11.9.09

Nós e o CO2

Você e eu, leitora, conversamos através de nossos computadores, exatamente como milhares de pessoas em todo o mundo. Ficamos aliviadas por ser essa uma atividade “limpa”, com a graça de não contribuir para o aquecimento global. E o que escolhi para papearmos hoje é sobre movimentos como o que grandes cozinheiros, sommeliers e vinicultores e a mídia de toda a França estão fazendo para que o seu país tome uma posição bem mais firme contra as emissões de dióxido de carbono, na próxima reunião da ONU sobre clima, em Copenhague, dezembro próximo.
É mais do que natural, pois o vinho, grande símbolo da cultura e da economia francesa está próximo de arruinar-se em razão da ação predatória do homem, que não se cansa em entupir a atmosfera desses gases. Assim, chefs, sommeliers e vinicultores de todo o país rogam ao presidente Nicola Sarkozy que consiga que o mundo se comprometa em reduzir 40% das emissões de dióxido de carbono até 2020. O CO2 aparece sempre como o grande bicho-papão do clima, pois ele faz aumentar a temperatura. Num clima ideal, as uvas acumulam o açúcar necessário, os ácidos ficam em seus níveis ótimos e o resultado é o melhor sabor para cada variedade. Já num ambiente mais quente, a uvas amadurecem mais cedo, antes mesmo da época da colheita. Com mais calor, a acidez é perdida através da evaporação, da “respiração” do fruto. E no final vamos ter um vinho flácido, pouco firme, com muito álcool e pouca acidez (e muito pouco frescor).
O Le Monde alerta para o perigo da destruição permanente dos terroirs dos vinhos franceses, para a possibilidade do mapa mundial do vinho alterar-se de vez, com os vinhedos tendo de avançar mil quilômetros para o norte, muito além de suas fronteiras, no que perderá completamente suas características regionais. Ficará órfão, desmemoriado de suas origens. Vinho depende de clima e solo.
Dizem que no hemisfério sul, os aumentos de temperatura serão menores. Mas assim mesmo eles existirão e vão conviver com outros e igualmente graves problemas. Falamos de geleiras derretendo, enchentes, tempestades destruidoras ocorrendo com freqüência cada vez maior. Falamos de secas, do aparecimento de desertos. Enfim, falamos desse predatório relacionamento do homem com a natureza da qual ele é dependente.
Agora mesmo, vemos assustadas os vendavais, enchentes e desabamentos no sul do país. Lemos que quase metade do Cerrado (24% do território nacional, uma área igual a 22 vezes a do Estado do Rio) foi desmatada e que 17% da floresta amazônica já foram destruídos. Isso é feito em nome de novas áreas para plantio, de mais terras para a pecuária etc.
Na medida em que o planeta fica mais quente, a evaporação tanto da terra quanto dos mares aumenta igualmente, resultando seca nas áreas onde uma evaporação maior não é compensada por mais precipitação de chuvas. Mas o vapor de água extra na atmosfera tem de cair novamente, como uma precipitação extra, o que resultará em enchentes em várias partes do mundo. Ponha a culpa no El Niño, na La Niña, nas emissões de CO2, nos desmatamentos. Os culpados, sabemos, somos nós, humanos, grandes predadores.
Enfim, amiga, conversamos através de nossos computadores, com a graça de não contribuir para o aquecimento global, com a consciência tranqüila de não promovermos emissões de dióxido de carbono. Afinal, estamos em casa, nada de carros e aviões, nada de nocivo à natureza.
Infelizmente, amiga, não é assim. Computadores, impressoras, celulares e toda a tralha que os acompanham respondem pela emissão de 830 milhões de toneladas de dióxido de carbono em todo o mundo. Isso é foi mais ou menos 2% do total das emissões desse gás em todo o mundo, em 2007. E, para a minha surpresa, o mesmo total da contribuição feita pela indústria da aviação naquele ano. Um quarto das emissões em questão é gerado pela manufatura de computadores. E o resto vem do seu uso. Não me conformo: mas o meu computador já pode ter descarregado na atmosfera o equivalente ao um Jumbo.
Lá por 2020, essa nossa aparentemente “limpa” atividade responderá por cerca de 6% das emissões de CO2. Daqui a dez anos, uma pessoa em três terá um PC, 1,5 um celular e uma residência em 20 ostentará uma conexão em banda larga. Tudo isso consumirá mais e mais energia elétrica. Quer virá de rios, de geradores nucleares ou movidos a petróleo. (Leia mais sobre emissões de computadores aqui).
Mas, querida amiga, o petróleo vai acabar em mais uns 50 anos. Podemos apelar para a energia nuclear, que está renascendo: uma tonelada de urânio produz a mesma quantidade de energia que 3.600 toneladas de petróleo (cerca de 80 mil barris). E isso sem emissões. Infelizmente, os problemas de segurança com os reatores são muitos. A história está aí mesmo para confirmar. E ainda temos o gravíssimo problema de onde dispor do combustível utilizado, um enorme vilão para o meio ambiente. Tudo isso e mais o chance de passar da produção de energia para a de armas nucleares. O Iran tem sido um bom exemplo, inclusive para o presidente Hugo Chávez, que acaba de visitar os reatores iranianos. Perigo à vista?
E os biocombustíveis? Aparecem como uma energia alternativa, com o Brasil pontificando, já mesmo a partir do álcool. Só que essa alternativa utiliza-se de muita água para a irrigação. A maioria dos carros híbridos (movidos a bateria) utiliza muita água, que fornece eletricidade. A maior parte de usinas de energia precisa de água para resfriar seus engenhos. Até mesmo os chips que estão em nossos celulares e computadores precisam de muita água para ser produzidos.
E, no entanto, 1,1 bilhão de pessoas em todo o mundo já não tem acesso á água potável. Estima-se que em mais 20 anos dois terços da população terrestre viverá em áreas desérticas, com pouquíssima ou nenhuma água para beber. A água já é, na verdade, o novo petróleo.
No final, entendo que o movimento que os cozinheiros, sommeliers franceses estão fazendo é parte da mesma luta. Uma luta na qual você e eu, amiga leitora, devemos embarcar já.
Sim, não deixaremos de usar nossos computadores, amiga, mas que tal ficarmos mais atentas ao que consumimos de energia, seja em casa ou em nossos escritórios? Que tal gastarmos um pouco mais de tempo vigiando nossos representantes, cobrando deles atitudes que revertam toda essa destruição. Afinal, não temos muitas alternativas, como vimos acima. Não é só o vinho francês que está jogo, é claro. O problema é geral: é o ar, a água e o feijão com arroz da humanidade em jogo.
Da Adega
Shaná Tová!
O ano novo judaico está aí (19 e 20 de setembro), marcando a chegada do ano 5770 com grandes festas na comunidade judaica em todo o mundo. Para as comemorações, a Valduga está apresentando uma nova linha de vinhos kosher, feitos no Brasil, sob a supervisão do rabino Ezra Dayan, da BDK do Brasil. A linha da Valduga compreende os rótulos Casa Valduga K Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Espumante Demi Sec e Moscatel. A linha ainda inclui um suco de uva. Saiba mais no
site da Valduga.
Virtude na Noite. A
Vinícola Salton lançará o seu novo Salton Virtude 2008 na Noite na Adega, do restaurante carioca Garcia & Rodrigues, nesse domingo, dia 15/09. Noite na Adega é um evento onde acontece um jantar harmonizado com a presença do renomado chef Christophe Lidy e grandes nomes de vinícolas e importadoras. O Salton Virtude foi premiado como o melhor Chardonnay nacional pelo júri da Expovinis 2009.
Além de um cardápio assinado por Lidy e palestra do jornalista de vinhos Alexandre Lalas, serão degustados não apenas o Virtude, mas o espumante Salton Évidence, os tintos Salton Desejo 2006 e o Salton Talento 2005. Para fechar essa virtuosa noite, o licoroso Salton Intenso.
Reserve já. O
G&R fica no Leblon (Av. Ataulfo de Paiva, 1251). Use o e-mail ou os telefones: (21) 3206-4107 / 3206-4109. V

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