18.4.11

Negócio da China

Pode acreditar: o Brasil estará entre os maiores mercados de vinho do mundo já em 2015. Em termos de volume, somos apenas “Outros”, um daqueles que ajudam a compor 31% do comércio global de vinhos.
Os Estados Unidos assumiram o primeiro lugar em 2010 como o maior consumidor de vinhos do mundo, com 12% do mercado, ultrapassando a França, até então liderando o ranking.
Mas já em 2015 a história será outra, segundo pesquisa da reputada Euromonitor International (fonte desses dados).
A China tomará o primeiro lugar, com formidáveis 15%; os EUA passam para o segundo posto, com 11%. Em seguida, pela ordem, teremos: Itália (10%), França (8%), Alemanha (7%), Reino Unido (6%), Argentina (4%), Espanha (também 4%), Rússia (3%).
E, nessa liga de campeões (perdoem ufanismo), o nosso Brasil aparecerá com 2% de todo o mercado global, posição hoje ocupada por Portugal. No total, esses 10 países respondem por 70% do volume mundial. Seremos o último colocado, entre esses dez. Mas o que importa mesmo é que já aparecemos entre os chamados “grandes”, um grupo onde a qualidade importa tanto quanto a quantidade.
As diferenças são pequenas, com relação a 2010, embora impressionem pela rapidez de como o mercado está se alterando. Ano passado, a China tinha 7% desse bolo, o que por si mesmo é espantoso: um país com uma cultura milenar voltada para os destilados e que nos tempos que correm toma Lafite com Coca-Cola.
Outros dados também nos surpreendem: o consumo per capita do americano ainda não passa de 10 litros per capita, enquanto a França é de 45 litros e o Brasil ainda continua nos dois litros e a China fica em 1,15 litros.
Conta, claro, o tamanho da população e quanto dela adota o vinho como bebida preferencial. Nos Estados Unidos, por exemplo, falam que a diferença em favor do consumo de vinhos reside nos chamados “Millenials”, a geração nascida entre 1980 e 2000: são jovens adultos, que deram uma banda na turma da cerveja, vodca e tequila, optando por desenvolver melhor seus narizes e palatos a partir do vinho.
O brasileiro só bebe caipirinha e que tais? Seu vinho é ruim? Mas olha só: somos o quinto maior produtor do hemisfério sul, depois da Argentina, Austrália, Chile e África do Sul. Segundo a OIV (Organisation Internationale de la Vigne et du Vin), produzimos em 3,6 milhões de hectolitros de vinho em 2008, quase duas vezes mais do que a Nova Zelândia, que é uma das estrelas produtoras de vinho do Novo Mundo (2 milhões de hl, no mesmo ano).
Embora os portugueses tenham plantado uvas em Sampa, em 1532, e os jesuítas vinhedos no Rio Grande do Sul, em 1626, foram mesmo os imigrantes italianos que, em fins do século 19, deram conta do recado vitivinícola brasileiros. Eles, entre outros feitos, substituíram cepas híbridas pelas vitis vinifera (a espécie de videira mais cultivada para a produção de vinho na Europa há milhares de anos).
Nosso consumo médio de vinho ainda é baixo. A média de 2 litros por capita, que se mantém por mais ou menos dez anos tende agora a aumentar. A classe média brasileira aparentemente se renova e engrossa suas fileiras. Segundo um estudo publicado agorinha, temos pelo menos mais 18 milhões de pessoas nessa nova classe média, que bebem vinho pelos menos duas vezes por ano.
Aqueles 2%, contudo, comprovam mesmo é o sucesso de nossas exportações. Nossos vinhos estão sendo muito bem recebidos e consumidos lá fora. Pudera, não só a área de plantio aumentou, como a qualidade de produção melhorou: nossos vinhos podem hoje competir nos mercados internacionais. Em paralelo, nossas vinícolas passaram a adotar práticas de administração e comercialização mais modernas e competitivas. A turma está se aplicando em técnicas de marketing.
Por fim, parece que o setor vinícola parou de acreditar que somos o “país do futuro”. Há tempos que está construindo esse futuro, dia-a-dia, produzindo cada vez mais, melhorando a qualidade e, importante, promovendo nossos vinhos, batendo na porta de consumidores, saindo pelo mundo batendo na porta de consumidores. E já chegamos até a China.
A presidenta Dilma está ajudando: brindou com vinhos da Valduga o casal Obama, ofereceu vinhos da Luiz Argenta de “butique” ao cantor Bono Vox (do U2) e recentemente esteve na China, com empresários de vários setores, inclusive os do vinho, botando um pé na porta daquele cobiçado mercado. Empresas do projeto Wines of Brasil (parceria entre o Instituto Brasileiro do Vinho, Ibravin, e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a Apex-Brasil) participaram de seminários comerciais em Hong Kong, porta de entrada para nossos vinhos na China e integram a comitiva de empresários que acompanha a presidenta Dilma naquele país.
No último dia 12, num almoço oferecido a empresários chineses em Pequim pela presidenta Dilma, foram servidos o Lote 43 e o espumante Millésime, ambos da Miolo, a maior exportadora do setor e que, em apenas três meses, já vendeu dois contêiner de vinhos aos chineses e em 2011 espera vender mais quatro (cada container contendo 1.110 caixas). Em tempo, a Miolo, que já vende para o Japão desde 2009, espera exportar no total desse ano US$ 1,8 milhão.
Essa coluna teve origem no momento em que topei com uma pequena nota sobre “Os Maiores Mercados de Vinhos Parados do Mundo”, resultado de uma pesquisa da Euromonitor (que citei lá em cima). Apenas dois pequenos slides, um mostrando a situação em 2010 e o segundo com a previsão para 2015. O objetivo era na verdade destacar o espantoso avanço da China: de 7% em 2010 para líder mundial com 15% do mercado global.
E de repente noto que no primeiro slide o Brasil aparece embolado com “Outros”. E no segundo, no lugar antes ocupado por Portugal com esses incríveis 2%. Imagino que se a pesquisa incluísse também vinhos espumantes, nossa situação poderia ser até melhor.
Bons negócios não caem do céu. É trabalhando que o tal futuro acontece. Só assim é que conseguiremos fazer negócios da China. Em tempo: deixando trabalhar também ajuda: a presidenta poderia mandar rever o que o setor de vinhos paga de impostos. Na Argentina, o governo reduziu um bocado as taxas sobre a produção e comercialização da bebida, que hoje figura como importante item na pauta de exportações do país.
Da Adega
Os vinhos de Cabral. O produtor português José Neiva Correia, proprietário da DFJ Vinhos e fabricante dos Vinhos Quintas do Rocio, cultivados nas terras de Cabral, recebeu a medalha de 500 anos de Pedro Álvares Cabral oferecido pela Academia Brasileira de Arte, Cultura e História, ABACH, entidade cultural. Os vinhos Quintas do Rocio, premiados como os melhores vinhos da região de Lisboa, chegam ao Brasil através da Lusitano Import. Cabral não se esqueceu de trazer vinhos portugueses quando chegou aqui, em 22 de abril de 1500. E esses vinhos estão entre os mais estimados pelos brasileiros.
EXPOVINIS. Começa dia 26 no Expo Center Norte, Sampa, um dos dez mais importantes salões de vinhos do mundo – seguramente o maior da América Latina.
O Salão soma 15 anos já de sucesso absoluto. Teremos esse ano mais de 350 expositores e mais de 40 vinícolas apresentarão vinhos das três principais regiões produtoras do Brasil: Rio Grande do Sul (Serra e Campanha Gaúcha), Santa Catarina e Vale do São Francisco (Bahia e Pernambuco).
São esperadas perto de 20 mil pessoas. Não perca. Mais de 21 vinhos brasileiros serão degustados e harmonizados. Dezenas de atividades esperam pelos estimados 20 mil visitantes. Saiba mais aqui. A ExpoVinis Brasil encerra dia 28.

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