9.8.06

Brasileiros daqui e de lá

Os daqui. Primeiro vamos aos daqui, aliás, das daqui, pois falamos do que anda aprontando a Federação Brasileira de Confrarias e Associações Femininas do Vinho e do Espumante, a FEBAVE, que vai realizar em Caixas do Sul, RS, o seu primeiro encontro, nos dias 7 e 8 de outubro, no Samuara Hotel, em Caxias do Sul, RS. A entidade é constituída por integrantes das confrarias do Champanhe da Serra Gaúcha, da L'Arte Del Vino, Confraria Fina Flor do Vinho, do Champanhe de Florianópolis, do Vinho e do Champanhe de Novo Hamburgo, Feminina do Espumante e do Vinho do Vale dos Sinos e da Associação das Mulheres Amigas do Vinho da Serra Gaúcha.
Toda essa mulherada seriamente apreciadora de vinho vai realizar palestras, almoços harmonizados, degustações, selecionar e premiar a Dama do Vinho e do Espumante, entre outras atividades. Elas buscam motivar a presença feminina para aprimorar seus conhecimentos vinícolas, confraternizar com as demais confrarias e associações de vinho e espumante e, de resto, atrair apreciadoras (e apreciadores) da bebida. As inscrições já estão abertas. Basta falar com a Karen Giacomello Panizzon via karengpanizzon@terra.com.br ou pelos telefones: (54) 3292-2206 ou (54) 9978- 8677.
Nas próximas colunas estaremos fornecendo detalhes (palestrantes e temas a serem debatidos, vinhos a serem degustados etc.). De jeito algum perderia esse evento.
Brasileiros de lá. Você pode comprar vinhos brasileiros em Paris – pelo mesmo preço cobrado no Brasil! Eu não consigo entender, sou mesmo capenga em comércio (já tive uma loja de vinhos e dei com os burros n’água, justamente por esse motivo). Acho que o preço em reais, mais impostos, mais custos de transporte – tudo isso faria o vinho chegar lá pelo menos um pouco mais caro do que aqui. Mas não, o preço lá é parelho com o daqui. E olha que temos que considerar também o custo da loja, uma das “lojas de vinho do futuro”, a moderníssima Lavinia, 3-5 Boulevard de la Madeleine, 75001 Paris.
Já falei sobre a Lavinia aqui (ver “As lojas do futuro” aqui no Bolsa).
A Lavinia é a loja mais Novo Mundo de Paris, com perto de 1.500 metros quadrados. A empresa começou com lojas em Madri e em Barcelona e não faz muito tempo abriu em Paris. Oferece 6.000 rótulos diferentes de vinhos e destilados, dos quais 2.000 vinhos estrangeiros originários de 43 países. Vende também 500 itens diversos, entre acessórios e livros. Todas as garrafas estão guardadas em adegas climatizadas. Os vinhos são vendidos já na temperatura e umidade corretos.
É onde você vai encontrar vinhos dos Estados Unidos, Nova Zelândia, Argentina, Chile, Austrália etc e tal. E também, claro, da França, e os usuais suspeitos do velho continente. Todos os seus três andares são climatizados, seu estoque inclui centenas de destilados, uma ótima seleção de livros sobre vinhos em francês e em inglês, um bar para degustação e um restaurante. E um serviço impecável, via dezenas de simpáticos e atenciosos funcionários (e isso em Paris).
No primeiro andar, displays de vinhos nas paredes oferecem barganhas, especialidades (os orgânicos, por exemplo), os mais vendidos, ofertas da semana, sugestões de harmonização vinho-comida e degustações de um ou dois vinhos por semana (nada de plástico, apenas taças de vidro). Nesse andar ficam os vinhos franceses, não apenas os mais caros e raros, como também os de preços mais amistosos. É o lugar onde o Dr. Vino (referência de parte dessa coluna) conseguiu supremas barganhas francesas.
No andar de cima, a livraria, uma enorme coleção de armagnacs e cognacs, além do bar e restaurante. Para visitantes de fora da União Européia, a loja oferece 13% de devolução de impostos sobre compras acima de 300 euros (devolução só conseguida na volta pra casa, no aeroporto).
E os brasileiros nisso? Pois é, também temos vinhos brasileiros lá. São da nossa Miolo. Por causa deles, embora orgulhosa por estarem fazendo bonito em Paris, tropecei na questão de preços.
Por exemplo, o Miolo Cuvée Giuseppe 2003, tinto, garrafa de 750 ml, custa lá 16 euros ou R$ 44,47 (câmbio calculado dia 2 último). No site da Miolo, o preço é de R$ 44,00.
O Miolo Quinta do Seival 2003, tinto, 750 ml, está por 14,55 euros em Paris equivalente a R$ 40,44. No site da vinícola gaúcha esse vinho sai por R$ 40,00. E na Costi Bebidas, loja de Porto Alegre, por R$ 41,50.
O Miolo Terranova Cabernet Sauvignon-Shiraz 2003, tinto, 500 ml sai por 9,10 euros (ou R$ 25,29). Já na terra dele seu preço é bem mais cômodo: R$ 14,00.
Não sei, vai ver esses vinhos chegaram pelo “teletransporte” da Enterprise (da série “Jornada nas Estrelas”, lembram?). Os vinhos chegam num instantinho e sem aumento de custo, nada de pagar taxas, transportes etc. O pessoal da Lavinia apenas converte reais para euros. É mágica para mim.
Mas vai ver tudo isso é um esforço promocional para colocar o nosso vinho de modo favorável no exterior. Mas brasileiro também bebe vinho e gostaria de provar dessas novidades, todas elas fruto da parceria com o mundialmente famoso enólogo e consultor francês Michel Rolland, cujo fee é altíssimo. Mas preferiria pagar apenas pelo vinho e não pelo Michel.
O velho imita o novo. É realmente uma novidade, vinhos do Novo Mundo à venda na terra do vinho.
O escritor, filósofo, naturalista norte-americano Henry Thoreau, comenta em seu livro Walden sobre gente que adota servilmente o último estilo de moda de uma terra distante: “O macaco chefe em Paris põe um boné de viagem e todos os macacos da América fazem o mesmo”. Ele escreveu isso no século XIX.
Só que, agora, são os macacos franceses que imitam os da América e da Austrália: produtores franceses estão também usando bichinhos nos rótulos de seus vinhos, em particular os que seguem para exportação. Querem com isso concorrer com os vinhos do Novo Mundo com as mesmas armas de marketing.Eis aqui três exemplos bem recentes: O “Elephant on a Tightrope” (“Elefante numa corda bamba”; o nome original é mesmo em inglês, imaginem). Veja aqui o rótulo, que realmente é bem simpático.
Deram esse nome porque o elefante, falam eles, é conhecido pelo seu extraordinário equilíbrio e poderoso olfato. O vinho será, assim, equilibrado e muito aromático. Temos também o “Arrogant Frog” (“Rã Arrogante”), também em inglês. O produtor é Les Domaines Paul Mas. Veja o rótulo aqui.
O mais novo da lista vem com nome francês mesmo: “Chamarré”, que seria “ricamente colorido” ou “de cores variadas”. No seu rótulo, uma borboleta que muda de cor, conforme a garrafa (de tintos, brancos ou rosés). O produtor é a poderosa OVS, um grupo francês novo e ambicioso. OVS (Opéra Vins et Spiritueux) foi oficialmente apresentada em junho último na Vinexpo, em Bordeaux. E pretende com o “Chamarré” competir com as maiores marcas globais. Veja aqui o rótulo.
Essa linha engloba atualmente cinco varietais (Colombard-Sauvignon, Chardonnay-Sauvignon, Shiraz-Merlot, Cabernet-Grenache e um rosado, Grenache-Shiraz); cinco blends (dois brancos, dois tintos e um rosado) e dois vinhos de AOC: um branco do Jurançon e um tinto de Bordeaux.
Pois assim é que a necessidade é a mãe da invenção. Vamos ver se os franceses conseguem interromper a queda em suas vendas (dentro e fora de casa), saiam da corda bamba, percam a arrogância e voltem a fazer vinhos franceses de qualidade.

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