Pois então franceses e italianos acabam de decifrar o genoma das uvas viníferas, através de uma mostra da Pinot Noir, uma das mais antigas e caprichosas variedades existentes, a principal tinta da Borgonha, que faz um dos vinhos mais complexos e sutis do planeta, a paixão de Miles no filme Sideways, responsável por disparar as vendas da Pinot nos Estados Unidos.
O feito poderá ter aplicações práticas para a indústria do vinho, pois responde a importantes questões sobre a evolução das plantas com flores (angiospermas). Descobriram que, comparada a outras, tem duas vezes mais genes produtores de aromas, geram mais taninos e sabores e bem mais resveratrol, o componente dos tintos associados a uma grande variedade de benefícios para a saúde. O produtor saberá melhor onde e como cultivá-la, como proceder a cruzamentos e a produzir clones e a identificar cepas mais resistentes a doenças.
A Vitis Vinifera (a espécie de vinha mais utilizada na fabricação de vinho) é a quarta planta cujo genoma é decifrado. Segundo Jean Weissnbach, 59, diretor da Genoscope, um centro de pesquisas genéticas francês, que participou do consórcio franco-italiano responsável pelo feito, a Vitis foi escolhida porque ocupa um lugar importante na herança cultural da humanidade.
"O estudo do genoma dessa videira foi eleito porque é ela uma espécie muito sensível a inúmeras fitopatogenias (moléstias das plantas)." Para reduzi-las, "a idéia é identificar os genes mais resistentes", o que facilitaria a introdução de cepas mais fortes para cruzamento ou transferência de gene.
O genoma da videira, que conta com cerca de 30 mil genes, é constituído de três genomas reunidos. O genoma do homem é dito "diplóide", porque cada cromossomo está presente em dois exemplares, um transmitido pelo pai e outro pela mãe. O da videira é dito "hexaplóide", porque é constituído de três genomas diplóides, ou seja, de seis conjuntos de cromossomos.
Jean Weissenbach explica que foram necessários pelo menos dois eventos maiores, dos quais um teria acontecido há entre 130 milhões e 240 milhões de anos, para passar das plantas de flores diplóides às plantas de três genomas como a videira.
Leio no Globo que tudo isso resultará num “vinho mais saudável” e, no Bloomberg, “na chance de criar novas nuances no vinho feito dessa uva”.
E o diretor da Genoscope antecipa: “Os vinicultores, ao ligarem e desligarem esses genes, poderão somar ou subtrair características de seus vinhos”. E acrescentou: “Por muito tempo o homem tem tentado selecionar sabores por meios clássicos. Vamos ver se podemos fazer melhor”. É, vamos ver.
Começa que tomo vinho por prazer e não em função de saúde. Mas agora temo por ela. Caímos no terreno do geneticamente modificado, (GM) – prática, por sinal, banida na União Européia. O caso é que se eu “ligar ou desligar” um gene de João, ele deixa de ser João. A Pinot Noir deixa de ser Pinot Noir.
Só essa uva possui pelo menos 46 clones autorizados na França (veja os casos da Pinot Blanc, Pinot Gris e Pinot Meunier), todos por mutação natural. Existem pelo menos 10 mil variedades conhecidas da vinifera.
Se quisermos “novas nuances” basta escolher uma entre as centenas de garrafas num supermercado. Tem Pinot Noir francesa, alemã, italiana, americana, australiana, neozelandesa etc. E isso sem “ligar e desligar” genes, sem alterar DNAs. Como “fazer melhor”?
Acho que experiências genéticas com as vinhas podem vir a se constituir numa verdadeira revolução, mas se tratadas com muito cuidado, com as pesquisas sendo verificadas por um organismo independente e realizadas num ambiente confinado, por prazos muito longos, assegurando-se que as inovações ocorram a partir de métodos compatíveis ecologicamente.
Já aconteceu com as culturas geneticamente modificadas de milho e soja contaminaram outras culturas antes que as devidas pesquisas fossem feitas.
O mesmo pode acontecer com as vinhas, com conseqüências irreversíveis. E o tal João poderá até virar um monstro.
Essa história de genes mais resistentes a doenças dá o que pensar. Denis Dubourdieu é figura conhecida e respeitada em Bordeaux. Pesquisador e ao mesmo tempo vinicultor, é respeitado mundialmente pelos seus trabalhos sobre a vinificação do vinho branco.
Eis o que ele afirmou uma entrevista à revista Decanter: “Um grande vinho é igual a complexidade e o papel dos produtos geneticamente modificados é o de simplificar. Apenas isso já os faz desinteressantes. Os que estão a favor argumentam que as vinhas geneticamente modificadas eliminariam a necessidade, por exemplo, de fungicidas. Mas eles não dizem que as plantas geneticamente modificadas trazem dentro deles um fungicida”.
Querem mais? Li num artigo científico sobre vinhos GM, do professor Joe Cummins, do Instituto de Ciência em Sociedade, de Londres, que “genes sintéticos, toxinas e cianureto são alguns dos elementos que poderão estar nos vinhos em sua mesa”. Confira aqui.
Acreditem, não sou contra a intervenção humana no processo: eletricidade, tanques de aço, gás inerte, lascas de carvalho, lençóis de plástico sob as vinhas, seleção de clones, enzimas, filtragem estéril etc. Tudo bem. O problema é que engenharia genética para os vinhos ainda está em testes, mas já é um grande negócio.
O mais famoso consultor de vinhos do mundo, o francês Michel Rolland, certa vez declarou ao New York Times que, essencialmente, o “vinho é um negócio”.
Vale tudo para vender. Também entendo isso, mas brincar de Deus para no final colocar cianureto numa garrafa é dose.
A amiga acha que o vinho é apenas um negócio ou um prazer a ser desfrutado com segurança? Fale aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br
O feito poderá ter aplicações práticas para a indústria do vinho, pois responde a importantes questões sobre a evolução das plantas com flores (angiospermas). Descobriram que, comparada a outras, tem duas vezes mais genes produtores de aromas, geram mais taninos e sabores e bem mais resveratrol, o componente dos tintos associados a uma grande variedade de benefícios para a saúde. O produtor saberá melhor onde e como cultivá-la, como proceder a cruzamentos e a produzir clones e a identificar cepas mais resistentes a doenças.
A Vitis Vinifera (a espécie de vinha mais utilizada na fabricação de vinho) é a quarta planta cujo genoma é decifrado. Segundo Jean Weissnbach, 59, diretor da Genoscope, um centro de pesquisas genéticas francês, que participou do consórcio franco-italiano responsável pelo feito, a Vitis foi escolhida porque ocupa um lugar importante na herança cultural da humanidade.
"O estudo do genoma dessa videira foi eleito porque é ela uma espécie muito sensível a inúmeras fitopatogenias (moléstias das plantas)." Para reduzi-las, "a idéia é identificar os genes mais resistentes", o que facilitaria a introdução de cepas mais fortes para cruzamento ou transferência de gene.
O genoma da videira, que conta com cerca de 30 mil genes, é constituído de três genomas reunidos. O genoma do homem é dito "diplóide", porque cada cromossomo está presente em dois exemplares, um transmitido pelo pai e outro pela mãe. O da videira é dito "hexaplóide", porque é constituído de três genomas diplóides, ou seja, de seis conjuntos de cromossomos.
Jean Weissenbach explica que foram necessários pelo menos dois eventos maiores, dos quais um teria acontecido há entre 130 milhões e 240 milhões de anos, para passar das plantas de flores diplóides às plantas de três genomas como a videira.
Leio no Globo que tudo isso resultará num “vinho mais saudável” e, no Bloomberg, “na chance de criar novas nuances no vinho feito dessa uva”.
E o diretor da Genoscope antecipa: “Os vinicultores, ao ligarem e desligarem esses genes, poderão somar ou subtrair características de seus vinhos”. E acrescentou: “Por muito tempo o homem tem tentado selecionar sabores por meios clássicos. Vamos ver se podemos fazer melhor”. É, vamos ver.
Começa que tomo vinho por prazer e não em função de saúde. Mas agora temo por ela. Caímos no terreno do geneticamente modificado, (GM) – prática, por sinal, banida na União Européia. O caso é que se eu “ligar ou desligar” um gene de João, ele deixa de ser João. A Pinot Noir deixa de ser Pinot Noir.
Só essa uva possui pelo menos 46 clones autorizados na França (veja os casos da Pinot Blanc, Pinot Gris e Pinot Meunier), todos por mutação natural. Existem pelo menos 10 mil variedades conhecidas da vinifera.
Se quisermos “novas nuances” basta escolher uma entre as centenas de garrafas num supermercado. Tem Pinot Noir francesa, alemã, italiana, americana, australiana, neozelandesa etc. E isso sem “ligar e desligar” genes, sem alterar DNAs. Como “fazer melhor”?
Acho que experiências genéticas com as vinhas podem vir a se constituir numa verdadeira revolução, mas se tratadas com muito cuidado, com as pesquisas sendo verificadas por um organismo independente e realizadas num ambiente confinado, por prazos muito longos, assegurando-se que as inovações ocorram a partir de métodos compatíveis ecologicamente.
Já aconteceu com as culturas geneticamente modificadas de milho e soja contaminaram outras culturas antes que as devidas pesquisas fossem feitas.
O mesmo pode acontecer com as vinhas, com conseqüências irreversíveis. E o tal João poderá até virar um monstro.
Essa história de genes mais resistentes a doenças dá o que pensar. Denis Dubourdieu é figura conhecida e respeitada em Bordeaux. Pesquisador e ao mesmo tempo vinicultor, é respeitado mundialmente pelos seus trabalhos sobre a vinificação do vinho branco.
Eis o que ele afirmou uma entrevista à revista Decanter: “Um grande vinho é igual a complexidade e o papel dos produtos geneticamente modificados é o de simplificar. Apenas isso já os faz desinteressantes. Os que estão a favor argumentam que as vinhas geneticamente modificadas eliminariam a necessidade, por exemplo, de fungicidas. Mas eles não dizem que as plantas geneticamente modificadas trazem dentro deles um fungicida”.
Querem mais? Li num artigo científico sobre vinhos GM, do professor Joe Cummins, do Instituto de Ciência em Sociedade, de Londres, que “genes sintéticos, toxinas e cianureto são alguns dos elementos que poderão estar nos vinhos em sua mesa”. Confira aqui.
Acreditem, não sou contra a intervenção humana no processo: eletricidade, tanques de aço, gás inerte, lascas de carvalho, lençóis de plástico sob as vinhas, seleção de clones, enzimas, filtragem estéril etc. Tudo bem. O problema é que engenharia genética para os vinhos ainda está em testes, mas já é um grande negócio.
O mais famoso consultor de vinhos do mundo, o francês Michel Rolland, certa vez declarou ao New York Times que, essencialmente, o “vinho é um negócio”.
Vale tudo para vender. Também entendo isso, mas brincar de Deus para no final colocar cianureto numa garrafa é dose.
A amiga acha que o vinho é apenas um negócio ou um prazer a ser desfrutado com segurança? Fale aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br
Da Adega
ProChile 2007. A 4ª. Degustação Anual de Vinhos Chilenos, com degustações no Rio e em São Paulo, no final de agosto, foi sucesso absoluto. Os vinhos chilenos já estão em primeiro lugar entre os vinhos que importamos, deixando para trás a Argentina, Itália e Portugal. Os chilenos, de janeiro a maio deste ano, já exportaram 6.255.492, 50 litros de vinhos. E olha que somos apenas o 8º maior mercado para o Chile, ficando atrás do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Holanda, China e Dinamarca. De 100 marcas contidas nas listas de restaurantes americanos, 15 são franceses, 7 são italianos, 2 australianos e 1 é chileno (segundo o relatório anual do The Restaurant Magazine). Eles não só sabem fazer como promover seus vinhos.
Casa Valduga é Ouro. O espumante Casa Valduga Extra Brut Gran Reserva 2002 conquistou a Gran Medalha de Ouro no “Wine Brasil Awards 2007”, premiação do Concurso Mundial de Bruxelas destinada aos vinhos brasileiros. O espumante, no início do ano, já havia recebido uma medalha na França. O espumante é feito pelo método champenoise, com as uvas Chardonnay e Pinot Noir.
A Casa Valduga, no mesmo Brasil Awards, obteve mais dois ouros: pelo seu Casa Valduga Identidade Ancelotta 2005, um tinto, e pelo branco Casa Valduga Chardonnay Gran Reserva 2005.
A Valduga fica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS). Visite o site: www.casavalduga.com.br.
ProChile 2007. A 4ª. Degustação Anual de Vinhos Chilenos, com degustações no Rio e em São Paulo, no final de agosto, foi sucesso absoluto. Os vinhos chilenos já estão em primeiro lugar entre os vinhos que importamos, deixando para trás a Argentina, Itália e Portugal. Os chilenos, de janeiro a maio deste ano, já exportaram 6.255.492, 50 litros de vinhos. E olha que somos apenas o 8º maior mercado para o Chile, ficando atrás do Reino Unido, Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Holanda, China e Dinamarca. De 100 marcas contidas nas listas de restaurantes americanos, 15 são franceses, 7 são italianos, 2 australianos e 1 é chileno (segundo o relatório anual do The Restaurant Magazine). Eles não só sabem fazer como promover seus vinhos.
Casa Valduga é Ouro. O espumante Casa Valduga Extra Brut Gran Reserva 2002 conquistou a Gran Medalha de Ouro no “Wine Brasil Awards 2007”, premiação do Concurso Mundial de Bruxelas destinada aos vinhos brasileiros. O espumante, no início do ano, já havia recebido uma medalha na França. O espumante é feito pelo método champenoise, com as uvas Chardonnay e Pinot Noir.
A Casa Valduga, no mesmo Brasil Awards, obteve mais dois ouros: pelo seu Casa Valduga Identidade Ancelotta 2005, um tinto, e pelo branco Casa Valduga Chardonnay Gran Reserva 2005.
A Valduga fica no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS). Visite o site: www.casavalduga.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário