27.5.10

Mad Men e os coquetéis

Quer saber mais e melhor sobre coquetéis? Acompanhe a série Mad Men, (canal HBO). A série mal começa e o seu “herói”, cujo nome ainda não sabemos, está num bar pedindo o seu coquetel preferido, um Old Fashioned.
Li em algum lugar que os inventores do coquetel foram os ingleses. No século XIX os ingleses costumavam misturar frutas frescas preservadas no vinagre com rum. Picles de frutas com rum? Para mim, isso está longe de ser um coquetel. O ponche, sim, parece ter sido mesmo criação dos britânicos: frutas picadas misturadas com água, vinho ou destilado. Se os britânicos os inventaram, os americanos os recriaram. O “professor” Jerry Thomas publicou a primeira cartilha sobre bar e bartender. É considerado o pioneiro do coquetel, quem tornou a mixologia respeitável. O título do seu guia era: “O Guia do Bartender ou como misturar todos os tipos de drinques, dos simples aos mais imaginativos”. Veja aqui.
A própria palavra, “cocktail”, teria sido criada na América durante a Guerra de Independência, numa taverna onde se reuniam soldados americanos e franceses (aliados contra os ingleses). Os americanos preferiam gim e uísque e os franceses vinho e vermute; juntos também gostavam de conhaque e rum. No meio da noite, ninguém mais se entendia (ou se entendia bem demais): um bebia do copo do outro, os drinques se misturavam. Até que um soldado roubou o galo de um vizinho, mando-o cozinhar e começou a decorar os drinques com penas do falecido emplumado. Daí teria nascido o cocktail, literalmente “rabo de galo”, que o Brasil é um drinque um tanto pobre: cachaça barata e vermute. Mas essa é apenas uma das lendas em torno da palavra e da arte do coquetel.
Em Mad Men temos aulas sobre o seu período dourado, os anos 60, uma época em que se misturavam alegremente rum com coca-cola, gim ou vodca com água tônica. Nem pensar em Martini com suco de maçã ou Red Bull com qualquer coisa. Essa série é tida como catalisadora de uma volta a esse passado. Se hoje temos mixologista em lugar de bartender, é ele quem está fazendo ressurgir os coquetéis clássicos ou criando novos inspirados nesses clássicos.
Don Draper e o Old Fashioned. Don Draper (Jon Hamm) é o principal personagem da série. Talentoso, misterioso e mulherengo, é o Diretor da fictícia agência de publicidade nova-iorquina Sterling Cooper, onde os clientes eram tratados na base de Mai Tais e Bloody Marys, sem falar nos uísques, gins e vodcas. Fumava-se e bebia-se a valer, sem policiamento, nada do politicamente correto dos tempos atuais. Draper bebe com os clientes, bebe no almoço, bebe no jantar, bebe sozinho. Prefere drinques escuros, com o scotch, o bourbon, o rye. E seu coquetel preferido é o simples, mas masculino Old Fashioned:
A gotinha de um bitter (Angostura, por exemplo) dissolvida em água com uma colher de chá de açúcar; uma dose de Bourbon (ou o uísque de sua preferência), uma cereja, uma rodela de laranja, uma rodela de limão.
Encha o copo (de Old Fashioned, que é mais ou menos a metade de um copo alto) com gelo. Acrescente o bitter e a mistura de água com açúcar e mais a cereja, a laranja e o limão. Junte o Bourbon (ou uísque). E sirva.
Roger Sterling e o Martini. Interpretado por John Slattery, Roger Sterling é um dos sócios da agência (outro deles é Draper). Já enfartou duas vezes, fez coronariana, mas não deixar de ficar atrás de rabos de saia, de fumar e de beber oceanicamente. Prefere drinques claros, como a vodca e o gim. Acha que um Gibson Martini lhe dá status.
Duas boas doses de gim (na série, usam o Tanqueray) ou vodca (ele contrabandeia a russa Stolichnaya), uma colher de chá de vermute seco, de 3 a 5 cascas de cebolas miúdas. Coloque o gim ou a vodca e o vermute numa coqueteleira com gelo. Agite bem e sirva na tradicional taça de Martini. Acrescente as cebolinhas (sem elas não é um verdadeiro Gibson Martini).
Joan Holloway e o seu Tom Collins. Christina Hendricks faz a gerente do escritório e chefe do pool de secretárias. Joan Holloway, a curvilínea, uma espécie de Marilyn Monroe da agência, o objeto de desejo dos anos 60, teve já um longo caso com Sterling, só interrompido pelos dois infartos. Num mundo de homens, a moça sabe se cuidar. Basta falar em casamento que ela apela logo para o refrescante e sofisticado Tom Collins. Joan aí relaxa e fica pronta para outros desafios.
Uma colher de sobremesa de suco de limão, uma colher de chá de açúcar, duas doses de gim Tanqueray (ou o que a leitora preferir), rodelas de limão. Misture o açúcar, o gim e o suco de limão sobre o gelo, numa coqueteleira. Agite bem e sirva num copo de coquetel, com gelo. Complete com club soda ou água com gás. Acrescente as rodelas de limão.
Na série, todos parecem ser experts em bebidas, em coquetéis e inclusive em vinhos. Todos bebem e muito. Almoçar era coisa de 3 horas, com muitos e muitos coquetéis. O álcool é o principal personagem de acidentes de carro, divórcio, estupro, e demissões. Claro que também é indicativo do caráter dos personagens. Os principais têm seus coquetéis de preferência. Aqui mostramos apenas três.
O mundo mudou, as agências mudaram, os almoços longos e alcoolizados cessaram, o álcool e o cigarro nos escritórios não existem mais. Os ambientes ficaram mais policiados. Porém, Mad Men está ajudando a reviver os coquetéis, os grandes clássicos. Nada de energéticos misturados com álcool e sucos de fruta. Coquetéis de verdade, feitos para saborear e relaxar e deixar o mundo um pouco menos aborrecido.
Da Adega
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