Já temos o nosso primeiro vinho com tampa de rosca (screwcap): são dois rótulos da linha Sunny Days, dos Vinhedos Almadén, de Santana do Livramento, RGS, pertencentes ao poderoso grupo francês Pernod-Ricard, o segundo maior em vinhos e destilados no mundo.
As tampas de rosca parecem ser até agora a melhor solução para o grave problema da contaminação pelo TCA (2,4,6-trichloroanisole), um componente químico que infecta a rolha, deixando a bebida intragável. Estima-se que, no total, a indústria vinícola perca entre 3 e até 10% de seus vinhos pela “doença da rolha”.
Uma rolha contaminada vai naturalmente infectar o vinho, deixando-o com aromas de mofo e sabores rançosos. Se a vinícola tiver sorte, o consumidor identificará o problema (TCA), e ganhará uma nova garrafa. Se tiver azar, o consumidor não saberá do que se trata e vai maldizer aquele vinho. Um senhor prejuízo e, daí, a busca por tampas alternativas.
A Nova Zelândia lidera a busca pela mudança, favorecendo as tampas de rosca, seguida pela Austrália e Estados Unidos. Até Bordeaux, tida como um bastião do tradicionalismo, já oferece um Deuxième Cru Classé com tampa de rosca. É o Les Tourelles de Longueville, o segundo vinho do famoso Château Pichon-Longueville.
É grande a controvérsia envolvendo as tampas de cortiça natural e as alternativas, principalmente as tampas de rosca. As rolhas de cortiça ainda lideram a preferência de consumidores e vinicultores. Uma pesquisa recente, realizada pela empresa de pesquisa e consultoria, a inglesa Wine Intelligence, dedicada à indústria do vinho, mostra que as rolhas de cortiça ainda são, por larga margem, as preferidas – tanto por consumidores quanto por produtores. Contudo, demonstra também que as tampas de rosca de metal estão cada vez mais ganhando as simpatias desses dois públicos.
No seu livro “To Cork or not to Cork” (Scribner, 2007) - mais ou menos “Arrolhar (com cortiça) ou não arrolhar (com cortiça)” -, o americano George M. Taber informa que a produção mundial de rolhas de cortiça foi de 16 bilhões de unidades (80% do total), contra 2,5 milhões de rolhas de plástico (12,5%), 1,5% bilhão de tampas de rosca (8,5%) e 20 milhões de tampas de vidro (as Vino-Seal, também da Alcoa, com 1%).
Em termos de popularidade por país, esse autor diz que as rolhas de cortiça têm 84% na França, 80% nos Estados Unidos, 5% na Nova Zelândia e 30% na Austrália. As de plástico chegam a 13% na França, 15% nos Estados Unidos, 1% na Nova Zelândia e 20% na Austrália. As tampas de metal conseguem 3% na França, 5% nos Estados Unidos, 95% na Nova Zelândia e 50% na Austrália.
Claro que essa pesquisa foi feita perguntando ao consumidor o que ele prefere ou não. Porém, pesquisadores da Universidade do Estado do Oregon, EUA, mostraram um trabalho, em julho de 2007, no qual os consumidores não conseguiram diferenciar entre vinhos com rolha de cortiça, sintética ou com tampa de rosca. Ninguém perguntou nada: pediram apenas que experimentassem vinhos (cujas tampas ficaram desconhecidas).
O vinicultor da Tablas Creek Vineyard, Jason Haas produz vinhos que, dependendo do estilo desejado, ora utilizam tampas de rosca, ora de cortiça. Como profissional, ele diz que os vinhos com as tampas metálicas são mais refrescantes, são mais ácidos, mais minerais. Os com tampa de cortiça parecem mais suaves, mais doces, mais maduros, com um paladar menos ácido, o que equivale a uma percepção de doçura. Haas é um técnico, treinado para saber das diferenças – que o consumidor, como vimos na pesquisa do Oregon, não percebe.
Em resumo: muito da força da rolha de cortiça reside na tradição, na imagem de que garrafas com essa tampa oferecem vinhos de maior qualidade. Uma imagem construída há séculos. Afinal, os romanos as utilizavam desde 500 a.C. Saem de uso em 500 d.C., em razão do caos provocado pela queda do Império. São citadas até por Shakespeare, no seu “As You Like It” (“Como quiseres”, de 1599). Até que em 1632, a criação das garrafas de vidro fez proliferar o uso das rolhas de cortiça. O curioso é que o saca-rolhas foi patenteado muito tempo depois, em 1795. Como será que faziam sem ele? Pois ele é fundamental no cerimonial de abertura da garrafa. É uma prova de fogo para o garção. Se não passar por ela, ele é demitido.
Já as tampas de rosca vêm fechando potes de alimentos, com toda a segurança, desde 1858 – quando uma tampa dessas foi patenteada pelo inglês John Mason. E vêm fechando uísques, dos mais simples aos mais nobres, desde 1926. Com relação às garrafas de vinho, a França começou a pesquisá-las em 1959. Em 1972, vinícolas suíças lançaram com sucesso as tampas Stelvin (do grupo Alcoa) e as estão usando até hoje. Os neozelandeses e australianos as empregam desde 2000. Sem reclamações.
As queixas mais comuns contra as sintéticas são que podem passar um sabor de plástico aos vinhos. Funcionam bem apenas para vinhos feitos para serem bebidos imediatamente após a compra (a maioria deles). A grande queixa, porém, é a da extrema dificuldade de retirá-las e a quase impossibilidades de serem recolocadas na garrafa. É dose: já pedi ajuda até ao carteiro para desarrolhar vinhos com elas.
Isso não acontece com as tampas de rosca: simplicidade e praticidade são duas de suas maiores características. Só que sua imagem está ligada a vinhos de baixa qualidade. Mas esse impedimento parece que está caindo.
Entre os profissionais, têm-se os vinhos fechados com tampa de rosca podem desenvolver aromas “redutivos”. “Redução” é o oposto de oxidação. Durante o processo de vinificação, o vinho faz contato com o oxigênio (o fermento não viveria sem ele). Quando o vinho é engarrafado, o seu meio muda, nada de oxigênio, e ele se torna “redutivo”. O vinho em contato com um ambiente oxidativo vai irremediavelmente morrer. Mas a oxidação pode ser parte de um estilo de vinificação, pode ser administrada. Essa seria uma das vantagens da cortiça: deixar passar mínimas quantidades de oxigênio ao longo dos tempos, quando o vinho ganharia mais complexidade.
Mas um vinho com tampa de rosca praticamente não deixa passar nada (embora já exista uma tampa de rosca, a Stelvin Lux, feita de modo a permitir a passagem de pequena quantidade de oxigênio, imitando a porosidade da cortiça). Esses vinhos, contudo, podem desenvolver aromas originários do fato de estarem num ambiente “redutivo” (aroma de suor ou de animais, por exemplo). Mas isso não destrói o vinho. Basta abri-lo e deixá-lo arejar por um tempinho.
Além do fato de eliminar o risco da contaminação pelo TCA, e serem facílimas de abrir (e fechar), as tampas de rosca afastam também a ameaça esporádica da oxidação. E facilitam o armazenamento do vinho na vertical (ganhamos espaço e facilmente identificamos a garrafa). Além disso, são mais resistentes às alterações da temperatura (as rolhas “trabalham” com essas alterações, aumentando ou diminuindo o seu volume, facilitando a entrada do oxigênio ou a saída da bebida). Elas também não são afetadas pela umidade ou pelos odores do ambiente.
A linha Sunny Days da Almadén, agora modernizada com as tampas de rosca, vem nas versões Branco e Blush (rosado). São vinhos frisantes, e, segundo vinícola, bem refrescantes e aromáticos, suaves e frutados. Feitos para um dia de verão.
Se a leitora quer experimentar esses vinhos pioneiros com tampa metálica é só visitar o site da Pernod (veja aqui) ou falar com a Allys Franco, da divulgação, pelo allys.franco@brodeur.com.br
Ajude um garção a continuar no trabalho, leitora. Experimente os Sunny Days e depois conte para nós o que achou.
Da Adega
Grande degustação de vinhos da terrinha. Mais de 200 rótulos de importantes vinícolas e regiões portuguesas estarão sendo degustados hoje, 27, em reunião supimpa promovida pelo Cônsul de Portugal, Sr. Antônio Almeida Lima, e sua esposa Vanda, nos salões de sua residência, no Palácio São Clemente, em Botafogo. Além do consulado, promovem o evento a ViniPortugal e a AICEP. O objetivo é, claro, divulgar os vinhos lusitanos e atingir novos grupos de consumidores aqui.
No belo Palácio, um dos marcos arquitetônicos do Rio, são esperados 400 convidados, entre críticos, consultores, empresários, grandes consumidores de vinhos e profissionais do setor como donos de restaurantes, de lojas e sommeliers. O evento acontecerá das 16 h às 21 h.
As importadoras participantes são: Adega Alentejana, Aurora, Barrinhas, Casa Flora, Casa Aragão, Carvalho e Filhos, Caves Aliança, Comercial Beirão da Serra, Decanter, Diageo Brasil, Expand, Enoport - Dom Teodósio, Euro Real, Grand Cru, Impexco, Interfood, La Pastina, Lusitana, Mistral, MGC, Msé Trading Company; Paralelo 35 Sul, Portugal Trade Show, Qualimpor, Vinhas do Douro, Vinci Vinhos, Wine Company e World Wine.
As tampas de rosca parecem ser até agora a melhor solução para o grave problema da contaminação pelo TCA (2,4,6-trichloroanisole), um componente químico que infecta a rolha, deixando a bebida intragável. Estima-se que, no total, a indústria vinícola perca entre 3 e até 10% de seus vinhos pela “doença da rolha”.
Uma rolha contaminada vai naturalmente infectar o vinho, deixando-o com aromas de mofo e sabores rançosos. Se a vinícola tiver sorte, o consumidor identificará o problema (TCA), e ganhará uma nova garrafa. Se tiver azar, o consumidor não saberá do que se trata e vai maldizer aquele vinho. Um senhor prejuízo e, daí, a busca por tampas alternativas.
A Nova Zelândia lidera a busca pela mudança, favorecendo as tampas de rosca, seguida pela Austrália e Estados Unidos. Até Bordeaux, tida como um bastião do tradicionalismo, já oferece um Deuxième Cru Classé com tampa de rosca. É o Les Tourelles de Longueville, o segundo vinho do famoso Château Pichon-Longueville.
É grande a controvérsia envolvendo as tampas de cortiça natural e as alternativas, principalmente as tampas de rosca. As rolhas de cortiça ainda lideram a preferência de consumidores e vinicultores. Uma pesquisa recente, realizada pela empresa de pesquisa e consultoria, a inglesa Wine Intelligence, dedicada à indústria do vinho, mostra que as rolhas de cortiça ainda são, por larga margem, as preferidas – tanto por consumidores quanto por produtores. Contudo, demonstra também que as tampas de rosca de metal estão cada vez mais ganhando as simpatias desses dois públicos.
No seu livro “To Cork or not to Cork” (Scribner, 2007) - mais ou menos “Arrolhar (com cortiça) ou não arrolhar (com cortiça)” -, o americano George M. Taber informa que a produção mundial de rolhas de cortiça foi de 16 bilhões de unidades (80% do total), contra 2,5 milhões de rolhas de plástico (12,5%), 1,5% bilhão de tampas de rosca (8,5%) e 20 milhões de tampas de vidro (as Vino-Seal, também da Alcoa, com 1%).
Em termos de popularidade por país, esse autor diz que as rolhas de cortiça têm 84% na França, 80% nos Estados Unidos, 5% na Nova Zelândia e 30% na Austrália. As de plástico chegam a 13% na França, 15% nos Estados Unidos, 1% na Nova Zelândia e 20% na Austrália. As tampas de metal conseguem 3% na França, 5% nos Estados Unidos, 95% na Nova Zelândia e 50% na Austrália.
Claro que essa pesquisa foi feita perguntando ao consumidor o que ele prefere ou não. Porém, pesquisadores da Universidade do Estado do Oregon, EUA, mostraram um trabalho, em julho de 2007, no qual os consumidores não conseguiram diferenciar entre vinhos com rolha de cortiça, sintética ou com tampa de rosca. Ninguém perguntou nada: pediram apenas que experimentassem vinhos (cujas tampas ficaram desconhecidas).
O vinicultor da Tablas Creek Vineyard, Jason Haas produz vinhos que, dependendo do estilo desejado, ora utilizam tampas de rosca, ora de cortiça. Como profissional, ele diz que os vinhos com as tampas metálicas são mais refrescantes, são mais ácidos, mais minerais. Os com tampa de cortiça parecem mais suaves, mais doces, mais maduros, com um paladar menos ácido, o que equivale a uma percepção de doçura. Haas é um técnico, treinado para saber das diferenças – que o consumidor, como vimos na pesquisa do Oregon, não percebe.
Em resumo: muito da força da rolha de cortiça reside na tradição, na imagem de que garrafas com essa tampa oferecem vinhos de maior qualidade. Uma imagem construída há séculos. Afinal, os romanos as utilizavam desde 500 a.C. Saem de uso em 500 d.C., em razão do caos provocado pela queda do Império. São citadas até por Shakespeare, no seu “As You Like It” (“Como quiseres”, de 1599). Até que em 1632, a criação das garrafas de vidro fez proliferar o uso das rolhas de cortiça. O curioso é que o saca-rolhas foi patenteado muito tempo depois, em 1795. Como será que faziam sem ele? Pois ele é fundamental no cerimonial de abertura da garrafa. É uma prova de fogo para o garção. Se não passar por ela, ele é demitido.
Já as tampas de rosca vêm fechando potes de alimentos, com toda a segurança, desde 1858 – quando uma tampa dessas foi patenteada pelo inglês John Mason. E vêm fechando uísques, dos mais simples aos mais nobres, desde 1926. Com relação às garrafas de vinho, a França começou a pesquisá-las em 1959. Em 1972, vinícolas suíças lançaram com sucesso as tampas Stelvin (do grupo Alcoa) e as estão usando até hoje. Os neozelandeses e australianos as empregam desde 2000. Sem reclamações.
As queixas mais comuns contra as sintéticas são que podem passar um sabor de plástico aos vinhos. Funcionam bem apenas para vinhos feitos para serem bebidos imediatamente após a compra (a maioria deles). A grande queixa, porém, é a da extrema dificuldade de retirá-las e a quase impossibilidades de serem recolocadas na garrafa. É dose: já pedi ajuda até ao carteiro para desarrolhar vinhos com elas.
Isso não acontece com as tampas de rosca: simplicidade e praticidade são duas de suas maiores características. Só que sua imagem está ligada a vinhos de baixa qualidade. Mas esse impedimento parece que está caindo.
Entre os profissionais, têm-se os vinhos fechados com tampa de rosca podem desenvolver aromas “redutivos”. “Redução” é o oposto de oxidação. Durante o processo de vinificação, o vinho faz contato com o oxigênio (o fermento não viveria sem ele). Quando o vinho é engarrafado, o seu meio muda, nada de oxigênio, e ele se torna “redutivo”. O vinho em contato com um ambiente oxidativo vai irremediavelmente morrer. Mas a oxidação pode ser parte de um estilo de vinificação, pode ser administrada. Essa seria uma das vantagens da cortiça: deixar passar mínimas quantidades de oxigênio ao longo dos tempos, quando o vinho ganharia mais complexidade.
Mas um vinho com tampa de rosca praticamente não deixa passar nada (embora já exista uma tampa de rosca, a Stelvin Lux, feita de modo a permitir a passagem de pequena quantidade de oxigênio, imitando a porosidade da cortiça). Esses vinhos, contudo, podem desenvolver aromas originários do fato de estarem num ambiente “redutivo” (aroma de suor ou de animais, por exemplo). Mas isso não destrói o vinho. Basta abri-lo e deixá-lo arejar por um tempinho.
Além do fato de eliminar o risco da contaminação pelo TCA, e serem facílimas de abrir (e fechar), as tampas de rosca afastam também a ameaça esporádica da oxidação. E facilitam o armazenamento do vinho na vertical (ganhamos espaço e facilmente identificamos a garrafa). Além disso, são mais resistentes às alterações da temperatura (as rolhas “trabalham” com essas alterações, aumentando ou diminuindo o seu volume, facilitando a entrada do oxigênio ou a saída da bebida). Elas também não são afetadas pela umidade ou pelos odores do ambiente.
A linha Sunny Days da Almadén, agora modernizada com as tampas de rosca, vem nas versões Branco e Blush (rosado). São vinhos frisantes, e, segundo vinícola, bem refrescantes e aromáticos, suaves e frutados. Feitos para um dia de verão.
Se a leitora quer experimentar esses vinhos pioneiros com tampa metálica é só visitar o site da Pernod (veja aqui) ou falar com a Allys Franco, da divulgação, pelo allys.franco@brodeur.com.br
Ajude um garção a continuar no trabalho, leitora. Experimente os Sunny Days e depois conte para nós o que achou.
Da Adega
Grande degustação de vinhos da terrinha. Mais de 200 rótulos de importantes vinícolas e regiões portuguesas estarão sendo degustados hoje, 27, em reunião supimpa promovida pelo Cônsul de Portugal, Sr. Antônio Almeida Lima, e sua esposa Vanda, nos salões de sua residência, no Palácio São Clemente, em Botafogo. Além do consulado, promovem o evento a ViniPortugal e a AICEP. O objetivo é, claro, divulgar os vinhos lusitanos e atingir novos grupos de consumidores aqui.
No belo Palácio, um dos marcos arquitetônicos do Rio, são esperados 400 convidados, entre críticos, consultores, empresários, grandes consumidores de vinhos e profissionais do setor como donos de restaurantes, de lojas e sommeliers. O evento acontecerá das 16 h às 21 h.
As importadoras participantes são: Adega Alentejana, Aurora, Barrinhas, Casa Flora, Casa Aragão, Carvalho e Filhos, Caves Aliança, Comercial Beirão da Serra, Decanter, Diageo Brasil, Expand, Enoport - Dom Teodósio, Euro Real, Grand Cru, Impexco, Interfood, La Pastina, Lusitana, Mistral, MGC, Msé Trading Company; Paralelo 35 Sul, Portugal Trade Show, Qualimpor, Vinhas do Douro, Vinci Vinhos, Wine Company e World Wine.
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