5.2.09

E agora a catuaba

A imagem é de mau gosto, mas não tem outro jeito. Um cavalheiro me convida para um jantar daqueles, à luz de velas etc. E lá pelas tantas pega uma pequena embalagem, abre-a e tira dela um pequeno comprimido azul. E rapidamente o toma com ajuda de um copo d’água. O dito cavalheiro não deixa dúvidas sobre o que pretende como prato principal.
Um jantar à luz de velas, acompanhado de vinho (e outras bebidas alcoólicas) poderá em breve se entendido dessa maneira: um convite explícito para sexo. O vinho ficará com essa imagem quando as notícias sobre os resultados de mais uma rotineira pesquisa sobre os efeitos das bebidas alcoólicas nos homens.
Uma equipe da Universidade da Austrália Oriental, em Perth, pesquisou 1.700 australianos e concluiu que a ocorrência da disfunção erétil (“Isso nunca aconteceu comigo”) era mais reduzida em até 30% entre bebedores moderados do que entre abstêmios.
Os cientistas da universidade australiana, chefiados pelo Dr. Kew-Kim Chew, um epidemiologista, consideraram, entre os pesquisados, fatores como doenças cardíacas, tabagismo e idade. E verificaram que 20 drinques semanais (uns três por dia) já eram suficientes para reduzir a freqüência da impotência entre os que bebiam moderadamente (aqueles três drinques diários). Saiba mais sobre a pesquisa aqui.
Na coluna passada falava da jurubeba, planta do tipo cura-tudo. Na matéria, falava de um médico e vinicultor também australiano que agora adiciona respeitável quantidade de resveratrol, um polifenol, nos vinhos de sua vinícola, que desse modo poderão ganhar uma imagem de “mais saudáveis”. As aspas são minhas, mas essas são as declaradas intenções do vinicultor. E tudo isso sem o devido respaldo de pesquisas científicas confiáveis.
E agora cientistas australianos perigam de conferir ao vinho a imagem de uma “nova catuaba”, planta comum no nordeste brasileiro, de gênero Erythroxylum catuaba, cujo nome vem de akatu’aba, “capaz’, em tupi. E parece que é utilizada pelos índios como um afrodisíaco (logo, talvez andar pelada por aí não resolve muito). O homem toma e fica “capaz”.
Li que a indústria farmacêutica norte-americana e a européia utilizam normalmente a planta como um antibacteriano e antiviral. Contudo, sobre os efeitos nos “países baixos” masculinos dessa Viagra dos humildes os cientistas até agora não se manifestaram.
Sobrevivem, assim, lendas, crenças, tradições. A bebida de Catuaba mais conhecida é a “Selvagem”, feita pela Bebidas Comary, uma indústria minha vizinha aqui da Serra, situada em Teresópolis. Ela é uma mistura de vinho tinto doce, catuaba, guaraná e marapuama (essa é outra planta da Amazônia, conhecida também como um afrodisíaco natural). A beberagem tem 14% de graduação alcoólica. O rótulo da “Selvagem” não deixa dúvidas: um Tarzan abraçando uma Jane, pronto para provar que a bebida é pau puro. O estímulo que faltava para colocar no limbo a possibilidade de uma brochidão. A “Selvagem” foi a bebida que, digamos, “levantou” a Comary, abrindo as portas para o seu sucesso comercial. O site da empresa não deixa dúvidas. Veja aqui.
Um leitor da coluna, Anderson dos Santos, além de ter estar lendo o livro Dieta do Vinho (Publicações Europa América), viu também matéria minha (antiga, de 2006) sobre o trabalho do autor, professor Roger Corder. Ele quer orientação sobre vinhos com alto teor de procianidinas. É que esse professor descobriu que certos tipos de polifenóis, as tais procianidinas (primas do resveratrol) são capazes de limpar os vasos sangüíneos e, desse modo, proteger contra doenças cardíacas, enfartos, diabetes, demência e até alguns tipos de câncer.
O caso do Anderson é fazer a sua dieta e beber vinho – mas de modo a garantir saúde. Eu não tenho dados para recomendar esse ou aquele vinho. Apenas continuaria a bebê-los, moderadamente.
De qualquer modo, esse é o resultado dessas pesquisas e estudo. As pessoas podem ver nas bebidas, no caso os vinhos, algo além do que ela pode oferecer. Vão à busca ora de uma jurubeba, ora de uma catuaba. E não só nos vinhos, nas bebidas alcoólicas em geral.
Quem aprecia bebidas verdadeiramente, e os vinhos em particular, quer mais é saber de desfrutar de um determinado estilo de vida, onde não entram Janes desnudas, Tarzans espadaúdos e beberagens encapadas como fortificantes da saúde ou da libido.
Uma pesquisa inútil. Todos sabemos que devemos beber com moderação. E a pesquisa australiana recomenda não passarmos dos três drinques diários. Acima disso, como já dizia Shakespeare, a bebida “provoca o desejo, mas prejudica a desempenho”. Se beber a “Selvagem” além da conta, o homem deixar de ser “capaz”.
Da Adega
Festa da Vindima da Casa Valduga
. Você toma um café da manhã típico, o colazione, põe chapéu, avental e segue para os parreirais da Casa Valduga, lá em Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos, RS. Estamos na época da colheita das uvas. E é o que você vai fazer. Na volta, depois de assistir a um show de coral típico e de assistir a sabrage (abrir espumante com um sabre), parte para um almoço à italiana, na adega, entre pipas de vinho.
Tudo isso e muito mais se você visitar a Casa Valduga de hoje até 14 de março, período em que a colheita se encerre. Além de toda essa ação, os turistas ainda poderão visitar unidades de vinificação e acompanhar o processo de elaboração do vinho (recepção das uvas, seleção dos cachos, desengace, tanques de fermentação etc.). E até participar do esmagamento das uvas com os pés.
Faça logo as malas, amiga. Mais informações através do
site ou pelo telefone (54) 2105-3122.
http://www.bolsademulher.com//estilo/materia/E_agora_a_catuaba/64912/1

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