12.8.08

O sabor que vem da terra

Terry Theise talvez seja pouco conhecido por aqui. Mas é importante personalidade do mundo dos vinhos nos Estados Unidos e na Europa. É um importador americano, renomado por descobrir vinhos de grande qualidade originários de pequenos produtores. Vive de importar vinhos da Alemanha, da Áustria e de Champagne. Anualmente publica um catálogo sobre suas novas descobertas, com comentários sempre provocantes, que valem nossa reflexão. O que apresento abaixo é parte de uma palestra que fez em San Francisco, EUA: uma “Meditação sobre a importância do Terroir”.
Terroir é um termo francês polêmico e para o qual não existe uma tradução específica. É mais do que “terra”. Seria a soma de solo, topografia e clima. Combinados darão a cada vinhedo o seu exclusivo Terroir, o que será refletido nos vinhos de modo mais ou menos consistente de ano para ano. É uma idéia mais aceita no Velho Mundo e menos no Novo. Vamos ao que Thiese tem a falar a respeito.
“Eu estudava na Alemanha quando entrei em contato com os vinhos. Explorei as regiões vinícolas e comecei a aprender por experiência e também pelo que as pessoas pensavam sobre os vinhos – que os sabores de um vinho vinham dos solos onde as vinhas eram cultivadas. Isso passou a ser simplesmente o meu entendimento de como o vinho era gerado. E fiquei muito chocado quando pela primeira vez soube que algumas pessoas não acreditavam nisso”.
“Na verdade, Terroir é algo pelo qual vale a pena lutar. E francamente essa luta tornou-se cansativa. Há dois tipos de pessoas nesse mundo. Aquelas que entendem que o solo faz o vinho; e aquelas que são idiotas”.
“Eis a minha definição de Terroir: é a causa e o efeito do relacionamento entre os componentes do solo e os sabores de um vinho, para os quais nenhuma outra explicação parece possível. É isso”.
“É obvio que existem fatores que influenciam o terroir: estrutura geológica, drenagem, o pH do solo etc. O clima age sobre o Terroir e naturalmente a mão do homem também”.
“Falar sobre a ação do solo é como dizer que em alguns anos Elvis (Presley) estava magro e gordo em outros. Os componentes estão lá, criando sabores, modificados por tudo o que acontece às uvas naquela safra, incluindo as nossas próprias ações. Mas os componentes estão lá”.
“Naturalmente, isso ainda não foi provado cientificamente. Mas é verdade. E verdade para mim significa que todos os corvos são pretos até que apareça um branco. Se eu encontrar evidência que contradiga essa minha hipótese mudo de opinião. Continuo esperando pelo corvo branco. Quando removemos todas as variáveis, verificamos que um tipo de solo resulta em determinados sabores e outros solos em outros”.
“Gosto de dizer que o texto escrito por um vinho está na terra. O viticultor determina a fonte. O sabor são as notas musicais e o produtor o maestro. A partitura é escrita antes que o mastro a conheça. Quem a escreve é a terra: o maestro apenas a interpreta. Uma vez perguntei a um produtor o que era mais importante para ele. Sua resposta: saber quando não fazer nada”.
“Fazer vinho é preservar o sabor que já existe”.
Traduzi aqui trechos de um artigo do blogueiro Alder Yarrow (“Vinography”) sobre a fala de Terry Thiese no referido seminário.

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