22.1.11

O que é o que é?

Não chega a ser tradição, mas em 2010 (lembra dele, quando também aconteceram chuvas catastróficas no Sudeste, mas menos intensas no Rio?) comecei o ano com um quiz (“Um teste para começar”). Para não perder o costume, essa terceira coluna é também um teste, que vai ter muito de vinho e um pouquinho de desastres. Melhor dizendo: tragédias.

1. Sancerre é o quê? Um vinho ou uma região francesa? O famoso vinho branco de Sancerre é feito com que variedade de uva?

Chardonnay, Chenin Blanc, Sancerre, Sauvignon Blanc, Colombard?

2. O que é VDL?

3. E o que é Acavitis? Uma eau de vie francesa, um schnapps alemão, uma grappa italiana, um orujo espanhol ou uma bagaceira portuguesa?

4. Cheirando a querosene? Quando os fabulosos Rieslings alemães produzem seus tradicionais aromas de lanolina ou de petróleo quer dizer que seus vinhedos estão próximos a pastagens de ovelhas (no caso da lanolina, a cera bruta de lã) ou de campos de petróleo?

5. Qual a relação entre tragédia, vinho e o Caramelo?

Respostas:

1. Sancerre é uma Appellation d'origine contrôlée (AOC) que dá nome aos vinhos ali produzidos, a leste do Vale do Loire. Seus elegantes vinhos brancos são feitos com a Sauvignon Blanc, a principal uva da região.

2. VDL: Vin de Liquer, um vinho cuja fermentação é encerrada com ajuda de álcool (um licor, uma aguardente) com o fim de aumentar o seu volume alcoólico (que costuma ficar entre 15-22%). É um vinho doce fortificado, normalmente utilizado como aperitivo. Alguns VDL famosos: Pineau des Charentes (com a Ugni Blanc, Colombard e Sémillon, produzidos na região de Cognac). O Floc de Gascogne, produzido na Gasconha e na província de Armagnac, França, é fortificado com o supremo Armagnac, um destilado que não perde em nobreza e sabor para o Cognac. E o Macvin du Jura é uma AOC também no leste francês exclusiva para esse VDL, feito com a uva Savagnin, fervida até que o suco restante seja misturado a um aguardente. Na União Europeia, o termo Vin de Liquer pode também referir-se a qualquer vinho fortificado, como os Porto, Madeira, Jerez, Marsala.

3. ACAVITIS. Acavitis talvez seja mais quente do que qualquer das aguardentes citadas. Com prazer lhe apresentamos a Associação Catarinense dos Produtores de Vinhos Finos de Altitude, a Acavitis. Ouviu falar em vinhos finos de altitude, certamente ouviu falar dos vinhos de São Joaquim, com vinhedos entre 900 e 1400 metros de altitude, produzindo dentro dos melhores padrões de qualidade. Ela foi criada em 2005 para orientar os produtores de uvas e vinhos finos de altitude do estado e atualmente representa três regiões produtoras: de São Joaquim, de Campos Novos e de Caçador. A variedade predominante no momento é, sem surpresas, a Cabernet Sauvignon. Merlot, Pinot Noir, Cabernet Franc, Sangiovese, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Trincadeira, Malbec, Sauvignon Blanc e Chardonnay já estão a caminho.

4. Lanolina, petróleo: muitas vezes os vemos citados em avaliações de vinhos com as Rieslings ou com as Chenin Blancs. Mas, nesses casos, essas expressões significam apenas o aroma de óleo. A lanolina é um óleo derivado da lã de carneiros. Para mim, tem delicioso aroma de um suéter. Já petróleo, óleo cru, pode cheirar a gasolina, querosene, aromas clássicos dos Rieslings.

5. Tragédia, vinho e Caramelo. A palavra tragédia teria vindo do grego antigo, formado por tragos (bode) e odé (canto), que formavam tragoidia (mais ou menos “canção dos bodes”). Há uma segundo explicação, dada pelo autor e gramático grego Ateneu de Náucratis, colônia grega no Egito, onde nasceu (cerca de 200 a. C.) Dele, só restou uma obra, “O banquete dos filósofos”. Ateneu afirma que a forma original da palavra tragédia era trygodia, de trygos (colheita da uva) e ode (canto). Nas duas versões significava a apresentação de dramas (e comédias) em homenagem a Dionísio, deus do vinho. Do vinho e da loucura ritual.

Se na Grécia Clássica, tragédia era uma representação teatral, aqui na Serra ela aconteceu e ainda está em cartaz infundindo horror, infortúnio, desespero, lágrimas.

Moro em Secretário, como sabem. Perdi vizinhos. Cadê o Vale do Cuiabá, Cadê o Tambo, pousada pioneira que abriu as portas para atividades importantíssimas no turismo, na hotelaria, na gastronomia e na enofilia em todo o Estado? Há 20 anos, o Tambo e seus seguidores abriram espaço para que a região pudesse oferecer algo mais do que camisetas.

Sobra nada para o vinho nessa tragédia, amiga leitora. Dos gregos, lembro Sócrates: ele dizia que não se pode definir erro sem que também definamos conhecimento. Pois em 2005 o Brasil e mais 167 países firmaram acordo estabelecendo sistemas de alerta para reduzir riscos de desastres naturais. Isso aconteceu logo após o tsunami na Ásia. Nada foi feito e o desastre aconteceu. Conhecimento havia e há. É a população de todo o país, com sua incrível insuperável demonstração de solidariedade, que está tentando reparar o erro.

Lambo minhas feridas, como o Caramelo, o cão que ainda cata o que perdeu.

(Para quem puder ajudar acesse o G1 e saiba como ajudar os desabrigados da chuva na Região Serrana do Rio)

Da Adega

S.O.S. Caramelo. Raquel Geraldi, Julia Pessôa e Katia Zonta são voluntárias para ajudar os animais, cães e gatos, sem casa, comida, água, remédios. Sem seus donos, enfim.

Elas não querem doações em dinheiro, mas ajuda através de produtos como: rações de qualquer marca e tamanho; comidas pastosas para os filhotes; coleiras, guias; potinhos/recipientes para colocar comida e água; toalhas (limpas), panos, lençol, caminhas (tudo limpo, por favor!); sabonete neutro, de coco ou shampoo para animais; remédios - vermífugos, de pulgas, rifocina, enfim qualquer remédio na validade para gato ou cachorro.

As voluntárias podem ser achadas pelos celulares: Raquel G: (21) 9936-3965; Julia Pessôa: (21) 7867-8815; Katia Zonta: (21) 9175-6782.

(O título, S.O.S. Caramelo é meu; o trio de moças lança apenas um S.O.S).

Seleção Mercosul: A Vinitude está com um promoção de tintos argentinos e chilenos, todos com pontuação acima de 88. Dê uma olhada. A Vinitude é a loja on-line da importadora Vitis Vinifera.

Espanhol pontuadíssimo. Um espanhol 100% Tempranillo, mais 91+ da Wine Advocate (Robert Parker), você encontra na Península Vinhos de Espanha. Peça pelo Finca Villacreces Pruno 2008.

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