Ah, eu namorei muito. Talvez para compensar, eu hoje namore quase nada. Mas continuo de olho no Dia dos Namorados. Ele tem de ser festejado, se possível em mais de uma data, todas as semanas, quem sabe? Mas é preciso tomar alguns cuidados. No meu caso, evitar falar sobre vinhos. Sair para jantar no dia dos namorados, um vinho à mesa, devidamente escolhido pelo homem que te convidou – seu namorado ou forte candidato a sê-lo. Tudo isso é clichê, eu sei, e muito pouco feminista. Mas é assim que será.
Era uma vez a Soninha, sócia de uma loja de vinhos em Itaipava. Minha parte não era a comercial, eu apenas palpitava nas compras, no estilo da loja, de seus serviços e ajudava no atendimento.
Entre em cena um certo cliente, mais maduro do que eu (e isso importava?). Chegou num carrinho esporte, desses sem capota, uma antiguidade bem cuidada, aparato regular entre homens maduros que querem fazer bonito com as mulheres. Deu uma demorada olhada na vitrine e entrou. Só que chegou no momento em que eu estava degustando um Fleurie, com um, velho freqüentador da loja. Pudera, o Cru Beaujolais era uma novidade, na minha e em qualquer loja. Tínhamos comprado uma leva com mostras de todas as 10 sub-regiões de Beaujolais.
O cliente entrou, cumprimentou e logo se dirigiu ao balcão com ar de pidão. Claro que ofereci uma taça ao cavalheiro. Imediatamente segurou a taça pela base, com o polegar e o indicador, girou-a cuidadosamente. “É preciso deixar o ar entrar, fazer o vinho respirar”, falou, notando que eu e meu amigo segurávamos nossas taças pela haste, bebericávamos sem maiores compromissos. Mas o visitante continuou na sua interpretação de connaisseur. Levantou a taça contra um ponto de luz para apreciar as sutilezas da cor. Em seguida, mergulhou o nariz na taça para aspirar o seu bouquet. E só então provou do vinho. “Até que tem alguma coisa de aromático”, concedeu. Ia comentar mais quando pediu para ver o rótulo. E descobriu que era um Beaujolais. “Até que esse não é dos piores”, lascou. Meu amigo tentou explicar: “Olha, esse é um verdadeiro Cru, nada a ver com o Nouveau; é um vinho sutil, com bastante fruta, flores e até um tanto picante...” e foi por ai elogiando o Cru.
O novo cliente sorriu, e explicou que não iria perder tempo com os Beaujolais. Contudo, passou a freqüentar a loja. Dava uma olhada nas prateleiras, comprava uma ou outra garrafa. Tínhamos Borgonhas simples, mas bons, Bordeaux simpáticos, interessantes alemães e dignos alsacianos, australianos, argentinos, chilenos, norte-americanos, portugueses, espanhóis, italianos, austríacos, sul-africanos. E não poderiam faltar, os brasileiros da Miolo e da Dal Pizzol.
Além da boa coleção de Crus Beaujolais, conseguimos outra novidade, um supertoscano, um Sasso Al Poggio 2004, da Família Piccini, Toscana. Naquela época, os supertoscanos ainda eram uma das sensações no mundo dos vinhos. Vinhos potentes, que desrespeitavam as clássicas regras da DOC/DOCG por misturarem a obrigatória e veramente italiana Sangiovese com cepas “estrangeiras”, no caso as estrelas de Bordeaux: Cabernet Sauvignon e Merlot. Vendíamos com pouquíssima margem, mais pelo prestígio que poderiam trazer para a loja.
Nosso novo cliente parecia interessado apenas em vinhos pontuados, chancelados pelos papas da época, de Robert Parker (já então considerado o maior crítico de vinhos do mundo, o “nariz de um milhão de dólares”) e a revista Wine Spectator. Pecado esperar encontrá-los na nossa loja. Os vinhos bem pontuados por Parker (criador do sistema de qualificar vinhos metricamente, com os seus 100 pontos) eram quase que completamente comprados pelas grandes casas, exportadoras, colecionadores, comerciantes do hemisfério norte. Seus preços atingiam alturas insuportáveis.
Para um homem com uma relíquia importada sobre rodas, uma Mont Blanc brilhando no bolso da camisa e que citava Parker, assinava a Wine Spectator, e que só queria saber de pontos era de se esperar que só escolhesse as garrafas mais caras. E ao longo de uns poucos fins de semana levou todos os nossos Sasso Al Poggio 2004, que, claro, tinha ganho 90 pontos da Wine Spectator. Outra curiosidade: não me poupava com seus olhares mornos.
Não escondia também demonstrações do que achava fosse alto conhecimento. Falava de aromas de couro, de frutas cristalizadas, notas de chocolate, dizia que estava na lista de espera do Stag’s Leap, que acabara de comprar em leilão uma caixa do Château Lynch-Bages 1985. Comentava sobre o “retrogosto” e até dava exemplos de quantos segundos o sabor de alguns vinhos ainda ficavam na boca, tal como Parker. Os Bordeaux da loja eram medíocres (ele não dava a menor bola para os nossos Mouton Cadet, campeões de venda), não tolerava os Chardonnay (era moda na época entre os seres dessa tribo não beber dessa uva), os Beaujolais, já sabemos, ele desprezava. Os Borgonhas eram “da mais baixa categoria”. Tínhamos exemplares de “Côte de Beaune”, penúltimo lugar na hierarquia da região. Eram excelentes, na boca e no bolso.
Eu replicava: para quem está em busca de status, essa hierarquia pode até funcionar. Mas para quem quer custo-benefício, o negócio é encontrar prazeres nos vinhos “menores”. Os nossos tinham preços em conta e eram deliciosos, podem acreditar. O importante não é o fetiche, mas o prazer encontrado numa taça. Apesar disso, os olhares continuaram.
Além desse calo mental criado pelos sistemas de pontuação de vinhos, o nosso cliente adotava também clichês, do tipo vinho tinto com carne vermelha, vinho branco com carne branca, vinho com vegetais nem pensar. As taças Spiegelau disponíveis na loja seriam inferiores às suas preferidas Riedel (certamente celebradas por Parker). Ficava penalizado por só dispormos de taças para Cabernet Sauvignon e Chardonnay, que vendíamos como genéricas para tintos e brancos. E piorava o nosso dia ponderando que se vendíamos Borgonhas, tínhamos de ter taças abalonadas típicas daqueles vinhos.
Eu ia levando. Até que um dia o limite dos olhares foi ultrapassado. O elegante cliente resolveu me pontuar também. Convidou-me para um jantar e justo no Dia dos Namorados. Ali tinha coisa. O homem queria mais do que vinho.
Com um amigo, o Dudu, chef de um restaurante de comida italiana não muito longe da loja, tramei um “jantar de namorados”. Ele seria o mais vegetariano possível e os vinhos servidos às cegas (um saco de pão cobrindo a garrafa). Dudu é um craque: passou bom tempo fora do Brasil e cozinhou em restaurantes londrinos e italianos. Ele entrou com as comidas e até com alguns vinhos.
Meu candidato a namorado chegou à hora marcada, trazendo com ele um sorriso superior, tal como James Bond diante do Dr. No.
O primeiro prato era uma sopa, a Ribollita, famosa na Toscana, derivada do minestrone. Em seguida, pimentão vermelho recheado com queijo de cabra, cozido com molho de tomate, lascas de pimenta malagueta. E, por fim, aspargos frescos com molho hollandaise. Para sobremesa, também de origem italiana, “Seios de Virgem” ou Minni di virgini, bolinhos dedicados a Santa Agatha feitos de ricota coberta com marzipan e decorados com duas cerejas, uma em cada bolinho (ou em cada “seio”). Para elas, um vinho doce, um Late Harvest chileno.
Já vimos que o nosso candidato a namorado não admitia vegetais com vinho, com aspargos, então, era um atentado (“são o inimigo número um dos vinhos”, dizia, repetindo dezenas de críticos). Vinhos doces, ou de sobremesas, aceitava apenas os franceses (os Sauternes liderando) e alguns Rieslings.
Com a Ribollita, servimos um ótimo Chianti Classico, com 100% da grande cepa toscana, a tinta Sangiovese. Como a degustação era às cegas, estranhou um vinho tinto na taça. Com sopa? Pois é, explicamos, é que temos um prato forte, denso. Logo, um vinho um pouco mais potente para acompanhá-la.
Com o pimentão recheado, um prato mais picante, uma harmonização por oposição: um branco austríaco com a Grüner Veltliner, que tinha em casa, com notas florais, excelente acidez e também algo de pimenta do reino branca.
Não fomos rigorosamente vegetarianos, como se pode ver pelo queijo de cabra e pelo molho hollandaise aveludando os aspargos. Como esse prato experimentamos um Sancerre da vila de Bué, delicioso com seus aromas minerais e cítricos.
O vinho de sobremesa era um Late Harvest chileno, da Concha & Toro: alguma fruta, damasco e mel, a doce e prolongada lembrança desse jantar-degustação. Pelo menos na boca seria assim.
Meu pretenso namorado mal comeu. Provou daqui e dali. Estava sem graça. Não quis palpitar sobre os vinhos e nem se interessou em olhar os rótulos; insistia em que nada combinava com legumes e vegetais.
Mas foi elegante o tempo todo. Mal a mesa foi limpa, agradeceu, inventou uma desculpa e se retirou. Não cheguei a usar de umas citações que pretendia lascar em cima do candidato a enólogo e a namorado. Uma, do Einstein, contra a sua numerologia: “Nem tudo que pode ser contado, conta. E nem tudo que conta pode ser contado”. Outra, do Voltaire: “O melhor é o pior inimigo do bom”, para abrir-se mais: vinhos baratos não são ruins necessariamente. E não interessa o rótulo, a origem, o brasão: o que vale é o que está na taça.
O caso é que fiquei sozinha. A frase do Voltaire cairia como uma luva para mim. Ele era um enófilo empedernido. Nove fora a ladainha sobre vinhos, não chegava a ser um chato. Seus comentários podiam azedar meu dia, mas quase sempre eram corretos. Claro que tínhamos que melhorar nosso acervo.
Ele poderia não ser o melhor par, um esnobe etc. Mas poderia tornar-se um bom parceiro, um amigo. Talvez o jantar do Dia dos Namorados tomasse outro rumo se eu não saísse por ai querendo dar lições ou a pregar peças nos outros. Num certo sentido, eu fui a chata.
Perdi o cliente. Perdi a pose. Perdi o namorado. Só não perdi as esperanças. Em outros encontros, os vinhos nunca mais entraram na minha agenda. Só os bebi e com gosto.
Da Adega
Areje seu namorado. Já que estamos no assunto, considere presentear seu namorado com um Wine Finer, acessório que promete aeração e filtração do vinho em poucos minutos. Além disso, serve como corta gotas e tampa da garrafa. Dê só uma olhadinha no site.
Aliás, no site temos depoimento de sommeliers e empresários do vinho elogiando o novo aerado. Uma de suas utilidades é tirar da nossa frente o tradicional decantador, sempre útil, claro, mas de difícil limpeza.
Segundo a demonstração no site, o vinho já chega à taça devidamente “respirado” e sem resíduos, já filtrado.
Era uma vez a Soninha, sócia de uma loja de vinhos em Itaipava. Minha parte não era a comercial, eu apenas palpitava nas compras, no estilo da loja, de seus serviços e ajudava no atendimento.
Entre em cena um certo cliente, mais maduro do que eu (e isso importava?). Chegou num carrinho esporte, desses sem capota, uma antiguidade bem cuidada, aparato regular entre homens maduros que querem fazer bonito com as mulheres. Deu uma demorada olhada na vitrine e entrou. Só que chegou no momento em que eu estava degustando um Fleurie, com um, velho freqüentador da loja. Pudera, o Cru Beaujolais era uma novidade, na minha e em qualquer loja. Tínhamos comprado uma leva com mostras de todas as 10 sub-regiões de Beaujolais.
O cliente entrou, cumprimentou e logo se dirigiu ao balcão com ar de pidão. Claro que ofereci uma taça ao cavalheiro. Imediatamente segurou a taça pela base, com o polegar e o indicador, girou-a cuidadosamente. “É preciso deixar o ar entrar, fazer o vinho respirar”, falou, notando que eu e meu amigo segurávamos nossas taças pela haste, bebericávamos sem maiores compromissos. Mas o visitante continuou na sua interpretação de connaisseur. Levantou a taça contra um ponto de luz para apreciar as sutilezas da cor. Em seguida, mergulhou o nariz na taça para aspirar o seu bouquet. E só então provou do vinho. “Até que tem alguma coisa de aromático”, concedeu. Ia comentar mais quando pediu para ver o rótulo. E descobriu que era um Beaujolais. “Até que esse não é dos piores”, lascou. Meu amigo tentou explicar: “Olha, esse é um verdadeiro Cru, nada a ver com o Nouveau; é um vinho sutil, com bastante fruta, flores e até um tanto picante...” e foi por ai elogiando o Cru.
O novo cliente sorriu, e explicou que não iria perder tempo com os Beaujolais. Contudo, passou a freqüentar a loja. Dava uma olhada nas prateleiras, comprava uma ou outra garrafa. Tínhamos Borgonhas simples, mas bons, Bordeaux simpáticos, interessantes alemães e dignos alsacianos, australianos, argentinos, chilenos, norte-americanos, portugueses, espanhóis, italianos, austríacos, sul-africanos. E não poderiam faltar, os brasileiros da Miolo e da Dal Pizzol.
Além da boa coleção de Crus Beaujolais, conseguimos outra novidade, um supertoscano, um Sasso Al Poggio 2004, da Família Piccini, Toscana. Naquela época, os supertoscanos ainda eram uma das sensações no mundo dos vinhos. Vinhos potentes, que desrespeitavam as clássicas regras da DOC/DOCG por misturarem a obrigatória e veramente italiana Sangiovese com cepas “estrangeiras”, no caso as estrelas de Bordeaux: Cabernet Sauvignon e Merlot. Vendíamos com pouquíssima margem, mais pelo prestígio que poderiam trazer para a loja.
Nosso novo cliente parecia interessado apenas em vinhos pontuados, chancelados pelos papas da época, de Robert Parker (já então considerado o maior crítico de vinhos do mundo, o “nariz de um milhão de dólares”) e a revista Wine Spectator. Pecado esperar encontrá-los na nossa loja. Os vinhos bem pontuados por Parker (criador do sistema de qualificar vinhos metricamente, com os seus 100 pontos) eram quase que completamente comprados pelas grandes casas, exportadoras, colecionadores, comerciantes do hemisfério norte. Seus preços atingiam alturas insuportáveis.
Para um homem com uma relíquia importada sobre rodas, uma Mont Blanc brilhando no bolso da camisa e que citava Parker, assinava a Wine Spectator, e que só queria saber de pontos era de se esperar que só escolhesse as garrafas mais caras. E ao longo de uns poucos fins de semana levou todos os nossos Sasso Al Poggio 2004, que, claro, tinha ganho 90 pontos da Wine Spectator. Outra curiosidade: não me poupava com seus olhares mornos.
Não escondia também demonstrações do que achava fosse alto conhecimento. Falava de aromas de couro, de frutas cristalizadas, notas de chocolate, dizia que estava na lista de espera do Stag’s Leap, que acabara de comprar em leilão uma caixa do Château Lynch-Bages 1985. Comentava sobre o “retrogosto” e até dava exemplos de quantos segundos o sabor de alguns vinhos ainda ficavam na boca, tal como Parker. Os Bordeaux da loja eram medíocres (ele não dava a menor bola para os nossos Mouton Cadet, campeões de venda), não tolerava os Chardonnay (era moda na época entre os seres dessa tribo não beber dessa uva), os Beaujolais, já sabemos, ele desprezava. Os Borgonhas eram “da mais baixa categoria”. Tínhamos exemplares de “Côte de Beaune”, penúltimo lugar na hierarquia da região. Eram excelentes, na boca e no bolso.
Eu replicava: para quem está em busca de status, essa hierarquia pode até funcionar. Mas para quem quer custo-benefício, o negócio é encontrar prazeres nos vinhos “menores”. Os nossos tinham preços em conta e eram deliciosos, podem acreditar. O importante não é o fetiche, mas o prazer encontrado numa taça. Apesar disso, os olhares continuaram.
Além desse calo mental criado pelos sistemas de pontuação de vinhos, o nosso cliente adotava também clichês, do tipo vinho tinto com carne vermelha, vinho branco com carne branca, vinho com vegetais nem pensar. As taças Spiegelau disponíveis na loja seriam inferiores às suas preferidas Riedel (certamente celebradas por Parker). Ficava penalizado por só dispormos de taças para Cabernet Sauvignon e Chardonnay, que vendíamos como genéricas para tintos e brancos. E piorava o nosso dia ponderando que se vendíamos Borgonhas, tínhamos de ter taças abalonadas típicas daqueles vinhos.
Eu ia levando. Até que um dia o limite dos olhares foi ultrapassado. O elegante cliente resolveu me pontuar também. Convidou-me para um jantar e justo no Dia dos Namorados. Ali tinha coisa. O homem queria mais do que vinho.
Com um amigo, o Dudu, chef de um restaurante de comida italiana não muito longe da loja, tramei um “jantar de namorados”. Ele seria o mais vegetariano possível e os vinhos servidos às cegas (um saco de pão cobrindo a garrafa). Dudu é um craque: passou bom tempo fora do Brasil e cozinhou em restaurantes londrinos e italianos. Ele entrou com as comidas e até com alguns vinhos.
Meu candidato a namorado chegou à hora marcada, trazendo com ele um sorriso superior, tal como James Bond diante do Dr. No.
O primeiro prato era uma sopa, a Ribollita, famosa na Toscana, derivada do minestrone. Em seguida, pimentão vermelho recheado com queijo de cabra, cozido com molho de tomate, lascas de pimenta malagueta. E, por fim, aspargos frescos com molho hollandaise. Para sobremesa, também de origem italiana, “Seios de Virgem” ou Minni di virgini, bolinhos dedicados a Santa Agatha feitos de ricota coberta com marzipan e decorados com duas cerejas, uma em cada bolinho (ou em cada “seio”). Para elas, um vinho doce, um Late Harvest chileno.
Já vimos que o nosso candidato a namorado não admitia vegetais com vinho, com aspargos, então, era um atentado (“são o inimigo número um dos vinhos”, dizia, repetindo dezenas de críticos). Vinhos doces, ou de sobremesas, aceitava apenas os franceses (os Sauternes liderando) e alguns Rieslings.
Com a Ribollita, servimos um ótimo Chianti Classico, com 100% da grande cepa toscana, a tinta Sangiovese. Como a degustação era às cegas, estranhou um vinho tinto na taça. Com sopa? Pois é, explicamos, é que temos um prato forte, denso. Logo, um vinho um pouco mais potente para acompanhá-la.
Com o pimentão recheado, um prato mais picante, uma harmonização por oposição: um branco austríaco com a Grüner Veltliner, que tinha em casa, com notas florais, excelente acidez e também algo de pimenta do reino branca.
Não fomos rigorosamente vegetarianos, como se pode ver pelo queijo de cabra e pelo molho hollandaise aveludando os aspargos. Como esse prato experimentamos um Sancerre da vila de Bué, delicioso com seus aromas minerais e cítricos.
O vinho de sobremesa era um Late Harvest chileno, da Concha & Toro: alguma fruta, damasco e mel, a doce e prolongada lembrança desse jantar-degustação. Pelo menos na boca seria assim.
Meu pretenso namorado mal comeu. Provou daqui e dali. Estava sem graça. Não quis palpitar sobre os vinhos e nem se interessou em olhar os rótulos; insistia em que nada combinava com legumes e vegetais.
Mas foi elegante o tempo todo. Mal a mesa foi limpa, agradeceu, inventou uma desculpa e se retirou. Não cheguei a usar de umas citações que pretendia lascar em cima do candidato a enólogo e a namorado. Uma, do Einstein, contra a sua numerologia: “Nem tudo que pode ser contado, conta. E nem tudo que conta pode ser contado”. Outra, do Voltaire: “O melhor é o pior inimigo do bom”, para abrir-se mais: vinhos baratos não são ruins necessariamente. E não interessa o rótulo, a origem, o brasão: o que vale é o que está na taça.
O caso é que fiquei sozinha. A frase do Voltaire cairia como uma luva para mim. Ele era um enófilo empedernido. Nove fora a ladainha sobre vinhos, não chegava a ser um chato. Seus comentários podiam azedar meu dia, mas quase sempre eram corretos. Claro que tínhamos que melhorar nosso acervo.
Ele poderia não ser o melhor par, um esnobe etc. Mas poderia tornar-se um bom parceiro, um amigo. Talvez o jantar do Dia dos Namorados tomasse outro rumo se eu não saísse por ai querendo dar lições ou a pregar peças nos outros. Num certo sentido, eu fui a chata.
Perdi o cliente. Perdi a pose. Perdi o namorado. Só não perdi as esperanças. Em outros encontros, os vinhos nunca mais entraram na minha agenda. Só os bebi e com gosto.
Da Adega
Areje seu namorado. Já que estamos no assunto, considere presentear seu namorado com um Wine Finer, acessório que promete aeração e filtração do vinho em poucos minutos. Além disso, serve como corta gotas e tampa da garrafa. Dê só uma olhadinha no site.
Aliás, no site temos depoimento de sommeliers e empresários do vinho elogiando o novo aerado. Uma de suas utilidades é tirar da nossa frente o tradicional decantador, sempre útil, claro, mas de difícil limpeza.
Segundo a demonstração no site, o vinho já chega à taça devidamente “respirado” e sem resíduos, já filtrado.
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