A questão do lote. Os rótulos de vinhos da Comunidade Européia têm uma letrinha que pouca gente dá importância. Desde 1990 os rótulos de vinhos vêm com a letrinha L seguida por um número. É o L de lote. O que vem a ser isso? Lote é uma quantidade de vinho engarrafada quase sob as mesmas condições. O “quase” aqui é o que importa, realmente. Pois, digamos que um determinado vinho resulte em 100 lotes. Um determinado crítico degustou o lote 14. E outro o lote 68, um terceiro o de número 97 e por aí vai. Pode ser que o primeiro tenha adorado o vinho, o segundo o colocado de lado como medíocre e o terceiro achando que a bebida poderia ser um pouco mais frutada, mas que tem qualidades.
Um negociante poderia ter experimentado apenas um exemplar do lote 14, adorado e feito uma grande encomenda, que certamente englobaria exemplares de todos os outros lotes. Como ele é o especialista, comprou o que considerou fosse o melhor para os seus clientes, quase sempre uma rede de lojas, de supermercados, um grupo de restaurantes ou mesmo o consumidor final. O resultado seria possivelmente impressões contraditórias sobre aquele vinho.
Mas indicação do lote veio principalmente para facilitar o rastreamento do vinho no caso de queixas de consumidores ou mesmo a devolução de um ou mais lotes em razão de defeitos localizados pelo produtor (o que é comum em outras indústrias, como na automobilística).
O lote, assim, vai ajudar o vinicultor a tentar estabelecer condições mais homogêneas de cultivo e de produção. Pois seus vinhedos ocupam uma determinada área de terra, onde as condições de insolação, vento, microclima, irrigação nem sempre são as mesmas em todas as seções da plantação, promovendo diferenças até mesmo de garrafa para garrafa.
Se essa prática pegar no Novo Mundo, em particular, poderá ter um efeito bastante educativo para os produtores que não cultivam, mas compram uvas de agricultores espalhados em diversas regiões. O caso dele é fazer vinho com, por exemplo, a Cabernet Sauvignon – que compram do agricultor A, do B e do C. É quase certo que o vinho que produzirá vai refletir as diferentes qualidades de uvas cultivadas em lugares e condições diferentes.
A indicação também lembrará ao crítico ou aos consumidores daquele vinho que ele pode tentar garrafas de outros lotes e não ficar reduzido apenas a uma prova. O vinho varia de garrafa para garrafa. O número de lote dá mais transparência ao produto e mais direitos aos consumidores.
Essa indicação de lote é obrigatória para todas as embalagens de alimentos (e não apenas para os rótulos de vinhos) produzidos na União Européia. Veja o decreto da EU aqui.
Vinhos Laranja. Agora, ao lado do vinho tinto, do vinho branco, do rosado, temos o vinho laranja. Sabemos que o vinho tinto ganha sua cor característica pelo longo tempo de contato das cascas da uva com o seu suco. Quando esse contato é pequeno, de algumas horas ou um dia, temos o vinho rosado.
No vinho branco, o comum é permitir umas poucas horas de contato das cascas com a uva. A maioria dos produtores tenta evitar que os pigmentos e, principalmente, os taninos contidos nas cascas emprestem adstringência à bebida.
E muita gente pensa que todo o vinho branco é feito apenas dessa maneira. Mas existe uma categoria de brancos em que as cascas ficam macerando por dias, semanas, até meses - o que vai emprestar ao vinho cores que vão do rosa ao alaranjado. São vinhos com texturas bem cativantes.
Os vinhos laranja são feitos em várias regiões e com cepas as mais diversas. Mas aparentemente o seu principal centro de produção está no nordeste da Itália (Friuli e Veneza Giulia). Porém, podem ser encontrados também em outras partes da Itália, da Sicília, da Eslovênia, Croácia, França e até da Califórnia.
O crítico do New York Times, Eric Asimov (de quem tomei essas notas) experimentou alguns e considerou que, para ele, “ofereceram uma das mais irresistíveis e fascinantes experiências a serem encontradas numa taça”. O nome “vinho laranja” foi criado, segundo Asimov, pelo sommelier Levi Dalton, do restaurante Convivio, de NY, onde o crítico os degustou recentemente
Seu dinheiro de volta. É o que promete a publicidade do vinho Blackstone, da Constellation Brands nos Estados Unidos (o grupo é o maior produtor de vinhos por volume em todo o mundo).
A campanha enfatiza confiança, segurança. “Estamos tão certos de que você gostará do sabor de Blackstone que, caso contrário, devolveremos seu dinheiro”, afirma o anúncio. É um argumento importante, pois promete um vinho fino com preço camarada. O vinho custa 9,99 dólares no varejo. A ênfase não reside apenas na qualidade do vinho. A comunicação é bastante oportuna, pois busca dar mais confiança aos consumidores nesses tempos de crise econômica. Eles não estarão jogando seus dólares fora, pois a promessa de qualidade é amparada por essa inusitada garantia.
A Vinícola Blackstone, fundada em 1990, uma das muitas do grupo Constellation, aposta na “marca registrada” do seu vinho: “uma bomba de sabor”, “rico em frutos”.
Para ter o seu dinheiro de volta, os consumidores que não gostarem do vinho, precisam baixar no site da vinícola um formulário em PDF, preenchê-lo e em seguida enviá-lo por e-mail para a empresa. Devem também incluir o recibo original de compra, além de nome, endereço e o telefone da loja onde comprou. O reembolso será pago entre 6 e 9 semanas. Parece simples
A promoção, que expira em 31 de agosto, é sem dúvida corajosa. Quem se arriscaria a submeter seu produto a esse tipo de prova?
Minhocas. O Blackstone é sem dúvida um produto da crise. O consumidor, nos Estados Unidos e na Europa, agora, parou com os importados e só compra produtos locais, na faixa dos 5 a 10 dólares. As lojas andam vazias, os vendedores se desesperam. Li que alguns sommeliers estão temendo perder seus empregos, sem dúvidas muito especializados e poucos. Na mesma situação devem estar os sommeliers de águas minerais, de saquê e os de cafés especiais (baristas).
Porém, descobri um site que só trata dos piores empregos do mundo. É o worst-jobs.com
Pior que degustar vinhos, saquê e café? Pois na Inglaterra temos a categoria das degustadoras de minhoca. Existe um bom número de criadores de minhoca no país. Vendem principalmente para lojas de pesca, que por sua vez vendem as bichanas para seus clientes pescadores. São várias as espécies de minhoca, umas mais outras menos atraentes (para os peixes).
E é aí que entram as degustadoras especializadas. Passam o dia cheirando, apalpando e, claro, comendo minhocas cruas, num esforço de descobrir quais espécies atrairão mais os peixes. O salário é muito baixo, mas em compensação a provadora pode levar, grátis, quantas minhocas quiser para casa quiser. Delas poderá fazer tortas com e todos vão pensar que estão comendo é picadinho de carne.
Toda vez que encontrar um sommelier reclamando da vida, vou pedir que ele dê uma olhada no worst jobs.
Da Adega
Amigas do Vinho. A Confraria está de parabéns pelo seu sexto aniversário, celebrado no dia 1º de agosto, no Hotel Porto Bay, no Rio.
A Confraria Amigas do Vinho é filiada à prestigiosa International Women in Wine Association e também à FEBAVE (Federação Brasileira de Confrarias e Associações Femininas do Vinho. É provavelmente a maior confraria feminina nacional, pois chega a somar hoje mais de 5.000 associadas em todo o Brasil, com adesões internacionais (como de Portugal, Espanha, França, Argentina e dos EUA). Parabéns! Veja mais no site da Confraria.
Um negociante poderia ter experimentado apenas um exemplar do lote 14, adorado e feito uma grande encomenda, que certamente englobaria exemplares de todos os outros lotes. Como ele é o especialista, comprou o que considerou fosse o melhor para os seus clientes, quase sempre uma rede de lojas, de supermercados, um grupo de restaurantes ou mesmo o consumidor final. O resultado seria possivelmente impressões contraditórias sobre aquele vinho.
Mas indicação do lote veio principalmente para facilitar o rastreamento do vinho no caso de queixas de consumidores ou mesmo a devolução de um ou mais lotes em razão de defeitos localizados pelo produtor (o que é comum em outras indústrias, como na automobilística).
O lote, assim, vai ajudar o vinicultor a tentar estabelecer condições mais homogêneas de cultivo e de produção. Pois seus vinhedos ocupam uma determinada área de terra, onde as condições de insolação, vento, microclima, irrigação nem sempre são as mesmas em todas as seções da plantação, promovendo diferenças até mesmo de garrafa para garrafa.
Se essa prática pegar no Novo Mundo, em particular, poderá ter um efeito bastante educativo para os produtores que não cultivam, mas compram uvas de agricultores espalhados em diversas regiões. O caso dele é fazer vinho com, por exemplo, a Cabernet Sauvignon – que compram do agricultor A, do B e do C. É quase certo que o vinho que produzirá vai refletir as diferentes qualidades de uvas cultivadas em lugares e condições diferentes.
A indicação também lembrará ao crítico ou aos consumidores daquele vinho que ele pode tentar garrafas de outros lotes e não ficar reduzido apenas a uma prova. O vinho varia de garrafa para garrafa. O número de lote dá mais transparência ao produto e mais direitos aos consumidores.
Essa indicação de lote é obrigatória para todas as embalagens de alimentos (e não apenas para os rótulos de vinhos) produzidos na União Européia. Veja o decreto da EU aqui.
Vinhos Laranja. Agora, ao lado do vinho tinto, do vinho branco, do rosado, temos o vinho laranja. Sabemos que o vinho tinto ganha sua cor característica pelo longo tempo de contato das cascas da uva com o seu suco. Quando esse contato é pequeno, de algumas horas ou um dia, temos o vinho rosado.
No vinho branco, o comum é permitir umas poucas horas de contato das cascas com a uva. A maioria dos produtores tenta evitar que os pigmentos e, principalmente, os taninos contidos nas cascas emprestem adstringência à bebida.
E muita gente pensa que todo o vinho branco é feito apenas dessa maneira. Mas existe uma categoria de brancos em que as cascas ficam macerando por dias, semanas, até meses - o que vai emprestar ao vinho cores que vão do rosa ao alaranjado. São vinhos com texturas bem cativantes.
Os vinhos laranja são feitos em várias regiões e com cepas as mais diversas. Mas aparentemente o seu principal centro de produção está no nordeste da Itália (Friuli e Veneza Giulia). Porém, podem ser encontrados também em outras partes da Itália, da Sicília, da Eslovênia, Croácia, França e até da Califórnia.
O crítico do New York Times, Eric Asimov (de quem tomei essas notas) experimentou alguns e considerou que, para ele, “ofereceram uma das mais irresistíveis e fascinantes experiências a serem encontradas numa taça”. O nome “vinho laranja” foi criado, segundo Asimov, pelo sommelier Levi Dalton, do restaurante Convivio, de NY, onde o crítico os degustou recentemente
Seu dinheiro de volta. É o que promete a publicidade do vinho Blackstone, da Constellation Brands nos Estados Unidos (o grupo é o maior produtor de vinhos por volume em todo o mundo).
A campanha enfatiza confiança, segurança. “Estamos tão certos de que você gostará do sabor de Blackstone que, caso contrário, devolveremos seu dinheiro”, afirma o anúncio. É um argumento importante, pois promete um vinho fino com preço camarada. O vinho custa 9,99 dólares no varejo. A ênfase não reside apenas na qualidade do vinho. A comunicação é bastante oportuna, pois busca dar mais confiança aos consumidores nesses tempos de crise econômica. Eles não estarão jogando seus dólares fora, pois a promessa de qualidade é amparada por essa inusitada garantia.
A Vinícola Blackstone, fundada em 1990, uma das muitas do grupo Constellation, aposta na “marca registrada” do seu vinho: “uma bomba de sabor”, “rico em frutos”.
Para ter o seu dinheiro de volta, os consumidores que não gostarem do vinho, precisam baixar no site da vinícola um formulário em PDF, preenchê-lo e em seguida enviá-lo por e-mail para a empresa. Devem também incluir o recibo original de compra, além de nome, endereço e o telefone da loja onde comprou. O reembolso será pago entre 6 e 9 semanas. Parece simples
A promoção, que expira em 31 de agosto, é sem dúvida corajosa. Quem se arriscaria a submeter seu produto a esse tipo de prova?
Minhocas. O Blackstone é sem dúvida um produto da crise. O consumidor, nos Estados Unidos e na Europa, agora, parou com os importados e só compra produtos locais, na faixa dos 5 a 10 dólares. As lojas andam vazias, os vendedores se desesperam. Li que alguns sommeliers estão temendo perder seus empregos, sem dúvidas muito especializados e poucos. Na mesma situação devem estar os sommeliers de águas minerais, de saquê e os de cafés especiais (baristas).
Porém, descobri um site que só trata dos piores empregos do mundo. É o worst-jobs.com
Pior que degustar vinhos, saquê e café? Pois na Inglaterra temos a categoria das degustadoras de minhoca. Existe um bom número de criadores de minhoca no país. Vendem principalmente para lojas de pesca, que por sua vez vendem as bichanas para seus clientes pescadores. São várias as espécies de minhoca, umas mais outras menos atraentes (para os peixes).
E é aí que entram as degustadoras especializadas. Passam o dia cheirando, apalpando e, claro, comendo minhocas cruas, num esforço de descobrir quais espécies atrairão mais os peixes. O salário é muito baixo, mas em compensação a provadora pode levar, grátis, quantas minhocas quiser para casa quiser. Delas poderá fazer tortas com e todos vão pensar que estão comendo é picadinho de carne.
Toda vez que encontrar um sommelier reclamando da vida, vou pedir que ele dê uma olhada no worst jobs.
Da Adega
Amigas do Vinho. A Confraria está de parabéns pelo seu sexto aniversário, celebrado no dia 1º de agosto, no Hotel Porto Bay, no Rio.
A Confraria Amigas do Vinho é filiada à prestigiosa International Women in Wine Association e também à FEBAVE (Federação Brasileira de Confrarias e Associações Femininas do Vinho. É provavelmente a maior confraria feminina nacional, pois chega a somar hoje mais de 5.000 associadas em todo o Brasil, com adesões internacionais (como de Portugal, Espanha, França, Argentina e dos EUA). Parabéns! Veja mais no site da Confraria.
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