15.2.11

O pijama de Robert Parker

O imperador do vinho aposentou-se? Pelo menos é isso o que indica a maioria do noticiário em torno da alteração que Robert Parker fez no seu célebre boletim The Wine Advocate. Uns falam em “crepúsculo do Imperador”, outros em “fim de uma era”, em “semi-aposentadoria”, que Parker “ “passou a tocha...”, foi “destronado”.

Não se fala em outra coisa no mundo dos vinhos. Mas o mais influente crítico de vinhos do mundo (e em qualquer outra categoria) apenas informou que a partir de agora passa a crítica dos vinhos da Califórnia e da Borgonha para seu colega na TWA, Antonio Galloni, que já cobria a Itália e a região de Champagne. Parker continua com a sua querida Bordeaux e com o Vale do Rhône e passa a analisar safras mais antigas dos vinhos da Califórnia. Para muitos, a aposentadoria de Parker, com seus 63 anos, estaria bem próxima.

Quase todos se perguntam o que será o mundo dos vinhos sem Robert Parker. O grande guru dos vinhos é um modelo de sucesso à americana. Um advogado de sucesso, estabelecido em Maryland, que, ainda estudante encantou-se com os vinhos e a partir de 1978 começou a publicar o seu boletim, que revolucionou o mundo dos vinhos. Não aceitava anúncios (o próprio Parker comprava os vinhos que analisava). O guia vivia de subscrições. Como analisar vinhos objetivamente se você os estava também vendendo ou era amigão dos produtores e aceitava que pagassem por suas viagens, hotéis e jantares nababescos? O sistema de 100 pontos, que se tornaria mundialmente famoso (e copiado) também era apresentado. Um sistema que qualquer americano entenderia, pois é até hoje utilizado nas escolas. Um vinho abaixo de 64 deveria ser evitado; com 60-64, o vinho apresentava “faltas evidentes”; 65-74 era um vinho “médio”; 75-79, “acima da média”; 80-89, “muito bom”; 90-95, “excepcional”. “Extraordinário” estava reservado para aqueles entre 96-100.

Por 20 anos, até 2005, a influência desse guru só fez crescer, despertando infindáveis debates sobre se sua imensa influência. Em 1998, a TWA tinha 45 mil assinantes em 35 países. No final de 2006, Parker anunciou a contratação de cinco críticos para aumentar a sua cobertura. Ao fazer isso, ele alterou sensivelmente a sua marca – a de um degustador solitário e superdotado, um crítico ferozmente independente que não se importava com status ou popularidade.

O boletim espelhava apenas o fabuloso nariz de Parker, apenas um e consistente ponto de vista que ele passava agora para degustadores de reputações, talentos e estilos diferentes. Ninguém com o talento de mexer com mercados de vinho como ele (Bordeaux até hoje só dá preço a seus vinhos depois das notas de Parker).

O que aconteceu de lá para cá é o que aconteceu com o jornalismo impresso. Hoje, todo mundo tem blogs, está no Twitter e no Facebook. O mundo impresso perde publicidade, jornais e revistas fecham. O leitor hoje consegue conteúdo grátis. O modelo dominante de jornalismo dos últimos 30 anos está ficando sem gás, com um número limitado de vozes para tentar mostrar aos leitores como entender de vinhos. O leitor hoje possui um número infindável de oportunidades para conseguir informações, sem sair de casa, basta fazer um clique.

O mercado de vinhos também mudou, com uma nova geração de consumidores, gente jovem que jamais ouviu falar em Robert Parker, mas ávida em saber mais sobre o vinho, mas sem dar muita bola para revistas e boletins. Informam-se em lojas de vinho, com sommeliers e, sobretudo, com amigos. E amigos existem na vida real e on-line. Uma pesquisa norte-americana diz que 60% dos bebedores no país estão pesquisando e conversando sobre vinho on-line. Outro estudo mostra que há quatro milhões de consumidores de vinho apenas no Twitter.

As coisas estão mudando: em vez de uma visão de cima para baixo, essa nova era indica que os consumidores de vinho estão mais confiantes, diversificam mais, experimentam mais, sem dar muita trela para “autoridades”.

Todos se perguntam quem vai ser o próximo Robert Parker. Ele conseguiu conectar talvez milhões de consumidores com o mundo dos vinhos. A indústria de vinhos e nós, consumidores, devemos isso a ele. Mas dificilmente será substituído, pois duvido que esse mundo on-line admita uma só voz, como a de um imperador. Em seu lugar, talvez tenhamos mais vozes, numa quantidade que será difícil de acompanhar. O próprio Parker favoreceu esse quadro. A partir de 2006, quando ficou apenas com Bordeaux, Rhône e Califórnia, seus substitutos para o restante da Europa, América do Sul, Austrália e Nova Zelândia só fizeram diluir a influência do Wine Advocate. E muitos críticos ocuparam essas regiões. É o caso do Burghound.com, o guia mais procurado por consumidores e investidores interessados nos vinhos da Borgonha.

E a função do crítico de vinhos passou a ser mais educativa. Devemos ajudar a formar as leitoras, onde se informar, o que, onde e como conseguir seus vinhos. E isso sem a voz “de cima”, de uma autoridade obrigando o leitor a decorar cada château de Bordeaux. Com a internet todos são igualmente os críticos.

Porém, tem gente tentando ler nas entrelinhas do comunicado oficial de Parker sobre abandonar parte de suas responsabilidades no WA. Dizem que ego de Parker não permitiria qualquer tipo de “aposentadoria”. Se eventualmente perde influência no mercado norte-americano, está se preparando para ocupar o Pacífico, uma área imensamente maior, mais complexa e bem mais rica (em termos de dólares).

As premissas são as de que Parker continue reinando em Bordeaux. E a China é hoje o maior comprador dos rótulos ilustres (e caríssimos) de Bordeaux e ainda um mercado aberto à influências como as de Parker, que já tem um crítico operando em Singapura para as versões da sua newsletter. Alguns negociantes, como a Hermitage (baseada em Londres), já afirmam que “Parker é a melhor aposta para os investidores asiáticos”. Assim, por esse lado, Parker passaria cada vez mais tempo na China de modo a cimentar sua imagem lá como o grande mestre da cultura do vinho.

Logo, a propagada “semi-aposentadoria” ou o “passar da tocha” de Parker não seria senão um movimento estratégico. Está virando o jogo para o pedaço final de sua carreira. Faz mais sentido para mim. Para Parker, o pijama fica para mais tarde.

Da Adega

Bloco Espumas e Paetês. Esse é o bloco da turma do vinho. O sucesso de sua primeira saída, em 2010, garantiu sua oficialização esse ano – ano em que contará com uma madrinha. E que madrinha: a somelière e colunista Deise Novakoski.

A concentração será agora, dia 26 de fevereiro, a partir das 15h, na pracinha da R. General Glicério, em Laranjeiras, RJ.

O kit (camiseta + taça de espumante) já está à venda: agora, pelo site www.enoeventos.com.br, fica por R$ 25; no dia, R$ 40. O bloco conta ainda com o apoio da Winestore e Confraria Carioca, que fornecerão as borbulhas por preços mais em conta.

Veja no site do bloco os locais de venda e como o sisudo Dom Perignon entrou nessa história. Participe, amiga. Brinque no único bloco do mundo que é feito por e para enófilos.

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