28.4.05

Abril costurado

Abril agitado no mundo das bebidas. A francesa Pernod Ricard está comprando o gigante inglês Allied Domecq por US$ 14,2 bilhões, a maior aquisição desse setor desde a venda da Seagram em 2001. O conglomerado francês, assim, dobra de tamanho pela segunda vez em apenas quatro anos.
Enquanto a Pernod Ricard, terceira maior produtora de destilados do mundo, simplesmente está comprando a segunda maior, a australiana e cervejeira Foster’s compra outra conterrânea, a Southcorp – e por uma oferta de US$ 2,5 bilhões se transforma no segundo maior produtor de vinhos do mundo, atrás apenas da nova-iorquina Constellation Brands.
A Southcorp, a maior produtora de vinhos da Austrália, resistiu ao cerco da Foster’s por três meses, recusando uma oferta inicial de US$ 3,24 por ação. A cervejeira vinha de adquirir 19% das ações da Southcorp, via a compra de ações da família Oatley. No final, aumentou a oferta para US$ 3,33 por ação.
A californiana Gallo, maior produtora de vinhos do mundo até o final do ano passado, cai agora para o terceiro lugar no ranking global. A Constellation chegou ao primeiro com a compra da Mondavi em novembro do ano passado.
A nova companhia terá marcas importantes de vinho: Beringer, Wolf Blass, Meridian, Château St. Jean, Château Souverain, Stag’s Leap, a celebérrima Penfolds, Lindemans, Rosemount e Wynn’s.
Já a compra da Allied compreendeu uma parceria entre a Pernod Ricard e o conglomerado americano Fortune Brands, dona de destilados, equipamentos esportivos e produtos domésticos. Ela já distribui o uísque Jim Beam e a vodka Absolut. Com a aquisição, dobrará suas vendas de vinhos e destilados e ficará entre as quatro maiores empresas de bebidas do mundo. Levará as marcas: Canadian Club, de uísque, Courvoisier, um famoso conhaque francês, Maker’s Mark, de bourbon, e com a tequila Sauza.
A Pernod Ricard ficará, da Allied Domecq, com o uísque Ballantine’s, o gim Beefeater, os licores Kahlua e Tia Maria, o rum Malibu, a vodka Stolichnaya, com os vinhos Montana (Nova Zelândia), Bodegas y Bebidas (Espanha), Camp Viejo (Espanha), champanhes Mumm e Perrier Jouet. Já detém os uísques Jameson e Bushmills (irlandeses), o escocês Chivas Regal, o gim Seagram’s, o bourbon Wild Turkey, o conhaque Martell e os vinhos Jacob’s Creek.
Contudo, enquanto martelos não são definitivamente batidos (o que deve acontecer em julho), a Constellation, a número um do mundo em destilados e vinhos, declara interesse em entrar nessa disputa.
Depois da Allied serão muito poucas as companhias a oferecer marcas como o gim Beefeter ou o conhaque Courvoisier. É natural, portanto, que algumas companhias ou mesmo um grupo de empresas estejam tentadas a fazer contra-ofertas.
Mas será difícil chegar perto das cartas que a Pernot Ricard e a Fortune Brands colocaram na mesa – mais de 14 bilhões de dólares!
A Constellation ainda está digerindo a compra da Mondavi, por US$ 1,04 bilhão ano passado. O mais provável é que queira comprar apenas algumas marcas da Allied. Além do mais, o conglomerado não tem a rede de distribuidores ao redor do mundo que a Pernod, a Fortune e a Allied possuem.
De qualquer modo, a Constellation contratou os bancos de investimento Rothschild e Merrill Lynch para avaliar uma oferta à Allied, provavelmente em parceria com a Brown-Forman Corporation, dona da Jack Daniel’s e Southern Comfort, entre outras marcas, e com a Bacardi (dona do famoso rum e ainda lambendo as feridas em razão da compra da vodka Grey Goose por US$ 2 bilhões, em 2004.
A Pernod e a Foster’s ficarão com um elenco de marcas competitivas em qualquer mercado, em particular no norte-americano – que é o grande alvo de todas as empresas de bebidas.
Foi um abril agitado, em nada despedaçado, ao contrário, devidamente costurado, que confirma a tendência de fusões no setor de bebidas. Alguém aí falou em globalização?
Sonia Melier ainda não está costurada e atende pelo soniamelier@terra.com.br

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