27.3.09

Vinhos sem álcool

Uma pessoa muito, mas muito querida da leitora Zaira adora vinhos. Só que não mais pode colocar uma só gota de álcool na boca. E a Zaira, como muitas leitoras, pergunta sobre vinhos sem álcool. Melhor: a Zaira quer saber se “existe algum vinho 0000000000% de teor alcoólico?” Pede indicações, caso exista esse vinho. Não é a primeira vez que falamos sobre esses vinhos por aqui.
A opção da Zaira é a mais radical: zero, nada, de álcool. Tenho uma amiga com hepatite C e não pode sequer chegar perto de uma cervejinha. Ela fica mesmo com água e sucos de frutas. E nem quer ouvir falar de vinhos sem álcool.
Isso porque sabe que esses vinhos acabam contendo algum álcool. Certos produtores brasileiros, por exemplo, lembram que, “de acordo com a legislação vigente, todo o produto com teor alcoólico abaixo de 0,5% é considerado sem teor alcoólico”. É o que destaca a La Dorni, fabricante brasileira desse tipo de vinho.
Com base na legislação, a La Dorni afirma na Internet que seus vinhos não contêm álcool nem açúcar. Veja aqui.
O mais conhecido produtor de vinhos sem álcool do mundo, o alemão Carl Jung, através de um processo criado em 1908 garante que seus vários vinhos possuem apenas 0,2% de álcool. Mas nadica de álcool como quer a Zaira, não conheço nenhuma.
Os vinhos sem álcool são feitos exatamente como os vinhos tradicionais, através da fermentação das uvas. A maior parte do álcool é então removida por uma variedade de processos técnicos.
Com novidades tecnológicas, como a da controversa “osmose reversa” e a dos “cones giratórios”, os produtores podem manipular seus vinhos como bem entenderem, ajustando a sua concentração ou nível alcoólico, tentando corrigir algum possível erro da natureza (ou deles mesmos, vinicultores).
No passado, diluía-se água no vinho de modo a reduzir altos volumes de álcool. Mas os resultados nem sempre eram favoráveis. Ou até mesmo legais em algumas regiões ou países. Hoje em dia, contudo, os vinicultores dispõem dos “cones giratórios”, uma tecnologia criada nos Estados Unidos e refinada na Austrália. O sistema compreende uma serie de cones invertidos numa coluna de aço inoxidável, todos devidamente alimentados por uma miríade de mangueiras conectadas a uma central computadorizada.
Os cones removem tanto o álcool quanto as essências de sabor do vinho (os ésteres). O álcool é descartado ao máximo, no caso dos “vinhos sem álcool”, mas o sabor depois é recolocado no vinho. Contudo, com pouco álcool para conduzir os elementos de sabor (os ditos os ésteres) e promover corpo, o vinho resultante fica insípido, bizarro.
No final, mesmo aqueles vinhos que apenas tiveram algum volume de álcool reduzido (digamos, de 16% para 12%) acabam perdendo qualidade. O conteúdo alcoólico que resta é, como dissemos, baixo o bastante para deixar esse vinho fora dos regulamentos legais das bebidas alcoólicas.
Mas aqueles que desejam evitar álcool quer por problemas de saúde ou por razões religiosas devem ficar alertas: sempre haverá etanol nesse tipo de vinho.
Poderíamos pensar que não bebendo vinho perderíamos os seus poderosos antioxidantes, os polifenóis, tidos como protetores contra uma longa série de doenças. Não é bem assim.
Não faz muito tempo, pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém, um dos maiores e mais importantes centros acadêmicos de Israel, descobriram que vinho tinto com carne vermelha, uma combinação clássica, junta o agradável ao útil, no caso da saúde: componentes do vinho impedem a ação de pelo menos um elemento químico perigoso para nós, o terrível malondialdeído (MDA), implicado em casos de arteriosclerose, câncer, diabetes e uma série de outras doenças sérias.
A equipe de Jerusalém descobriu que os polifenóis do vinho tinto, se chegarem ao estômago no momento em que as gorduras estão liberando o tal malondialdeído e seus coleguinhas podem interromper a viagem desses tóxicos rumo ao nosso sistema sangüíneo. Além disso, esses polifenóis do vinho reduzem o nível dos hidroperóxidos, outro grupo de agentes oxidantes, causadores de danos em nossas células.
Mas a pesquisa da equipe da Universidade Hebraica de Jerusalém confirmou que o hábito de comermos frutas ao final das refeições é saudabilíssimo. Muitas frutas são, também, ricas em polifenóis (o vinho nada mais é do que um suco fermentado de frutas). Essas frutas vão chegar ao estômago no momento em que a digestão da carne está a ponto de liberar o malondialdeído. E vão cortar o mal pela raiz.
O suco de uvas, por exemplo, tem o mesmo efeito vasodilatador do vinho tinto, segundo comprova uma tese da cardiologista e médica do Instituto do Coração (Incor), da Faculdade de Medicina da USP, Silmara Regina Coimbra. Leia aqui sobre essa tese.
Segundo a Dra. Shirley de Campos, a composição do suco de uvas tem semelhanças com a do leite materno, sendo alimento privilegiado para ajudar em períodos de convalescença, de fadiga ou anemia. As qualidades de suco são muitas: alinham o combate a doenças cardíacas, hepáticas, à acidez sangüínea (intoxicação por excesso de carne). É um valioso estimulante digestivo, eliminando do organismo o ácido úrico, causador da fadiga etc. Leia todo o artigo da Dra. Shirley.
Já provei alguns “vinhos sem álcool”, numa experiência desastrosa. O processo de “desalcoolização” é violento e, em minha opinião, danifica o vinho. O álcool é um elemento importantíssimo para a textura e o sabor dos vinhos. E sem ele, o barco, se não afunda faz muita água.
Concordo que o vinho seja um lubrificante social, entre outras virtudes. Mas desde quando precisamos de um goró para bater um papo, conviver numa boa com outras pessoas?
O melhor mesmo, Zaira, é apelar para alternativas como sucos de fruta, água mineral, chás e um café bem tirado. Em particular, eu sou freguesa de carteirinha do suco de uva.
Da Adega
Rio de Janeiro Restaurante Week. A promessa é de termos um dos mais importantes eventos de gastronomia do mundo. Será a sua primeira edição e acontecerá entre os dias 4 e 17 de maio, em restaurantes de diversos estilos, agitando a cidade numa verdadeira maratona gastronômica.
O Restaurant Week surgiu em Nova York há 17 anos, para ser parceiro do Fashion Week e aumentar o movimento dos restaurantes na época de baixa temporada. A idéia se espalhou pelo mundo e hoje o evento acontece independente da semana da moda, em diversas importantes capitais.
O objetivo inicial era movimentar os restaurantes, mas a ação se mostrou excelente para a conquista de novos clientes e criar um movimento turístico em torno da gastronomia de cada cidade. O desafio que o evento impõe aos restaurantes é o de preparar cardápios diferenciados com entrada, prato principal e sobremesa a um preço fixo, igual em todas: almoço por R$ 25 + 1 e jantar por R$ 39 + 1 (couvert não incluso). Este um real acrescentado à conta será destinado a uma importante entidade beneficente, como ocorre em todas as cidades. No Rio de Janeiro, importantes instituições estão sendo analisadas para receber essa ajuda.
Quem trouxe o Restaurant Week para o Brasil foi o empresário de gastronomia, o paulista, Emerson Silveira, inspirado em sua paixão pela gastronomia e conhecimento do evento de Nova York, onde viveu 12 anos. Emerson acreditou que o projeto poderia unir duas forças importantes no país e ainda pouco exploradas, a gastronomia e o turismo. E deu tudo certo.
O evento aqui colocará o Rio ao lado de cidades como Washington, Boston, Londres, Amsterdã e outros 100 grandes centros do planeta. As casas participantes são aprovadas por um comitê formado por chefs e donos de restaurantes locais visando à participação de casas de qualidade reconhecida no evento, em diversos bairros da cidade. No Rio de Janeiro os restaurantes ainda estão sendo selecionados e o comitê organizador do RJ Restaurant Week está em fase de definição.
Em breve o site do evento apresentará a lista de casas participantes, com seus cardápios e horários de funcionamento. Importante observar que o restaurante pode escolher o horário em que participa, se almoço, jantar ou nas duas refeições. A promoção acontece por duas semanas corridas, incluindo final de semana.
Saiba mais com a assessoria da
Denise Cavalcante. E não deixe de participar.

18.3.09

A taça respirante

Por fim, conheci a “Taça Respirante”: ele “respira” e ainda tem o particular poder de arejar a bebida em no máximo 4 minutos, enquanto um decantador faria o mesmo em 2 horas.
A primeira vez que soube alguma coisa dela foi numa nota sobre o 25º aniversário da Wine Advocate, do guru Robert Parker, um evento realizado em 2004 no campus da Califórnia do famoso CIA, Culinary Institue of America (Instituto de Culinária da América). O lançamento da taça nesse evento foi um manhoso golpe de marketing, uma tentativa de misturar a imagem da taça com a do maior crítico de vinhos do mundo
Essa novidade é produzida pela Eisch, fabricante de artigos de vidro, que existe desde 1946 na Bavária, Alemanha.
Novidade, em termos, pois a Riedel, austríaca, hoje se não a maior produtora de taças de vinho do mundo, sem dúvidas a mais famosa e premiada, já processou a Eisch, em 2007, por entender que a tal taça que respira não passa de um truque de mercadológico. Pelo que sei, o processo ainda rola pelos tribunais alemães.
Mas, afinal, o que é a “Taça Respirável” (a melhor tradução que consegui para o nome que deram ao produto: “breathable”)? No seu site, a Eisch explica que adota um processo que chama de “tratamento oxigenante”, cujo resultado é justamente esse: tornar possível arejar o vinho em poucos minutos.
Só fui conhecer a milagrosa taça agora, na casa de amigos aqui da Serra. Eles foram presenteados com meia dúzia delas e resolveram fazer um teste. Convidada, lá fui eu experimentá-la.
Combinou-se que o teste seria cego: eu e mais três convidados teríamos os olhos vendados e experimentaríamos dois vinhos (só revelados ao final da prova): dois Pinot Noir, um chileno e outro neozelandês.
É inegável que o tamanho e o formato das taças têm grande impacto sobre os aromas (no caso, o bouquet) da bebida. Não nego que a qualidade e intensidade dos aromas são, claro, determinados pela personalidade do vinho e podem ficar mais evidentes em razão do formato da taça, em particular se ele tiver um volume maior.
Nelas os vinhos devem, claro, ser servidos nas temperaturas corretas, pois o bouquet só se desenvolve em limites curtos de temperatura (muito baixa, ela reduzirá a intensidade da bebida; muito altas vai promover mais é a evaporação do álcool). As quantidades certas nas taças são igualmente importantes: mais ou menos 90 mililitros para os brancos e 150 ml para os tintos.
O teste seguiu todas essas recomendações. Utilizaríamos três taças: a Eisch, a Riedel e a Spiegelau, todas para vinhos de Bordeaux, todas de formato e volume similares. Esperamos quatro minutos (tempo em que a Eisch teria produzido o seu misterioso efeito decantador) e experimentamos os vinhos.
Um participante percebeu melhoras com a taça Eisch. Os restantes, eu inclusive, não percebemos diferenças, sejam para melhor ou para pior. Ou seja, os dois Pinot saíram-se bem em qualquer uma das taças utilizadas. Eram vinhos jovens, em taças de grande volume, com boa capacidade de aeração. Logo, natural que tenham se saído bem. E olha que as Riedel e Spiegelau também guardaram o vinho pelos recomendados 4 minutos.
Só restou um mistério, que ninguém foi capaz de resolver. A taça “respirante” da Eisch tem poderes de arejar um vinho rapidamente porque, segundo o fabricante, passa por um intrigante “Tratamento Oxigenante”. É esse misterioso processo que torna a taça “respirante”. Mas não consegui decifrá-lo.
Procurei no site da Eisch e não encontrei uma explicação. Que tecnologia é essa, através da qual o vidro passa por um “tratamento oxigenante” que transforma a taça numa máquina de amadurecer vinhos. Numa determinada parte do site, a Eisch afirma que “A Taça Respirante simplesmente acelera fortemente a reação do vinho com o oxigênio da atmosfera”.
Mas não é isso que qualquer taça de vinho bem projetada faz, acelerar a absorção do oxigênio?
Nunca fui muito boa aluna de física e química, mas acho impossível que uma taça de vinho possa ser apresentada como “respirante”, ou seja, capaz de liberar oxigênio no seu conteúdo. Será que ela possui alguma membrana permeável? Se não, qual a química (ou a alquimia) que a torna capaz de liberar oxigênio no vinho (e isso sem sofrer a osmose reversa)?
E se eu a utilizasse com um vinho muito maduro, digamos que um Bordeaux de 20 anos? Se a promessa que ela faz é verdadeira, o vinho viraria vinagre em segundos (pois o leitor sabe que vinhos muito velhos, após abertos devem ser imediatamente consumidos, pois estão muito mais sensíveis ao oxigênio do que o mais jovens).
Voltei para casa um pouco menos respirante.

Claros e Amarelos

O que é Vin Clair? O que é Vin Jaune? Os leitores vez por outra esbarram nesses termos ao lerem as resenhas sobre vinhos. E sentem que os críticos lhe deram o cano passando por eles como se nada tivesse acontecido.
Vin Clair, literalmente “vinho claro”, puro, é como chamam na região de Champagne, França, o “vinho parado”, o vinho pronto, mas que ainda não é espumante, pois não contém dióxido de carbono. É o vinho-base, que já passou pelas fermentações alcoólica e malolática e se prepara para misturar-se a outros vinhos antes de entrar na segunda fermentação, dentro da garrafa, quando ficará espumante. É feito, portanto, com uma, duas ou as três das uvas permitidas na região: Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay (as duas primeiras tintas). Resulta da primeira fermentação, quando chegam a 9-10% de álcool. Com a adição de açúcar (chaptalização) vão até 11%. Só mais tarde, quando da segunda fermentação, já na garrafa (com mais 18 gramas de açúcar por litro o nível alcoólico subirá para os seus 12%.
Dependendo da região de origem, costumam ter alta acidez, mas ótimo sabor e boa estrutura.
Vale relembrar o método de produção de espumantes em Champagne, chamado por isso de champenoise ou tradicional. Em primeiro lugar, as casas produtores selecionam os vinhos parados feitos com aquelas uvas. A maioria dos vinhos aqui é branca e pode ser feita a partir de uma combinação das três uvas. Uma vez produzidos, o mestre da cantina decidirá como esses vinhos deverão ser misturados, antes que as bolhas sejam criadas pelo tal do método champenoise.
Cada casa produtora tem o seu estilo e a tarefa de misturar esses vinhos é bastante difícil, pois a tentativa do técnico é manter o registro original dos aromas e sabores daquele espumante. Afinal, trata-se da marca, da personalidade da casa.
Com a combinação certa de vinhos parados na garrafa, o produtor parte para a segunda fase: acrescentar uma solução de açúcar refinado (de 18 a 24 g/l) e um pouco de fermento (ou mosto fresco) na garrafa, dose conhecida como Licor de Tiragem ou Liqueur de Tirage. A garrafa, então, é selada com uma tampa muito parecida com a de cerveja (tipo corona).
Uma nova fermentação acontecerá na garrafa: o levedo consumirá o açúcar, aumentando o volume de álcool e, mais importante, produzindo o dióxido de carbono, as preciosas bolhas. A pressão na garrafa é agora o equivalente a três ou quatro vezes à de um automóvel.
E o vinho que era parado agora é um espumante. Ficará na garrafa por um bom tempo, às vezes por anos. Cessada essa segunda fermentação, os levedos vão se consumir, num processo de autofagia. Os resíduos sólidos de células mortas de fermento vão enriquecer ainda mais o vinho.
Depois de selada, a garrafa passa por um processo chamado de remuage (ação de revolver): diariamente, ela será ligeiramente girada e, de uma posição originalmente inclinada, vai sendo colocada um pouco mais na vertical. Até que, completamente de cabeça para baixo, os sedimentos citados acima acabam descendo por gravidade, só parando no gargalo.
Esse gargalo, então, é mergulhado numa vasilha com uma solução congelada. O sedimento contendo o fermento morto e demais resíduos ficará também em estado sólido. A tampa é retirada e os restos (e apenas eles) são expulsos fácil e rapidamente. É o dégorgement.
Por fim, antes de voltar a tampar a garrafa, colocam o Licor de Expedição: uma dose de vinho ou conhaque mais açúcar. A garrafa é finalmente selada com uma rolha de cortiça, além da cápsula e a tela metálica.
Um champagne rosé é normalmente o corte de um vinho tinto parado (feito com a Pinot Noir) e outro também “clair”, mas branco, feito com a Chardonnay. Outras casas fazem blends de Chardonnay com Pinot Meunier.
Não vamos esquecer que Champagne também produz seus vinhos parados. O Bouzy Rouge (dos vinhedos de Bouzy) é provavelmente o mais famoso (foi servido na coroação de Luis XIV, em Reims). Além dele, outros vinhos parados são produzidos, mas apenas na Apelação Couteaux Champenoise. A Appellation Contrôlée Champagne é reservada exclusivamente para os espumantes.
Agora, não faça confusão: a expressão “Vin Clair” é utilizada exclusivamente para os vinhos parados que se destinam à produção de espumantes.
Vin Jaune: o leitor leu uma pequena nota elogiando o Château Chalon, seguida de referências sobre o “Vin Jaune”. Vinho amarelo?
Château Chalon é o nome de uma vila na região do Jura, no leste francês (Chalon-sur-Saône), entre a Borgonha e a Suíça, famosa por produzir o vinho chamado “Vin Jaune”. Ou “Vinho Amarelo”, feito com uma uva local, a branca Savagnin (também chamada de Naturé), da família Traminer (cuja mais destacada representante é a Gewürztraminer). Muitos estranham esse vinho, principalmente se não estão acostumados com o sabor mineral dos vinhos oxidados. Pois o “Vin Jaune” é feito como o Xerez, o famoso vinho fortificado feito em torno da cidade de Jerez, Espanha.
Depois que as uvas são prensadas e o seu suco fermentado, o vinho é colocado num barril de carvalho aberto, exposto ao oxigênio. Mas ele estará protegido por uma fina película de levedo que se forma sobre a superfície da bebida (chamada de voile), tal como a “flor” em Jerez. Essa película permite uma suave oxidação do vinho, que ficará no barril por seis anos e três meses.
As garrafas do Château Chalon têm apenas 620 ml (contra os 750 ml dos frascos normais). Sua garrafa é uma “clavelin”, como se fosse uma garrafa de Bordeaux mais gorda e que não cresceu. É a única garrafa autorizada para os “vinhos amarelos” Durante os seis anos e tanto que fica no barril há um bocado de evaporação. E reza a lenda que a robusta, porém pequena garrafa do Vin Jaune reflete essa vaporização.
Os Vins Jaunes podem viver por décadas. Mesmo abertos, continuarão em forma por muitos meses (afinal, já estão oxidados). No Jura, é comum harmonizá-lo com o queijo local, o Comté.
Parece que alguns críticos falam de “Vins Clairs”, “Jaunes” e outras facetas do mundo dos vinhos como se todos soubessem delas desde criancinha. Acabam frustrando os seus leitores.
Da Adega
Vem aí a Expovinis Brasil 2009
. É o maior evento do vinho da América Latina. Será realizado, em sua 13ª. Edição, no
Transamerica Expo Center, São Paulo, de 5 a 7 de maio próximo. Só a delegação francesa trará 28 empresas de regiões como Bordeaux, Borgonha e Champagne. Além dos franceses, teremos vinícolas da Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Itália, Portugal, África do Sul. Do Chile, teremos uma das maiores e mais importantes vinícolas do mundo, a Concha y Toro, que pela primeira vez prestigiará o evento. É evidente que as vinícolas brasileiras estarão fortemente representadas.
No total, serão 250 empresas, nacionais e estrangeiras, espalhadas por 28 mil m2 de área para exposição. Só para estacionamento serão 2.000 vagas.
Saiba como inscrever-se e saber mais sobre as dezenas de atividades paralelas
aqui.

10.3.09

Vinhos, ovos e libidinagens

Se você já teve a infelicidade de cheirar um ovo podre sabe muito em o que seja o sulfeto de hidrogênio (H2S), gás muito conhecido dos vinicultores. É um subproduto do metabolismo do fermento; aparece quase sempre no processo de fermentação, com maior ou menor evidência. De vez em quando, as coisas desandam e uma quantidade de sulfeto de hidrogênio é formada.
Se o volume de gás é pequeno, a situação é resolvida com a adição de pequenas quantidades de sulfito (um secular conservante, muito utilizado nos vinhos e nos alimentos em geral, um derivado do dióxido de enxofre) e uma vigorosa mexida na tina de fermentação.
Em quantidades moderadas é tratado com sulfato de cobre ou silicato líquido, (uma forma do dióxido de silício). E mais mexidas na tina, além da transferência do vinho para outro tanque para arejar.
Agora, em grandes quantidades, a adega vai ficar cheirando como se a crise de flatulência do mundo nela se concentrasse. Como se um gigantesco e putrefato PUM contaminasse os ares da cantina. O vinho será dado como perdido e o seu destino é o ralo.
Como não poderia deixar de acontecer, vez por outra topamos com garrafas de vinho com traços desse malcheiroso gás. Basta abrir a garrafa e ele logo é percebido. Antes que pensem que você é o responsável, areje a bebida, decantando-a. Em casos extremos, colocam-se moedas de cobre (devidamente limpas) no decantador. O cobre junta-se ao hidrogênio para formar o sulfato de cobre, que removerá o mau cheiro.
Acontece que esse malcheiroso e potencialmente tóxico gás, o nosso sulfeto de hidrogênio, pode ser a salvação de numeroso grupo de homens (para o prazer de muitas mulheres, é bom não esquecer). Pois eis que surge algo que pode solucionar problemas de ereção, colocar as coisas novamente em ângulo reto. O malcheiroso gás pode ser um novo Viagra.
É que se descobriu que o nosso H2S é uma senhora ajuda na vascularização de pênis. Pênis sanguíneos, bem vascularizados são garantia de ereção, fazendo esquecer os problemas do tipo “isso nunca aconteceu comigo”, para a felicidade dos casais. Esse gás, fedorento quando solto no ar, ajuda a levantar, sim senhora.
O farmacologista Giuseppe Cirino, da Universidade Frederico II, de Nápoles, Itália, já vinha estudando os efeitos do sulfeto de hidrogênio em seus ratinhos de laboratórios. A equipe italiana injetava diferentes quantidades do gás nos pênis de ratinhos (devidamente anestesiados). Era tiro e queda (queda num melhor sentido). Quanto maior a dosagem, mais fortes, mais potentes eram as ereções. Os pequenos bichinhos andavam mais felizes do que nunca. Veja a referência aqui.
Altas concentrações desse sulfeto são tóxicas. Quantidades pequenas, contudo, desempenham papéis importantes em nosso organismo. Nossas células produzem sulfeto de hidrogênio através de um aminoácido, servindo como um neurotransmissor. Ele promove o relaxamento de vasos sanguíneos e a secreção de hormônios.
A criação e a sustentação de ereções dependem de um delicado equilíbrio entre o relaxamento e a contração dos vasos sanguíneos no corpo cavernoso do pênis.
Já que esse mesmo gás aparece como figura importante na ereção dos pênis dos ratinhos, Giuseppe decidiu investigá-lo nos bilaus humanos. E descobriu que o gás também está presente nas células masculinas e nos nervos periféricos – justo aqueles que controlam a ereção.
(Interrompo rapidamente minha dissertação para explicar às amigas que utilizei um apelido para pênis, bilau, meramente por efeito de estilo, evitar repetições, essas coisas. Outrossim, a utilização de outras variações foram desprezadas porque a maioria delas, provavelmente criada pelos homens, costuma dar a impressão de dimensões babelescas – um delírio masculino, sem dúvidas. O uso freqüente de pênis, ressalve-se, não alude a determinada faixa etária masculina).
Encerrado o intervalo, acrescento que realizaram testes em vários pênis obtidos de cirurgias de troca de sexo. Comprovou-se que o gás relaxa os vasos sanguíneos, o que na vida real faria aumentar o suprimento de sangue e levaria à desejada ereção.
O resultado é que, potencialmente, conseguiram uma importante alternativa ao Viagra – que, aliás, opera de modo similar, mas através de outro gás, o óxido nítrico ou monóxido de nitrogênio.
O destaque é que os italianos descobriram, entre outras coisas, foi que drogas baseadas no nosso fétido gás podem funcionar em homens que não respondem ao Viagra (e que tais). Ou seja: na prática não há mais desculpas.
Imediatamente, o sulfeto de hidrogênio tem a capacidade de baixar o metabolismo, deixar-nos num estado de hibernação, abrindo o caminho para o tratamento de pessoas sob grandes traumas, em estado de choque, em operações de peito aberto, cirurgias complexas etc.
Não imaginava que uma eventual garrafa de vinho com aquele cheiro de ovo podre pudesse levar a descobertas tão potentes e vitais.
O sulfeto de hidrogênio é um gás tóxico. Os cientistas alertam que se o equivalente das quantidades desse gás utilizada nos ratinhos fosse injetado em humanos o resultado poderia ser fatal. Vamos esperar que o gás chegue ao formato de uma droga segura.
Daí que se faz necessário destacar um alerta: peço aos leitores que não pensem agora que em toda a garrafa de vinho existe um Aladim libidinoso ou que saiam desesperadamente em busca de ovos com o prazo de validade vencido.

4.3.09

O problema é ter mamas

O ovo era do mal. Agora é do bem. Pois agora o vinho entrou no circuito. Do mal. A bebida, cujo consumo podia até melhorar a nossa saúde, pode provocar câncer. Será que a história do ovo se repete?
A notícia, manchete em todo o mundo, ainda causa espanto: a maior pesquisa já realizada até hoje buscando determinar a relação entre bebidas alcoólicas e câncer, envolvendo nada menos do que 1,3 milhões de mulheres inglesas, descobriu que uma simples taça de vinho por dia, uma mera tulipa de chope ou de qualquer bebida alcoólica pode aumentar o risco de uma variedade de cânceres.
A pesquisa foi liderada pela Universidade de Oxford e foi publicada pelo Jornal do Instituto Nacional do Câncer (Journal of the National Cancer Institute, editado pela universidade).
Fico coçando a cabeça: logo a bebida que, além de nos dar prazer, adquiriu a imagem de uma espécie de fonte da juventude? É surpreendente! É de fundir a cuca. Até porque, no final, médicos que participaram desse trabalho acham que seus resultados possam ser erroneamente confundidos.
Vejam só: pelo menos metade das mulheres americanas bebe ocasionalmente. Lá, até mesmo o governo, através do seu “Guia Dietético para Americanos” (Dietary Guidelines for Americans), a bíblia do governo sobre tudo o que deve ou não ser consumido, afirma que o álcool pode ter efeitos “benéficos”. E admite que mulheres possam beber um drinque por dia (já os homens, naturalmente, ficam com dois).
Todos as pesquisas até hoje indicaram que o beber moderado pode reduzir o risco de doenças cardíacas, entre muitas outras. Não vamos esquecer que os cientistas identificaram uma substância no vinho tinto, o nosso já conhecido resveratrol, com grandes poderes antioxidantes, curativos mesmo.
A pesquisa atual é indireta, pois corresponde a análise de informações coletadas por um outro trabalho, maior, chamado de “Million Women Study” (mais ou menos “Estudo de Um Milhão de Mulheres”), que envolve hoje mais de um milhão de inglesas na faixa dos 50 anos para cima. É feito em colaboração com o Serviço Nacional de Saúde e o Centro de Pesquisa sobre Câncer, ambos ingleses. O foco principal desse estudo é sobre os efeitos sobre as terapias abrangendo hormônios. Contudo, pelo seu tamanho, uma série grande de questões de saúde pode ser acessada.
Desde 1996, os pesquisadores vêm reunindo dados detalhados de 1.280 mil inglesas entre 50 e 64 anos. No presente trabalho, cruzaram dados sobre quanto de bebidas alcoólicas consomem essas voluntárias. De 96 para cá repetiram o questionário duas vezes (uma vez a cada três anos), indagando sobre o consumo de álcool e uma possível relação com as 68.775 mulheres que desenvolveram cânceres nesse período (cerca de sete anos).
Mesmo entre mulheres que consumiam o equivalente a apenas um drinque (10 gramas de álcool) por dia, o risco de câncer de mamas, fígado e reto era elevado.
E por que o álcool aumenta o risco de câncer? Ah, isso o estudo não consegue esclarecer. Mas aponta para algumas possibilidades, como a de possibilitar o desenvolvimento de tumores malignos, aumentar quadros inflamatórios ou, no caso de câncer de mamas, elevar os níveis de estrógeno.
Contudo, temos limitações. Os pesquisadores não puderam distinguir entre mulheres que bebiam apenas um drinque por dia daquelas que bebiam sete drinques. E o curioso é que alguns dos pesquisadores se preocuparam com a possibilidade de assustar o público feminino de tal modo a privá-las dos possíveis efeitos benéficos de um drinque uma vez ou outra.
“Não podemos utilizar esse estudo para assustar as pessoas e afastá-las do álcool”, afirma o professor Eric Rimm, da Escola de Saúde Pública de Harvard. No que concorda Linda Van Horn, professora de medicina preventiva da Universidade de Northwestern, também inglesa. “Nenhum estudo será sempre o suficiente para que se façam recomendações”, esclarece.
O professor Rimm acrescenta que, no final, tudo ficará por conta de uma decisão pessoal, baseada no histórico de saúde de cada consumidora. Lembra que “algumas pessoas bebem por razões culturais, outras por motivos religiosos. Pessoalmente, penso que (o vinho) melhora o sabor dos alimentos e até algumas pessoas acham que incentiva ao convívio”.
O mesmo pensa a doutora Ellen Mack, que sabe um bocado sobre câncer e também sobre vinhos. Ela é uma neurologista aposentada, especializada em câncer do sistema nervoso central. Ela é sócia da Vinícola Russian Hill, na Califórnia, fundada por ela e Edward Gomez em 1997.
A doutora e vinicultora acha que, pelo estudo inglês, a associação entre álcool e câncer de mama existe, mas continua tênue. Por outro lado, acha também que permanece muito forte a evidência de que o álcool pode ser um benefício para o coração.
Outra médica, a Dra. Amy Shaw, diretora do Centro Médico de Saúde da Mulher de North Bay, Canadá, lembra que o a relação entre álcool e câncer não é nova. “É apenas mais um fator entre muitos que podem afetar a saúde das mulheres”. Explica que as pacientes de câncer de mama são aconselhadas a limitar o consumo de álcool. “Não vou dizer para pararem de beber, pois não estou convencida de que zero é melhor do que uma taça”.
Conheço muitos casos de mulheres que jamais apresentaram os conhecidos fatores de risco: obesidade, ociosidade, história familiar, consumo de álcool etc. E, contudo, foram diagnosticadas com câncer de mama já pelos trinta anos. Algumas, inclusive, depois de terem dado à luz e amamentarem seus filhos, fatores normalmente vistos como benéficos contra o risco da doença.
Eu prefiro pesquisas mais diretas, que não sejam releituras de estudos fundamentados em outros objetivos. Acho melhor ficar com algumas das recomendações feitas aqui, inclusive de médicos que participaram do estudo inglês. Vamos beber com moderação e não deixar nunca de fazer exames periódicos. E isso vale igualmente para quem não bebe.
No final, se temos mamas, estamos arriscadas a ter câncer. Simples assim Para mim, o problema não está diretamente no álcool. Mas no câncer, que continua sendo um grande mistério.
Da Adega
Dia Internacional da Mulher. A data, 8 de março, será comemorada num grande almoço, com direito a brindes, patrocinado
pela
Confraria Amigas do Vinho e pela Federação Brasileira de Confrarias e Associações Femininas do Vinho e do Espumante.
Participe: será Porto Bay Hotel Resort (Av. Atlântica, 1.500, Copacabana, Rio), a partir das 2 da tarde. As vagas são poucas. Mas você pode adquirir ingressos com a Kátia Regina (21-99838318), com a Maria Lúcia (21-97978277) ou com a Teresa Cristina (21-99830755).
Curso de Vinho para Mulheres. A sommelière Bianca Bittencourt está à frente do “Curso Básico de Vinhos para Mulheres”. Serão cinco aulas, uma vez por semana, num total de 7,30 horas, num programa que inclui a história do vinho, regiões produtoras, solo, clima, tipos de uva, vinificação, estilos de vinhos, armazenamento, rótulos, harmonização, serviço do vinho, estendendo-se pela fundamental análise sensorial.
O curso começa dia 17 de março e termina dia 14 de abril. O curso será na nova loja e bar de vinhos do Leblon, a Enosfera, na Rua General San Martin, 1241. Inscrições pelo telefone: 21-25122244.