seguida, temos a recomendação de um amigo e a de um funcionário da loja. Segue-se, em quarto lugar, a escolha pela cepa, pela uva utilizada e, em quinto, pela região de origem. Uma medalha recebida em competições ou em feiras chega apenas em penúltimo lugar. E a leitura sobre o número de pontos recebido pelo vinho (por um crítico) em último lugar. Medalhas e críticos não estão com nada.
Surpreende mais o que não chegou a marcar pontos nesse levantamento: as informações dos rótulos, bem como cartazes e displays em pontos de venda não importam muito para os consumidores. O preço não foi incluído como uma variável. Apenas perguntou-se quanto estavam dispostos a gastar numa compra no varejo.
O comportamento do norte-americano não é muito diferente dos consumidores dos outros países, com poucas exceções. A maioria dos consumidores globais também compra em função de ter degustado previamente a bebida e por recomendação de amigos.
Como seria de se esperar, os franceses estão mais preocupados com a origem da garrafa em função da cultura valoriza esse dado e é representada pela Appellations d'Origine. Um segundo fator importante lá é o valor dado à capacidade de harmonização com comida do vinho que estão comprando.
O brasileiro e o chinês dão mais ênfase à marca do que à uva. Entre todos, os israelenses são os que mais confiam na degustação prévia do vinho para decidir sua compra.
Nos restaurantes, os americanos tendem também a escolher vinhos que já tenham degustado (e gostado) previamente, tal como fazem nas lojas. O segundo lugar é até lógico: escolhem um determinado vinho porque harmoniza bem com comida. A terceira razão de sua escolha é interessante: a disposição de provar algum vinho diferente, algo novo. Isso vai contra a prioridade que dão a escolher o que já lhes é conhecido. Mas, segundo os pesquisadores, há no país um forte grupo de consumidores aventurosos, dispostos a conhecer novas tendências, novos paladares.
Logo em seguida, numa quarta posição, temos as recomendações de alguém à mesa ou do garçom. As duas últimas posições são as de terem lido algo a respeito do vinho e de optarem por selecionar por uma determinada varietal.
Mais uma vez, a experiência norte-americana está a par das decisões feitas pelos consumidores globais. No geral, o fato de terem degustado o vinho previamente é o principal fator de escolha nos restaurantes dos demais países nesta pesquisa. Esse fato e também a importância dada a combinar vinho e comida. Além disso, um grande número de consumidores opta por aceitar recomendações de parceiros de mesa.
Americanos, australianos, neozelandeses, britânicos e italianos mostram-se igualmente dispostos a experimentar um vinho ou uma uva diferente. Contudo, brasileiros, alemães e franceses não estão dispostos a fazer essa tentativa.
Se o garçom recomendar um vinho diferente, franceses, alemães e italianos vão provavelmente aceitar, tal como os americanos. No caso dos europeus, isso talvez aconteça porque possuem uma cultura gastronômica e enológica muito antiga, já sedimentada. E por possuírem profissionais bem treinados em vinho. Essa atitude não se repete entre australianos e brasileiros e, em menor escala, entre britânicos e neozelandeses.
Alemães e franceses não dão muita bola para a palavra da crítica de vinhos, quando estão decidindo o que beber em restaurantes – diferente dos americanos, australianos e italianos.
Nos restaurantes, escolher vinho baseado em sua uva é mais importante na Nova Zelândia, Alemanha e Brasil e menos nos demais países. Já o valor da região, como podemos adivinhar, se destaca na França e na Itália.
Entre todos os consumidores, de todo os países, influi muito pouco as sugestões feitas no cardápio, a disponibilidade de vinho em taça, em meia-garrafa ou uma promoção do restaurante.
O que ressalta é que, parece, somos todos muito parecidos globalmente, pelo menos quanto ao que importa na hora de comprar vinho. Os consumidores de todos os países aqui listados parecem confiar mais na degustação prévia do vinho do que em outras fontes. No final, somos mesmo todos iguais.
Acho que o pessoal de marketing e de vendas do setor vai ter que ampliar ainda mais as oportunidades de promover degustações da bebida, pois esse é o fator que mais conta tanto nas lojas quanto nos restaurantes. E acho que isso já está acontecendo pra valer por aqui.
Da Adega
Fenachamp 2009. Vem aí a 11ª edição da Fenachamp (Festa Nacional do Champanha), a grande exposição do espumante nacional, já com 25 anos de história. A Fenachamp será realizada de 01 a 25 de outubro, nos Pavilhões da Fenachamp, em Garibaldi, Rio Grande do Sul. Será um festão, com shows de música e dança de vários estilos e origens, bem como apresentações teatrais. Saiba mais no site da
Fenachamp.