29.6.09

O canibal que vende vinho

Que valor os consumidores dão às regiões produtoras de vinho? O que mais importa no momento da compra? Os argumentos que mais fazem vender a bebida são a uva, estilo do vinho, recomendação da crítica, prêmios, o conhecimento de uma marca ou preço? A Wine Intelligence apresentou um levantamento a esse respeito durante a Feira Internacional do Vinho, em Londres, realizada em meados de maio último. É uma das feiras mais importantes do mundo, reunindo a nata do comércio, dos produtores e da crítica do setor.
A Wine Intelligence é uma empresa de pesquisa e consultoria de marketing baseada em Londres, operando em mais de duas dezenas de países, inclusive o Brasil. A presente pesquisa (“O que os consumidores pensam realmente das regiões produtoras de vinho?”) reuniu dois mil respondentes norte-americanos e mil ingleses. Vejamos o que mais motiva os consumidores:
No ato da compra de um vinho, o consumidor (73% da Inglaterra e 60% dos Estados Unidos) considera a oferta promocional (ou seja: o preço) como argumento mais importante. Em tempos de crise (e agora de crise aguda) parece natural que esse item tenha grande destaque. O consumo de qualquer produto está sendo comandado pelo preço.
A variedade da cepa vem em segundo lugar: 76% dos norte-americanos e 70% dos ingleses. A vantagem norte-americana é fácil de explicar, pois os EUA são o país que criou esse conceito, o do vinho que destaca uma varietal. Já os ingleses estão mais acostumados ao regime europeu, que valoriza mais as regiões do que as uvas.
Por isso, talvez, é que o país de origem seja mais importante para os ingleses (64%) do que para os norte-americanos (49%).
O quarto item nesse quadro é o valor da recomendação de amigos e familiares: 51% dos súditos da rainha e 46% do povo de Barack Obama valorizam particularmente essas dicas.
Se sabemos pedir ou identificar um refrigerante pela marca (Coca, Pepsi etc.) ou um automóvel (VW, Fiat, Mercedes etc.), o mesmo não acontece com os vinhos. Somente 68% dos americanos e 57% dos ingleses têm lembrança de apenas uma marca de vinho.
Jean-Noel Kapferer, talvez o mais conhecido especialista em marcas do mundo, professor da famosa HEC Paris, a Fundação Getúlio Vargas dos franceses, diz que “marca é um conceito enganosamente simples; qualquer um é capaz de sacar logo um exemplo de marca, mas poucos conseguem propor uma definição satisfatória”.
E, contudo, marca seria simplesmente uma coleção de percepções na mente do consumidor; um símbolo de origem e também uma promessa de desempenho. Para os vinhos, funcionaria como uma dica do produto, sua origem, as cepas utilizadas, a região, o produtor, o preço – ou seja, um bom resumo na embalagem para ajudar a decisão dos consumidores. O problema é que marcas de vinho existem aos milhares e geralmente o jargão que envolve a bebida confunde (e atemoriza) o consumidor.
O sexto item que mais motiva os clientes é a região de origem: ela é importante para 51% dos ingleses e 46% dos americanos. Era de se esperar que europeus amantes de vinhos (no caso, os ingleses) tivessem mais afinidades com terroir, regiões de origem.
Eis, portanto, que a região de origem está no meio do caminho: no geral, apenas metade dos respondentes entende que é um item decisivo. E, no entanto, as regiões vinícolas podem comportar-se como marcas, com a capacidade de oferecer argumentos que traduzam as expectativas do consumidor. E na falta de grandes verbas para potentes campanhas de publicidade, marcas regionais têm muito que oferecer para valorizar uma garrafa de vinho.
Em seguida, nessa escala, se apresenta o conteúdo alcoólico, um valor para 30% dos ingleses e 28% dos americanos. Não é um tópico vital para os consumidores.
Aliás, está em pé de igualdade com o valor representado pelas recomendações de vendedores ou de folhetos, nas lojas: considerada por apenas 25% dos ingleses e, bem mais intensamente, 47% dos americanos.
A recomendação de críticos de vinhos também não pesa muito: é considerada por 25% dos ingleses e 31% dos americanos.
Formatos de garrafa e layouts de rótulos são importantes para 24% dos ingleses e 31% dos americanos. Com 21% entre ingleses e 29% de americanos, temos as recomendações contidas nos guias de vinho.
Em último lugar, nessa grade de 12 itens, é o valor de uma medalha ou prêmio: é importante para somente 17% dos ingleses e 21% dos americanos.
Numa seção especial dedicada ao reconhecimento de nomes de regiões vinícolas famosas, a de Marlborough, na Nova Zelândia, e a de Barossa na Austrália foram as menos lembradas pelos respondentes. Só 10% dos americanos tinham ouvido falar no Vale de Barossa e 12% em Marlborough. Entre os consumidores ingleses, as taxas foram respectivamente de 38% e 27%. O mais curioso é que quando os pesquisadores mostraram uma placa com o nome Marlborough, o que primeiro veio à mente dos pesquisados foi a marca de cigarros.
Bordeaux foi a marca de maior lembrança: 94% entre ingleses e 80% entre americanos. A região de Champagne ficou com um nobre segundo lugar: 93% entre ingleses e 75% junto aos americanos.
O mais espantoso, contudo, foi quando mostraram aos três mil entrevistados a placa com o nome Chianti. É claro que a maioria lembrou-se da Itália. Mas o filme “O Silêncio dos Inocentes”, de 1991, o primeiro da série com o Dr. Hannibal Lecter, o “Canibal”, foi quase tão lembrado quanto o nome da Itália.
No filme, o Dr. Hannibal lembra como degustou o fígado de um desafeto seu acompanhado por um Chianti. Por aí, podemos ver como por linhas aparentemente tortas podemos promover um vinho ou uma região vinícola. O mesmo aconteceu com o Sideways, que fez explodir as vendas do Pinot Noir nos EUA.
Nesse nosso cantinho, o Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN) investigou sobre as preferências dos brasileiros, num estudo que ouviu 1.037 pessoas entre 18 e 69 anos, em Porto Alegre, São Paulo e Recife. Conseguimos reunir uns poucos dados. Mas fica evidente que a falta de informação é o maior problema para o consumidor brasileiro.
Imagine que, para 66% dos entrevistados, o vinho pode ser feito com outras frutas, além da uva. O nosso consumidor confunde sidra com espumante. Pior: 92% dos acham que espumante é uma coisa e vinho outra. Informação é importante, claro. E mais importante ainda para um produto como o vinho, simples de beber, mas aparentemente complexo de entender pelo mundo de facetas que consegue oferecer.
Da Adega
Vinhos do Douro e do Porto. Amanhã, às 20h, acontece uma prova de Vinhos do Douro e do Porto durante jantar oferecido pelo
Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto, o IVDP. O evento será realizado no restaurante Terzetto, em Ipanema, e contará com a presença do Diretor do IVDP, Carlos Soares. Mais informações com a Cristina Neves.
Dia 30, terça que vem, será a vez de Brasília, onde a degustação (a partir de mais de 200 rótulos de vinhos do Douro e do Porto) acontecerá no
Naoum Plaza, das 15 às 21 h. Consulte a assessoria da Denise Cavalcante ou ligue: (11) 4612-4341.
O Brasil é um importante mercado para os vinhos da região do Douro e do Porto. As importações dos primeiros cresceram 50% nos últimos 4 anos (996 mil garrafas) e as do segundo dobraram em cinco anos (1.395 mil garrafas até dezembro de 2008). Somos o 11º mercado mundial para os vinhos do Porto, em volume. Merecedores, portanto, de todas essas atenções do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto
Curso de Iniciação ao Vinho e à Degustação. Para quem deseja iniciar-se no mundo dos vinhos, Marcelo Andrade oferece um curso básico, em quatro aulas bem parrudas, a partir agosto, sempre aos domingos e sempre no
Restaurante Buonasera (Rua Araribóia, 253, Niterói). O curso terá apoio de apostila e seu conteúdo acessado on line. Além disso, três vinhos serão degustados e analisados em cada aula. O programa vai desde a história do vinho, a videira, variedades de uvas, regiões e países produtores, vocabulário do vinho, até tipos de vinho, elaboração da bebida, os espumantes, serviço do vinho e noções de harmonização. Reserva sua vaga com o Marcelo Andrade (21-9764-6167).

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