28.4.05

Dica de presente: ExpoVinis

Você vai à ExpoVinis 2005, experimenta vinhos de centenas de vinícolas de dezenas de países de três continentes e, por fim, escolhe aquele (ou aqueles) que sua mãe gostaria de provar ou de ter à mesa agora no 12 de maio. Improvável que alguma lembrança venha a ser mais bem pesquisada, provada e querida do que esta.
Mas a maior feira de vinhos da América Latina guarda outros presentes. Por exemplo, é improvável que num mesmo evento tenhamos a reunião de pelo menos cinco grandes estrelas do mundo do vinho.Sobre Steven Spurrier, o editor de uma das melhores revistas de vinhos do mundo, a inglesa Decanter, já escrevi a respeito . Veja no post abaixo, "Spurrier vem aí".
Pois o Spurrier vai conduzir uma degustação sobre os espumantes brasileiros, cada vez melhores, e um debate sobre o presente e o futuro dos vinhos sul-americanos. Vai fazer mais: vai reeditar um evento que o deixou famoso até hoje, uma degustação realizada em Paris em 1976 que colocou no pódio mundial os vinhos da Califórnia.
Spurrier, hoje na casa dos 60, tem de 41 anos de vinho. Começou em 1964 como trainee de um comerciante de vinhos em Londres. Em seguida, mudou-se para Paris e abriu a sua loja de vinhos, a Les Caves de la Madeleine. Consultor editorial da revista Decanter há 11 anos, Spurrier é autor e editor de livros sobre vinhos e tem papel destacado na divulgação dos vinhos do Novo Mundo.
Em 1976, em Paris, ele organizou um teste cego que reuniu os mais prestigiosos vinhos de Bordeaux e da Borgonha e apenas dois vinhos da Califórnia, um Cabernet Sauvignon e um Chardonnay. Pois, os vinhos americanos chegaram em primeiro – e com pontos concedidos por uma maioria de degustadores profissionais franceses. Um repórter da revista Time estava presente e anunciou para o mundo o novo Waterloo francês. Hoje, as garrafas dos vinhos vencedores, um Stag’s Leap 1973 Cabernet Sauvignon e um Château Montelena Chardonnay 1973, da vinícola Barret, fazem parte da coleção permanente no Smithsonian.
Vamos ter um cineasta, o americano Johnathan Nossiter, que dirigiu o documentário Mondovino, uma tempestade que anda varrendo o mundo dos vinhos menos de um ano após ser apresentado em Cannes.
O diretor vai conduzir uma degustação de vinhos citados no seu filme, como o Bianchetti Tinto (Vale do São Francisco, Brasil), Dal Pizzol Tannat (Serra Gaúcha, Brasil), San Pedro de Yacochuya (Região Salta, Argentina), Família Magrez (Uruguai), entre outros. Durante a degustação haverá apresentação de trechos do filme e debates.
Patrício Tapia, jornalista chileno, volta à ExpoVinis. Ele é autor do importante guia “Descorchados” sobre os vinhos de seu país, responsável pela avaliação dos vinhos do Cone Sul para a importante revista norte-americana Wine & Spirits. Tapia também é colunista da “Prazeres da Mesa”, revista nacional sobre gastronomia.
Pensa que é só isso? O enólogo e historiador Carlos Cabral, fundador da SBAV, Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho, a entidade pioneira em reunir amantes da bebida para debatê-la e prová-la seriamente.
Cabral vai apresentar um panorama do vinho no Brasil, tema que só ele mesmo pode esgotar, autor que é do fundamental “Presença do Vinho no Brasil: um pouco de história” (ISBN 85.293-0070-X). Não perca o papo do Cabral, nem deixe de ler seu livro.
E o colunista Jorge Lucki, também da Prazeres da Mesa”, conduzirá degustação de seis grandes Barolos da safra de2000 que receberam o “Tre Bicchieri”, as “três taças”, classificação máxima para vinhos de qualidade da publicação italiana especializada nos fermentados e em comidas, a Gambero Rosso.
Pois você já entendeu: a ExpoVinis é na verdade um presente de mãe pra filho, pelo menos para os amantes de vinhos.
Mas terminou? Nada disso. Vamos ter ainda a final do Concurso Sommelier Revelação ExpoVinis 2005, com prova prática de degustação e serviço de cinco candidatos previamente classificados pela Associação Brasileira de Sommeliers – capítulos de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.Enfim, não há porque vacilar. A ExpoVinis tem o defeito de ser curtíssima. Vai de 3 a 5 de maio. Será realizada na ITM Expo, Avenida Roberto Zuccolo, 555, Vila Leopoldina, São Paulo. Ligue para a Exponor Brasil, via (21) 3151-6444 ou acesse o site. Está aberta das 14 às 19 horas para profissionais do setor e das 19 às 22 horas para o público em geral. Não deixe de ir.
Mondovino e Nossiter
Agora, uma palavrinha final sobre um participante que está provocando tsunamis no mundo dos vinhos, Johnathan Nossiter, criador e diretor do documentário Mondovino.
O filme foi apresentado em Cannes ao lado do já então badalado “Fahrenheit 9/11”, do polêmico e premiado Michael Moore, criticando as políticas do presidente Bush no Oriente Médio. Um documentário com mocinhos e bandidos.
Mondovino é também um filme com mocinhos e bandidos, só que acontece no mundo dos vinhos, com direito a trapaças, ameaças de morte, abusos de poder.
O diretor americano Jonathan Nossiter, 43, que além de experimentado documentarista, é considerado ótimo sommelier, grande conhecedor dos fermentados. Na ocasião, Mondovino representou uma surpresa para a crítica, pois foi selecionado à última hora para concorrer ao prêmio máximo, a Palma de Ouro. Nossiter esteve no sul do Brasil, na Sardenha, no Languedoc, em Bordeaux, Borgonha, Toscana, Uruguai. Entrevistou magnatas, celebridades, e modestos vinicultores.
Por 158 minutos, o diretor mostra um mundo dos vinhos também conturbado, com as grandes empresas tomando pequenos vinhedos de assalto para fazer um vinho “como o americano gosta”, sem diversidade. Mas Nossiter nega que seu filme seja uma denúncia ou antiamericano ou mesmo antiglobalização. “O vinho para mil é o único produto na Terra tão complexo quanto o ser humano”, explicou. “O que mais odeio no mundo dos vinhos não é nada relacionado com a bebida, mas com o esnobismo. Acho que o público vai reagir assim também quando vir essas pessoas (no filme)”, disse.
O diretor nos apresenta o povo do vilarejo de Aniane, no Languedoc, impedindo os planos do (na época) gigante Robert Mondavi (faturamento então de US$ 500 milhões anuais) de comprar um vinhedo. Em contrapartida, revela os favores dos clãs florentinos dos Frescobaldis e Antinoris, grandes produtores italianos, para negociar com Mondavi. O conglomerado de Robert Mondavi ruiu logo depois e foi absorvido pela gigante Constellation.
Temos ainda entrevistas com gente famosa, como o consultor francês Michel Rolland, descrito como uma espécie de Steven Spielberg do vinho, que ajuda seus clientes a criar bestsellers em dezenas de países segundo a fórmula do “gosto global”. O "efeito especial" que ele promove parecer ser esse: uma cocalização dos vinhos, tudo igual, ao gosto do consumidor norte-americano.
A entrevista principal é com o maior crítico de vinhos do mundo, o norte-americano Robert Parker, cujo nariz e palato estão assegurados em US$ 1 milhão. As notas de Parker podem fazer um vinho ir para o céu ou para o inferno, no momento em que são publicadas. Na entrevista, na casa do crítico em Maryland, EUA, Parker informa que acabara de cancelar uma viagem em razão de ameaças de morte (mais um charme do crítico). Recentemente Nossiter enviou um post de 4.300 palavras para o website de Parker, acusando os críticos de seu filme de macarthismo, orelianismo e má-fé. Os parceiros de Parker (Rovani e o crítico Mark Squires) são taxados de “dissimulados, difamadores e egoístas”.
Mas é particularmente o parceiro de Parker nas suas degustações, Pierre-Antoine Rovani, o mais atacado. Nossiter o aponta como um apologista de Mussolini, um fascista, anti-semita, “monolítico e egoísta”.
O post não coloca apenas Parker e seus parceiros no mesmo saco. Ataca também um bom número de publicações especializadas em vinho, como a Wine Spectator, Decanter, Revue du Vin de France e a Gambero Rosso, acusadas de falta de vigor crítico e investigativo.
Nossiter recusa a acusação de que Mondovino é uma polêmica antiglobalização. “Sou filho de Bernard Nossiter, destacado repórter de economia e correspondente estrangeiro do Washington Post e New York Times. Meu pai viajou com a família através do planeta...” Diz que seu filme é “contra a homogeneização global e não propriamente contra a globalização”.
Nossiter documenta as tradições que passam de geração para geração de vinicultores. São produtores independentes que estão hoje travando uma batalha pela sua sobrevivência e de suas tradições contra as multinacionais do vinho. Nossiter, contudo, afirma que Mondovino não é um filme político. “É sobretudo um filme sobre pessoas. Não há mocinhos nem bandidos, aqui”. Mas o tiroteio que estamos ouvido parecem mesmo o de um bang-bang, daqueles de grande qualidade, um clássico.
O filme está agora nos Estados Unidos. Espero que venha pra cá também. De qualquer modo, Nossiter promete uma versão em DVD. Não custa você conferir pessoalmente com o diretor.
Pois ai está a minha dica para o Dia das Mães. É apenas o mundo dos vinhos reunido na ITM Expo.
Faça contato pelo soniamelier@terra.com.br

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