18.2.09

A Metamorfose

Os ingleses conseguem identificar nove tipos de bebuns. Para o Ministério da Saúde de lá eles representam bebedores pesados, com risco de lesões fatais no fígado e outras doenças relacionadas ao consumo excessivo de álcool. Bebem pelo menos o dobro de unidades diárias de álcool toleradas pelas autoridades de lá (um máximo de 2-3 para mulheres e de 3-4 para homens). Normalmente, entornam pelo menos sete drinques por dia, quase 50 por semana. Pelo menos.
São os “desestressados”, que bebem para estabilizar-se, acalmar-se, baixar a poeira das tensões do dia-a-dia. Seguem-se os “entediados”, que, com a bebida, procuram estímulos para livrar-se da monotonia de suas vidas, uma ajuda para passar o tempo. São companheiros dos “conformistas”, gente em busca de um sentido melhor para suas vidas (formam um grupo que passa dos 45 anos e ainda continuam fazendo trabalhos subalternos). Os “deprimidos” têm na garrafa um cobertor, que provê conforto e segurança.
Num outro plano, temos os “familiares”: a bebida como estímulo para continuar em contato com parentes, pessoas próximas a eles. São primos dos “comunitários”, que bebem em grupos de amigos, estão sempre com “a turma” e sempre enchendo a cara. E ainda temos os “hedonistas”, que bebem para se destacar na multidão, querem aparecer (são geralmente divorciados, com filhos já crescidos). Os “machões” não poderiam faltar: pertencem àquela turma que nos bares falam alto, socam mesas, implicam com todos, compram brigas por qualquer motivo. Já os “dependentes” fazem do bar o seu segundo lar; ficam lá da manhã à noite, até serem despejados. Na verdade, o boteco é o seu verdadeiro lar. ,
Para mim, toda essa grade de tipos poderia resumir-se a basicamente dois estereótipos: os que “bebem para esquecer” e os precisam “dar uma força”. São apenas desculpas, mascarando uma grave doença crônica. Quaisquer que sejam os tipos, falamos de um grupo que não precisa de uma ocasião específica para beber.
O carnaval, porém, está aí e sempre serviu de pretexto para exageros. É quando as pessoas passam por uma metamorfose, vestem a fantasia da alegria e a utilizam para interpretar alguns dos vários tipos de bebuns existentes no planeta. E vão “beber até cair”, como na marchinha.
Chegarão em trapos, em cinzas, na próxima quarta-feira. Pois se ainda não temos cura para o câncer, ela também não chegou para dores de cabeça, estômagos embrulhados, náuseas, sede homérica, diarréia, tremores em todo o corpo, fadiga extrema, um profundo sentimento de culpa e de desolação; dificuldade de atenção, de concentração, precária percepção visual.
Nada cura a ressaca. Podem procurar à vontade. No Google vamos encontrar milhares de remédios, todos inúteis. O problema dessas “curas”, segundo o novelista inglês Kingsley Amis (1922-1995), “é que elas lidam apenas com o lado físico das manifestações da ressaca”. Ele lembra a “ressaca metafísica”: “um composto de depressão, tristeza, ansiedade, vergonha de si mesmo, sentimento de derrota, temor pelo futuro que nos assoma na cinzenta manhã seguinte”.
Amis, um célebre e contumaz bebedor, tem em sua obra três livros sobre bebidas. Na sentença final de um deles (“On Drink” – Da bebida), recomenda: “Bem, se você quer se comportar melhor e se sentir melhor, o único e garantido método é beber menos. Mas para fazer isso você terá que encontrar um especialista melhor do que eu jamais serei”.
Amis descreveu a cena de abertura de “A Metamorfose”, o mais famoso livro de Kafka, quando o herói descobre ao acordar que tinha se transformado num gigantesco inseto, como a melhor representação literária de uma ressaca.
Brinque bastante leitor, mas evite ficar na pele de qualquer bebum. E principalmente de qualquer barata.
Da Adega
Ângelo Salton Neto
. O homem que renovou a imagem da gaúcha Vinhos Salton, transformando a centenária vinícola gaúcha numa das mais importantes produtoras de vinhos finos do Brasil, respeitada aqui e no exterior, despediu-se inesperadamente de nós, ao 56 anos. Saiba mais sobre a obra de Ângelo Salton Neto no
site da empresa.
O Salton Talento é um dos três rótulos brasileiros a figurar no seletíssimo Atlas Mundial do Vinho, de Hugh Johnson e Jancis Robinson.
Espumante Nero em nova garrafa. A
Domno do Brasil, criada em agosto de 2008 pelo grupo Famiglia Valduga, está lançando a pequena garrafa de 187 ml do seu espumante Nero. É a dose certa para consumo em bares, acompanhar um prato rápido, um “tira gosto” em forma de espumante. A Domno estima que a garrafinha tenha grande apelo junto ao público jovem, para consumir em festas, pois poderá até dispensar o uso de taças. Sua tampa de rosca facilitará a abertura. E a dose, segundo a produtora, é a ideal para evitar problemas com o bafômetro.
Novo site da CH2A. É a CH2A, através da Alessandra Casolato, quem nos abastece de confiáveis notícias sobre a Casa Valduga, por exemplo. Pois ela agora está de site novo, com uma série de novos serviços. Confira
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