Consulte o Google sobre “vinho e saúde” e você vai encontrar 80 páginas em português e 81 em inglês. As pesquisas sobre os benefícios do vinho para a nossa saúde parecem inesgotáveis.
E seus resultados são quase que invariavelmente positivos. Indicam que as qualidades da bebida são tais e tantas que através dela só temos a ganhar vida melhor e eventualmente mais longa.
Mas, pela primeira vez, encontrei esta semana um estudo cujo resultado é negativo, pois fala em morte, em suicídio.
Vida. Primeiro, anotei uma pesquisa que confirmando que um importante componente do vinho, o polifenol, pode contribuir com a extensão de nossas vidas. E olha que é alongar por bastante tempo.Cientistas italianos baseados em Roma e em Pisa resolveram mudar um pouco a escrita e fizeram com que peixes bebessem como os humanos. Administraram o resveratrol ao um peixe tropical da família dos Cyprinodontiformes. Veja aqui.
E seus resultados são quase que invariavelmente positivos. Indicam que as qualidades da bebida são tais e tantas que através dela só temos a ganhar vida melhor e eventualmente mais longa.
Mas, pela primeira vez, encontrei esta semana um estudo cujo resultado é negativo, pois fala em morte, em suicídio.
Vida. Primeiro, anotei uma pesquisa que confirmando que um importante componente do vinho, o polifenol, pode contribuir com a extensão de nossas vidas. E olha que é alongar por bastante tempo.Cientistas italianos baseados em Roma e em Pisa resolveram mudar um pouco a escrita e fizeram com que peixes bebessem como os humanos. Administraram o resveratrol ao um peixe tropical da família dos Cyprinodontiformes. Veja aqui.
Um exemplo entre eles é o guaru ou barrigudinho, que vive em pequenas lagoas, riachos e brejos, no Distrito Federal.
Resveratrol é um polifenol, vocês já leram por aqui: uma substância química achada em muitas plantas, frutos e vegetais. Ele tem uma forte ação antioxidante, responde normalmente pela cor – dessas plantas, vegetais e frutos, em nosso caso, das uvas.
Pois deram resveratrol aos peixinhos e eles viveram mais tempo e, muito importante, mais ativamente que outros colegas seus que não beberam dessa poção. É a primeira vez que testaram o impacto do resveratrol na longevidade de vertebrados.
Esse componente do vinho (dos tintos quase que exclusivamente) já tinha demonstrado seu potencial em prolongar a vida de organismos básicos, como minhocas e as moscas-das-frutas, bem como do fermento. Não só prolonga a vida desses organismos, como aumenta a sua produtividade e fertilidade.
O resveratrol, abundante nas uvas, certas nozes e frutos e até mesmo em certas variedades de trigo, já comprovou ser um componente que pode ajudar a reduzir o crescimento do câncer de pele, eliminar células de câncer nas mamas, reduzir os níveis de colesterol e melhorar nossa saúde cardiovascular. No caso do câncer, já se sabe como se dá essa ação. Uma enzima (CYP1B1), achado em células de tumores, metaboliza o resveratrol e o converte em picetanol, um agente análogo do resveratrol, mas extremamente tóxico. Ele, por sua vez, destrói apenas as células cancerosas sem causar danos aos tecidos ou organismos ainda saudáveis.
Os cientistas criaram 157 desses peixinhos, a partir do nascimento até ficarem adultos – o que levou quatro semanas. Esses peixes vivem em média três anos. Separaram essa criação em grupos: um de 47 peixinhos, de controle, a quem administraram a sua dieta normal de larvas de mosquito. Os restantes 110 subdividiram-se em três grupos, que receberam uma versão de larvas tratadas com resveratrol. Um grupo recebeu uma dieta diária de 24 microgramas por larva do polifenol. Outro, de 120 microgramas e o terceiro de 600 microgramas. E aí mediram o processo de envelhecimento desses grupos, sua idade e percepção mental.
O grupo de controle, de 47 peixinhos, viveu até 12 semanas, a média para esses barrigudinhos, o mesmo da turma que consumiu a menor quantidade de resveratrol, 24 microgramas.
Os que consumiram 120 microgramas viveram mais 33% do que o grupo de controle. E os que consumiram mais, 600 microgramas, tiveram até 59% de tempo maior de vida. E não apenas isso: demonstraram maior atividade locomotora e melhor desempenho de conhecimento. Inclusive, estavam produzindo ovas ainda com 12 semanas de vida, “outra indicação de sua melhor saúde em geral”, segundo os italianos que conduziram a pesquisa.
Você então pode concluir que consumindo 600 microgramas de resveratrol diariamente vai estender seu tempo de vida por pelo menos 50%? Olha só: esses peixinhos têm no máximo cinco cm de comprimento. O equivalente àqueles 600 microgramas num humano seriam 22,5 litros de vinho diários. Seu fígado iria torrar. Você viveria menos que os barrigudinhos. Direto pro fundo.
O caso aqui é que o estudo confirmou, mais uma vez, que o resveratrol representa uma ferramenta clínica com potencial para prolongar a saúde das pessoas. Vamos continuar com nosso consumo de modo moderado. Assim, já nos ajudamos bastante.
Morte. O outro lado da moeda fica com os japoneses. Um estudo realizado por eles, e publicado recentemente, descobriu que quem bebe pouco ou moderadamente arrisca chances mínimas de cometer suicídios. ao contrário de abstêmios e de bebedores pesados (ou bebedores-problema) – grandes alvos desse problema.
O Centro Nacional do Câncer, em Tóquio, em conjunto com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de Nagoya, pesquisou 43.383 homens saudáveis, entre 40 e 69 anos durante oitos anos – período em que os cientistas do Centro registraram 168 suicídios.
Esse trabalho é um dos poucos a investigar as associações de um grande grupo de pessoas com consumo de álcool e suicídio.
Comparando as estatísticas relativas os hábitos de beber desse grupo, a equipe japonesa concluiu que os abstêmios e os bebedores pesados (mais de 21 drinques por semana) tinham 2,5 vezes mais probabilidade de tirar suas vidas do que os que bebiam moderadamente (de um a 14 drinques por semana).
O estudo não comenta sobre porque o hábito de beber pode nos motivar ao suicídio. Porém, vale observar que o Japão apresenta talvez a mais alta taxa de suicídios do mundo (24,1 por 100.000 habitantes). A maioria dos casos recai sobre homens de meia-idade consumindo álcool em excesso. Nenhuma novidade até aqui.
O caso é que esse estudo surpreende por revelar que os abstêmios são um grupo de grande risco. Estão no mesmo plano dos bebedores pesados.
Em países como Espanha, Itália e Grécia (onde o consumo de vinho está entranhado em suas tradições e bases culturais) apresentam taxas abaixo de sete pessoas por 100 mil habitantes. Nos países que se tornaram independentes depois da queda da União Soviética (Estônia, Latvia, Lituânia, Eslovênia, além da própria Rússia, Hungria e Ucrânia), as taxas vão de 43 a 22 pessoas.
A França ocupa o quarto lugar entre os países desenvolvidos, com 19 pessoas. Lá os suicídios matam mais do que os acidentes de trânsito.
O Brasil tem uma taxa baixíssima: 4,9 pessoas por 100 mil habitantes, uma das menores no mundo. Nosso maior índice está na cidade de Venâncio Alves, com mais de 40 casos para cada 100 mil habitantes. Uma das causas seria o agrotóxico Tamaron, muito utilizado no cultivo de fumo. Seria o caso de suicídio por falta de vigilância sanitária.
Os suicídios estão tradicionalmente divididos entre aqueles de origem médica (desequilíbrios mentais), psicossocial (divórcios, conflitos amorosos etc.), cultural (de ordem religiosa, fanatismos de várias origens) e sócio-econômico (desemprego).
No caso japonês, lembramos que no século 15 era considerada uma grande ofensa se um senhor oferecesse saquê inadequadamente aquecido. Caso um serviçal fizesse isso era quase certo que cometesse o suicídio ritual, o haraquiri. 500 anos mais tarde essas regras de etiqueta ficaram menos exigentes. Hoje, nos restaurantes japoneses, de Tóquio até o Rio, perguntam se queremos morno ou gelado. Você escolhe e ninguém morre por causa disso.
Acho que é o estudo japonês, com todo o respeito, deve ficar em banho-maria. O ser humano bebe desde Noé e conseguiu chegar até aqui com milhares de melhoramentos no planeta.Pois é isso, amigas, as pesquisas existem para todos os gostos. Prefiro aquelas que falam em pegarmos uma taça de vez em quando e bebermos à saúde de todos e tocarmos a vida em paz.
Resveratrol é um polifenol, vocês já leram por aqui: uma substância química achada em muitas plantas, frutos e vegetais. Ele tem uma forte ação antioxidante, responde normalmente pela cor – dessas plantas, vegetais e frutos, em nosso caso, das uvas.
Pois deram resveratrol aos peixinhos e eles viveram mais tempo e, muito importante, mais ativamente que outros colegas seus que não beberam dessa poção. É a primeira vez que testaram o impacto do resveratrol na longevidade de vertebrados.
Esse componente do vinho (dos tintos quase que exclusivamente) já tinha demonstrado seu potencial em prolongar a vida de organismos básicos, como minhocas e as moscas-das-frutas, bem como do fermento. Não só prolonga a vida desses organismos, como aumenta a sua produtividade e fertilidade.
O resveratrol, abundante nas uvas, certas nozes e frutos e até mesmo em certas variedades de trigo, já comprovou ser um componente que pode ajudar a reduzir o crescimento do câncer de pele, eliminar células de câncer nas mamas, reduzir os níveis de colesterol e melhorar nossa saúde cardiovascular. No caso do câncer, já se sabe como se dá essa ação. Uma enzima (CYP1B1), achado em células de tumores, metaboliza o resveratrol e o converte em picetanol, um agente análogo do resveratrol, mas extremamente tóxico. Ele, por sua vez, destrói apenas as células cancerosas sem causar danos aos tecidos ou organismos ainda saudáveis.
Os cientistas criaram 157 desses peixinhos, a partir do nascimento até ficarem adultos – o que levou quatro semanas. Esses peixes vivem em média três anos. Separaram essa criação em grupos: um de 47 peixinhos, de controle, a quem administraram a sua dieta normal de larvas de mosquito. Os restantes 110 subdividiram-se em três grupos, que receberam uma versão de larvas tratadas com resveratrol. Um grupo recebeu uma dieta diária de 24 microgramas por larva do polifenol. Outro, de 120 microgramas e o terceiro de 600 microgramas. E aí mediram o processo de envelhecimento desses grupos, sua idade e percepção mental.
O grupo de controle, de 47 peixinhos, viveu até 12 semanas, a média para esses barrigudinhos, o mesmo da turma que consumiu a menor quantidade de resveratrol, 24 microgramas.
Os que consumiram 120 microgramas viveram mais 33% do que o grupo de controle. E os que consumiram mais, 600 microgramas, tiveram até 59% de tempo maior de vida. E não apenas isso: demonstraram maior atividade locomotora e melhor desempenho de conhecimento. Inclusive, estavam produzindo ovas ainda com 12 semanas de vida, “outra indicação de sua melhor saúde em geral”, segundo os italianos que conduziram a pesquisa.
Você então pode concluir que consumindo 600 microgramas de resveratrol diariamente vai estender seu tempo de vida por pelo menos 50%? Olha só: esses peixinhos têm no máximo cinco cm de comprimento. O equivalente àqueles 600 microgramas num humano seriam 22,5 litros de vinho diários. Seu fígado iria torrar. Você viveria menos que os barrigudinhos. Direto pro fundo.
O caso aqui é que o estudo confirmou, mais uma vez, que o resveratrol representa uma ferramenta clínica com potencial para prolongar a saúde das pessoas. Vamos continuar com nosso consumo de modo moderado. Assim, já nos ajudamos bastante.
Morte. O outro lado da moeda fica com os japoneses. Um estudo realizado por eles, e publicado recentemente, descobriu que quem bebe pouco ou moderadamente arrisca chances mínimas de cometer suicídios. ao contrário de abstêmios e de bebedores pesados (ou bebedores-problema) – grandes alvos desse problema.
O Centro Nacional do Câncer, em Tóquio, em conjunto com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de Nagoya, pesquisou 43.383 homens saudáveis, entre 40 e 69 anos durante oitos anos – período em que os cientistas do Centro registraram 168 suicídios.
Esse trabalho é um dos poucos a investigar as associações de um grande grupo de pessoas com consumo de álcool e suicídio.
Comparando as estatísticas relativas os hábitos de beber desse grupo, a equipe japonesa concluiu que os abstêmios e os bebedores pesados (mais de 21 drinques por semana) tinham 2,5 vezes mais probabilidade de tirar suas vidas do que os que bebiam moderadamente (de um a 14 drinques por semana).
O estudo não comenta sobre porque o hábito de beber pode nos motivar ao suicídio. Porém, vale observar que o Japão apresenta talvez a mais alta taxa de suicídios do mundo (24,1 por 100.000 habitantes). A maioria dos casos recai sobre homens de meia-idade consumindo álcool em excesso. Nenhuma novidade até aqui.
O caso é que esse estudo surpreende por revelar que os abstêmios são um grupo de grande risco. Estão no mesmo plano dos bebedores pesados.
Em países como Espanha, Itália e Grécia (onde o consumo de vinho está entranhado em suas tradições e bases culturais) apresentam taxas abaixo de sete pessoas por 100 mil habitantes. Nos países que se tornaram independentes depois da queda da União Soviética (Estônia, Latvia, Lituânia, Eslovênia, além da própria Rússia, Hungria e Ucrânia), as taxas vão de 43 a 22 pessoas.
A França ocupa o quarto lugar entre os países desenvolvidos, com 19 pessoas. Lá os suicídios matam mais do que os acidentes de trânsito.
O Brasil tem uma taxa baixíssima: 4,9 pessoas por 100 mil habitantes, uma das menores no mundo. Nosso maior índice está na cidade de Venâncio Alves, com mais de 40 casos para cada 100 mil habitantes. Uma das causas seria o agrotóxico Tamaron, muito utilizado no cultivo de fumo. Seria o caso de suicídio por falta de vigilância sanitária.
Os suicídios estão tradicionalmente divididos entre aqueles de origem médica (desequilíbrios mentais), psicossocial (divórcios, conflitos amorosos etc.), cultural (de ordem religiosa, fanatismos de várias origens) e sócio-econômico (desemprego).
No caso japonês, lembramos que no século 15 era considerada uma grande ofensa se um senhor oferecesse saquê inadequadamente aquecido. Caso um serviçal fizesse isso era quase certo que cometesse o suicídio ritual, o haraquiri. 500 anos mais tarde essas regras de etiqueta ficaram menos exigentes. Hoje, nos restaurantes japoneses, de Tóquio até o Rio, perguntam se queremos morno ou gelado. Você escolhe e ninguém morre por causa disso.
Acho que é o estudo japonês, com todo o respeito, deve ficar em banho-maria. O ser humano bebe desde Noé e conseguiu chegar até aqui com milhares de melhoramentos no planeta.Pois é isso, amigas, as pesquisas existem para todos os gostos. Prefiro aquelas que falam em pegarmos uma taça de vez em quando e bebermos à saúde de todos e tocarmos a vida em paz.
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