13.12.07

Sobre pérolas

Acho que podemos sempre criar ocasiões para brindar, festejar, ofertar. Mas essa é a época do ano em que fazemos isso com mais freqüência, em que o espírito de fraternidade atinge o seu auge. E brindamos, brindamos sem parar. A história começou na Antiguidade com brindes à saúde – para que nossos convivas não pensassem que a bebida estivesse envenenada e que ninguém fosse fazer com eles o que os pombos fazem com as estátuas. E os espumantes são, com certeza, a grande pedida nas festas de fim de ano, onde além de saúde se deseja felicidade. E sobre eles as bolhinhas tenho três comentários:
A razão das bolhas. A fermentação do vinho produz álcool e dióxido de carbono (CO2) – que é o gás presente nos espumantes, o responsável pelas queridas bolhinhas (ou “pérolas gasosas”, como li outro dia). Falam os técnicos que uma garrafa de 750 ml de espumante pode conter até 20 milhões de unidades dessas “perolas”. Não me pergunte como contaram. Muitos profissionais acreditam que essas bolhas brotam de imperfeições, riscos e saliências nas taças. Muitos restaurantes, inclusive, arranham suas taças esperando servir espumantes mais borbulhantes.
Nada disso. Físicos brasileiros e franceses (entre eles, Gérard Liger-Belair, da Universidade de Reims, França, e Alberto Tufaile, da Universidade de São Paulo) fizeram um grande estudo sobre os ritmos das bolhas nas flutes. E descobriram que elas nascem de sujeirinhas na taça, em pontos da parede do copo aos quais aderiram diminutas impurezas, em geral fibras de celulose de 100 micrometros vindas do ar, inofensivas à saúde. Ou, sim, são subprodutos de copos mal lavados.
Assim, amiga, não adianta colocar uma colher de chá no gargalho das garrafas para segurar as bolhas. Podem lavar à vontade que aquelas microscópicas sujeirinhas vão estar sempre no ar. E estimular as nossas bolhinhas. Leia a interessante matéria no Jornal do Vinho.
Para quem não se importa. Não se importa com o aquecimento global, com diferença cada vez maior entre ricos e pobres, não dá a mínima para a exclusão social; não está nem aí para assuntos como risco ambiental, desmatamento, proteção da flora e fauna, conservação da biodiversidade. Então, temos um espumante especial para você.
É a Yellowboam – a garrafa mais preciosa até hoje produzida pela Veuve Clicquot, uma venerável casa de Champagne com mais de 200 anos de história, em comemoração ao 130º aniversário do Veuve Clicquot Yellow Label, o seu rótulo mais importante. São 3.600 garrafas Jeroboam (de 3 litros), com cápsulas pintadas a ouro de 22,4 quilates e a tela de metal (de proteção da rolha) inteiramente em ouro de 24 quilates gravados com a assinatura de Madame Clicquot, a própria viúva. Os rótulos da garrafa não utilizam papel, mas são feitos de três tipos de peles exóticas. Você escolhe: crocodilo, avestruz ou arraia. Cada garrafa vem numa caixa de madeira finíssima, dentro da qual é anexada uma carteira de couro. Veja aqui. Preço: 1.250 Euros, ou 2.600 reais (sem impostos etc.). Pode ser que seja um bom presente. Mas a Yellowboam me envergonha. Eu me importo com cada um dos itens listados no início desse tópico. E me dói pensar no destino de crocodilos, arraias e avestruzes.
Gosto mais do filme. Pois o Martin Scorsese criou e dirigiu um documentário de quase 10 minutos para a Freixenet, uma das maiores produtora de espumantes da Espanha. Lá espumante é chamado de cava, palavra de origem catalã que significa adega. A cava vem da região de Penedés, na Catalunha, e compreende uma dúzia de produtores usando a mesma técnica de Champagne, o “método tradicional”.
Pois a Freixenet resolveu mudar a sua promoção de Natal (há 40 anos, comerciais com uma celebridade acompanhada por bailarinas representando as bolhinhas e um tema musical). Agora, porém, a empresa decidiu renovar. E encarregou Martin Scorsese para rodar um curta metragem, onde só impunha três itens: que fosse exibida uma garrafa do seu espumante “Cava Nevada”, aparecesse a palavra “Reserva” e de que houvesse um brinde.
O premiadíssimo diretor resolve então virar a mesa e prestar uma homenagem a Alfred Hitchcock, o mestre do suspense (“Janela Indiscreta”, “Intriga Internacional”, “Psicose”, “Os pássaros” etc.). Ele descobriu o roteiro de um filme que o mestre não conseguiu realizar. O roteiro, contudo, estava incompleto. Mesmo assim, ele filmou o roteiro sobrevivente e recriou a parte que faltava. O nome do documentário é “A Chave para o Reserva” (“The Key to Reserve”). Mostra um homem carregando uma caixa no Carnegie Hall de Nova York, durante um concerto, cuja peça tocada é o tema musical do filme “Intriga Internacional”. O personagem guarda a caixa e entra num camarote à procura da chave para abri-la. Ela está numa lâmpada, que ele abre com seu lenço. Mas é visto por um violinista, cúmplice do marido de sua amada (ela e o marido assistem ao concerto nas poltronas). Acontece uma luta mortal. E, portanto, está na hora de você ver o documentário (em espanhol, catalão ou inglês). Adorei as referências a Hitichcock, com lembranças a Cary Grant (o lenço com as iniciais ROT, do personagem de Cary Grant em “Intriga Internacional”), um flash tal e qual o disparado em “Janela Indiscreta” e os pássaros se reunindo ameaçadoramente na janela da sala onde o diretor comenta o filme.
O filme, em minha opinião, é superior à cava da Freixenet. Mas certamente será um estímulo para que a empresa eleve a sua qualidade. Ela sabe tudo sobre espumantes.
Os espumantes nacionais. Suas vendas não param de crescer, até porque suas qualidades são cada vez mais reconhecidas. Estão sempre figurando nos primeiros lugares de concursos internacionais importantes. Inclusive, a francesa Béatrice Da Ros, diretora da União de Enólogos da Franca e do concurso Vinalles Internationales, declarou que “os espumantes brasileiros são comparáveis a alguns dos melhores do mundo”.
No Concurso Vinus, realizado em setembro último na cidade de San Rafael, em Mendoza, Argentina, os brasileiros apresentaram 24 amostras para concorrer com 684 garrafas de 24 países. Ganhamos 17 medalhas: sete de ouro e 10 de prata. E os nossos espumantes se destacaram, com sempre, com nove dos nossos 17 ouros. Eis os premiados:
Medalha de Ouro: Aurora Espumante Moscatel (Cooperativa Vinícola Aurora), Casa Valduga Espumante Moscatel Premium 2006 (Casa Valduga Vinhos Finos), Panizzon Espumante Prosecco Brut 2006 (Sociedade de Bebidas Panizzon), Valmarino Espumante Moscatel 2007 (Estabelecimento Vinícola Valmarino).
Medalha de Prata: Casa Valduga Espumante Brut Premium 2004 (Casa Valduga Vinhos Finos), Cave D’Castro Espumante Moscatel 2006 (Vinhos Finos Casa Garcia), Conde de Foucauld Espumante Brut (Cooperativa Vinícola Aurora), Panizzon Espumante Moscatel 2007 (Sociedade de Bebidas Panizzon), Salton Espumante Brut Reserva Ouro (Vinícola Salton),
Nessas festas, inclua sempre as nossas “pérolas”, são sempre preciosas e a preços convidativos.
Se quiser uma lista com mais espumantes é só clicar aqui para a Soninha no soniamelier@terra.com.br
Da Adega.
Os espumantes da Famiglia Fornari. Continuamos com os espumantes. Agora, os argentinos da Famiglia Fornari, que a Importadora
Cantu está trazendo para cá. São vinhos assinados pelo enólogo Ceza Azevedo, que já respondeu pelos espumantes Mumm, da Pernod Ricard. São três estilos: os Famiglia Fornari Brut, Demi-Sec e Brut Reserva.
Porchetta Allá Romana. O chef Chico Ferreira, da
Romã Produções Gastronômicas, oferece essa deliciosa receita de porchetta para incrementar as festas de fim de ano. Vamos a ela, que pode ser servida para 20 pessoas.
Ingredientes:
1 leitão inteiro de 7 kg, que, após desossado inteiro, sem cabeça, paleta e pernil fique com algo em torno de 2,8 e 3 kg;
2 colheres (sopa) de sementes de erva-doce levemente amassadas;
5 ramos de alecrim picado;
1 xícara de salsinha picada;
12 dentes de alho amassados;
1 xícara de vinho branco;
1 xícara (chá) de suco de limão;
1 xícara (chá) de óleo de oliva;
1 kg de lingüiça toscana fresca sem pele e desmanchada;
300 kg de pancetta em fatias finas;
Óleo de oliva;
Sal;
Pimenta-do-reino;
Modo de preparo:
Sua preparação tem início ainda no açougue. Peça ao açougueiro que desosse o leitão, descartando a cabeça e separando os pernis e as paletas. Corte a carne destas partes em cubos e reserve. O restante do leitão deve ficar com o formato de um retângulo com a pele intacta e algumas partes mais carnudas, como o lombo, e outras menos, como a coluna. Apare a carne das partes muito grossas de forma que fique o mais nivelado possível, corte essas aparas em cubos e junte à carne dos pernis e paletas.
Tempere a porchetta e os cubos de carne com o sal, a pimenta do reino, as sementes de erva doce, o alho, o alecrim, a salsinha, o vinho branco, o suco de limão e um pouco de azeite de oliva. Deixe marinando na geladeira por uma noite. No dia seguinte tire a porchetta do tempero e deixe escorrer para secar bem (isto facilita o trabalho de costurar). Abra-a em uma tábua e distribua as fatias de porchetta, a lingüiça e os cubos de carne. Enrole tudo e feche a carne costurando pelo couro. Amarre a porchetta com um barbante para que fique com o formato cilíndrico.
Leve a porchetta para assar em cima de uma grelha dentro de uma assadeira grande com o lado da costura virado para baixo (quem não tiver assadeira com grelha, pode improvisar usando alguns palitos japoneses, os hashis). Regue com a marinada, cubra com papel alumínio e asse por 3 horas, regando e virando constantemente. Sempre deve restar algum líquido no fundo da assadeira, se secar demais junte um pouco de água.
Depois deste tempo, retire o papel alumínio, pincele com um pouco de azeite de oliva e leve para dourar em fogo forte por aproximadamente 20 minutos. Retire do fogo, espere esfriar um pouco e retire o barbante. Enrole a porchetta em papel alumínio, enrole bem forte por fora com fita adesiva e leve à geladeira para que permaneça bem firme. No dia seguinte desembrulhe, corte em fatias finas e sirva a porchetta fria com gomos de limão, azeite de oliva e uma salada de folhas verdes.
Bom apetite!

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