27.5.09

Glossário em progresso

Assyrtiko. A mais conhecida e das melhores uvas brancas da Grécia. É também das mais antigas: tem origem na ilha de Santorini, onde é a mais cultivada. Produz vinhos secos com aromas cítricos e florais, com um retrogosto mineral, de terra, em razão do solo vulcânico da ilha. Entre 1620-1640 A.C. uma erupção vulcânica destruiu completamente a civilização existente na ilha. Tudo o que restou foi lava, um solo coberto por cinzas e pedras-pomes, o que resultou na criação de um solo compacto e poroso, chamado “aspa”. Arqueólogos descobriram em Santorini a vila de Acrotiri, a mais antiga e melhor preservada da Idade do Bronze, na Europa, com vestígios da cultura Minoana.
Além de potes e ornamentos encontraram também sementes de uvas carbonizadas e inúmeras ânforas para armazenar vinho, evidência do cultivo da vinha e da produção da bebida. É irônico, mas foi a “aspa”, aquele solo criado pelas lavas que preservaram esse registro da civilização grega. O atual vinhedo de Santorini continua o mesmo plantado após a erupção do vulcão. É, assim, um dos mais antigos do mundo, uma jóia especialíssima da herança viticultural européia.
Além da Assyrtiko, em Santorini também são plantados a Athiri, a Aidani e a Mandelaria, entre outras, todas de vinhas originais. Veja um pouco dos vinhedos e vinhos de Santorini, aqui.
Vinsanto. É o nome dado a um tradicional e histórico vinho doce feito com uvas secas ao sol, originárias de Santorini. Daí Vinsanto: Vinsanto(rini). É feito com as brancas Assyrtiko, Athiri e Aidani.
Vin Santo. Por favor, não confunda o Vinsanto acima com esse: Vin Santo (Vinho Santo) é também um vinho de sobremesa, mas italiano. Um vinho da Toscana feito com as uvas Trebbiano e Malvasia.
Dizem que em 1348, em Siena, na Toscana, Itália, um frade franciscano tratava as vítimas de uma praga com o vinho normalmente usado para celebrar missas. Logo acharam que o vinho tinha propriedades milagrosas.
Uma segunda versão vem de Florença, capital da Toscana, e data de 1539: num concílio realizado na cidade, o patriarca grego Basilius Bessarion, ao provar um vinho comentou: “Esse é um vinho de Xantos”, provavelmente aludindo aos vinhos gregos doces feitos com uvas passas (secas ao sol) na ilha de Santorini. Quem estava ao lado, ouviu mal e “Xantos” (que em grego significa amarelo, geralmente a cor desse estilo de vinho) imediatamente virou “Santo”.
De qualquer modo, Vin Santo é o histórico vinho doce da Toscana. E apesar das lendas envoltas em milagres, nunca foi um “vinho de missa”. Mas o pecado é não acharmos as suas versões verdadeiras e não nos confundirmos com as ofertas comerciais que lotam as prateleiras das lojas.
Essa versão autêntica é muito trabalhosa e demorada de fazer. Ela se apresenta numa variedade de estilos, das versões meio-doces àquelas densas, quase um xarope. O que todas têm em comum é tom de noz, de frutos secos e notas minerais. Os preços altos são também comuns: uma garrafa de 375 ml pode custar, em Florença, os seus 40 euros.
Por séculos, os vinicultores separam uma porção das melhores variedades brancas locais, normalmente a Trebbiano ou a Malvasia para produzir o seu Vin Santo. Depois de deixar as uvas secando por algum tempo, as levam para pequenos barris (chamados de caratelli), os selam (normalmente com cimento – sim, cimento) e os deixam no sótão de suas casas, à mercê do tempo, do calor e do frio, por até 10 anos. Muitos produtores já racionalizaram alguns dos elementos desse antigo método. Mas o básico é o mesmo, com as forças da natureza tomando o papel principal.
Olho de Perdiz. Se, por um acaso, encontramos no rótulo de um Vin Santo a inscrição “Occhio di Pernice” (“Olha de Perdiz”) não estranhe. É o que o vinho foi feito com uma uva tinta, normalmente a Sangiovese.
Magdaleine Noir de Charentes. Há 12 anos os cientistas descobriram quem eram os pais da Cabernet Sauvignon: nada mais, nada menos do que a Cabernet Franc e a Sauvignon Blanc, numa cruza espontânea, ocorrida nos vinhedos, pois em tempos passados era comum variedades diferentes conviverem no mesmo vinhedo.
E a Merlot, foi gerada por quem? Ele é a variedade mais cultivada no mundo, símbolo da margem direita de Bordeaux, do Pomerol e de Saint Emilion. Pois identificaram sua mãe numa variedade desconhecida, muito pouco cultivada em áreas do sudoeste da França. Ela era chamada de Raisin de la Madeleine. Mas considerando que lotes delas frutificavam também em áreas de Charentes, os cientistas a batizaram de Magdeleine Noire dês Charentes. Seu marido (e pai da Merlot) é a Cabernet Franc.
Como qualquer deusa grega que se preze, nossa Magdeleine deu outros frutos, de outros pais. Ela também é a mãe da Malbec, numa feliz relação com a Prunelard Noir, e da Mourtés, numa rápida escapadela com a Penouille.
Da Adega
Degustação de Vinhos da Espanha
. Vamos ter agora em São Paulo a já tradicional degustação de vinhos espanhóis, o segundo maior produtor e exportador mundial e o país com a maior superfície vinícola. Quem é do ramo não pode faltar.
36 produtores, a maioria ainda desconhecida no Brasil, apresentarão no próximo dia 3 de junho, as suas garrafas. E ele não vêm só com a famosa Tempranillo: vamos conhecer também o que podem a Garnacha, Mazuelo, Cariñena, Albariño, Palomina, entre outras, além de suas versões das internacionais Cabernet, Merlot, Syrah, Chardonnay etc.
O evento será realizado no Grand Hyatt São Paulo (Av. das Nações Unidas, 13.3001, Salas Palm Ball Room).
Programação: das 12 às 15h, atendimento a importadores, imprensa, formadores de opinião e compradores locais cadastrados. Das 16 às 21h, profissionais do setor, compradores de lojas, supermercados, varejo em geral e demais convidados.
Às 19h teremos uma palestra com o Dr. Arthur P. Azevedo, médico, jornalista e crítico de vinhos, editor da revista Wine Style e Diretor da Associação Brasileira de sommeliers – São Paulo.
O suco de uva que emagrece. Pesquisa realizada pela nutricionista Melissa Machado da Silva, da Universidade Paranaense – Unipar, apurou que o suco da marca Sinuelo, de uvas tintas é potencialmente um “inibidor de radicais livres.
A pesquisa foi realizada em laboratórios, com ratos da linhagem Wistar, os mais utilizados nessas pesquisas. Um dos grupos de ratos foi alimentado com ração, sua dieta padrão. Um segundo grupo, teve a ração melhorada com suco de uva tinta Sinuelo, sem adição de açúcar.
Os ratos desse segundo grupo perderam peso e reduziram o índice de glicose, mesmo recebendo quantidades equivalentes de ração. Os níveis plasmáticos de glicose dos ratinhos que receberam o suco foram também menores do que os companheiros que não ingeriram a bebida. Daí concluir a nutricionista que os fenóis existentes na bebida agem sobre o peso corporal e também sobre a glicose, “reduzindo a ocorrência de síndrome metabólica”, relacionada com a obesidade e a diabetes e igualmente ao desenvolvimento de doenças coronarianas.
O suco Sinuelo, produzido pela vinícola
Irmãos Molon, de São Marcos, RS, não utiliza conservantes e na sua versão tinta, aqui referida, não adiciona açúcar.
Mais informações com a
Núcleo Comunicação e Marketing.

20.5.09

Removendo II

Voltamos ao assunto da coluna passada, Removendo... , pois ele está rendendo novas e boas dicas sobre como acabar com manchas e até retirar rótulos.
Água oxigenada. A Carolina Monteiro cita um produto, o Vanish, com o qual tem tido bons resultados para tirar manchas de vinho, entre outras. No site do produto, aprendemos que: “Sua poderosa fórmula contêm oxigênio ativo que remove manchas de gordura, chocolate, vinho tinto, café, grama e muitas outras”.
Ou seja, o Vanish é, de maneira certamente mais poderosa, a nossa recomendada água oxigenada, nome comercial do peróxido de hidrogênio, com base na fórmula química H2O2, um poderoso oxidante.
A água oxigenada usada comercialmente possui uma quantidade mínima de 0,3% de peróxido de hidrogênio. Comigo ela funciona muito bem, mas nem sempre com o sucesso que a Carolina tem com o Vanish. Fica aqui a boa dica.
Rótulos no forno. A Rachel Bello afirma que a primeira coisa que faz é colocar a garrafa vazia (e sem rolha ou tampa metálica, naturalmente) no forno. Deixar na temperatura máxima por uns 10 minutos, ou até quando a garrafa estiver bem quente. Depois é retirá-la do forno cuidadosamente e os rótulos (o principal e o do verso da garrafa) sairão facilmente.
Se ainda assim não saírem, a Rachel espera que a garrafa esfrie e tenta o método da água quente, que ela utiliza da seguinte maneira:
Enche a pia da cozinha com água fervente. Para isso é pega uma panela bem grande, enche de água e ferve até borbulhar.
Pega a garrafa e a coloca em imersão na pia. Após alguns minutos os rótulos irão flutuar.
Se ainda assim eles continuarem colados, tire a garrafa da pia, coloque-a sobre uma toalha e tente tirar os rótulos com a ponta da unha (ou com uma pequena lâmina), a partir do canto do impresso.
Caso o teimoso rótulo ainda resista, volte com a garrafa e repita a operação de mergulhá-la em água fervente. Nesse ponto, a Rachel não tem dúvidas de que o rótulo sairá.
Quando isso acontecer, recolha-o da pia com uma colher e o coloque sobre um plástico ou papel manteiga. E, ufa, o seu rótulo está quase pronto para entrar para a sua coleção. É só esperar que seque.
Limpeza de decantadores. Além da dica, a Rachel pergunta como fazemos para limpar decantadores. Lavá-los parece fácil, mas o seu formato, como a base bem larga e um gargalo estreito realmente dificulta a lavagem. Dê só uma olhada no decantador Riedel Amadeo e veja o trabalhão que vai dar para lavá-lo. É lindo, mas seu formato de lira é barulho e não música para que quiser limpá-lo.
Eu tenho dois métodos para enfrentar essa situação:
1. Uso água quente e uma bucha longa para limpar principalmente a base e contornos do decantador.

2. Quanto o decantador começa a ficar com manchas de vinho tinto, utilizo pequenas bilhas de aço, dessas encontradas em rolimãs. Se você tem amigos em oficinas mecânicas e em lojas de consertos de bicicletas poderá encontrá-las. Tenho uma caixinha cheia delas, devidamente limpas, aço puro. Pois as coloco dentro do decantador e dou boas sacudidelas e cuidadosas mexidas. E só as retiro quando vejo que as manchas foram embora.
Aqui, no Rio, ainda não as encontrei, pelo nas lojas especializadas de vinhos. Mas lá fora já são comuns. Dê só uma olhada nelas no site da Amazon.com (as minhas não são tão pequenas como essas, mas dão pro gasto).
O problema é colocar o decantador de cabeça para baixo para deixá-lo secar. Quebro o galho com um antigo coador de café. Lembra deles, aqueles com o coador de pano? Eram os únicos admitidos pelo meu pai. Bom, meu pai já se foi e, como o tempo passa e a falta de tempo é permanente, permiti a entrada dos coadores de papel aqui em casa. Mas o porta coador ficou: uma peça única de arame, com base bem larga, de onde nascia um L que acabava por ser o apoio do coador de pano. Como esse L se constituía de duas hastes de arame em paralelo, o que fiz foi torcê-las com um alicate. E elas ficaram mais delgadas, embora firmes. Assim, posso colocar o meu decantador de cabeça para baixo e esperar que seque. O decantador em lugar do coador.
Da Agenda
Amigos do Vinho na Casa de Espanha. A amiga está começando agora a se encantar com os vinhos e quer, naturalmente, aprender mais, certo? A enófila acha que sabe tudo, mas desconfia que conhecer um pouco mais não custa nada, certo? Então, ambos não podem perder o evento Amigos do Vinho que acontece dia 23 de junho (das 18 às 22h) na Casa de Espanha, no Rio.
Lançamentos de vinhos espanhóis, franceses, suíços, argentinos, italianos, norte-americanos, portugueses, chilenos, africanos e brasileiros degustados. Os participantes receberão na entrada um brinde, uma taça para degustar todos os vinhos. De quebra, ainda poderão saborear um bufê de especialidades da gastronomia espanhola.
O evento é produzido pela butique de vinhos
Confraria Carioca, em parceria com as distribuidoras e importadoras Cava de Vinhos, Vitis Vinifera, Porto Leblon, Volantis e Vini Rio.
A Confraria Carioca pertence e é dirigida por Duda Zagari, membro da Associação Brasileira de Sommeliers e diretor da Sociedade Brasileira dos Amigos do Rio. O objetivo de Zagari é promover a bebida de modo a “desengravatá-la”.
A Casa de Espanha fica na Rua Vitório da Costa, 257, Humaitá, Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2436-3150. Tem estacionamento no local.
Os ingressos podem ser adquiridos na Confraria Carioca: Rua General Severiano, 97, loja 35, no Rio Plaza Shopping, Botafogo. Informações e reservas pelo (21) 8102-1019 ou pelo e-mail:
Duda@confrariacarioca.com.br
Não percam, amigas. Só serão servidos vinhos de importantes produtores e importadores.
Rio Restaurant Week: só até domingo. Não percam. Já no primeiro dia do evento os restaurantes participantes registraram um aumento 35% acima do normal e os pratos acabaram. Um sucesso, gente!
O Rio Restaurant Week é a versão nacional de um importante acontecimento do mundo da gastronomia. Semelhante ao Restaurant Week de Nova York, que existe há 16 anos, em São Paulo já foram realizadas 4 edições e agora o Rio se junta a cidades como Boston, Londres, Amsterdã e outras 100 grandes metrópoles do mundo nessa maratona gourmet.
Veja
aqui a lista dos ótimos restaurantes participantes, saiba seus endereços e horários e que especialidades estão oferecendo. São 60 casas, entre as melhores do Rio, à sua disposição.

14.5.09

Removendo...

...rótulos e colas. A Renata Bessa quer saber como retirar o resíduo de cola deixado em suas taças de cristal pelos selos adesivos. Porque os fabricantes não deixam suas publicidades nas embalagens? Para evitar problemas de falsificação? Falsificar selos é mais fácil e barato do que falsificar as taças.
Então, ficamos com dois problemas: o primeiro é retirar os adesivos e o segundo, pior ainda, livrarmo-nos da cola.
Por causa desses adesivos já quebrei e arranhei taças. Uma vez ganhei um “removedor de rótulos” (os das garrafas de vinho), alardeado como “mágico”. Hora funcionava, hora destruía do rótulo. E na garrafa sempre ficava um pequeno resíduo de cola.
Com os selos que se utilizam de colas simples, deixo as taças em água morna por uns trinta minutos e eles costumam sair com facilidade. Nos mais resistentes, tento derreter a cola com um secador de cabelo ou com o vapor de uma chaleira. A sua retirada é facilitada, mas ainda teremos cola nas taças. Nesses casos, pego uma gilete e, com cuidado e paciência, termino o serviço. Funciona comigo.
Sei de gente que usa álcool, solvente ou removedor. Em vez do vapor, utilizam uma vela para aquecer as etiquetas.
Achei na internet o Tira-Grude, que “solta etiquetas, colas, fitas, decalques e adesivos”. A revista Quatro Rodas testou e aprovou o produto, embora num dos testes não descarte o uso de uma espátula para finalizar o serviço. Leia aqui. O “Tira-Grude” já está na minha lista de compras.
...manchas de vinho tinto. A Fernanda Neves deseja dicas para a remoção de manchas, principalmente de vinhos tintos, em toalhas, guardanapos, tapetes etc.
Minha experiência: não uso guardanapos de tecido, mas de papel. É só jogá-los fora: problema resolvido. Com toalhas de tecido uso água sanitária e as lavo com água morna. No caso de tapetes, o melhor (para mim, pelo menos) tem sido um aspirador a vapor.
Tem gente que coloca um pouco de sal na mancha (seja em toalhas ou tapetes), de modo a que o sal absorva um tanto do que foi derramado. Comigo, não funcionou.
Leite também é utilizado, mas no máximo consegui descolorir a mancha um pouquinho. Só um pouquinho. No final, não fez melhor do que tentar com água.
Com removedores em geral, o máximo que consigo é transformar a mancha rubra do vinho em outra de outra cor: verde, cinza etc.
Para mim, mancha de vinho tinto trato ou com água sanitária ou com uma solução de água oxigenada, água e sabão em pó. As manchas reduzem bastante. Algumas até saem, mesmo. Só tomo cuidado em não utilizar esse método em tolhas coloridas ou em tapetes.
...manchas nas taças. Rejane Soares. Está com dificuldades em remover as manchas de vinho tinto que ficam hora nas bordas, hora no fundo das taças e só fazem aumentar com o uso.
Olha, Rejane, eu lavo minhas taças com água quente e nada de detergentes. Contudo, de vez em quando, uso sabão de coco para me livrar daquelas marcas de dedo, gordurosas. Faço isso sempre com esponja.
Além da água quente, utilizo um pouco de bicarbonato de sódio. Se as manchas insistem em não sair, uso água sanitária e água quente. Depois é não parar de enxaguar, enxaguar, enxaguar.
Por falar em gordura nas taças, lembro que, no caso das de espumantes, ela pode reduzir em muito a quantidade de borbulhas. E não só a gordura, mas resíduos de sabão e detergentes.
As taças devem ser bem secas, caso contrário ficarão com aquelas manchas de água. Assim, após bem enxaguadas, seque-as com um pano de linho. De um modo geral, apenas água quente é o bastante para manter limpas as suas taças. Muitas vezes uso o vapor das chaleiras para a limpeza. E depois uma esforçada sessão de polimento com pano de linho. Funciona para mim.
...manchas nos dentes. Neusa Dantas ouviu falar que o hábito de tomar vinho tinto pode causar manchas nos dentes.
Sim, vinho tinto pode causar manchas vermelhas nos dentes, o que não é nada agradável. Porém, essa é uma ocorrência mais comum em degustadores profissionais, gente acostumada a provar 50, 100 vinho numa manhã. Ao fim delas, podem ficar com um sorriso digno do Conde Drácula.
Correr para o banheiro e escovar os dentes não é uma boa idéia. Em primeiro lugar, se escovarmos com creme dental, ficamos com a boca impregnada de menta, hortelã etc. prejudicando a degustação do vinho (e de qualquer outra bebida ou alimento).
Pior é que nossa boca, fresca de tanto vinho, está por isso cheia de ácido. Se escovarmos os dentes logo podemos danificá-los e tornar o problema ainda maior. Esses ácidos podem corroer o esmalte dos dentes e causar danos como cáries e coisa pior.
Comer um pedaço de pão ou creme cracker e beber um pouco de água nos intervalos ajudará nossa boca a recuperar o equilíbrio natural de seus ácidos.
Vinho tinto, café e chá e outras bebidas também promovem manchas nos dentes. Devemos observar se elas acontecem com freqüência, se os dentes estão gradativamente escurecendo. Nesses casos, devemos procurar um dentista imediatamente. Ele saberá que procedimentos utilizar para evitar danos. Ou para dar uma “embranquecida” nos dentes.
Da Agenda.
Rio Restaurant Week: imperdível!
Já começou a primeira edição do Rio Restaurant Week. De 11 a 24 de maio 60 restaurantes de diversos estilos e etnias, entre os melhores da cidade, vão promover uma maratona gastronômica a preços promocionais.
O Restaurant Week é um evento que nasceu em Nova York há 17 anos e se espalhou por todo o mundo. No Brasil, São Paulo foi a primeira a engajar-se no movimento. E agora chega a vez do Rio.
É um acontecimento em que a alta qualidade gastronômica fica em pé de igualdade com a cidadania. Pois parte do que for arrecadado pelos restaurantes envolvidos irá para o
Projeto Urerê, de Yvonne Bezerra da Mello, que mantém uma escola especial destinada a crianças e jovens em situação de extrema pobreza.
Casas importantes integram o evento: Miam Miam, da chef Roberta Ciasca; Nam Thai – que traz a sua exótica cozinha tailandesa; a cadeia Gula Gula, que dispensa comentários, com nove casas; o La Pasta Giala; de Sergio Arno, com sua cozinha italiana; o Sawasdee Bistrô que explora o sabor das diferenciadas receitas asiáticas; quatro casas do grupo Devassa, a deliciosa pizzaria de Ipanema Stravaganze.
Veja a lista completa
no site do evento. Lá você terá os cardápios, horários de funcionamento e, claro, locais. O importante é você ingressar com comodidade no mundo gourmet e ainda saber que está ajudando o próximo. Não falte.

7.5.09

O médico e o monstro

Não se discute sobre a excelência em combinar vinho tinto com carnes vermelhas. Não há dúvidas que, gastronomicamente, os dois formam um par perfeito. Os amargos taninos de um tinto bem estruturado vão ficar mais macios, aveludados ao se envolverem com pratos de grande textura, contendo proteínas ainda não coaguladas. É só provar um filé mal passado com um Cabernet Sauvignon, um Syrah, um Nebbiolo.
Mas essa combinação agora ficou um tanto confusa, por conta de uma nova série de pesquisas.
Por um lado, uma nova pesquisa afirma que meia taça de vinho diariamente acrescenta cinco anos em nossas vidas. A cerveja, em lugar do vinho, só nos daria dois anos e meio a mais.
Na contramão, outro estudo demonstra provavelmente homens e mulheres que consomem carnes, em sua maioria as vermelhas, vão provavelmente morrer mais cedo.
O monstro. A relação entre mortalidade e consumo de carne resume um estudo gigantesco, envolvendo mais de meio milhão de norte-americanos, pesquisados durante dez anos. Ele oferece, segundo reportagem do New York Times, a melhor evidência, até agora, de que pagamos pela nossa preferência por carne vermelha com nossa saúde e com anos de vida a menos. Um preço alto.
Podemos falar que o assunto diz respeito aos americanos, apenas. Mas aqui também, estamos há tempos comendo mais carnes vermelhas, agora mais ainda já que os preços baixaram para compensar a baixa na exportação, em razão da crise mundial.
Homens e mulheres consumidores de carnes vermelhas vão provavelmente morrer mais cedo em razão de um desses potenciais problemas: doenças cardíacas ou câncer. O risco de mortalidade, segundo o estudo, aumenta na proporção do consumo dessas carnes. Numa projeção, o trabalho sugere que a morte de um milhão e homens e talvez de meio milhão de mulheres pudesse ter sido prevenida se, no período de dez anos analisado, pudessem ter consumido menos carnes vermelhas.
Para prevenir mortes prematuras relacionadas a esse consumo, um dos cientistas envolvidos no estudo sugeriu que as pessoas comessem um hambúrguer apenas uma vez por semana, em vez de todos os dias; um bife uma vez por semana e não todos os dias e um cachorro-quente a cada mês e meio.
Apelar pela galinha e peixe não representaria muita vantagem: quem do grupo consumiu mais frutas e vegetais teve índice de longevidade maior. Aliás, se reduzíssemos nossa dependência pelas carnes em geral estaríamos ajudando a salvar o planeta da poluição, do aquecimento global e da escassez de água potável.
O bode expiratório dessa situação estaria em hábitos de saúde: aqueles que, na pesquisa, consumiram mais carnes vermelhas fumavam, estavam acima do peso ideal, consumiam mais calorias e mais gorduras, inclusive gorduras saturadas. E ainda por cima não ligavam muito para frutas, vegetais e fibras e eram menos ativos fisicamente.
De qualquer modo, sabemos que carnes vermelhas estão relacionadas a colesterol, pressão alta e a doenças cardíacas. Sabe-se também que a carne, cozida ou grelhada em altas temperaturas produz carcinógenos em sua superfície.
Entra o médico. Até agora, só falamos no Mr. Hyde, a carne vermelha. Ao mesmo tempo em que anotamos a matéria do New York Times, lemos sobre outra pesquisa, realizada pelos holandeses, que seguiram os hábitos alimentares de 1.373 homens durante mais de 40 anos. É quando nossa história começa a ter um final mais feliz.
Homens que bebiam cerca de meia taça de vinho diariamente (20 gramas de álcool) acrescentavam dois anos e meio de expectativa de vida, ao chegarem aos 50 anos. Os que, na mesma faixa de idade, eram abstêmios não tinham essa vantagem. Note-se que 70% de todo o vinho consumido pelos pesquisados era tinto.
Estabeleceu-se nessa pesquisa a relação entre o consumo moderado de álcool e baixo índice de mortalidade por doenças cardiovasculares e cerebrais. E mais uma vez reconheceu-se os efeitos protetores dos polifenóis existentes nos vinhos tintos. Polifenóis são substâncias químicas, como os taninos e os flavonóides encontrados em plantas.
Em duas outras pesquisas, publicadas quase que ao mesmo tempo, mostram que esses mesmos polifenóis aparecem como soldados contra células de câncer. São antioxidantes encontrados em abundância nas cascas e sementes das uvas e entram no vinho durante a fermentação.
Quando os cientistas submeteram, no laboratório, células de câncer de mama ao uma combinação de três polifenóis encontrados normalmente nos vinhos tintos, verificaram que a taxa de mortalidade daquelas células aumentava entre 40 e 55%; Depois de 77 dias, tumores cancerígenos nas mamas, devidamente tratados com esses polifenóis, ficavam de 30 a 50% menores.
Por fim, em 2008, comentamos aqui que consumir vinho tinto com carne vermelha estava além de ser uma matéria de gosto. É que pesquisadores da Universidade de Jerusalém descobriram que se os polifenóis do vinho tinto chegar ao estômago no momento em que as gorduras estão liberando uma devastadora toxina, chamada de malondialdeído, podem interromper a viagem dela rumo ao nosso sistema sanguíneo.
No final das contas, consumimos carnes e vinhos há milênios e a população do globo só fez aumentar. Ninguém está sugerindo que carnes vermelhas não devem ser mais consumidas. Ou consumidas apenas com vinhos tintos.O segredo de tudo é a moderação. Não vamos esquecer também que muitos outros frutos são também ricos em polifenóis (o vinho é apenas suco de uvas fermentado). E que também podemos consumir proteínas em muitas frutas e legumes. Então, vamos beber e comer moderadamente. E variar sempre. Não precisa ser carne e vinho o tempo todo. Sustos com o Dr. Jekyll e Mr. Hyde só no cinema ou no livro.