6.4.11

Zinfandel & Páscoas

Começava a escrever sobre a Páscoa (e seus deliciosos corolários) quando a Juliana Andrade escreve aflita por não encontrar o Zinfandel da Sutter Home no Rio de Janeiro. O papo sobre a Páscoa, chocolate, bacalhau e vinho fica para daqui um pouquinho, tá?
1. A Zinfandel, uma cepa tinta, teria chegado aos Estados Unidos, ainda sem nome, por volta de 1830, importada por certo George Gibbs, de Long Island. Ele leva a Boston, daí para a Nova Inglaterra, onde começa a ser chamada de “Zinfindal” ou “Zendendel”. Encurtando a história: logo, logo a uva fez sucesso na Califórnia e dava vinhos “tão deliciosos quanto um clarete francês”, segundo um produtor da época. Suas origens deixaram de ser um mistério apenas em 1990, quando um teste de DNA confirmou que ela é idêntica ao Primitivo, uma cepa da Puglia, Itália, com origem numa cepa quase extinta, encontrada numa ilha da Croácia, a Plavac Mali. Hoje, a Zinfandel é a uva símbolo dos Estados Unidos. Ocupa 10% dos vinhedos da Califórnia e dá bons tintos, brancos e rosados (blush).
A Juliana quer um Zinfandel da Sutter Home (que eu tinha em minha loja, em Itaipava), que não consegui encontrar. O bom é que vinho é variedade, não depende de um rótulo só.
Encontrei um Mondavi Private Selection Zinfandel 2008 na Wine.com.br; o Redtree Zinfandel 2009 e o Outpost 2007 na Grand Cru (que tem 3 lojas no Rio); o Francis Ford Coppola Rosso, um corte de Zinfandel, Syrah e Cabernet Sauvignon na Adega Brasil; o Kuleto 2007, o Kunde 2006, o Mettler Old Vines 2008, o Novy 2007, o Pezzy King 2005 e o Zinfandelic 2006 no Smart Buy Wines, uma loja virtual, baseada em Campinas, que só oferece vinhos bem pontuados. E mais: o Masseria Trajone Primitivo di Mandura (como vimos, é a mesma uva, só que italiana) e o Painter Bridge, no site da Adega Curitibana.
Agora, o Zinfandel Sutter Home não encontrei mesmo, Juliana. Ficarei atenta.
2. Páscoa. Com o dólar baixo, a Páscoa será uma festa: bom bacalhau, bons azeites e bons vinhos – tudo mais barato. O problema, se é que isso é mesmo uma dificuldade, será escolher vinhos que melhor combinem, ora com o peixe, ora com o chocolate.
A dica do grande crítico Carlos Cabral é bacalhau com vinho tinto, como se faz em Portugal, o maior consumidor per capita dessa iguaria. Não sabe ainda como fará o bacalhau? Visite o site português gastronomias.com, que tem quase 250 receitas de bacalhau.
Mas o sommelier Bruno Hermenegildo, do grupo Art des Caves, oferece outras opões. Tá bom que para um prato com muitos temperos, legumes e outros ingredientes, “o ideal é um tinto leve, com ótima acidez”. Carlos Cabral recomenda tintos nacionais jovens, das uvas Merlot e Cabernet Sauvignon devidamente refrescados (ou até gelados).
Para um bacalhau simples, com muito azeite, Hermenegildo indica vinhos brancos, também com boa acidez, como por exemplo, um rótulo com a cepa Viognier, em particular os da região que deu fama internacional a essa uva, Condrieu, no norte do Ródano, França, que produz um branco seco intenso, com aromas de fruta, a na boca damasco, maçã, pera e um tanto de mel. A opção, para ele, seria um Chardonnay com rápida passagem por madeira.
3. Mais difícil é combinar vinho com chocolate. Descobri por acidente que é possível combinar vinho tinto com chocolate. Era um Zinfandel, por falar nisso. E na minha frente um bolo de chocolate, que felizmente não era muito doce: usaram chocolate amargo.
Normalmente, com doces, e nesse caso com chocolates muito doces, o melhor é tentar um vinho do Porto ou quaisquer outros vinhos fortificados (Jerez, Marsala etc.). Já provei vinho tinto seco com chocolate Hershey amargo, o Cacao Reserve. E não é que deu certo? Quanto menos doce (ou mais amargo) o chocolate, melhor fica essa combinação.
O consultor da Art des Caves também concorda que vinho tinto seco combina bem como chocolate, desde que seja amargo. O vinho deverá ter alto teor alcoólico, “com taninos fáceis e adocicados”. A recomendação dele é um corte de Cabernet Sauvignon com Syrah, da Extremadura, Espanha: o VSM Cabernet/Syrah 2006. VSM, ou seja, Vina Santa Maria, uma belíssima vinícola fundada em 1990, com vinhos já famosos como o Equus. Esse VSM é 70% Cabernet e 30% Syrah. Ficou um tempo em carvalho francês, depois passou para o americano e por fim descansou meses em garrafa. Tem 13% de álcool. Hermenegildo lembra que os grandes Malbecs argentinos e os bons Carménère chilenos também dão conta do recado.
Para quem prefere carnes (cordeiro, pernil, coelho) mais intensas, algumas como o cordeiro com toques adocicados, a recomendação é de um Cabernet da África do Sul, o Meerendal – nome da vinícola fundada em 1702, próximo a Durbanville, a 20 km ao norte de Cape Town, uma referência de vinhos de qualidade.
Para pernil e coelho, Hermenegildo opta pelo Juno Shiraz, do Paarl, também da África do Sul, um vinho delicado, perfeito para as duas carnes, sem muitos taninos, evitando que a bebida sobrepuje o prato.
Pois é, Juliana, no passado, estalava os dedos e lá chegavam caixas do Sutter Home. Hoje a empresa continua vendendo bem, mas tá difícil achar seus vinhos por aqui. Quem sabe, você não experimenta os outros, alguns do que indiquei?
Para os amigos judeus, que começam a comemorar sua Páscoa mais cedo esse ano (de 19 a 25 de abril), felicidades. Tomo a liberdade de recomendar alguns vinhos para o Sêder de Pesach sei escolher os vinhos não será problema. Tomo a liberdade de sugerir o Yaffo Cabernet Sauvignon 2005. E para as quatro taças.
Foi escolhido porque, entre outras qualidades, é um vinho o Vale do Ella, a terra de Sansão e onde David derrotou Golias. É um Cabernet que passou 14 meses em carvalho. Saiba mais sobre a Vinícola Yaffo. (Em tempo, a quinta taça, a do Profeta Elias, será também preenchida com esse magnífico Yaffo).
E feliz Páscoa para todos.
Da Adega
Alto Sur Malbec. Onde você leu Cabernet Sauvignon, pode ler Malbec, como esse, ótimo para acompanhar o cordeiro. Saiba mais no site da Vinitude.
Speranza Gastronomia. Agora, quer contar com alta gastronomia, experimentar trocentas variedades deliciosas de chocolate (inclusive pizzas), tá na hora de procurar a Speranza Gastronomia. Petiscos e sanduíches italianos e pratos rápidos no local. Massas artesanais e secas, molhos e todos os produtos da marca Speranza, tortas, alimentos italianos importados, doces e vinhos. Funcionamento: de terça a sábado das 11:00h às 23:00h e domingos das 10:00h às 18:00h. Fecha às segundas. Cartões: Visa Master e Amex. Aceita cheques. Estacionamento próprio e gratuito. Mesas ao ar livre. Av. Sabiá, 788 – Moema - tel. 5051-2161.

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