O que é Vin Clair? O que é Vin Jaune? Os leitores vez por outra esbarram nesses termos ao lerem as resenhas sobre vinhos. E sentem que os críticos lhe deram o cano passando por eles como se nada tivesse acontecido.
Vin Clair, literalmente “vinho claro”, puro, é como chamam na região de Champagne, França, o “vinho parado”, o vinho pronto, mas que ainda não é espumante, pois não contém dióxido de carbono. É o vinho-base, que já passou pelas fermentações alcoólica e malolática e se prepara para misturar-se a outros vinhos antes de entrar na segunda fermentação, dentro da garrafa, quando ficará espumante. É feito, portanto, com uma, duas ou as três das uvas permitidas na região: Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay (as duas primeiras tintas). Resulta da primeira fermentação, quando chegam a 9-10% de álcool. Com a adição de açúcar (chaptalização) vão até 11%. Só mais tarde, quando da segunda fermentação, já na garrafa (com mais 18 gramas de açúcar por litro o nível alcoólico subirá para os seus 12%.
Dependendo da região de origem, costumam ter alta acidez, mas ótimo sabor e boa estrutura.
Vale relembrar o método de produção de espumantes em Champagne, chamado por isso de champenoise ou tradicional. Em primeiro lugar, as casas produtores selecionam os vinhos parados feitos com aquelas uvas. A maioria dos vinhos aqui é branca e pode ser feita a partir de uma combinação das três uvas. Uma vez produzidos, o mestre da cantina decidirá como esses vinhos deverão ser misturados, antes que as bolhas sejam criadas pelo tal do método champenoise.
Cada casa produtora tem o seu estilo e a tarefa de misturar esses vinhos é bastante difícil, pois a tentativa do técnico é manter o registro original dos aromas e sabores daquele espumante. Afinal, trata-se da marca, da personalidade da casa.
Com a combinação certa de vinhos parados na garrafa, o produtor parte para a segunda fase: acrescentar uma solução de açúcar refinado (de 18 a 24 g/l) e um pouco de fermento (ou mosto fresco) na garrafa, dose conhecida como Licor de Tiragem ou Liqueur de Tirage. A garrafa, então, é selada com uma tampa muito parecida com a de cerveja (tipo corona).
Uma nova fermentação acontecerá na garrafa: o levedo consumirá o açúcar, aumentando o volume de álcool e, mais importante, produzindo o dióxido de carbono, as preciosas bolhas. A pressão na garrafa é agora o equivalente a três ou quatro vezes à de um automóvel.
E o vinho que era parado agora é um espumante. Ficará na garrafa por um bom tempo, às vezes por anos. Cessada essa segunda fermentação, os levedos vão se consumir, num processo de autofagia. Os resíduos sólidos de células mortas de fermento vão enriquecer ainda mais o vinho.
Depois de selada, a garrafa passa por um processo chamado de remuage (ação de revolver): diariamente, ela será ligeiramente girada e, de uma posição originalmente inclinada, vai sendo colocada um pouco mais na vertical. Até que, completamente de cabeça para baixo, os sedimentos citados acima acabam descendo por gravidade, só parando no gargalo.
Esse gargalo, então, é mergulhado numa vasilha com uma solução congelada. O sedimento contendo o fermento morto e demais resíduos ficará também em estado sólido. A tampa é retirada e os restos (e apenas eles) são expulsos fácil e rapidamente. É o dégorgement.
Por fim, antes de voltar a tampar a garrafa, colocam o Licor de Expedição: uma dose de vinho ou conhaque mais açúcar. A garrafa é finalmente selada com uma rolha de cortiça, além da cápsula e a tela metálica.
Um champagne rosé é normalmente o corte de um vinho tinto parado (feito com a Pinot Noir) e outro também “clair”, mas branco, feito com a Chardonnay. Outras casas fazem blends de Chardonnay com Pinot Meunier.
Não vamos esquecer que Champagne também produz seus vinhos parados. O Bouzy Rouge (dos vinhedos de Bouzy) é provavelmente o mais famoso (foi servido na coroação de Luis XIV, em Reims). Além dele, outros vinhos parados são produzidos, mas apenas na Apelação Couteaux Champenoise. A Appellation Contrôlée Champagne é reservada exclusivamente para os espumantes.
Agora, não faça confusão: a expressão “Vin Clair” é utilizada exclusivamente para os vinhos parados que se destinam à produção de espumantes.
Vin Jaune: o leitor leu uma pequena nota elogiando o Château Chalon, seguida de referências sobre o “Vin Jaune”. Vinho amarelo?
Château Chalon é o nome de uma vila na região do Jura, no leste francês (Chalon-sur-Saône), entre a Borgonha e a Suíça, famosa por produzir o vinho chamado “Vin Jaune”. Ou “Vinho Amarelo”, feito com uma uva local, a branca Savagnin (também chamada de Naturé), da família Traminer (cuja mais destacada representante é a Gewürztraminer). Muitos estranham esse vinho, principalmente se não estão acostumados com o sabor mineral dos vinhos oxidados. Pois o “Vin Jaune” é feito como o Xerez, o famoso vinho fortificado feito em torno da cidade de Jerez, Espanha.
Depois que as uvas são prensadas e o seu suco fermentado, o vinho é colocado num barril de carvalho aberto, exposto ao oxigênio. Mas ele estará protegido por uma fina película de levedo que se forma sobre a superfície da bebida (chamada de voile), tal como a “flor” em Jerez. Essa película permite uma suave oxidação do vinho, que ficará no barril por seis anos e três meses.
As garrafas do Château Chalon têm apenas 620 ml (contra os 750 ml dos frascos normais). Sua garrafa é uma “clavelin”, como se fosse uma garrafa de Bordeaux mais gorda e que não cresceu. É a única garrafa autorizada para os “vinhos amarelos” Durante os seis anos e tanto que fica no barril há um bocado de evaporação. E reza a lenda que a robusta, porém pequena garrafa do Vin Jaune reflete essa vaporização.
Os Vins Jaunes podem viver por décadas. Mesmo abertos, continuarão em forma por muitos meses (afinal, já estão oxidados). No Jura, é comum harmonizá-lo com o queijo local, o Comté.
Parece que alguns críticos falam de “Vins Clairs”, “Jaunes” e outras facetas do mundo dos vinhos como se todos soubessem delas desde criancinha. Acabam frustrando os seus leitores.
Da Adega
Vem aí a Expovinis Brasil 2009. É o maior evento do vinho da América Latina. Será realizado, em sua 13ª. Edição, no Transamerica Expo Center, São Paulo, de 5 a 7 de maio próximo. Só a delegação francesa trará 28 empresas de regiões como Bordeaux, Borgonha e Champagne. Além dos franceses, teremos vinícolas da Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Itália, Portugal, África do Sul. Do Chile, teremos uma das maiores e mais importantes vinícolas do mundo, a Concha y Toro, que pela primeira vez prestigiará o evento. É evidente que as vinícolas brasileiras estarão fortemente representadas.
No total, serão 250 empresas, nacionais e estrangeiras, espalhadas por 28 mil m2 de área para exposição. Só para estacionamento serão 2.000 vagas.
Saiba como inscrever-se e saber mais sobre as dezenas de atividades paralelas aqui.
Vin Clair, literalmente “vinho claro”, puro, é como chamam na região de Champagne, França, o “vinho parado”, o vinho pronto, mas que ainda não é espumante, pois não contém dióxido de carbono. É o vinho-base, que já passou pelas fermentações alcoólica e malolática e se prepara para misturar-se a outros vinhos antes de entrar na segunda fermentação, dentro da garrafa, quando ficará espumante. É feito, portanto, com uma, duas ou as três das uvas permitidas na região: Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay (as duas primeiras tintas). Resulta da primeira fermentação, quando chegam a 9-10% de álcool. Com a adição de açúcar (chaptalização) vão até 11%. Só mais tarde, quando da segunda fermentação, já na garrafa (com mais 18 gramas de açúcar por litro o nível alcoólico subirá para os seus 12%.
Dependendo da região de origem, costumam ter alta acidez, mas ótimo sabor e boa estrutura.
Vale relembrar o método de produção de espumantes em Champagne, chamado por isso de champenoise ou tradicional. Em primeiro lugar, as casas produtores selecionam os vinhos parados feitos com aquelas uvas. A maioria dos vinhos aqui é branca e pode ser feita a partir de uma combinação das três uvas. Uma vez produzidos, o mestre da cantina decidirá como esses vinhos deverão ser misturados, antes que as bolhas sejam criadas pelo tal do método champenoise.
Cada casa produtora tem o seu estilo e a tarefa de misturar esses vinhos é bastante difícil, pois a tentativa do técnico é manter o registro original dos aromas e sabores daquele espumante. Afinal, trata-se da marca, da personalidade da casa.
Com a combinação certa de vinhos parados na garrafa, o produtor parte para a segunda fase: acrescentar uma solução de açúcar refinado (de 18 a 24 g/l) e um pouco de fermento (ou mosto fresco) na garrafa, dose conhecida como Licor de Tiragem ou Liqueur de Tirage. A garrafa, então, é selada com uma tampa muito parecida com a de cerveja (tipo corona).
Uma nova fermentação acontecerá na garrafa: o levedo consumirá o açúcar, aumentando o volume de álcool e, mais importante, produzindo o dióxido de carbono, as preciosas bolhas. A pressão na garrafa é agora o equivalente a três ou quatro vezes à de um automóvel.
E o vinho que era parado agora é um espumante. Ficará na garrafa por um bom tempo, às vezes por anos. Cessada essa segunda fermentação, os levedos vão se consumir, num processo de autofagia. Os resíduos sólidos de células mortas de fermento vão enriquecer ainda mais o vinho.
Depois de selada, a garrafa passa por um processo chamado de remuage (ação de revolver): diariamente, ela será ligeiramente girada e, de uma posição originalmente inclinada, vai sendo colocada um pouco mais na vertical. Até que, completamente de cabeça para baixo, os sedimentos citados acima acabam descendo por gravidade, só parando no gargalo.
Esse gargalo, então, é mergulhado numa vasilha com uma solução congelada. O sedimento contendo o fermento morto e demais resíduos ficará também em estado sólido. A tampa é retirada e os restos (e apenas eles) são expulsos fácil e rapidamente. É o dégorgement.
Por fim, antes de voltar a tampar a garrafa, colocam o Licor de Expedição: uma dose de vinho ou conhaque mais açúcar. A garrafa é finalmente selada com uma rolha de cortiça, além da cápsula e a tela metálica.
Um champagne rosé é normalmente o corte de um vinho tinto parado (feito com a Pinot Noir) e outro também “clair”, mas branco, feito com a Chardonnay. Outras casas fazem blends de Chardonnay com Pinot Meunier.
Não vamos esquecer que Champagne também produz seus vinhos parados. O Bouzy Rouge (dos vinhedos de Bouzy) é provavelmente o mais famoso (foi servido na coroação de Luis XIV, em Reims). Além dele, outros vinhos parados são produzidos, mas apenas na Apelação Couteaux Champenoise. A Appellation Contrôlée Champagne é reservada exclusivamente para os espumantes.
Agora, não faça confusão: a expressão “Vin Clair” é utilizada exclusivamente para os vinhos parados que se destinam à produção de espumantes.
Vin Jaune: o leitor leu uma pequena nota elogiando o Château Chalon, seguida de referências sobre o “Vin Jaune”. Vinho amarelo?
Château Chalon é o nome de uma vila na região do Jura, no leste francês (Chalon-sur-Saône), entre a Borgonha e a Suíça, famosa por produzir o vinho chamado “Vin Jaune”. Ou “Vinho Amarelo”, feito com uma uva local, a branca Savagnin (também chamada de Naturé), da família Traminer (cuja mais destacada representante é a Gewürztraminer). Muitos estranham esse vinho, principalmente se não estão acostumados com o sabor mineral dos vinhos oxidados. Pois o “Vin Jaune” é feito como o Xerez, o famoso vinho fortificado feito em torno da cidade de Jerez, Espanha.
Depois que as uvas são prensadas e o seu suco fermentado, o vinho é colocado num barril de carvalho aberto, exposto ao oxigênio. Mas ele estará protegido por uma fina película de levedo que se forma sobre a superfície da bebida (chamada de voile), tal como a “flor” em Jerez. Essa película permite uma suave oxidação do vinho, que ficará no barril por seis anos e três meses.
As garrafas do Château Chalon têm apenas 620 ml (contra os 750 ml dos frascos normais). Sua garrafa é uma “clavelin”, como se fosse uma garrafa de Bordeaux mais gorda e que não cresceu. É a única garrafa autorizada para os “vinhos amarelos” Durante os seis anos e tanto que fica no barril há um bocado de evaporação. E reza a lenda que a robusta, porém pequena garrafa do Vin Jaune reflete essa vaporização.
Os Vins Jaunes podem viver por décadas. Mesmo abertos, continuarão em forma por muitos meses (afinal, já estão oxidados). No Jura, é comum harmonizá-lo com o queijo local, o Comté.
Parece que alguns críticos falam de “Vins Clairs”, “Jaunes” e outras facetas do mundo dos vinhos como se todos soubessem delas desde criancinha. Acabam frustrando os seus leitores.
Da Adega
Vem aí a Expovinis Brasil 2009. É o maior evento do vinho da América Latina. Será realizado, em sua 13ª. Edição, no Transamerica Expo Center, São Paulo, de 5 a 7 de maio próximo. Só a delegação francesa trará 28 empresas de regiões como Bordeaux, Borgonha e Champagne. Além dos franceses, teremos vinícolas da Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Itália, Portugal, África do Sul. Do Chile, teremos uma das maiores e mais importantes vinícolas do mundo, a Concha y Toro, que pela primeira vez prestigiará o evento. É evidente que as vinícolas brasileiras estarão fortemente representadas.
No total, serão 250 empresas, nacionais e estrangeiras, espalhadas por 28 mil m2 de área para exposição. Só para estacionamento serão 2.000 vagas.
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