9.3.06

Para entender as críticas

Quem quer que se interesse por vinhos certamente já parou para ler o que os críticos andam escrevendo sobre eles. E deparou-se com o que parece ser todo um palavrório especial, um jargão próprio através do qual os especialistas se manifestam. Como entender essa linguagem particular dos críticos?
Reuni algumas palavras, confesso que a maioria retirada de críticos ingleses e americanos, a partir de três resenhas da revista inglesa Decanter. São palavras, contudo, de amplo uso por aqui.
Você lê que um determinado vinho branco seco é “...límpido, amarelo com um tom de verde, bem rico, com uma cor adorável. Um toque de madeira nova no nariz,e de melão também, ligeiramente exótico, muito expressivo. Agradável, floral, com um toque madressilva no palato, sugestões de avelãs, rico em bem amanteigado, embora com boa acidez de limão, muito elegante, mas ainda assim jovem. Equilíbrio muito bom, carvalho e fruto bem balanceados, um exemplo excelente de variedade da uva dominada pelo terroir, muita persistência e ótimo futuro”.
Límpido – literalmente transparente, claro como água, mas retendo a sua cor.
Rico – Revelando ser bem maduro e viscoso, a partir principalmente das “pernas” ou “lágrimas” que se formam nas paredes internas da taça.
Madeira nova. O aroma de baunilha característico de barril de carvalho novo (seja de origem francesa ou americana).
Melão, de melão. Traduz um fruto maduro, ligeiramente exótico. A menção a melão quase sempre identifica vinhos com a uva Chardonnay. Outros frutos “exóticos”, no entender desses críticos, são o abacaxi e a goiaba. Para eles são exóticos, já nós aqui tropeçamos neles a todo o instante.
Expressivo. Expressivo em razão da variedade da uva, do terroir ou de ambos. Com estilo mais expressivo: um vinho de caráter e bem equilibrado.
Terroir. Termo utilizado para descrever os efeitos dos climas (macro, médio e micro) sobre um vinhedo em particular. Exemplo: os efeitos do sol, vento e água. O aspecto do terreno, tipo de solo, aclives e declives. Quantidade de sombra no terreno, tamanho dos cachos e das uvas, métodos de poda etc.
Floral. No nariz, com fragrâncias de flores. Na boca, combinação de sabor com notas florais.
Madressilva/Avelã. São expressões relativas a um bom Chardonnay, macio e atraente – muito comuns aos produzidos na região de Meursault. A madressilva é uma trepadeira com flores cilíndricas ricas em néctar;
Amanteigado. Impressão de amadurecimento com um certo frescor; vinho rico (veja acima), saboroso e encorpado, mas não necessariamente muito doce. Expressão usada com mais freqüência para vinhos brancos como o Chardonnay (novamente de Meursault). O amanteigado é resultado da fermentação ou do amadurecimento em barris. No processo de uma segunda fermentação, o ácido málico (áspero, adstringente) transforma-se em ácido lático (mais macio) – daí a impressão e cor de manteiga.
O crítico escreveu que aquele vinho é “...ouro puro, com notas de amarelo e nada de âmbar. Bouquet floral e de mel, com sugestões de pêssego e damasco. Uma impressão de grande doçura, mas não muito intoxicante. Sabores de mel e lanolina, doçura rica em maltose, muito fruto, bom botrytis, suculento. Um Sauternes completo, de safra boa e que estará soberbo em 15 anos”.
Ouro. A cor dourada indica tanto amadurecimento quanto doçura. Em 10 anos a cor dourada vai adquirir um tom castanho e em seguida sua cor chegará ao âmbar. Seus aromas se tornarão mais florais e menos frutados.
Mel. Muitos vinhos doces têm o aroma de mel. Mas nesse caso, o crítico se refere a um grau de amadurecimento e riqueza caracterizados pelo aroma de mel. Os aromas de mel e florais são evocativos principalmente dos vinhos do Loire com a uva Chenin Blanc e de alguns Rieslings alemães.
Pêssego/Damasco. O aroma dessas frutas é encontrado também em vinhos aromáticos com a uva Viognier e denotam quase sempre que amadureceram bem.
Intoxicante. A expressão em inglês é “heady”, intoxicante, usada para descrever vinhos com alto teor alcoólico. Poderíamos inclusive utilizar “Alcoólico”, um vinho desequilibrado, com álcool em excesso. É uma concentração tal que literalmente vai direto par a “cabeça” da pessoa (daí talvez o “head”).
Lanolina. Impressão de cremosidade e maciez, muito associada à uva Semillon (em estado de avançado amadurecimento). Sabor e textura levemente associados ao limão e característicos de um bom Sauternes.
Maltose (açúcar de cevada). Doçura concentrada, mas que não é açucarada.
Botrytis. O efeito do fungo botrytis cinerea, de reduzir a água das uvas e, por conseguinte, deixar apenas o açúcar para ser fermentado. O fenômeno de uma uva atacada pela botrytis é chamado de Podridão Nobre e resulta em vinhos doces naturais, como os Sauternes.
Agora, esse é “... um vinho com cor vermelho-tijolo, muito fresco, parecendo jovem. Agradável, bouquet como o de rosa, alguma doçura no ataque, mais seco no segundo nariz. Límpido, sabores de cereja, notas de madeira e um toque de amêndoas amargas. Bom equilíbrio, acabamento longo. Sabor demorado na boca. Apesar da acidez natural presente, um vinho para acompanhar comida.
Bouquet. Aromas que se desenvolvem na medida em que o vinho envelhece (logo, encontrados mais nas garrafas). Vinhos jovens apresentam aromas e não bouquet.
Vermelho-tijolo. Denota a ausência das cores violeta ou púrpura em alguns vinhos muito jovens. É mais uma falta de intensidade do que de amadurecimento.
De rosa ou como rosa. Um aroma delicado, sempre floral e indicando certo amadurecimento.
Ataque. Uma forte primeira impressão, como se os aromas saltassem da taça para nosso nariz.
Sabor. É na verdade o aroma no seu sentido mais estreito. Muita gente, porém, usa sabor para denotar todo o impacto do vinho em nossos sentidos.
Aroma. A parte dos odores de um vinho que se origina diretamente das uvas.
Nariz. O nariz de um vinho é o seu aroma ou bouquet, dependendo de sua idade (veja Bouquet). É o “sabor” que você pode cheirar.
Segundo nariz. Uma segunda impressão, uma reflexão mais estudada quando cheiramos o vinho pela segunda vez.
Cereja. Um toque vibrante de fruta com uma sugestão de acidez. Mas nada da doçura de uma groselha.
Madeira. Indica firmeza e taninos – em oposição da “carvalho”, que se refere aos aromas de barris novos, onde o vinho envelhece.
Anêndioas amargas. Expressão quase sempre associada com cerejas. Indica um certo amargor da fruta, mas com um sentido de mais refrescante do que de desagradável.
Comida. Vinhos exuberantemente frutados não combinam bem com comida, pois a fruta será dominante. Um “vinho de comida” ou “para comida” é aquele que complementa a refeição (não briga com ela, portanto).
Lemos que ele “... tem uma cor profunda, de vermelho aveludado, sem sinais de envelhecimento, ainda com aparência de bem jovem e firme. No nariz, frutos vermelhos concentrados, notoriamente um Cabernet pelo estilo, folhas de groselha, com tempero de cedro ou de caixa de charuto acompanhado de boa fruta. No palato, o mesmo concentrado de frutas bem integradas, ótimo amadurecimento ainda mostrando groselha jovem e amoras pretas. Muita firmeza, taninos maduros, ótima estrutura. Um ótimo vinho do Medoc de um grande château, de ótima safra. Ainda não está maduro bastante para se bebido e ainda muito longe do chegar ao seu auge, daqui a 30 anos, talvez.
Aveludado. Cor profunda, de aparência macia, que quase sempre denota bom amadurecimento.
Firme. Reservado, contido e com potencial para desenvolver: uma descrição positiva, que não deve ser confundida com “duro”, geralmente negativa.
Frutos vermelhos. Designa geralmente morango, framboesa, amora – pequenos frutos vermelhos. Os vinhos jovens tintos tendem a ser dominados por uma ou mais dessas frutinhas, quando jovens.
Cedro/Caixa de Charuto. O cedro é característico de vinhos com a uva Cabernet Sauvignon quase maduros ou já maduros. O aroma de caixa de charuto é similar, também muito encontrado em vinhos com a Cabernet e a Merlot.
Frutas bem integradas. Sabores que se combinam muito bem e não ficam soltos, difusos.
Firmeza. Nesse caso é a espinha dorsal do vinho, um elemento essencial para a sua boa estruturação.
Taninos. Substância existente na casca, sementes e talos da uva, necessários para um longo desenvolvimento do vinho tinto. Os taninos podem também ser obtidos do carvalho dos barris onde os vinhos são amadurecidos.
Estrutura. Sentido de solidez que tem mais a ver com a relação entre cada elemento da bebida, do que com seu peso. É a interação de elementos como taninos, glicerina, álcool e corpo ao se relacionarem com a textura e como o vinho se comporta em nossa boca e língua. Geralmente vem acompanhada de um modificador, como “estrutura firme” ou “faltando estrutura”.

Nenhum comentário: