5.3.10

O Chile, a orca e o índio

Qual seria a relação entre a orca que afogou sua treinadora no SeaWorld, em Orlando, e o terremoto no Chile? E o que como esses dois fatos se relacionam com um pele-vermelha? Eu percebo um enredo aí. Para começar, acho que a natureza está reclamando da situação em que a colocamos. Sei que o terremoto do Chile pode ser classificado como um desastre natural. Porém, não vamos nos enganar: os humanos estão chutando o balde. Espoliam, desrespeitam a natureza, tornando esses desastres ainda piores.
As orcas não se conformam em viver confinadas, alimentando os bolsos de seus captores (cada uma delas vale em torno de um milhão). Em cativeiro, onde são obrigadas a trabalhar 365 dias por ano, conseguem sobreviver por uns poucos anos. Livres, nos mares, podem viver entre 30 e 60 anos. O que houve em Orlando não foi um “incidente”, como pretendem os produtores desses shows. Mas uma revolta, mais uma entre tantas já acontecidas.
Os tremores continuam no Chile. Apesar da potência do choque original, de 8,8 de magnitude, o maior em 50 anos, que chegou a alterar o eixo terrestre e fazer com que nossos dias ficassem mais curtos, a infra-estrutura do país, que já prevê esse tipo de desastre, resistiu mais. Os estragos foram bem inferiores aos do Haiti. Porém, ao terrível abalo, um dos maiores já registrados até hoje, seguiu-se um tsunami, devastando vários portos e áreas costeiras. Ontem, 5ª. feira, ocorreu um novo terremoto próximo a Antofogasta. Sem a potência do anterior, felizmente aconteceu longe do mar e de áreas habitadas.
O Chile está com estradas, portos e aeroportos inoperáveis, portanto, afetando a transmissão de energia, transporte e comunicações. Além da poderosa indústria do cobre, que terá sua produção e distribuição afetadas, outro importante segmento da economia do país está à deriva, justamente o do vinho.
A área que sofreu o maior impacto, Maule e Bio-Bio, está no coração da produção vinícola do país. Vinícolas do porte de uma Concha y Toro têm grandes propriedades por lá. Os danos foram excessivos e ainda não puderam ser contabilizados. O positivo é que em termos de vidas humanas as perdas foram praticamente zero. A Concha y Toro suspendeu suas operações na área, o mesmo fazendo o resto das vinícolas. Tanques e barris vazaram, milhares de garrafas se quebraram. E isso acontece num momento em que a indústria se preparava para começar a colheita.
Um comunicado do presidente da Vinos de Chile, René Merino Blanco, informa que a indústria em geral perdeu 125 milhões de litros de vinho, seja a granel, engarrafado, ou em tonéis, um total equivalente a US$ 240 milhões. Como a colheita de 2009 chegou aos 1.010 milhões de livros, a perda é relativamente pequena, uns 12,5% do total. Ele afirma que a colheita desse ano já foi iniciada e que seus volumes não serão afetados pelo terremoto. Fora problemas com transporte e comunicação, as vinícolas, revela o presidente, estão dando prioridade a “apoiar e satisfazer as necessidades morais e materiais de seus trabalhadores”.
Longe do Chile, temos novos tremores, agora em Taiwan (de 6,5 de magnitude). E mais: são nevascas terríveis afligindo o hemisfério norte, enchentes na França; um iceberg de 2.550 km quadrados, do tamanho de Luxemburgo, solto de sua geleira na Antártida, avançando pelo Oceano em direção a Melbourne, Austrália, ameaçando afetar as correntes oceânicas, além de perturbar a biodiversidade (a vida de milhares de pingüins está desde já ameaçada). No Ártico, as geleiras estão rachando e liberando gás metano, um gás-estufa 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono: provocará mudanças climáticas ainda mais extremas.
Calor extremo? Fique certa de que temos aí a mão do homem. Cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, o principal órgão da ONU para estudos sobre o que está ocorrendo no clima do globo, acaba de confirmar a responsabilidade dos humanos pelos desastres que não cessam de acontecer. São danos que vão do aumento de vapores de água para a atmosfera, a partir dos oceanos, tornando as águas mais salgadas. Não há dúvidas, dizem os cientistas, de que o planeta está aquecendo e a única causa possível é a atividade humana através da emissão de dióxido de carbono. A umidade atmosférica já é maior, assim como maior a salinidade dos mares. O gelo nos Pólos está derretendo sem parar. Saiba mais aqui.
Fora isso, temos o desmatamento descontrolado, os criminosos incêndios de florestas. Vamos sempre encontrar a mão do homem nesses desastres.
Antes de Tillikum, orca que atacou e matou sua treinadora em Orlando, outras baleias se rebelaram e atacaram seus treinadores (alguns casos foram fatais). Tillikum foi capturado nas costas da Islândia. Fazia oito apresentações por dia, todos os dias. Era a atração do parque. E não tinha descanso, pois dele retiram esperma e, por isso, mantido longe das orcas fêmeas. Não há registro de incidentes com orcas, quando livres nos oceanos. Ficam violentas apenas se provocadas. A resistência de animais em zôos e aquários não tem nada de estranho. As orcas, entre outras “atrações”, têm uma longa história de ataques a seus treinadores. Animais são animais, resistem à escravidão, ao trabalho forçado. E atacam de volta. Leia a matéria do counterpunch aqui.
Para mim, todos esses acidentes, naturais e promovidos pelo homem, servem para demonstrar que o futuro de nossa e de outras espécies não está em bases lunares, onde agora descobriram água (enquanto aqui em baixo a esgotamos e poluímos).
No final do século XIX, em 1852, o governo americano quis comprar as terras o chefe Seattle, líder das tribos Suquamish e Duwamish. Os índios seriam deslocados para reservas dando lugar a imigrantes. O chefe Seattle respondeu ao presidente americano através de uma carta:
“Como é possível comprar ou vender o céu ou a terra? A idéia nos é estranha. Se não possuímos o frescor do ar e a vivacidade d água, como vocês poderão comprá-los? Cada parte desta terra é sagrada para meu povo. Cada arbusto, cada porção da praia, cada bruma na floresta escura, cada campina, cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo. Conhecemos a seiva que circula nas árvores, como conhecemos o sangue que circula em nossas veias. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs. O urso, o gamo e a grande águia são nossos irmãos. O topo das montanhas, o húmus das campinas, o calor do corpo do pônei, e o homem, pertencem todos à mesma família...”
Existem várias versões dessa carta (outros dizem que foi um discurso). Uma delas versões está aqui. A que utilizei, acima, tirei do livro O Poder do Mito, do professor Joseph Campbell.
A longa carta é um testemunho da ordem moral paleolítica e nela o chefe Seattle sugere uma ética para o planeta, um planeta sem divisões. Avistado da Lua, não distinguimos nações ou Estados, etnias e religiões. Somos todos globais, somos todos iguais, irmãos. Muito depois de Seattle, em 2009, 187 países assinaram e ratificaram o Protocolo de Kyoto. Por ele, as nações industrializadas se comprometeram a reduzir suas emissões de gases estufa. Estão mesmo? Sereá que ainda falta muito para pertencermos todos à mesma família e voltarmos a respeitar a natureza, tal como o chefe índio propôs.
Da Adega
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