20.7.05

Rótulos falantes

Na Itália, um produtor de rótulos, a Modulgraf, anunciou a criação de rótulos falantes. A empresa tem a patente da tecnologia dos microchips utilizados por muitas vinícolas contra a falsificação de vinhos e produz rótulos para algumas das maiores vinícolas do país, como Ornellaia, Arnaldo Caprai e a Tenuta Campo al Sasso, a nova empresa do grupo Antinori.
O rótulo falante terá o mesmo formato quadrado ou retangular, as mesmas cores e os mesmos desenhos das etiquetas em uso hoje. Será feito de plástico, mas poderá ser retirado e lido, digo, ouvido como um CD. Ou seja: serão verdadeiros discos digitais, porém aceitos apenas por um aparelho como o Walkman, também produzido pela Modulgraf. E o que ouviremos? A voz do produtor explicando as qualidades do vinho, as informações importantes da sua safra e da casa produtora.
O exclusivo Walkman será caro. A idéia é que só as lojas de vinhos finos, restaurantes de luxo e colecionadores adquiram o aparelho, especialmente para ouvir esses rótulos - que serão exclusivos apenas de vinhos muito caros.
A novidade será lançada no outono europeu e servirá também no combate à falsificação de vinhos (que normalmente acontece com os mais caros e raros).
O inventor da tecnologia, Florentin Doring, já usou o mesmo tipo de produto com livros, em outros mercados - e com sucesso.
Na Austrália, o Jacob’s Creek, a mais vendida marca de vinhos australiana, agora traz no rótulo de seus Chardonnays um sensor de temperatura. Basta colocar na geladeira que, em pouco tempo, aparecerá a mensagem “Perfeitamente Resfriado”, quando a temperatura chegar a exatos 8,2º C. Se esse sensor também falasse seria fenomenal: eu não teria que ficar abrindo e fechando a porta da geladeira à toda hora para checar a mensagem.

Taça inquebrável

Uma taça de vinho inquebrável? Cientistas ingleses e franceses estão na bica de produzir um super vidro. Feito de pequenas e frágeis cadeias de cristais, o vidro é por isso mesmo vulnerável. Só que descobriram um grupo de cristais que pode ser convertido em vidro com uma estrutura de maior densidade, mais sólida, praticamente à prova de choques. Esses cristais são as zeólitas (nome dos silicatos hidratados de alumínio e de metais alcalinos ou alcalino-terrosos, mais comumente o sódio e o cálcio), até agora utilizados no refino de gasolina e na manufatura de detergentes. O autor da descoberta, Neville Greaves, cientista da Universidade de Gales, avisa porém que falta um pouco para colocarem taças e garrafas com o tal de vidro inquebrável no mercado. Logo, ainda vou ter que continuar tirando o tapete da sala, pois tem sempre alguém (eu, para começar) derramando o vinho.

Garrafa inquebrável

Pois os portugueses acabam de lançar um vinho que vem numa garrafa de alumínio. O lançamento foi feito no mercado inglês: é um vinho rosado, o BrightPink. Custa 10 dólares nos supermercados da ilha. É todo modernoso: nem a tradicional rolha tem (para desespero da poderosa indústria de cortiça da terrinha, a maior do mundo). A tampa é de rosca de metal. É 100% alumínio, não enferruja e resfria cinco vezes mais rapidamente do que uma garrafa de vidro. A empresa (Bright Brothers Vinhos Lda, que fica em Fornos de Cima, Mato da Cruz, Portugal) é de um enólogo e consultor de vinhos australiano, Peter Bright, que tem negócios de vinhos em várias partes do mundo. De Portugal, ele quer mesmo são os deliciosos rosados. O vinho é 80% Castelão e 20% a Trincadeira. Tem 13% de volume alcoólico. Pode ser que venda bem: fora a novidade do novo frasco, em muitos países é proibida servir bebidas ou mesmo portá-las em garrafas de vidro em certos locais. Logo, concertos ou atividades ao ar livre, varandas de restaurantes etc. vão poder optar por esse tipo de garrafa. Claro, ainda tem a vantagem de ser reciclável. Se os ferozes hooligans jogarem essas garrafas em jogadores ou torcedores de times adversários, não vai acontecer nada: pesam apenas 100 g. Só poderão, no máximo, amassar a garrafa. Quem quiser ter uma visão da novidade é só procurar aqui.

Harmonia

As amigas Fernanda Prates e Lúcia Dias, donas do restaurante Pirilampo, lá no Vale das Videiras, pertinho aqui de casa, convidam para um jantar harmonizado dia 30 de julho, evento que se inclui no IV Circuito Gastronômico de Petrópolis. Convidaram o chef Deraldo Bonfim (vice-presidente da Associação Brasileira de Alta Gastronomia, discípulo de Paul Bocuse e consultor do restaurante) e o sommelier José Augusto, do Café Laguiole, do Rio. Dia 30, o cardápio do Pirilampo é especialíssimo e vai oferecer entradas como ostras gratin au champagne acompanhadas por um prosecco, uma muambinha de cordeiro com maçã e camembert servidas com um português, uma ema braseada ladeada com um Barbera D’Asti.
Semana passada citei aqui o grande Hemingway, sobre a tradição francesa de não comer sem um vinho à mesa. E não é só francesa. A prática vem de centenas de anos. E com ela, a busca das melhores combinações entre vinhos e pratos. O convite das minhas amigas me fez correr imediatamente para o guia do Hugh Johnson, indispensável para mim. Queria checar as combinações ou alternativas para muambinhas, ostras gratinadas e emas braseadas eventualmente contidas no guia.
O inglês Hugh Johnson é presença preeminente no mundo dos vinhos. Autor de vários best-sellers, entre eles o Atlas Mundial dos Vinhos e da insuperável História do Vinho, entre outras obras notáveis, vem publicando o seu “Pocket Wine Book” desde 1977. O guia de 2005, já disponível em inglês em algumas livrarias, revela, como nas edições anteriores, o que há de melhor em cada região do globo: não só os vinhos como seus preços. Analisa safras, em particular as de 2002 e 2003. E oferece dicas de harmonização entre vinhos e comidas. Como o capítulo das combinações dos vinhos às mesas é sempre assunto e tem até programa na TV, anoto aqui algumas das boas dicas do mestre Johnson. Resultam de 30 anos de estrada.
Antes da refeição, ficamos com os aperitivos de vinho de sempre: os espumantes (o Champagne como ponto alto) ou os fortificados (Jerez na Inglaterra, Porto na França e vermute na Itália). Uma taça de vinho branco ou rosado (ou tinto, na França) está na moda agora. O momento pede algo bem seco. Chenin Blanc e Riesling melhores que o Chardonnay. Por favor, evite amendoins como belisco nesses momentos: são picantes demais, destroem os sabores do vinho. Com eles, o melhor é o Jerez ou um Martini. Opções em lugar do amendoim: amêndoas, pistaches ou nozes.
Nas entradas, pratos de aspargos verdes, amargos, são difíceis de combinar. Precisam de vinhos brancos maduros, como os Sauvignon chilenos ou os Semillon australianos.
As maioneses carregadas no alho (aïoli) pedem algo muito refrescante: um vinho do Rhône, um espumante bem seco, um rosado da Provence, um Verdichio. As maioneses tradicionais, sempre muito ricas, e sabem melhor com vinhos que contrastem com sua forte presença: os brancos da Côte Chalonnaise, os Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, ou os Spätlese Trocken do Pfalz.
Saladas: vinhos brancos secos. Mas cuidado com o vinagre, que destrói o sabor da bebida. Opte por temperar com o próprio vinho ou com um tantinho de limão. Uma Caesar Salad vai melhor com um rosado francês ou um vinho espanhol.
O Carpaccio combina bem com muitos vinhos: de bons toscanos ou Chardonnays, bem como Champagnes rosadas.
Os fondues de queijo, pedidas certas de inverno, ajustam-se bem com brancos secos, como os suíços Valais Fendant ou os Chasselas, ou um Riesling da Alsácia, ou até um Beaujolais Cru, tinto.
Evite ovos: conflitam com quase todos os vinhos. O mesmo vale para as omeletes. Evite vinho com eles.
Com foie gras, tente os brancos doces, como o Sauternes, os Tokáji Aszú, os Jerez amontilados.
Com ostras cruas, peça Champagne, Chablis Premier Cru, Sancerre ou uma autêntica Guiness. Com ostras cozidas, um Puligny-Montrachet, um Chardonnay do Novo Mundo ou Champagne. O guia não inclui ostras gratinadas, mas posso imaginar que a combinação do Pirilampo seja adequada, com o espumante italiano.
Massas: pode ser um branco ou um tinto; vai depender do tipo de molho ou de guarnição. Se for com um molho de tomate, escolha o tinto Barbera, do sul da Itália. Como molho de creme, um Frascati ou um Chardonnay do Alto Adige. Com molho de carne, um Merlot, um Montepulciano D’Abruzzo ou um Salice Salentino. Com molho ao pesto (mangericão), um Barbera, um Sauvignon Blanc da Nova Zelândia. Com vôngole ou frutos do mar, um Verdicchio, um Soave, branco finos de Rioja ou um Sauvignon Blanc. Essas observações valem também para os raviólis.
Pizza: qualquer tinto italiano.
Risoto com frutos do mar: brancos, como o Pinot Gris, os Semillon jovens. Com cogumelos: Pinot Noir do Novo Mundo. Com fungi porcini, um bom e maduro Barolo ou Barbaresco.
Escargôs: tintos do Rhône (Gigondas, Vacqueyras), St. Véran ou Aligoté. Queijo de cabra: Sancerre, Pouilly-Fumé ou Sauvignon Blanc do Novo Mundo, rosados da Provence.
Não encontrei referências diretas para a harmonização de uma ema na brasa. Mas o inglês fala que galinhas, perus e galinhas d’angola podem fazer par com qualquer vinho, inclusive as melhores garrafas de brancos secos e os melhores tintos da Borgonha. O Barbera d’Asti, esse ótimo tinto italiano do Piemonte, deve servir muito bem.
Já a muambinha de cordeiro seria demais para o Hugh Johnson. Isso é coisa nossa: desde as muambinhas culinárias e até as políticas, com suas malas, dólares em cuecas e mensalões. Fico com as muambinhas do chef Deraldo.
Mas o cordeiro assado é prato que tradicionalmente se casa com os bons tintos de Bordeaux. Logo, o tinto português selecionado só vai fazer bonito.
O Pirilampo fica na Estrada Almirante Paulo Meira, 8.601, Vale das Videiras, Petrópolis. Seu telefone é (24) 2225-3303. O e-mail é pirilamporestaurante@ig.com.br
Por favor, amigas, escrevam sobre as suas experiências com harmonização, aqui parda a Soninha, no soniamelier@terra.com.br.
Mas o melhor mesmo é me encontrar dia 30, sábado, no Pirilampo, para trocarmos idéias. É só perguntar quem é a dona do jipe mais velho e furreca estacionado por lá. Aí é que a gente vai harmonizar pra valer.

Para afastar o frio

Já apresentei aqui, recentemente, dicas para enfrentar o inverno com prazer. Mas ficaram faltando receitas de drinques, bebidas que ajudam a esquentar principalmente essas noites chuvosas, úmidas, frias mesmo – e que não faltam aqui na Serra.
Começo pelo popular quentão: não tem festa junina (que agora com freqüência acontecem em julho) que não considere o velho bom quentão. A receita mais simples está até no Aurélio: vinho fervido com cravo, canela e gengibre. Claro que servido quente. Mas quentão pode ser também a nossa branquinha, a cachaça, temperada com gengibre e canela e também servida quente.
A maioria das receitas de quentão que conheço destaca o vinho. E muito raramente a bebida é diluída.
Mas faço um aqui em casa que é diluído, não com água, mas com um xarope delicioso. O vinho só é adicionado no final. Veja só.
Numa panela média coloque: 250 ml de água (uma xícara), 250 g de açúcar, 4 bastões de canela, 10 cravos, uma colher de noz-moscada ralada, um tantinho de raspa de casca de limão e outro tantinho de raspa de casca de laranja.
Deixe ferver até que o líquido comece a reduzir e a se transformar num xarope. Acrescente, então, os sucos do limão e da laranja, e mais duas garrafas de vinho tinto. Por favor, um vinho tinto de qualidade (mas que não precise passar dos 20 reais).
Deixe esquentar – mas sem que ferva (para não deixar o álcool evaporar). O ideal é colocar todo o líquido numa jarra e deixá-la em banho-maria ou sobre um réchaud. Se achar que ficou um tanto amargo, acrescente mais açúcar.
Se existe o quentão, existe também o quentinho, que é bem mais simples. Experimente essa receita.
Você só vai precisar de 45 ml de água quente, uma boa dose (outros 45 ml) de uísque, uma colhe de sobremesa de açúcar e uma casca de limão. Numa caneca, coloque o açúcar, junte a água quente para dissolvê-lo. Depois é só acrescentar o uísque e o limão. Essa é uma receita individual. Se quiser mais, basta multiplicar pelos drinques necessários ou pelo número de seus convidados.
Outra receita de drinque individual é a do Rum na Manteiga.
Numa caneca, coloque: uma colher das de chá de açúcar e, em seguida, acrescente um quarto de xícara de água fervente, uma boa dose de rum (também um quarto de xícara), uma colher de chá de manteiga. Mexa bem e espalhe raspas de noz-moscada na superfície. Se tiver problemas com colesterol alto, evite.
Você pode transformar um caldo, um consommé de carne, por exemplo, numa bebida deliciosa, além de nutritiva.
Vamos aos ingredientes e suas medidas:
60 ml de caldo de carne (o melhor é o preparado em casa);
45 ml de vinho Jerez, o fortificado do sul da Espanha;
E pimenta, opcionalmente.
Aqueça o caldo, mas não deixe ferver. Coloque numa caneca.
Acrescente o Jerez e a pimenta (se for de seu gosto). O Jerez pode ser o Tio Pepe, bem seco. Não é problema encontrá-lo nas boas casas de bebidas.
Se tiver visitas em casa, prepare um ponche especial, de uma receita que retirei de revista dedicada a bebidas para o Natal e cujo nome original é Christmas Punch. Aqui o Natal se presta mais a refrescos. Mas agora, vamos aproveitar esse ponche: suas visitas vão ficar mais quentinhas e a conversa vai animar, com certeza.
Ingredientes: Três xícaras de água filtrada; meio quilo de açúcar; suco e cascas de quatro limões; uma garrafa de rum (o Bacardi Carta de Oro, por exemplo); uma garrafa de vinho do Porto Ruby (o Andresen costuma ser bom e barato), noz-moscada ralada, fatias de maçã e de laranja.
Ferva a água, o açúcar e o limão numa panela separada. Coe depois de esfriar. Acrescente o rum, o vinho do porto e o suco de limão.
Transfira tudo para uma poncheira, um alguidar. Coloque as fatias de maçã e laranja e espalhe a noz-moscada na superfície.
O ideal é deixar a poncheira sobre um réchaud. O ponche deve ser servido frio. Não esqueça xícaras ou copos adequados para suas visitas.
Se quiser mais receitas para enfrentar o frio é só clicar aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br

Dois Nomes

Hemingway. “Nessa época, na Europa, se pensava em vinho como algo saudável, tão normal quanto a comida, e também como um grande abastecedor de felicidade, de bem estar e deleite. Beber vinho não era esnobismo nem sinal de sofisticação, nem um culto; era tão natural quanto comer e para mim necessário, e eu não pensaria em fazer uma refeição sem beber vinho cidra ou cerveja. Adorava todos os vinhos, menos os doces ou adocicados e os vinhos muito pesados e nunca me ocorreu que repartir umas poucas garrafas de Mâcon, leve, seco, branco pudesse causar alterações químicas no Scott e transformá-lo num tolo”.
Ernest Hemingway está viajando com seu novo amigo, F. Scott Fitzgerald, de Lyon para Paris, num Renault sem teto (Zelda, a mulher de Scott não gostava de tetos no carro, não deixou que consertassem o carro, que um acidente deixou sem teto). Estamos na França, nos anos 20. E, num determinado trecho da viagem, o jovem Ernest Hemingway compra algumas garrafas do branco Macôn, especialidade da região do Mâconnais, na Borgonha (são os Pouilly-Fuissé, St. Véran, Mâcon-Villages): não duram muito, são feitos para beber logo, apreciados mais para refrescar, perfeita companhia para a viagem dos dois.
Como a amiga percebe, o vinho sempre foi considerado uma bebida saudável e indispensável acompanhante da comida. Já nos anos 20, as mímicas do esnobismo e da sofisticação se faziam presentes, embora desprezadas pelo genial autor.
As “alterações químicas no Scott” são relativas ao efeito que apenas um pouco de álcool podia causar no autor de “O Grande Gatsby”, o que não é muito estranho em alguns alcoólicos.
Essa referência foi retirada de “Paris é uma Festa" (A Moveable Feast), publicada postumamente em 1964: são memórias do autor da Paris dos anos 20, recheada de relatos, alguns irreverentes, de luminares como Gertrude Stein e F. Scott Fitzgerald. Ernest Hemingway nasceu em Illinois em 1899. Escreveu “O Sol também se levanta”, “Adeus às Armas”, “Por quem os Sinos Dobram”, “O Velho e o Mar”, pelo qual ganhou o prêmio Pulitzer de 1953. Ganhou também o Nobel de Literatura no ano seguinte. Hemingway morreu em 1961.
Ernest gostava das bebidas, entre elas o vinho. Dedicou um verbete à bebida no seu "Morte na Tarde" (Death in the Afternoon), sobre touros e touradas, publicado lá pelos anos 30. Como ele chegou a Paris por volta de 1920, já devia ter aprendido alguma coisa sobre vinhos. O verbete, Vino, integra um glossário do livro explicando costumes, regiões e muito particularmente o patois usado em touradas. Eis o verbete:
"Vino: Vino corriente é vin ordinaire ou vinho de mesa; vino del pais é o vinho regional, sempre bom de pedir; vino Rioja é o vinho da região de Rioja, no norte da Espanha, tintos e brancos. Os melhores sãos os da Bodegas Bilbainos, Marqués de Murrieta, Marqués de Riscal. Rioja Clarete, ou Rioja Alta são os mais leves e agradáveis dos tintos. Diamante é um bom branco para peixes. Valdepenas é mais encorpado que o Rioja, mas seus brancos e rosés são excelentes. Os vinicultores espanhóis produzem Chablis e Borgonhas que eu não recomendo. O Clarete Valdepenas é muito bom. Os vinhos de mesa em torno de Valência são muito bons; e melhores os de Tarragona, embora não viajem bem. A Galícia tem um bom vinho regional. Nas Astúrias se bebe cidra. Os vinhos regionais de Navarra são muito bons. Para aqueles que chegam na Espanha pensando apenas em Xerez e Málaga, os tintos secos, jovens serão uma revelação. O vin ordinaire espanhol é consistentemente superior aos franceses, já que nunca são adulterados e um terço mais barato. Acredito que sejam de longe os melhores da Europa. Não têm Grands Vins que se comparem aos da França."
Hemingway não tem preconceitos contra os rosés. Exibe o conhecimento clássico de harmonização (brancos com peixes) e anuncia uma série de marcas espanholas que ainda hoje são populares no Brasil. E, por ele, vemos que os vinhos regionais (vin de pays) eram considerados melhores que os vinhos de mesa. Uma mancadinha, apenas: Chablis é o formidável branco da Borgonha. Acho que ele estava se referindo genericamente aos brancos espanhóis. Quanto às adulterações, elas diminuíram, mas ainda existem até hoje em toda a parte.
Já Francis Scott Fitzgerald, talvez seja até maior artisticamente: O Grande Gatsby chegou a ser considerado, por uma enquête realizada pela prestigiosa Modern Library o segundo melhor romance de língua inglesa do século 20, atrás apenas do Ulisses, de James Joyce.
Beethoven. A TV inglesa exibiu recentemente um documentário sobre a trajetória de um chumaço de cabelo do gênio da música, Ludwig van Beethoven, recolhido assim que o compositor morreu, em 1827. Analisada, essa porção revelou uma concentração de chumbo 100 vezes acima do nível seguro – o que explicaria as mazelas do autor: doenças estomacais, grandes dores de cabeça, irritabilidade e, inclusive, a sua surdez (a partir de 1797-99) e que acabariam com a sua morte em 1827.
O documentário sugere que o compositor tenha se intoxicado com chumbo consumindo águas de estações hidrominerais que freqüentou quando jovem. Mas um jornalista do irlandês Sunday Life, John Hunter, acha que o gênio teria sido envenenado através vinho e cerveja, que adorava.
No século 19, o chumbo era usado para adulterar essas bebidas de modo a melhorar seus sabores e aspectos. O metal era empregado desde os tempos dos romanos, para que o vinho não avinagrasse e também para adoçá-lo. Duzentos anos antes, um médico alemão, Eberhard Gockel, estabeleceu a primeira relação da bebida adulterada com a saúde, observando que bebedores de vinho tinham os mesmos problemas que os trabalhadores em minas de chumbo.
Nos tempos de Beethoven, bebia-se principalmente em canecas feitas de uma liga de estanho (70%) e chumbo (30%), as garrafas eram limpas com jatos de chumbo, reservatórios e encanamentos de água continham muito chumbo. Nesse sentido, você poderia culpar qualquer bebida.
Traços do metal existem naturalmente em todas as plantas, inclusive nas uvas. A prática da adulteração foi banida há tempos e hoje o metal é precipitado já na fase de produção do vinho. Os equipamentos das vinícolas não utilizam chumbo. Só ínfimas quantidades são ainda encontradas em algumas cápsulas de chumbo que protegem as rolhas – o que já está proibido na maioria dos países. Podemos encontrar chumbo em taças e decantadores de cristal (produzidos com o metal). Um estudo revelou uma concentração de 5 mg por litro de chumbo num decantador deixado com vinho do porto por 4 meses. Para que uma pessoa se intoxicasse, teria que beber 10 litros da bebida quase que de uma vez. Sabe-se que os vinhos modernos contêm um máximo de 0,13 mg de chumbo por litro de vinho, bem abaixo do nível permitido. Na América o nível é de 150 partes de chumbo por bilhão. A média mundial é de 95 partes por bilhão. É como se o metal não existisse na bebida.
Uma autópsia descobriu alguns problemas no fígado, no baço e no pâncreas do autor. Diz a historiadora Anne-Louise Coldicott que o compositor teria uma colite ulcerativa, hoje curável com os medicamentos modernos. Sofria de depressão, talvez devido ao problema que causou sua surdez. Apesar de gostar de vinho, são infundadas as suspeitas de que era um alcoólico. Mas até agora não se sabia da presença letal de chumbo revelada pelo cabelo de Beethoven. A verdade é que nossas vidas sempre estiveram por um fio. E o chumbo continua matando. Só que não se pode mais culpar os vinhos por isso.
Desta vez, a série de “Nomes” deu preferência a personalidades. Vamos abusar do filão, pois nomes é o que não faltam. E se a amiga tiver sugestões, é só clicar aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br

7.7.05

Vin de Merde

* Pois os portugueses acabam de lançar um vinho que vem numa garrafa de alumínio. O lançamento acaba de ser feito apenas na Inglaterra (por enquanto): é um vinho rosado, o BrightPink. Custa 10 dólares nos supermercados da ilha. É todo modernoso: nem a tradicional rolha tem (para desespero da poderosa indústria de cortiça da terrinha, a maior do mundo). A tampa é de rosca de metal. É 100% alumínio, não enferruja e resfria cinco vezes mais rapidamente do que uma garrafa de vidro.
A empresa produtora (Bright Brothers Vinhos Lda, que fica em Fornos de Cima, Mato da Cruz, Portugal) é de um enólogo e consultor de vinhos australiano, Peter Bright, que tem negócios de vinhos em várias partes do mundo. De Portugal, ele quer mesmo são os deliciosos rosados. O vinho é 80% Castelão e 20% a Trincadeira. Tem 13% de volume alcoólico. Pode ser que venda bem: fora a novidade do novo frasco, em muitos países é proibido servir bebidas ou mesmo portá-las em garrafas de vidro em certos locais. Logo, concertos ou atividades ao ar livre, varandas de restaurantes etc. vão poder optar por esse tipo de garrafa. Claro, ainda tem a vantagem de ser reciclável. Se os ferozes hooligans jogarem essas garrafas em jogadores ou torcedores de times adversários, não vai acontecer nada: pesam apenas 100 g. Quem quiser ter uma visão da novidade é só procurar aqui.
* E uma taça de vinho inquebrável? Cientistas ingleses e franceses estão na beira de produzir um super vidro. Feito de pequenas e frágeis cadeias de cristais, o vidro é por isso mesmo vulnerável. Só que descobriram um grupo de cristais que pode ser convertido em vidro com uma estrutura de maior densidade, mais sólida, praticamente à prova de choques. Esses cristais são as zeólitas (nome dos silicatos hidratados de alumínio e de metais alcalinos ou alcalino-terrosos, mais comumente o sódio e o cálcio), até agora utilizados no refino de gasolina e na manufatura de detergentes. O autor da descoberta, Neville Greaves, cientista da Universidade de Gales, avisa, porém que falta um pouco ainda para colocarem taças e garrafas com o tal de vidro inquebrável no mercado. Eu perco mais taças no processo de lavagem do que pelas quedas. Fico aqui esperando para ver.
* Tem mais uma novidade para quem não tem paciência para tirar a temperatura dos vinhos e servi-los como manda o figurino. O Jacob’s Creek, a mais vendida marca de vinhos australiana, agora traz no rótulo de seus Chardonnays um sensor de temperatura. Basta colocar na geladeira que, em pouco tempo, aparecerá a mensagem “Perfeitamente Resfriado”, quando a temperatura chegar a exatos 8,2º C. Isso vai ser bom mesmo é em restaurantes, pois os climatizadores têm portas de vidro e será fácil saber quando o vinho chegou na temperatura de serviço. No meu caso, vou ficar abrindo e fechando a geladeira, ansiosa como sou.
* Para quem duvida da força das mulheres e de sua importância no mundo dos vinhos, vem aí a primeira revista de vinhos exclusiva para mulheres. É a Wine Adventure, que chega às bancas norte-americanas agora em julho. Além de vinhos, a revista conterá matérias sobre viagens, degustação em vinícolas, gastronomia e estilo de vida, indicações de vinhos, entrevistas com personalidades do setor, testes etc. A sua editora, Michele Ostrove, diz que a Wine Adventure vai procurar alargar os horizontes viníferos das suas leitoras e ao mesmo tempo proporcionar entretenimento. Tava na hora: afinal, as mulheres são, no mínimo, metade da população consumidora de vinho nos Estados Unidos. Não falta muito para termos a nossa revista de vinhos por aqui. Mas tem que tomar cuidado para não fazermos uma "Caras" para o segmento de vinhos.
* Quando uma garrafa é vedada com uma rosca metálica, em vez da tradicional rolha de cortiça, sabemos que essa mudança aconteceu principalmente para evitar que vinho se perdesse em razão da “doença da rolha”, ou TCA. Um fungo ataca a cortiça deixando no vinho um aroma pra lá de desagradável. A garrafa é devolvida, a imagem do produtor é prejudicada. As perdas são enormes. Assim, cada vez mais as rolhas estão sendo substituídas por tampas de borracha ou pelas roscas metálicas.
Perde-se também toda aquela cerimônia de desarrolhar a garrafa no restaurante. Daí que alguns produtores estão procurando cultivar um novo ritual, tentando apagar da mente do consumidor a força da tradição gerada por séculos de arrolhamento.
São apenas 4 passos, todos naturalmente executados pelo sommelier, sempre às vistas do freguês. Primeiro: rompe-se o selo da garrafa (o que cobre a tampa e parte do gargalo). Segundo: o sommelier coloca a garrafa, em particular, a parte superior (gargalo e tampa), sobre o antebraço, devidamente coberto por uma toalha. Terceiro: delicada, mas firmemente, faz a garrafa rolar sobre o antebraço, de modo a desenroscar a tampa. Quarto e último passo: a tampa se desenrosca e é segura pelo sommelier, abrindo a garrafa. Pronto, o vinho já pode ser servido. É quase como trocar seis por meia dúzia, pelo menos em termos de etiqueta.
* Chegamos, por fim, ao título, que naturalmente chama atenção pela palavra grosseira, que o francês utiliza a três por dois, como se fosse um bonjour. Só que ela gerou um rififi tremendo há dois anos, quando uma revista francesa regional, a Lyon Mag, publicou matéria onde o vinho Beaujolais é classificado como “vin de merde”.
Os produtores de Beaujolais, em vez de tamparem o nariz, abriram a boca. E processaram a revista, que acabou multada por difamação por uma corte local.
O processo transformou-se numa “cause célèbre” na França, aparecendo em todos os grandes órgãos da imprensa do país e até no exterior. Mas a revista teve de pagar US$ 111.122,00 de multa – um bocado de dinheiro.
Só que o caso foi levado para a mais alta corte de apelação do país, que recentemente julgou não haver nada difamatório no artigo. “A publicação de uma crítica, mesmo severa, sobre vinho não constitui crime no contexto de um debate público sobre subsídios do estado concedidos a produtores...”, rezou a corte.
A crítica, publicada na edição de julho de 2002, examinava as razões pelas quais os produtores de Beaujolais solicitaram ao governo que transformasse 100 mil hectolitros de vinhos que não conseguiram vender em vinagre. A revista citou o chefe do Grande Júri de Provadores Europeus, François Mauss: ele afirmou que muito do vinho de Beaujolais não era “vinho propriamente” e que seus produtores tinham consciência de comercializarem um ‘vin de merde’.
A revista vai ter de volta o dinheiro da multa e os produtores de Beaujolais ainda pagaram as custas do processo (perto de 2.500 dólares).
E o principal é que se preservou a liberdade de imprensa. Se os produtores estão livres para cantar as maravilhosas virtudes de seus vinhos, os críticos também têm o direito de achar o contrário.
Amiga, não vai dizer que se intrigou com a expressão rififi, que está até no Aurélio e significa “conflito ou briga em que se envolvem numerosas pessoas”? Resolvi utilizá-la para “afrancesar” o texto, já que rififi entrou nos dicionários nacionais em razão de um filme de Jules Dassin (Du Rififi Chez les Hommes), de 1955, contando a história de um assalto a uma joalheria em plena Rue de Rivoli, em Paris. Se encontrar em DVD compre: não só em um grande filme, como a amiga vai conhecer um homem, o ator Jean Servais, que os franceses não conseguiram ainda um igual e que não não ficou datado como rififi.
Fico intrigada com os franceses: Stephen Clarke, um empresário inglês, passou um ano na França e resolveu colocar essa experiência num livro. Título: “A Year in the Merde”.
É um trabalho de ficção, que reconta as aventuras (e desventuras) de Paul West, como o autor, um empresário enviado a Paris. “Merde” aqui é real e metáfora. Só em Paris, os cachorros depositam na ruas 15 toneladas de cocô anualmente, resultando na hospitalização de centenas de pessoas. Diz o autor que se os franceses rosnarem para você, usando esta famosa palavrinha, mostre-lhes os dentes – e tudo se resolve. Foi o que a revista de Lyon fez: não se intimidou, mostrou os dentes e acabou livrando-se da “merde”. Stephen Clark não foi processado e o livro, mesmo em inglês, virou best-seller na França. Sem rififi.
Se você já experimentou um "vin de merde", como a Soninha tem feito ao longo dos anos, ao lado de outros ótimos, pois escreva para cá e reconte a sua experiência. A Soninha está no soniamelier@terra.com.br

4.7.05

Vinho para gays

A Adriana Brandão, da New Marketing, gostaria de saber sobre empresas que fabricam vinhos para gays.
Acho que não existem vinhos para gays, assim como cervejas para pedófilos, limonadas para moças absolutamente virgens, guaranás exclusivos para serial killers e vinhos para balzacas como a sua amiga aqui, a Soninha.
Mas a Rainbow Ridge Winery (http://www.rainbowridgewines.com/), na Califórnia, é talvez a primeira vinícola do mundo a classificar-se como “uma companhia gay”. Logo, o vinho que produz seria eminentemente para gays? Sua logomarca é um cacho de uvas nas cores do arco-íris. E o arco-íris (em inglês rainbow, o nome da empresa) é o símbolo oficial do movimento gay.
Seus fundadores, Dennis Costa e Tom Beatty, sócios no negócio e na vida, mal lançaram o seu primeiro vinho, o Alicante Bouschet e já ganharam prêmios em concursos e conseguiram excelente pontuação na prestigiosa revista “The Wine Enthusiast”: 91 pontos numa escala de 100. Coisa séria.
Só que os vinhos que fazem, o Alicante Bouschet, e recentemente a sua versão de Chardonnay são para heteros, homos, lésbicas, simpatizantes e desinteressados. São vinhos de grande qualidade. A Alicante, uma uva considerada rústica e apenas muito utilizada na França, onde é das mais plantadas lá, mas raramente utilizada como a principal, como nessa versão. Dennis e Tom conseguiram lançar uma novidade – e com qualidade e bom preço.
A Rainbow Ridge contribui para o Centro de Gays e Lésbicas de Nevada e para um projeto de combate a AIDS em Los Angeles. Seus donos são gays, a empresa é gay, o slogan de sua publicidade é "Come Home To Family" (“Venha para a Família”), para a comunidade gay, portanto.
Apenas isso. Os vinhos servem a todos os credos, times, partidos, sexos e, principalmente, gostos. Isso é o mais importante.
Mas fomos encontrar em Roma o que está sendo considerado o primeiro vinho na história dedicado aos gays. O editor italiano Roberto Massari manda produzir vinhos especiais para uma série que intitulou de Vini da Leggere (“Vinhos para Ler”). Isso mesmo, os livros são os rótulos e contra-rótulos dos seus vinhos. Um livro de duas páginas.
A série, que já conta com 11 “vinhos literários”, entre eles um rosé dedicado à revolucionária marxista e feminista Rosa Luxemburg. É o Rosé Luxemburg, um Montepulciano d´Abruzzo 2001. E um branco também da região de Abruzzo, o Barricadero Blanco, em homenagem a Che Guevara.
Massari decidiu ano passado lançar um livro (na Itália seus vinhos são legalmente considerados livros) em homenagem ao primeiro ativista gay da história, o advogado e escritor alemão Karl Heinrich Ulrichs (1825-1895).
Karl assumiu sua condição de homossexual publicamente (e precisava ser muito macho para fazer isso naquela época e naquele país, reduto de prussianos com aquele jeito meinkampf de ser). E publicou panfletos defendendo direitos de gays, lésbicas e das mulheres em geral, que não tinham também quaisquer direitos. Como, advogado, Karl amparou homossexuais acusados de “má conduta pública”, essas coisas. O alemão agitou tanto que acabou preso e depois perseguido em seu país. Buscou refúgio na Itália, onde morreu na cidade de L´Aquila, na região de Abruzzo.
Massari deu ao vinho-livro o nome de Rosso Gayardo (“Tinto Gayardo”), um vinho denso e forte, com 13,5% de álcool, feito com uvas Nebbiolo, da região do Piemonte. É um senhor vinho, uma homenagem a qualquer amante da bebida de bom gosto, não importando sua preferência sexual.
O nome resulta de um jogo de palavras. Em Roma, quando você quer dizer que alguém é forte, valente e que não tem medo de nada, você diz “gagliardo”. Com o sotaque romano, “gagliardo” soa como “Gayardo”. Vale o jogo de palavras e a ironia envolvida.
Bem mais recentemente, em novembro de 2004, a Kim Crawford Wines (http://www.kimcrawfordwines.co.nz/), da Nova Zelândia, lançou o seu Pansy na Austrália. O Pansy é um rosé, misturando merlot, cabernet france um tanto de chardonnay. Sempre foi muito procurado por gays australianos em visita à Nova Zelândia. Daí que a vinícola resolveu lançá-lo na Austrália. Pansy pode ser traduzida como uma espécie de hortênsia, mas é mais entendida como indicativo de homossexual. Na cabeça da vinícola, um vinho para gays deve ser rosado. Logo, quem de onde vem o preconceito?
Temos também a Merryvale Vineyards, uma pequena vinícola do Vale de Napa, na Califórnia (veja em http://www.merryvale.com/), com verba pequena para publicidade, cuja alternativa foi buscar um nicho de mercado. E está tentando o segmento gay. Só que não criou nenhum vinho especial para isso, como a Kim Crawford.
Não existe propriamente um vinho feito para um grupo específico do gênero humano. Não há um vinho para pretos, por exemplo. Contudo, até na África do Sul temos hoje vinícolas pertencentes a pretos e pretos fazendo vinho, como quaisquer brancos, pardos, amarelos etc. E vinhos para quaisquer etnias, credos e opções sexuais.
E se existissem essas marcas? É um assunto para os doutores em marketing, mas pessoalmente acho que esses vinhos teriam muitas dificuldades em ter sucesso comercial.
No Brasil, estima-se que gays e lésbicas somem 10% da população. Nos Estados Unidos, somam cerca de 19 milhões de pessoas com um poder de compra de 800 bilhões de dólares. A maioria dos consumidores gays norte-americanos, por exemplo, tem pouquíssimos ou nenhum dependente e uma renda pessoal alta por quase toda a sua vida. Como resultado de poucos comprometimentos familiares, essa comunidade tem mais tempo para socializar e mais dinheiro para gastar.
85% dos gays e lésbicas adultos afirmam que precisam achar maneiras de reduzir o stress. Entre heterossexuais adultos esse índice é de 78%. São, assim, alvo prioritário para fabricantes de bebidas e mensagens que destaquem prazer e tranqüilidade associados a beber socialmente.
No primeiro mundo, 62% dos gays e lésbicas possuem um computador e 52% deles assinam serviços online. 65% dos que usam a Internet, navegam mais de uma vez por dia. E 71% compram produtos ou serviços através da rede.
Lá, 39% dos gays freqüentam regularmente concertos de música clássica, cinco vezes mais do que a população em geral (8%). É uma comunidade que vai ao cinema duas vezes mais do que o restante da população.
Gays e lésbicas respondem fortemente a marcas e a campanhas de publicidade que refletem seu estilo de vida e valores. Mas reagem negativamente a representações estereotipadas. Por exemplo, a norte-americana Anheuser-Busch, a maior cervejeira do mundo em faturamento, é tida como a preferida dos gays do país, pois coloca anúncios regularmente em publicações para essa comunidade. O mesmo acontece com a vodca Absolut.
E talvez aqui, leitora, esteja o X do problema. Um vinho feito em homenagem a um ativista gay, o primeiro da história; um vinho feito por uma companhia declaradamente gay, a primeira do mundo – tudo bem, são maneiras de bom gosto de acessar a comunidade. Até porque ela é informada o bastante para, em primeiro lugar, experimentar os vinhos. Se forem bons, mesmo, ficará freguesa.
Mas vai virar o rosto para caçoadas, piadinhas de mau gosto: por exemplo, um vinho rosé com a cesta da Carmem Miranda no rótulo. O rosé, normalmente um ótimo vinho, teria de ser soberbo para ser consumido.
Até o momento, Adriana, são essas as referência que dispomos em nossos arquivos. Avise se precisar de mais. Tenho comigo a pesquisa do Datamonitor, a New Direction in Drinks 2000-2005. Ela mostra tudo o que se bebe, como se bebe, quem bebe, onde e porque bebe. Foi de onde retirei os dados estatísticos dessa coluna.
Abraços!