18.5.10

Ficção e Realidade

Seguem-se casos que a leitora pode muito bem entender como pura ficção. Mas, quem sabe, acontecem de ser verdadeiros?
1. Bruce Willis, sim o ator duro de matar, está sendo acusado de assassinato. Sua vítima um tapete de algodão e seda, feito à mão, selecionado pelo decorador do ator numa loja especializada de Los Angeles. A loja alega que o tapete, avaliado em US$ 27.700,00, foi entregue na residência de Bruce em perfeitas condições, em dezembro. Seis semanas depois, o ator tentou devolvê-lo – até então sem que o mesmo tivesse sido pago. Quando a loja veio pegar a peça, verificou-se que ela apresentava manchas de vinho tinto – eis a arma do crime. Bruce e o seu decorador afirmam não ser responsáveis pelas manchas. E a loja contesta: elas não existiam quando o tapete foi entregue. O ator está sendo processado. Seu advogado explica que a causa é ridícula, pois o tapete foi entregue a Bruce em consignação.
2. A mais famosa vinícola americana, a E. & J. Gallo, fundada em 1910, a maior vinícola familiar do mundo e também a maior exportadora de vinhos da Califórnia para o mundo pode ser fechada por vender gato por lebre. A Gallo comprava de produtores franceses vinho para a sua marca Red Bicyclette, um Pinot Noir sucesso de vendas na América. O escândalo foi descoberto pelas autoridades francesas: descobriram que 12 produtores e plantadores do Languedoc estavam vendendo um falso Pinot Noir não só para a Gallo como também outras vinícolas norte-americanas, inclusive para gigantesca Constellation. Esses produtores já estão sendo processados e possivelmente serão presos. A Gallo comprou, engarrafou e vendeu esse vinho entre 2006 e 2008.
3. Mal janeiro começou, Aubert de Villaine, diretor do Domaine de la Romanée-Conti, produtora do vinho homônimo, o Pinot Noir mais cobiçado do mundo, uma das mais valiosas propriedades vinícolas da Borgonha (e talvez de todo o planeta), começou a receber uma série de cartas assustadoras. Sua vinícola estava sendo ameaçada de destruição. As cartas demonstravam bom conhecimento da propriedade, apresentando mapas dos vinhedos. A ameaça era a de envenenar todas as vinhas, destruindo a propriedade, caso não pagassem o equivalente a um milhão de euros (mais ou menos R$ 2.700.000,00). Uma das cartas dizia que uma das vinhas já havia sido envenenada.
Apenas uma garrafa desse fabuloso grand cru pode custar com facilidade em torno de 40 mil reais. A propriedade cobre apenas pouco mais de 18 mil metros quadrados (o Maracanã tem 68.500 m2) e produz em média 450 caixas (de 12 garrafas) desse néctar por ano.
De Villaine mandou um recado ao chantagista dizendo que precisava de tempo para consultar os acionistas e reunir toda aquela soma. A essa altura já tinha entregue o caso à polícia. E agora? Se conseguiram envenenar um pé de videira, certamente poderiam fazer o mesmo com todo o resto.
Voltaram a fazer contato com os chantagistas e combinaram deixar o milhão de euros num cemitério em Chambolle-Musigny, próximo à propriedade, em Vosne-Romanée.
E, de fato, um homem apareceu e pegou o dinheiro do resgate. Só que esse dinheiro era falso, providenciado pela polícia. Mas o tal homem não teve muito tempo para descobrir o logro, pois foi imediatamente preso. Parece que andou pela Borgonha onde, por dois anos, estudou viticultura. Preferiu ganhar dinheiro de outra forma e agora, preso, responde por extorsão.
4. Demitido de uma corretora, o inglês Max Skinner foi à bancarrota, mal podia pagar o seu aluguel. Mas, por um golpe de sorte, recebeu uma herança, a grande propriedade de seu tio, recentemente falecido, na vila de St. Pons, a uma hora de Avignon, na Provence, sudeste da França. Resolve morar nessa propriedade e mudar de vida. Na juventude, era lá que passava suas férias. O caseiro continuava o mesmo daqueles tempos. Porém, Max se surpreende com a casa dele, muito mais próspera em contraste com a casa do tio, agora sua, em franca decadência. O vinhedo parece abandonado e os vinhos que produz são péssimos. Mas começa a desconfiar: não apenas pela casa farta e próspera do caseiro. Um dia, descobre vários cachos de uva bem jovens devidamente cortados, no chão. Podar cachos jovens, ainda imaturos, é coisa de vinhedo sério. Fazem isso para reduzir a produção e melhorar a qualidade, pois os cachos que sobram na recebem todo o alimento da videira, o que os torna mais concentrados, com mais componentes de sabor. Essa poda, chamada de vendage verte (“colheita verde”), é demorada e cara, já que as máquinas não são capazes de fazê-la. E é uma prática moderna. Como o velho e rude caseiro poderia saber dela? Como não conseguia produzir vinhos pelo menos razoáveis? Algo estava errado e Max consegue do caseiro a confissão de que parte do vinhedo produzia vinhos excelentes, vendidos às escondidas a um misterioso negociante de Bordeaux. O inglês está diante de uma fraude, um golpe; estava sendo lesado, perdendo fortunas.
Max descobre tudo: quem é o oculto negociante de Bordeaux, como o golpe funcionava. O homem de Bordeaux comprava toda a produção dos vinhos bons diretamente do caseiro, por uns míseros dólares, como se fosse um favor. Depois, vendia cada caixa de 12 garrafas a partir de 40 mil dólares. Para isso, mudava o rótulo: o vinho transformava-se no cult “Le Coin Perdu” (mais ou menos vilarejo perdido), um vinho vendido como de um garagiste, uma raridade que só uns poucos (e ricos) conseguiriam adquirir.
O inglês consegue desmascarar toda a trama, mas os fraudadores fogem. Hoje ele vende um Cabernet Sauvignon com Merlot por 30 dólares a garrafa. Sua vinícola está sendo reformada e ganhando mercado.
Dessas histórias, só a última é pura ficção. Ela é um resumo do livro Um Bom Ano, do inglês Peter Mayle, que seu compatriota Ridley Scott transformou num filme com o “gladiador” Russell Crowe no papel de Max Skinner. Convenhamos que qualquer uma das outras forneceria facilmente material para outros livros e filmes, em particular a da tentativa de chantagem do Romanée-Conti. Na América o Red Bicyclette é vendido por sete dólares. Quem bebeu pensando que fosse um legítimo Pinot Noir francês por uma barganha deve estar com orelhas muito grandes. Agora, será que essa empresa, 75 anos produzindo vinhos, sucesso absoluto de vendas, não sabia que bicicleta não é velocípede? É mesmo um caso de polícia, tal como a falcatrua que envolveu Max Skinner – aliás, engodo que o mundo dos vinhos está farto de conhecer. Já o tapete manjado de Bruce Willis poderia resultar no máximo numa comédia. Já tenho um título para ela: “Duro de Lavar”. Caso o decorador ou Bruce não saibam, para manchas de vinho tinto, tente vinho branco, sal, água e sabão e, principalmente, água oxigenada.
Da Adega
Os dez melhores.
Eis os dez melhores vinhos, por categoria, selecionados na mais importante prova realizada no Brasil (pela grande qualidade de seu júri), coroando a 14ª. edição da ExpoVinis Brasil:
Espumante Nacional: Grand Legado Brut Champenoise – Wine Park
(Brasil)
Espumante Importado: Ferrari Perle 2002 – Ferrari – Decanter
(Itália)
Branco – Chardonnay: Villaggio Grando 2008 – Villagio Grando
(Brasil)
Branco – Sauvignon Blanc: Yealands Estate 2009 – Yealands State
(Nova Zelândia)
Branco – outras castas: Mesh Riesling 2007 – Grosst- Hill
Smith – KMM (Austrália)
Rosado: Chateau de Pourcieux 2009, Provence – Chateau
de Pourcieux – Cantu (França)
Tinto Nacional: Sesmarias2008 – Miolo Wine
Group (Brasil)
Tinto Novo Mundo: Morandé Grand Reserva Syrah 2005 – Morandé –
Carvalido (Chile)
Tinto Velho Mundo: Herdade do Esporão Touriga Nacional 2007
– Herdade do Esporão – Qualimpor (Portugal)
Fortificado: Madeira Justino’s
Colheita 1995 – Justino Henriques Vini Portugal – Porto a Porto (Portugal)
O Brasil emplacou nada menos do que um espumante, o que não foi surpresa (o Grand Legado), um branco (o Villagio Grando 2008) e um tinto (Sesmarias 2008). Talvez, com exceção do Miolo, dificilmente veremos os outros dois por aqui. Uma pena.
A ExpoVinis Brasil 2010 foi realizada entre 27 e 29 de abril em São Paulo e contou 300 expositores e recebeu mais de 16 mil visitantes.

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