5.5.05

Tiros nos Vinhedos

O premiado documentário “Mondovino” estréia agora, 6 de maio. Seu diretor, uma mescla de sommelier e cineasta, o americano Johnathan Nossiter, esteve agora em SP, para a feira ExpoVinis 2005, onde conduziu uma degustação de alguns dos vinhos que aparecem em seu filme –.
Ao contrário de “Sideways”, que conquistou um Oscar de roteiro, com uma história bem-humorada, em torno do amor e da uva Pinot Noir, “Mondovino” vem promovendo tempestades desde Cannes, quando se apresentou ao lado de “Fahrenheit 9/11”, do polêmico Michael Moore. Pois “Mondovino” é também um filme de mocinhos e bandidos, tal como a fita de Moore.
Nossiter esteve no sul do Brasil, na Sardenha, no Languedoc, em Bordeaux, Borgonha, Toscana, Uruguai. Entrevistou magnatas, celebridades, e modestos vinicultores. Por 158 minutos, o diretor mostra as grandes empresas tomando pequenos vinhedos de assalto para fazer um vinho “como o americano gosta”.
A jornalista Carla Rodrigues em sua ótima coluna no site “nominimo”, fala, sobre o filme, que a principal marca do vinho “é justamente o envelhecimento, ameaçado pela indústria”.
Não é bem assim, acho eu. Mais de 90% dos vinhos são produzidos para serem tomados logo, bem jovens. O envelhecimento é a marca dos vinhos mais caros e mais raros. Itens de investidores e colecionadores. O que Nossiter coloca em questão é a transformação do vinho numa coca-cola. O mesmo sabor em todo o planeta. Como os EUA são os maiores compradores e estão entre os maiores e melhores consumidores (não discutem preço), os produtores são incentivados a produzir algo que os americanos gostem, mesmo contrariando o caráter de suas regiões. Nossiter nega que seu filme seja antiamericano ou mesmo antiglobalização. Diz que seu filme é “contra a homogeneização global do vinho”.
O diretor mostra o povo do vilarejo de Aniane, no Languedoc, impedindo os planos de conquista do então gigante Robert Mondavi (acabou quebrando e comprado por um gigante ainda maior, a Constellation). Temos entrevistas com gente famosa, como o consultor francês Michel Rolland, uma espécie de Steven Spielberg do vinho, que ajuda seus clientes a criar bestsellers em dezenas de países segundo a fórmula do “gosto global” (isto é: do norte-americano).
A entrevista principal é com o maior crítico de vinhos do mundo, o norte-americano Robert Parker, cujo nariz e palato estão assegurados em US$ 1 milhão, e que criou um método de qualificar vinhos através de notas, de 50 a 100. Certo: é mais fácil quantificar do que qualificar. As notas de Parker podem fazer um vinho ir para o céu ou para o inferno. Recentemente Nossiter enviou um post para o website de Parker acusando os críticos de seu filme de macarthismo, orelianismo e má-fé, de dissimulados, difamadores e egoístas.
Não perca “Mondovino”. Você vai entrar num tiroteio. E saber que o mundo dos vinhos nada tem de luvas e polainas.
Comente o filme aqui, no soniamelier@terra.com.br

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