Você bebeu além da conta, comportou-se muito mal, foi agressivo e soltou a língua. Ofendeu quem não devia, foi extremamente contundente com outras, raças, etnias e outras classe sociais. Acabou preso.
Espera aí, estamos falando do Mel Gibson e do seu porre de tequila?
Não exatamente. Estamos perguntando o quanto de verdade existe no discurso de uma pessoa embriagada?
Além de dirigir embriagado, fugir da polícia, resistir com violência à prisão, Gibson ofendeu os judeus principalmente (o xerife que o prendeu é judeu). Depois do acontecido distribuiu uma declaração à imprensa se desculpando: “Agi como uma pessoa completamente fora de controle quando fui presa e disse coisas que não acredito sejam verdades e que são desprezíveis. Estou profundamente envergonhado de tudo o que disse. Aproveito a oportunidade para desculpar-me com os policiais envolvidos no meu comportamento beligerante. Eles sempre estiveram por perto me protegendo em minha comunidade e provavelmente salvaram-se de mim mesmo”.
E acrescentou: “Tenho lutado com a doença do alcoolismo por toda a minha vida de adulto e lamento profundamente esse meu comportamento horroroso”.
Seu Demerval, que, como vocês sabem, tem um modesto comércio aqui perto de casa (e vende umas poucas bebidas, inclusive vinhos), em Secretário, afirma que “o álcool provoca muitas confissões, principalmente de casais, com péssimos resultados para ambos os lados. É difícil mentir quando se está bêbado”.
Mas talvez não seja assim tão simples. O álcool afeta o centro de decisões executivas do cérebro, localizado nos lóbulos frontais – o que influencia o poder de julgamento das pessoas e libera inibições. Mas os especialistas são relutantes em afirmar que ele seja um soro da verdade.
O professor de farmacologia e toxicologia da Universidade do Texas, em Austin, Carlton Erickson, tem uma opinião quase igual à do Demerval. Quase.
“As pessoas, quando intoxicadas (pelo álcool), realmente fazem e dizem coisas que comumente evitariam. É como se fosse um espelho da alma”.
Mas se esse espelho reflete uma imagem perfeita ou distorcida é outra questão, afirma do cientista.
“Estudo álcool por 40 anos e só posso afirmar que não há evidência suficiente para afirmarmos que essa imagem é acurada”, diz o Dr. Erickson, que dirige o Centro de Pesquisa e Educação sobre Vícios, do Colégio de Farmácia da Universidade do Texas.
Vimos que o ator se desculpou. Afirmou que disse coisas que ele não acredita que sejam verdadeiras.
Richard Wood é um veterano operador de polígrafos (o conhecido “detector de mentiras”, tão usado por algumas polícias, em particular a norte-americana), na cidade de Arlington. Ele acha que por décadas essas máquinas vêm conseguindo retirar verdades das pessoas que examina.
Mas Wood não as examina se estiverem embriagadas. “Pessoas embriagadas tendem a falar demais. Álcool não é um soro da verdade”, repete ele.
Observamos que um estudo feito pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos concluiu que “há pouca base para esperar-se de um teste de polígrafo alto nível de exatidão”. Os testes de polígrafos são normalmente utilizados em investigações policiais nos Estados Unidos. Contudo, nenhum réu ou testemunha pode ser forçado a submeter-se a ele. Só algumas cortes admitem evidências a partir desse exame.
Ames Sweet, diretora de comunicações do Conselho Nacional sobre Alcoolismo e Dependência de Drogas, em Nova York, concorda com Richard Wood. “Álcool solta a língua, mas não necessariamente a verdade”, afirma.
“Ele estimula as pessoas de uma maneira que às vezes suplanta a verdade. Há muitas coisas que vêm juntas da verdade. E verdade não á apenas uma proposta do tipo sim-ou-não”, explica a diretora.
Ela acrescenta que o álcool afeta a percepção dos fatos. “O álcool gera um certo elemento fantástico. Pode haver um grão de mentira nas verdades, assim como um grão de verdade nas mentiras”.
Mesmo em pequenas quantidades, o álcool pode levar as pessoas a dizer coisas que não diriam se sóbrias, afirma a Dra. Prema Manjunath, psiquiatra judiciária do Hospital John Peter Smith, em Fort Worth. “Outra coisa que ele provoca é destacar qualidades preexistentes: se a pessoas estava zangada antes pode ficar mais zangada depois de beber”.
Talvez por isso, a médica Stevie Hansen diz não é incomum uma pessoa que bebe demais entrar em brigas por motivos absolutamente toldos, que não a incomodavam. A médica é chefe dos serviços a drogados num hospital para doentes mentais, no município de Tarrant. “A bebida não reflete a personalidade das pessoas. Só porque você está bêbada não quer dizer que a verdade aparece”.
Já o professor de psiquiatria do Centro Médico de Dallas (da mesma Universidade do Texas), Dr. Bryon Adinoff, indica que beber demais pode ser comparado a um estado de sonho.
“Quando dormimos nossas defesas caem, o mesmo acontecendo quando estamos embriagados. Certamente sonhamos com fazer coisas que jamais faríamos e não queremos fazer e podemos nunca realizar”.
As notícias sobre o porre e a prisão do ator apresentam um dado intrigante. O nível de álcool no sangue de Gibson era, no momento da prisão, de 0,12, o que não assim tão alto para um alcoólatra (como ele mesmo se retratou). O limite de álcool na Califórnia é de 0,08.
“Uma pessoa acostumada a beber muito todos os dias pode não ficar com boa aparência, mas não ia ficar cambaleando por ai com 0.3 ou 0.4”, diz o Dr. Bryon. “Já um abstêmio estaria morto com esses níveis ou certamente em coma”.
O álcool pode levar pessoas a desinibir-se. “Mas em bebedores freqüentes chega a efeitos muito mais sérios, como psicose induzida pelo álcool”, explica a Dra. Prema Manjunath.
“As pessoas ouvem vozes, ficam paranóicas, vêm elefantes e ratos, têm alucinações. Acreditam que alguém as persegue. Deliram, acreditam em coisas que estão completamente fora do perfil de seu caráter”.
Apesar de ter lido para ele toda essa série de argumentos médicos e científicos, seu Demerval não pareceu muito convencido. “Sei por experiência própria que o álcool já me fez dizer coisas que eu desejaria não ter dito”. Seu Demerval não permite que se beba no seu estabelecimento. “Pode comprar aqui, mas beber só em casa”.
“Vem cá, o pai desse garoto não foi aquele que afirmou que o Holocausto nunca existiu? Por que estranhar que ele tenha ofendido os judeus?”
Uma saia justa, realmente.
Amiga, você acha que o álcool pode ser um soro da verdade? Acredita que o Mel Gibson não quis realmente dizer o que disse? É justo que Hollywood arquive o ator?
Espera aí, estamos falando do Mel Gibson e do seu porre de tequila?
Não exatamente. Estamos perguntando o quanto de verdade existe no discurso de uma pessoa embriagada?
Além de dirigir embriagado, fugir da polícia, resistir com violência à prisão, Gibson ofendeu os judeus principalmente (o xerife que o prendeu é judeu). Depois do acontecido distribuiu uma declaração à imprensa se desculpando: “Agi como uma pessoa completamente fora de controle quando fui presa e disse coisas que não acredito sejam verdades e que são desprezíveis. Estou profundamente envergonhado de tudo o que disse. Aproveito a oportunidade para desculpar-me com os policiais envolvidos no meu comportamento beligerante. Eles sempre estiveram por perto me protegendo em minha comunidade e provavelmente salvaram-se de mim mesmo”.
E acrescentou: “Tenho lutado com a doença do alcoolismo por toda a minha vida de adulto e lamento profundamente esse meu comportamento horroroso”.
Seu Demerval, que, como vocês sabem, tem um modesto comércio aqui perto de casa (e vende umas poucas bebidas, inclusive vinhos), em Secretário, afirma que “o álcool provoca muitas confissões, principalmente de casais, com péssimos resultados para ambos os lados. É difícil mentir quando se está bêbado”.
Mas talvez não seja assim tão simples. O álcool afeta o centro de decisões executivas do cérebro, localizado nos lóbulos frontais – o que influencia o poder de julgamento das pessoas e libera inibições. Mas os especialistas são relutantes em afirmar que ele seja um soro da verdade.
O professor de farmacologia e toxicologia da Universidade do Texas, em Austin, Carlton Erickson, tem uma opinião quase igual à do Demerval. Quase.
“As pessoas, quando intoxicadas (pelo álcool), realmente fazem e dizem coisas que comumente evitariam. É como se fosse um espelho da alma”.
Mas se esse espelho reflete uma imagem perfeita ou distorcida é outra questão, afirma do cientista.
“Estudo álcool por 40 anos e só posso afirmar que não há evidência suficiente para afirmarmos que essa imagem é acurada”, diz o Dr. Erickson, que dirige o Centro de Pesquisa e Educação sobre Vícios, do Colégio de Farmácia da Universidade do Texas.
Vimos que o ator se desculpou. Afirmou que disse coisas que ele não acredita que sejam verdadeiras.
Richard Wood é um veterano operador de polígrafos (o conhecido “detector de mentiras”, tão usado por algumas polícias, em particular a norte-americana), na cidade de Arlington. Ele acha que por décadas essas máquinas vêm conseguindo retirar verdades das pessoas que examina.
Mas Wood não as examina se estiverem embriagadas. “Pessoas embriagadas tendem a falar demais. Álcool não é um soro da verdade”, repete ele.
Observamos que um estudo feito pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos concluiu que “há pouca base para esperar-se de um teste de polígrafo alto nível de exatidão”. Os testes de polígrafos são normalmente utilizados em investigações policiais nos Estados Unidos. Contudo, nenhum réu ou testemunha pode ser forçado a submeter-se a ele. Só algumas cortes admitem evidências a partir desse exame.
Ames Sweet, diretora de comunicações do Conselho Nacional sobre Alcoolismo e Dependência de Drogas, em Nova York, concorda com Richard Wood. “Álcool solta a língua, mas não necessariamente a verdade”, afirma.
“Ele estimula as pessoas de uma maneira que às vezes suplanta a verdade. Há muitas coisas que vêm juntas da verdade. E verdade não á apenas uma proposta do tipo sim-ou-não”, explica a diretora.
Ela acrescenta que o álcool afeta a percepção dos fatos. “O álcool gera um certo elemento fantástico. Pode haver um grão de mentira nas verdades, assim como um grão de verdade nas mentiras”.
Mesmo em pequenas quantidades, o álcool pode levar as pessoas a dizer coisas que não diriam se sóbrias, afirma a Dra. Prema Manjunath, psiquiatra judiciária do Hospital John Peter Smith, em Fort Worth. “Outra coisa que ele provoca é destacar qualidades preexistentes: se a pessoas estava zangada antes pode ficar mais zangada depois de beber”.
Talvez por isso, a médica Stevie Hansen diz não é incomum uma pessoa que bebe demais entrar em brigas por motivos absolutamente toldos, que não a incomodavam. A médica é chefe dos serviços a drogados num hospital para doentes mentais, no município de Tarrant. “A bebida não reflete a personalidade das pessoas. Só porque você está bêbada não quer dizer que a verdade aparece”.
Já o professor de psiquiatria do Centro Médico de Dallas (da mesma Universidade do Texas), Dr. Bryon Adinoff, indica que beber demais pode ser comparado a um estado de sonho.
“Quando dormimos nossas defesas caem, o mesmo acontecendo quando estamos embriagados. Certamente sonhamos com fazer coisas que jamais faríamos e não queremos fazer e podemos nunca realizar”.
As notícias sobre o porre e a prisão do ator apresentam um dado intrigante. O nível de álcool no sangue de Gibson era, no momento da prisão, de 0,12, o que não assim tão alto para um alcoólatra (como ele mesmo se retratou). O limite de álcool na Califórnia é de 0,08.
“Uma pessoa acostumada a beber muito todos os dias pode não ficar com boa aparência, mas não ia ficar cambaleando por ai com 0.3 ou 0.4”, diz o Dr. Bryon. “Já um abstêmio estaria morto com esses níveis ou certamente em coma”.
O álcool pode levar pessoas a desinibir-se. “Mas em bebedores freqüentes chega a efeitos muito mais sérios, como psicose induzida pelo álcool”, explica a Dra. Prema Manjunath.
“As pessoas ouvem vozes, ficam paranóicas, vêm elefantes e ratos, têm alucinações. Acreditam que alguém as persegue. Deliram, acreditam em coisas que estão completamente fora do perfil de seu caráter”.
Apesar de ter lido para ele toda essa série de argumentos médicos e científicos, seu Demerval não pareceu muito convencido. “Sei por experiência própria que o álcool já me fez dizer coisas que eu desejaria não ter dito”. Seu Demerval não permite que se beba no seu estabelecimento. “Pode comprar aqui, mas beber só em casa”.
“Vem cá, o pai desse garoto não foi aquele que afirmou que o Holocausto nunca existiu? Por que estranhar que ele tenha ofendido os judeus?”
Uma saia justa, realmente.
Amiga, você acha que o álcool pode ser um soro da verdade? Acredita que o Mel Gibson não quis realmente dizer o que disse? É justo que Hollywood arquive o ator?
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