22.8.10

Tiro no pé e outras

Servir champanhe como cerveja. Cientistas da Universidade de Reims, a maior e principal cidade da terra do espumante, Champagne, descobriram que devemos servir a preciosa bebida como cerveja. Ou seja, sem aquele cuidado, vagar, meticulosidade dos sommeliers, que resultam numa perda maior de dióxido de carbono (CO2), as imprescindíveis bolinhas. Servindo como uma cerveja – e assim produzindo mais bolhas na taça – a concentração de CO2 dissolvido será bem menor. No fim, fazendo como os cervejeiros, você terá mais bolhas na taça.
Os cientistas de Reims confirmaram também que quanto mais alta a temperatura da bebida, maior será a perda de CO2 dissolvido durante o serviço, provando que baixas temperaturas prolongam a difusão das bolhas e a viscosidade da bebida. A bebida ficará mais tempo gelada, retendo mais bolhas. Leia um resumo da pesquisa aqui.
Quer um drinque, beba vinho. A autora, jornalista e blogueira Kara Newman oferece dicas curiosas, caso você queira substituir coquetéis por vinhos.
Se a leitora gosta de coquetéis à base de gim, beba Sauvignon Blanc, a cepa branca original de Bordeaux (mas que vinga em quase todas as regiões vinícolas). Ela também é límpida ácida, refrescante, com notas que lembram limão e ervas, tal como o gim.
Chá gelado? Substitua por um vinho com a Pinot Noir: não é muito encorpado e contém taninos, tal como o chá.
Gosta de um café expresso? Em seu lugar, tente vinhos com a Shiraz/Syrah ou com a Malbec. São igualmente escuros, robustos e fortes, tal como o expresso.
Seu drinque preferido é a Piña Colada? Troque-o por um vinho com a Viognier, uma cepa branca originária também da França, perfumada e suculenta, que virou moda a partir dos 90 e faz o vinho mais famoso da região de Condrieu, no Vale do Ródano (é a única branca permitida lá). Mas, por favor, não use aquelas sombrinhas decorativas do drinque cubano, o delicioso “abacaxi amassado”, numa tradução literal.
É caída por uma cervejinha leve? Procure por um vinho argentino com a Torrontés, a grande cepa branca do país. É leve, saboroso e não muito doce.
Troque o uísque do fim de tarde por vinhos com a Nebbiolo, Barolo ou por um Barbaresco: uma grande variedade de aromas e sabores nesses tintos italianos sempre bem encorpados.
O seu drinque preferido é mesmo uma água mineral gasosa (de preferência a Pellegrino)? A solução está na Cava, o famoso, seco, ácido e refrescante espumante espanhol.
Estou doida para testar essas dicas para voltar ao assunto.
Garrafa com dois gargalos. Sempre tive certeza de que não visitei ainda todos os corredores desse hospício que é o mundo das bebidas (e em particular o dos vinhos). Não é que criaram agora uma garrafa de vinho com dois gargalos? Quem ocupa essa enfermaria são aos criativos da Ampro. Deram até um nome a ela: “Design Business Bottle”, uma “garrafa de negócios com design”, projetada, especial para uma reunião de negócios.
Foi feita, segundo seus criadores, para “capturar a essência do seu negócio em conexão com o negócio do cliente”. Daí os dois gargalos: um para uma parte e outro para o cliente. Funciona como uma lembrança para cada contrato que assinarmos. A garrafa tem dois gargalos, cada um coberto por dois copos: um vem com a inscrição “Nosso Negócio” e o outro com “Seu Negócio”. O vinho é doce, como o pessoal da Ampro espera que corram os negócios de ambos os lados. Veja a garrafa aqui. O bom é que esse hospício fica bem longe: a Ampro, empresa de design, premiadíssima em todo o mundo, é baseada em Bucareste, Romênia.
Um escocês no seu tanque. Pois é, já está criado um novo combustível, derivado de uísque escocês dos legítimos. O biodiesel nasceu das bolações da turma da Universidade Napier, em Edimburgo e pode ser usado em qualquer carro, não precisando de adaptações. Emprega os dois principais subprodutos do processo de produção da bebida: o “pot ale” (também chamado de ”burnt”, que são resíduos ricos em proteína deixados no alambique) e o “draff”, os grãos deixados após a fermentação. Essas substâncias eram utilizadas até agora como ração animal. Mas podem ser transformados em butanol, transformando-se em ração para seu carro.
Por ano, na Escócia, são produzidos 1.600 milhões de litros de “pot ale” e 187 mil toneladas de “draff”, quantidades que animam os cientistas a levarem essa novidade para os postos de gasolina – pelo menos na Escócia. Será que o bafômetro vai confundir-se? O bafo do carro vai misturar-se ao do motorista? Queria ver aqui.
Um tiro no pé. Ano que vem teremos garrafas de vinho com um novo selo de controle, igual ao das garrafas de uísque. Ele valerá para os nossos e os vinhos importados. A Receita Federal alega que com isso inibirá a fraude, em particular na importação. O Instituto Brasileiro do Vinho, que reúne todos os produtores nacionais, diz que pelo menos 25% dos 60 milhões de litros de vinhos importados (dados de 2007) entraram no país ilegalmente.
O grande crítico e autor Carlos Cabral diz que esse é mais um entulho arbitrário. “Como se já não bastasse a gangorra do câmbio, e os inúmeros impostos que caem sobre os vinhos importados, excluindo-se os do Mercosul, este imposto, segundo os “gênios” que o defendem, fariam o consumidor migrar do vinho importado para o vinho nacional. Ledo engano, além de estúpida convicção. Alguns produtores brasileiros ainda julgam que o Brasil é um imenso cartório, e antes de serem competitivos e criadores buscam na proteção do Estado uma desculpa para suas incompetências”. Veja mais.
A excelente Deise Novakoski lembrou recentemente na sua coluna que “estamos em tempo de nota fiscal eletrônica, do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), dos medidores de vazão e de outros mecanismos modernos de combate à sonegação; Não há razão plausível que justifique a ressurreição de selagem, concordam?”
Mas acontece que a lei da selagem foi aprovada com 13 votos favoráveis e apenas dois contra. Aprovada pelos produtores. A colunista lembra que o enólogo Luiz Henrique Zanini disponibilizou o endereço uvifam@hotmail.com para todos os que gostam ou estão envolvidos com o vinho, de consumidores, a produtores, importadores e revendedores possam se manifestar. Nossos próprios produtores deram um tiro no pé. (Leia mais: “Vinho no país da burocracia”, Rio Show, O Globo, 16 de julho de 2010).

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