No concurso entre sommeliers na França, Joe Satake foi o vencedor, mas recusa o prêmio. Um gênio, ele recolhe-se a uma orgulhosa solidão. E pensa: ‘Não há vinho ruim. Quando encontra um vinho é só dar um tempo para tele. As várias jóias de um vinho são como companheiras – ocasionalmente uma doce história, às vezes uma amarga. Vinhos não mentem – os sommelier conseguem ver a verdade dentro deles. Cada vez é um novo encontro. ´
E cada vez é uma nova surpresa. Se as amigas pensam que a última moda em vender vinhos é colocar bichinhos simpáticos nos rótulos, como faz o australiano Yellow Tail (da Casela Wines e seu canguru do rótulo, que por sinal não vejo nada muito amarelo em sua cauda), disparado o importado mais vendido nos Estados Unidos. Pois se pensam assim, estão enganadas.
Há cerca de uma década, numa terra muito distante, uma simples história em quadrinhos com milhares de admiradores transformou um vinho da Califórnia, novo naquele pedaço, num senhor sucesso, do dia para a noite. E esses quadrinhos não tinham cangurus, ursinhos, gatos, cachorros, pingüins, galos etc. – os bichinhos que fazem sucesso nos rótulos dos vinhos norte-americanos. Lá, tem bichinho no rótulo, vende. com certeza.
Há cerca de uma década, numa terra muito distante, uma simples história em quadrinhos com milhares de admiradores transformou um vinho da Califórnia, novo naquele pedaço, num senhor sucesso, do dia para a noite. E esses quadrinhos não tinham cangurus, ursinhos, gatos, cachorros, pingüins, galos etc. – os bichinhos que fazem sucesso nos rótulos dos vinhos norte-americanos. Lá, tem bichinho no rótulo, vende. com certeza.
Mas a terra distante é o Japão, onde uma história em quadrinhos para adultos, chamada de mangá, editada regularmente num dos mais importantes diários do país, e que tem como personagem principal um sommelier meio fanfarrão chamado Joe Satake.
E o vinho que Joe Satake ajudou a transformar num “cult” do dia para a noite foi um Calera Pinot Noir, da Califórnia. E cada vez que os quadrinhos de Satake chegam às bancas, uma multidão de japoneses amantes de vinhos espera fazem filas nas lojas em busca de qualquer garrafa de Calera disponível.
E o vinho que Joe Satake ajudou a transformar num “cult” do dia para a noite foi um Calera Pinot Noir, da Califórnia. E cada vez que os quadrinhos de Satake chegam às bancas, uma multidão de japoneses amantes de vinhos espera fazem filas nas lojas em busca de qualquer garrafa de Calera disponível.
Calera é o nome espanhol para um forno de cal (cal, a substância branca, pulverizada, obtida através da calcinação de rochas calcárias, submetidas a altas temperaturas nesse forno). É também o nome de uma vinícola, a Calera Wine Company. Seu nome é tirado de uma obsessão de seu fundador, Josh Jensen: fazer o melhor vinho baseado em Borgonhas, em particular o famoso Pinot Noir tão procurado por Miles, o personagem principal do filme Sideways. E Jensen procurou terras calcárias como as da Borgonha. E as achou no Monte Harlan (no distrito de San Benito, nas Montanhas Gabilan, Califórnia), numa área que tinha sido anteriormente uma pedreira de calcário. Saiba mais sobre a Calera Wine Company aqui.
Quando os quadrinhos de Joe Satake apareceram no Japão, o Calera Pinot Noir já estava listado com um dos grandes vinhos da América. Quando Josh Jensen viajou ao Japão para conduzir degustações de seu Pinot Noir em Tóquio e Osaka fãs do seu Calera enfrentaram filas para que ele autografasse os rótulos de garrafas vazias do seu vinho. Joe Satake funcionou e continua funcionando.
Veja o Joe Satake aqui, na capa da Sommelier, sempre ao lado de uma garota bonita e sempre segurando uma taça de vinho.
Mangá. Mangá é a palavra japonesa para história em quadrinhos. Quanto a estilos, ele mistura os do oriente e também do ocidente. Tem origem na China, mas foi no Japão que fixou residência. Tomou o seu formato atual logo após a II Guerra. Não é preciso dizer que tem imensa aceitação no Japão, onde explora uma grande variedade de temas, satisfazendo leitores de todas as idades, classes e sexo. As histórias em quadrinho japonesas formam uma indústria que fatura muito mais do que o seu equivalente norte-americano. Vendem milhares de cópias semanalmente e são respeitadas tanto como uma forma de arte quanto como uma forma de literatura popular. Saiba mais sobre o mangá aqui.
O Sommelier Satake. O nosso Joe Satake começou a aparecer numa série de mangá chamada Sommelier. Ele é a estrela, um brilhante degustador de vinhos, com um conhecimento enciclopédico dos vinhos de cada região, tanto as obscuras quanto aqueles Grands Crus. Entre as degustações de vinho, Joe ainda resolve crimes complicados e sempre fica com a mocinha (a garota mais bonita do pedaço, naturalmente).
Nessa edição da Sommelier, em parte referida na abertura da coluna, quando Joe Satake ganha o concurso de degustação, ele relembra uma outra prova onde teve de degustar dois vinhos às cegas (ou seja: você desconhece a marca do vinho).
Um deles era o superstar e caríssimo Romanée-Conti, o orgulho da Borgonha, o mais famoso de todos os vinhos feitos com a Pinot Noir – coisa para colecionadores sabidos e abastados (como o Boni, o famoso superexecutivo da Rede Globo). O outro era um vinho da Califórnia, o Calera Pinot Noir, dos vinhedos Jensen.
Um sommelier rival, pra lá de invejoso e cheio de truques, tenta enganar Satake descrevendo os vinhos de modo a concluir que o melhor deles era o Romannée-Conti.
Nessa edição da Sommelier, em parte referida na abertura da coluna, quando Joe Satake ganha o concurso de degustação, ele relembra uma outra prova onde teve de degustar dois vinhos às cegas (ou seja: você desconhece a marca do vinho).
Um deles era o superstar e caríssimo Romanée-Conti, o orgulho da Borgonha, o mais famoso de todos os vinhos feitos com a Pinot Noir – coisa para colecionadores sabidos e abastados (como o Boni, o famoso superexecutivo da Rede Globo). O outro era um vinho da Califórnia, o Calera Pinot Noir, dos vinhedos Jensen.
Um sommelier rival, pra lá de invejoso e cheio de truques, tenta enganar Satake descrevendo os vinhos de modo a concluir que o melhor deles era o Romannée-Conti.
Mas, no último minuto, Satake percebe que só podia haver um vinho similar ao DRC, o Calera, que o nosso herói aponta como o vencedor. Não só ele manteve o seu prestígio como derrotou o seu rival e evitou uma senhora injustiça. E ainda ficou com uma garota de sonhos que estava acompanhando o concurso. (Não estranhe, essa é uma história em quadrinhos). É dessa maneira que o vinho californiano vai sendo anunciado.
Essa historinha apareceu no Sommelier há dez anos. Logo após chegar as bancas, teve o número esgotado e as lojas se entupiram de japoneses fanáticos por vinho atrás de uma garrafa de Calera Pinot Noir. Foi o formidável Joe Satake que lançou a marca.
Hoje, dez anos depois, a Calera-mania continua não apenas forte, mas crescendo, segundo Josh Jensen. “Vendemos hoje 23% de nossa produção para o Japão, cerca de sete mil caixas por ano”.
O produtor americano confessa que não estava preparado para isso. Não esperava que uma simples história em quadrinho tornasse seu vinho tão importante para os consumidores japoneses.
Quer dizer que sempre podemos encontrar maneiras criativas de vender vinho. Nos Estados Unidos, temos a moda dos bichinhos nos rótulos. Lá (e talvez aqui) usar histórias em quadrinhos pode ser um problema, pois crianças e adolescentes podem influenciar-se, afinal estamos falando de uma bebida alcoólica. O mangá japonês fala muito bem para audiências adultas.
Os quadrinhos aqui já são utilizados na comunicação didática, mais voltada para o público mirim.
Essa historinha apareceu no Sommelier há dez anos. Logo após chegar as bancas, teve o número esgotado e as lojas se entupiram de japoneses fanáticos por vinho atrás de uma garrafa de Calera Pinot Noir. Foi o formidável Joe Satake que lançou a marca.
Hoje, dez anos depois, a Calera-mania continua não apenas forte, mas crescendo, segundo Josh Jensen. “Vendemos hoje 23% de nossa produção para o Japão, cerca de sete mil caixas por ano”.
O produtor americano confessa que não estava preparado para isso. Não esperava que uma simples história em quadrinho tornasse seu vinho tão importante para os consumidores japoneses.
Quer dizer que sempre podemos encontrar maneiras criativas de vender vinho. Nos Estados Unidos, temos a moda dos bichinhos nos rótulos. Lá (e talvez aqui) usar histórias em quadrinhos pode ser um problema, pois crianças e adolescentes podem influenciar-se, afinal estamos falando de uma bebida alcoólica. O mangá japonês fala muito bem para audiências adultas.
Os quadrinhos aqui já são utilizados na comunicação didática, mais voltada para o público mirim.
Aqui, o mais comum é pegar uma personalidade e recriá-la em quadrinhos, principalmente para os baixinhos. Foi assim com o Pelé. Foi assim agora, nos tempos da Copa, com o Ronaldinho Gaúcho (e parece que nos quadrinhos ele se saiu melhor do que em campo).
Mas convenhamos que os quadrinhos aqui bem que poderiam ajudar um imenso público a saber mais sobre vinhos. E como beber com moderação. O negócio é achar o nosso Joe Satake. Acho que esse herói nasceu da cabeça de seus criadores (Kaitani Shinobu e Hori Kenichi).
E aqui, como seria. Teríamos modelos da vida real?
E aqui, como seria. Teríamos modelos da vida real?
Amiga leitora: quem você acha seria o perfeito Joe Satake brasileiro? O Renato Machado, o Claude Troisgros, o Dado Dolabella, o Reynaldo Giannechini? Quem mais?
Respostas para a Soninha via soniamelier@terra.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário