26.9.09

Um aperto

Novamente um glossário. O último que publicamos, Glossário em progresso, foi em maio. Vamos, portanto, enriquecê-lo. O título é que ficou um pouco estranho: deveria ser algo como Glossário em progresso II. Mas ficou aperto mesmo, pois inclui uma palavra sobre os problemas e talvez uma solução para quem, como eu, por exemplo, passou longas horas degustando vinhos, bebeu muita água para limpar o paladar e premida pela urgência de atender os reclamos da natureza buscou um banheiro. Só que ninguém sabia onde estava a chave. Um aperto, não é? Vamos, então, a essa nova edição do nosso glossário.
Taça ISO. É a taça de vinho considerada padrão, para a mais perfeita possível avaliação das qualidades organolépticas da bebida. ISO, como sabemos, é a sigla da International Organization for Standardization (Organização Internacional para Padronização), entidade que reúne associações de padronização de normas técnicas em 170 países. Foi criada em 1947, em Genebra, Suíça, de onde opera em todos os campos, exceto eletricidade e eletrônica.
Vinhos podem ser bebidos até em copos de gelatina. Uma taça pode ter essa simplicidade: é apenas um vasilhame para conter uma substância líquida, feita para facilitar a chegada da bebida à boca. Acontece que essa mesma taça pode ser fundamental para a avaliação de um dos mais fundamentais aspectos do vinho: seus aromas. E para isso ela precisa ter um formato específico.
Uma série de estudos realizados nos anos 50, baseados na teoria de que volume e o formato da taça possuem uma conexão direta com o desenvolvimento dos aromas levara a criação dessa taça padrão, que tem o formato chamado de “ovo esticado”. E graças a essas características na forma e na superfície determinou-se o formato da taça ISO de degustação de vinhos, aquela em que os aromas podem melhor se expressar. Sua boca é menor do que o seu corpo, permitindo que os aromas concentrem-se numa área mais limitada, porém o suficiente para permitir que nossos narizes consigam uma análise correta do vinho.
Ela tem aproximadamente 155 mm de altura, com uma haste (incluindo a base) com 55 mm, um corpo (o vasilhame propriamente dito) de 100 mm. A boca, a parte mais estreita, com 46 mm. E a parte mais larga (a “barriga”) com 65 mm. Numa degustação, o vinho deve atingir no máximo essa parte mais larga, o que somaria 50 mililitros de bebida. A base tem 65 mm de largura. Veja aqui.
Quando a taça contém exatamente 50 ml de vinho, a relação entre a superfície do vinho e o ar é considerada perfeita, com suficiente espaço de ar sobre a bebida de modo a permitir que os aromas se desenvolvam por completo. Esse formato permite também que as laterais da taça concentrem aromas e os levem diretamente à superfície, ou aos nossos narizes.
As especificações finais da taça ISO foram definidas em 1970 e consideram que ela deve ser transparente, nada de cores. Ainda, ser de “meio-cristal”, com uma percentagem máxima de chumbo de apenas 9%. Além disso, não se permitem desenhos, relevos ou quaisquer tipos de decoração, nada que distraia a atenção do degustador durante a sua avaliação.
Jules Chauvet. Esse vinicultor, negociante, químico, autor e grande degustador francês (1907-1989), baseado em La Chapelle-de-Guinchay, Beaujolais, é considerado, entre outras coisas, o criador da taça padrão ISO. Seus estudos e teorias levaram ao formato de “ovo esticado” e às dimensões posteriormente adotadas pela ISO.
Chauvet, embora pouco conhecido fora da França, é considerado também o pai do movimento Vin Nature, ou Vinho Natural. Seu pai produzia vinhos, morreu cedo e deixou a Jules os negócios da família em La Chapelle. E produzir vinhos era o que Chauvet gostava mais. Seus vinhos eram muito elogiados. O General de Gaulle os considerada exemplos perfeitos dos vinhos de Beaujolais, bebendo-os diariamente.
Como químico, Chauvet publicou trabalhos sobre levedos, fermentação malolática e maceração carbônica, que foi um dos primeiros a praticá-la.
Como degustador é considerado um dos melhores até hoje na França. Segundo ele, as notas de degustação não deveriam ser impressionistas. Nada de poesia. O papel do degustador deveria ser o de identificar e registrar os aromas presentes no vinho. Para isso, deveria desenvolver habilidades para reconhecer e nomeá-los tão automaticamente quanto se faz com as cores. Para isso, passava grandes períodos em Grasse, a capital francesa do perfume, trabalhando com perfumistas para melhorar o seu nariz.
Vin Nature. Ou, como dito, Vinho Natural. É um movimento nascido na França (e que já conta com adeptos em todo o mundo) que prega (e tenta aplicar) um estilo de produção não admite produtos químicos no vinhedo (fertilizantes, pesticidas, herbicidas, cobre, sulfatos etc.). No processo de vinificação, nada é adicionado pela mão do homem, especialmente levedos comerciais, enzimas, ácidos, açúcar, carvalho novo e agentes de filtragem e clarificação. E, mais grave, nada se sulfito (SO2, dióxido de enxofre) para conservar a bebida.
Voltaremos a esse assunto numa próxima coluna.
Xixi. Pois é: num pequeno bar à vin de Paris, o Racines, é que aconteceu o aperto do título. É um restaurante e wine bar, especializado em vinhos naturais. Fui levada a uma degustação improvisada de umas vinte garrafas de vinhos naturais. Para começar, não tinha cuspidor. Tínhamos que beber alguma coisa do vinho. E depois da décima garrafa, tínhamos bebido o equivalente a mais de meia garrafa. Contando com a água entre um vinho e outro, minha bexiga deu sinal que ia arrebentar. Perguntei pelo banheiro. Me apontaram uma pequena porta. Só que a chave estava com a faxineira. E a faxineira não estava em lugar algum. Não dava tempo. Olhei para fora e vi quase defronte um outro bar. Corri para lá, já cruzando as pernas. O banheiro era unissex, mas turco. Vocês sabem, o banheiro turco é aquele que você fica em pé; faz tudo em pé. Na base, um buraco. Esse era um cubículo. Você se trancava, acendia a luz, um ventilador era acionado. E se “aprontava” para ficar sobre o pedestal de louça. De repente, 30 segundos depois, a luz se apaga automaticamente. Era o dono fazendo economia, com você numa posição ridícula, querendo manejar sua roupa de modo a tentar fazer o que tinha que ser feito sem molhar nada. Consegui achar o interruptor. Sabia que tinha só trinta segundos. E pronto. Aliviei-me. A luz apaga novamente. Aciono a descarga, ainda em cima do buraco. Uma descarga em forma de tsunami me inunda as botas. Raios! Acendo novamente a luz. Tento limpar as botas e... desisto. Saio sem graça, com parte do meu enxoval na bolsa e volto para o Racines. A faxineira já tinha voltado.
Problemaço essa relação de mulheres com banheiros públicos. Filas, atrasos, apertos sem fim. Mas parece que vem da Alemanha uma prática solução. Uma coisa chamada Lady Bag. É, digamos, um penico de bolso, feito de plástico e mais tecnologia de ponta. Você pode ficar apertada no tráfego, no avião, no trem, no carro, na fila que o Lady Bag resolve. É a promessa que eles fazem. Vejam só.
Da Adega.
Aurora em Angola. A vinícola gaúcha, líder no mercado brasileiro de vinhos finos, vinhos de mesa e coolers, além de sucos de uva, já está exportando para Angola o Aurora Varietal Chardonnay e o Aurora Varietal Cabernet Sauvignon. Com Angola, a
Aurora passa a estar presente em 20 países, entre eles Japão, França, Estados Unidos, Alemanha e Rússia.
Encontro Internacional do Vinho. Será novamente realizado na maravilhosa região da Pedra Azul, no Espírito Santo. Vai de 22 a 25 de outubro e promoverá degustações de mais de 60 grandes vinhos. Juntará, além disso, estudiosos, profissionais, enófilos e palestrantes, entre eles o biodinâmico Nicolas Joly e o editor da revista Wine & Spirits, Joshua Greene. Para mais informações, programação detalhada do evento e inscrições, veja
aqui.

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