13.11.09

Vinho ou cigarro

Se a leitora é fumante, é quase certo que o seu sentido de olfato não seja tão bom quanto deveria ser. Os fumantes têm pelo menos duas vezes mais dificuldade em identificar odores do que os não-fumantes. E isso vale para jovens e idosos.
Um problemaço, pois como você já sabe a maior parte do sabor que percebemos tem origem nos odores. Na boca, sentimos apenas o salgado, o doce, o amargo, o ácido e o “umami” (um certo sabor de carne). Mas as centenas de papilas olfativas em nosso sistema respiratório são capazes de colorir completamente o que comemos e bebemos. O “gostoso” vem de lá.
Percebe, leitora, que gostar de vinho e fumar não combinam? Imagine, parte fundamental de saborear um vinho é sentir seus aromas. Você gira a taça, ajudando o vinho a liberar os seus vapores, o que intensifica os seus aromas. Você aproxima o nariz da taça de modo a fazer com que esses aromas fiquem o mais próximo possível da mucosa olfativa e daí ao bulbo olfativo, onde as sensações são registradas e decifradas. Isso é baunilha, aquilo é chocolate. E tem mais frutinhas vermelhas, e mais isso e mais aquilo; um mundo de aromas, quando o vinho é bom.
Sem isso, o vinho se tornar uma bebida alcoólica como outra qualquer.
O caso é que muitos produtores, degustadores, críticos de vinho e consumidores fumam e vivem com esses esse peso na consciência: será que estão produzindo o vinho certo, será que estão passando para seus leitores a devida impressão olfativa do vinho que estão comentando, será que estão percebendo corretamente os aromas?
Por isso, recolhi algumas das impressões do crítico de vinho e blogueiro Tom Wark. Ele vive em Sonoma, na Califórnia, cercado de vinhedos e vinícolas dos mais importantes do país. Trabalha como consultor de comunicação para empresas atuando no mercado de vinhos, além de assinar um dos blogs de vinho mais importantes do setor, nos EUA, o Fermentation.
Durante 28 anos Tom fumou cigarros, charutos e cachimbos. Até que no último dia 26 de outubro decidiu parar de vez. Ele já tinha tentado antes e com sucesso. Com sucesso parou umas quatro vezes. Mas parece que dessa vez foi pra valer. E ele nos contou um pouco dessa terrível (mas necessária) experiência que é largar o vício de fumar. Como é isso?
“Imagine o que é respirar 2/3 menos. Imagine que nossos pulmões só estão recebendo 1/3 do oxigênio necessário. Depois de um tempo, você vai suplicar por oxigênio. Seu tórax ficará apertado, a pele formigará. Dá para sobreviver, mas provavelmente vamos passar horas pensando no fôlego que você não tem mais, pensando no oxigênio que você não mais precisa jogar nos pulmões. Talvez em dois dias ou em duas semanas, você desista e consiga inalar aquele oxigênio estimulante, que parece tão bom. Até que a dor causada pela privação volte a apertar novamente seu peito, o bastante para deixá-lo ansioso, desconcentrá-lo o bastante para que proclame: ‘dane-se’ e novamente dar uma tragada”.
Deve acontecer o mesmo com um alcoólico tentando parar de beber. Para parar de fumar, Tom equipou-se com cigarros de chocolate, balas de diversos tipos, sementes de girassol, adesivos de nicotina, chicletes, frutas e um antidepressivo. Tom lembra que estava tratando não apenas do vício da nicotina, mas de uma fixação oral de mais de 25 anos.
No segundo dia sem fumaça, Tom observou que sentia aumentar o aperto no peito. Estava um pouco aéreo, seus poderes de concentração o abandonaram. Procurava concentrar-se em atividades de qualquer espécie de modo a esquecer a ansiedade pelo cigarro. Em sua casa, baniu tudo o que pudesse lembrar qualquer aspecto do fumo. Ele sabia que ia ter que lidar com ganho de peso, prisão de ventre, síndrome de abstinência, irritabilidade, insônia.
No terceiro dia, ele ainda se imaginava com um cigarro entre os lábios, a fumaça viajando pelos pulmões. Balas e pirulitos pela manhã ajudavam a combater esse desejo. Respirar regular e profundamente ajudavam também, assim como grandes quantidades de água. A concentração melhorou, mas continuava precisando distrair-se.
No quarto dia, a ansiedade tinha diminuído, mas logo depois do almoço ficou louco por um cigarro. Nota que o recurso aos doces, balas etc. está aumentando.
Tom fez as contas: gastava por ano US$ 2, 200,00 em cigarros, o que poderia representar para ele cinco caixas do Chardonnay Stony Hill 2006 ou duas garrafas de Château Petrus 95, ida e vota a Paris, sete dias num hotel em Bordeaux, entre outras possibilidades ligadas ao vinho.
No sexto dia, Tom ainda se considerava um fumante, embora a ansiedade tenha praticamente desaparecido e o sono mais ou menos normalizado. Mas já tinha ganhado peso.
Enfim, depois de duas semanas de ter parado, sua maior preocupação era desistir e voltar a fumar. Mas resistiu. E, importante, seu olfato retornou, o melhor registrado nos últimos 20 anos. Contudo, o seu sentido de sabor estava abaixo do de olfato. “Talvez, minhas papilas gustativas ainda não tenham se recuperado”, pensou. É que, entre outras coisas, o calor é um grande inimigo delas. E o cigarro só faz queimá-las.
Hoje, o blogueiro se declara um ex-fumante e acha que adesivos e pílulas que hoje existem efetivamente ajudam ao viciado. Claro que a motivação é fundamental, mas afirma que a indústria farmacêutica não está negando fogo.
Amiga, existem até pesquisas afirmando que vinho tinto pode combater os efeitos do cigarro sobre nossas artérias (estudo da Grécia apresentado na Sociedade Européia de Cardiologia, em Viena). Bastariam duas taças de tinto para anular os efeitos em nossos vasos. Ora, essa!
O melhor mesmo é não fumar. Afinal, não se bebe vinho como remédio. E contra o cigarro, a receita é abandoná-lo, tal como o blogueiro fez, seja com pílulas, balas, adesivos ou apenas a fundamental motivação.
Da Adega.
As blogueiras e os vinhos. A
Wine realizou um evento com blogueiras e aproveitou para pesquisar como elas consomem vinho. São mulheres que operam com a mídia digital, formadoras de opinião no universo feminino. Algumas das conclusões:
Apreciam vinho, sobretudo em encontros românticos ou para comemorar ocasiões especiais. A maioria acredita que vinho realmente faz bem à saúde. Na hora da compra, a procedência (o país, a região de produção) é o item mais considerado: 50% dão importância mediana a este item, enquanto 38,8% o acham “muito importante”. Origens mais citadas: Chile e França, embora Argentina, Itália e Portugal também fossem lembrados. Preferem vinhos entre 15 e 40 reais, mas há as que pagam até 80 reais por uma garrafa.
Gostam de vinhos varietais: 83% valorizam o tipo de uva ao adquirir um vinho. E as mais citadas foram a Carmenère, Syrah, Merlot e Cabernet Sauvignon, todas tintas (e o tinto tem a preferência de 38% das blogueiras). A Malbec, a uva símbolo da Argentina, foi cidadã apenas uma vez.
Os espumantes tiveram 30% de citações (como bebida mais gostosa), seguidos dos brancos (15%). O vinho do Porto ficou com 9% e o rosado com 3%.
Damas do Vinho. A importadora e boutique de vinhos
Vinea reuniu três dentre as mais notáveis produtoras de vinhos dos últimos anos e criou o projeto Damas do Vinho. Daí que a chilena Maria Luz Marin, da Casa Marin, a italiana Piera Martellozzo, da vinícola de mesmo nome, e a portuguesa Luisa Amorim, da Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, criaram vinhos exclusivos.
O lançamento do Damas do Vinho será realizado com a presença dessas importantes produtoras no restaurante Dalva e Dito (do chef Alex Atala), no próximo dia 18.
Cada uma das damas traz o melhor de suas safras. A chilena oferece um Sauvignon Blanc. A italiana um espumante rosé. E a portuguesa um tinto do Douro.
Serão apenas 1.500 kits numerados e com rótulos especiais. Parte da receita desses kits reverterá para a ONG Banco de Alimentos: cada kit ajudará a alimentar uma pessoa carente por um ano.

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