Será que existe um tipo de vinho exclusivo para mulheres? Melhor: será que as mulheres precisam de uma versão exclusivamente feminina do nosso querido fermentado? A indústria americana, segundo leio em várias matérias, do New York Times (Veja aqui, somente para assinantes) à Associated Press , está determinada a nos seduzir, fazer de nós sólidas consumidoras de vinhos.
Não é para menos, pois enquanto os homens ficam contando os pontos que os vinhos ganham dos críticos e pesquisando as safras nas várias regiões, as mulheres é que movimentam essa indústria: são responsáveis por 77% das compras e 60% do consumo de vinhos na América.
Por isso mesmo, uma vinícola do porte da Beringer Blass, baseada em Napa, na Califórnia, mas pertencente ao poderoso grupo australiano Foster’s, está lançando um vinho branco, um Chardonnay, com baixo volume de álcool e pouquíssimas calorias. Seu nome: White Lie Early Season Chardonnay.
O nome do vinho, White Lie, me ajudou a entender melhor que tipo de consumidora esses produtores estão buscando. Não se trata do segmento feminino como um todo, mas de uma parte dele, talvez a mais afluente ou a mais visível em termos de mídia.
White Lie é aquela mentirinha quase sempre sem importância, inofensiva, diplomática, trivial, que evita conflitos ou nega racionalizar verdades ou problemas. Um exemplo possível é quando o marido chega em casa com aquele bafo de uísque e pergunta tatibitate se o dia da esposa foi bom. “Agora está melhor!”, responde nossa Escrava Isaura com um sorriso Kolynos, mais falso do que o loiro de seus cabelos, tentando agradar quem que se faz desagradável e evitando perguntas mais sérias. Nada de “discutir a relação”.
Esse vinho vem com um rótulo vermelho de esmalte de unha, e letras cursivas, de novelas baratas. Sua campanha promocional envolve a autora Jennifer Weiner, com vários best sellers no currículo, como o “Good in Bed”, livros ao estilo do “Diário de Bridge Jones”, uma categoria que os americanos chamam de “chick-lit” – com jovens independentes, normalmente solteiras, quase sempre cosmopolitas, disputando bons empregos. Quer dizer: “mudernas”, embora, ao final, alimentem o sonho de um grande amor em sua vida. Ou vivam lambendo as feridas por causa do amor de sua vida. Pois é, o tal “amor de sua vida” continua em cartaz. Todas querem um Mr. Big (ou uma Ms. Big) até que a morte os separe (ou, se não for possível, um bom advogado).
Os Estados Unidos são o país da segmentação. Sabem exatamente quantos homens vestem camisas sociais de listas vermelhas verticais, onde vivem, trabalham, o que comem, quanto ganham etc. E como se comportam diante dos homens que vestem camisas vermelhas com listas horizontais. É por aí.
Há tempos temos lá vinhos para os consumidores gays. E mais recentemente, essa segmentação se ampliou. Em mais alguns dias, uma vinícola de Washington lançará um vinho dedicado às “jovens trabalhadoras”, o “Working Girl White”, como um comprimento às mulheres trabalhadores, segundo a dona, Kato Charlton, da Olympic Cellars.
Uma vinícola de Napa faz o “Seduction”, um tinto: “voluptuoso, com sabores sensuais e um beijo de veludo”, diz o rótulo.
Em janeiro, um produtor de Seattle apresentará o “Mad Housewife”, para a dona de casa tensa, sempre nervosa. No rótulo teremos: “Em algum lugar no frio escuro da lavanderia, depois da lixeira, entre dos brinquedos espalhados. Essa é sua hora”. Francamente!
A coisa não para aí. Temos até um vinho dirigido a amigos dos cães, o “Dog House”, a ser lançado por esses dias, nas versões tinta (Cabernet) e branca (Chardonnay), por cerca de 9 dólares, 50 centavos dos quais para apoiar a instituição “Guide Dogs for the Blind” (Cães Guias para Cegos), sem fins lucrativos. O “Dog House”, por sua vez, se encaixa numa nova tendência de marketing nos States, com vinhos apresentando uma variedade de animais nos rótulos, de pingüins, a porcos, cangurus, gatos e, agora, a cães. O australiano “Yellow Tail”, com um canguru amarelo no rótulo, é o importado que mais vende no país. Não sei se esses vinhos são vendidos em veterinárias.
O professor Robert Smiley, diretor de programas da Universidade da Califórnia, na cidade de Davis, especializada em enologia, diz que apenas 10% dos americanos bebem vinho regularmente. “Num supermercado, onde cerca de um terço de todos os vinhos é comprado, os consumidores ficam confusos e nervosos ao verem centenas de garrafas e rótulos diferentes”.
“Refrigerantes, cervejas e cafés são dominados por marcas bem conhecidas, que gastam dez vezes mais em promoção do que toda a indústria do vinho”, diz ele. “E para competir, os produtores de vinhos têm de ser inovadores”.
Pois os marqueteiros da Beringer foram bem inovadores. Criaram uma promoção com a própria Jennifer Weiner, autora de sucesso, (do já citado “Good in Bed”, e de “In Her Shoes”, que está sendo filmado), que participará de reuniões em clubes de livros e promoverá um concurso nacional sobre as melhores histórias envolvendo “mentiras brancas”.
As rolhas do vinho levam mensagens representativas dessas mentirinhas: “Estarei em casa as sete”; “Essa é a cor natural (dos meus cabelos)”, “Comprei na liquidação”, “Dinheiro não é importante”. Algumas garrafas oferecerão ainda imãs de geladeira com outra “mentira branca”: “Não como nada entre as refeições”.
O White Lie Early Season Chardonnay (feito com a uva branca mais popular nos Estados Unidos), custará 10 dólares a garrafa.
Será um vinho com baixo volume de álcool, apenas 9,8% e pouquíssimas calorias: 97,4%. Os produtores buscaram um nicho que ligar as mulheres de modo positivo ao vinho e ao humor. Nada de muito álcool, nada de ficar tonta – e de perder a forma.
Linda Bisson, que também é professora da Universidade da Califórnia, em Davis, não está muito convencida dessa idéia, mas concorda que muitas mulheres não gostam de bebidas muito pesadas, com muito álcool - e acha que esse vinho talvez possa agradar esse segmento de mulheres.
Volto a repetir uma experiência de marketing que acompanhei de perto, ao longo de alguns anos, com a tentativa de se criar e manter uma marca feminina de cigarros entre as fumantes brasileiras. Nenhuma vingou. O lançamento mais sofisticado, mais caro, o dos cigarros Charm, acabou com o cigarro sendo preferido mesmo pelos homens. Pode? As mulheres que fumam, fumam as marcas existentes no mercado, sem cobrar o "sexo" dos produtos.
Por isso mesmo, uma vinícola do porte da Beringer Blass, baseada em Napa, na Califórnia, mas pertencente ao poderoso grupo australiano Foster’s, está lançando um vinho branco, um Chardonnay, com baixo volume de álcool e pouquíssimas calorias. Seu nome: White Lie Early Season Chardonnay.
O nome do vinho, White Lie, me ajudou a entender melhor que tipo de consumidora esses produtores estão buscando. Não se trata do segmento feminino como um todo, mas de uma parte dele, talvez a mais afluente ou a mais visível em termos de mídia.
White Lie é aquela mentirinha quase sempre sem importância, inofensiva, diplomática, trivial, que evita conflitos ou nega racionalizar verdades ou problemas. Um exemplo possível é quando o marido chega em casa com aquele bafo de uísque e pergunta tatibitate se o dia da esposa foi bom. “Agora está melhor!”, responde nossa Escrava Isaura com um sorriso Kolynos, mais falso do que o loiro de seus cabelos, tentando agradar quem que se faz desagradável e evitando perguntas mais sérias. Nada de “discutir a relação”.
Esse vinho vem com um rótulo vermelho de esmalte de unha, e letras cursivas, de novelas baratas. Sua campanha promocional envolve a autora Jennifer Weiner, com vários best sellers no currículo, como o “Good in Bed”, livros ao estilo do “Diário de Bridge Jones”, uma categoria que os americanos chamam de “chick-lit” – com jovens independentes, normalmente solteiras, quase sempre cosmopolitas, disputando bons empregos. Quer dizer: “mudernas”, embora, ao final, alimentem o sonho de um grande amor em sua vida. Ou vivam lambendo as feridas por causa do amor de sua vida. Pois é, o tal “amor de sua vida” continua em cartaz. Todas querem um Mr. Big (ou uma Ms. Big) até que a morte os separe (ou, se não for possível, um bom advogado).
Os Estados Unidos são o país da segmentação. Sabem exatamente quantos homens vestem camisas sociais de listas vermelhas verticais, onde vivem, trabalham, o que comem, quanto ganham etc. E como se comportam diante dos homens que vestem camisas vermelhas com listas horizontais. É por aí.
Há tempos temos lá vinhos para os consumidores gays. E mais recentemente, essa segmentação se ampliou. Em mais alguns dias, uma vinícola de Washington lançará um vinho dedicado às “jovens trabalhadoras”, o “Working Girl White”, como um comprimento às mulheres trabalhadores, segundo a dona, Kato Charlton, da Olympic Cellars.
Uma vinícola de Napa faz o “Seduction”, um tinto: “voluptuoso, com sabores sensuais e um beijo de veludo”, diz o rótulo.
Em janeiro, um produtor de Seattle apresentará o “Mad Housewife”, para a dona de casa tensa, sempre nervosa. No rótulo teremos: “Em algum lugar no frio escuro da lavanderia, depois da lixeira, entre dos brinquedos espalhados. Essa é sua hora”. Francamente!
A coisa não para aí. Temos até um vinho dirigido a amigos dos cães, o “Dog House”, a ser lançado por esses dias, nas versões tinta (Cabernet) e branca (Chardonnay), por cerca de 9 dólares, 50 centavos dos quais para apoiar a instituição “Guide Dogs for the Blind” (Cães Guias para Cegos), sem fins lucrativos. O “Dog House”, por sua vez, se encaixa numa nova tendência de marketing nos States, com vinhos apresentando uma variedade de animais nos rótulos, de pingüins, a porcos, cangurus, gatos e, agora, a cães. O australiano “Yellow Tail”, com um canguru amarelo no rótulo, é o importado que mais vende no país. Não sei se esses vinhos são vendidos em veterinárias.
O professor Robert Smiley, diretor de programas da Universidade da Califórnia, na cidade de Davis, especializada em enologia, diz que apenas 10% dos americanos bebem vinho regularmente. “Num supermercado, onde cerca de um terço de todos os vinhos é comprado, os consumidores ficam confusos e nervosos ao verem centenas de garrafas e rótulos diferentes”.
“Refrigerantes, cervejas e cafés são dominados por marcas bem conhecidas, que gastam dez vezes mais em promoção do que toda a indústria do vinho”, diz ele. “E para competir, os produtores de vinhos têm de ser inovadores”.
Pois os marqueteiros da Beringer foram bem inovadores. Criaram uma promoção com a própria Jennifer Weiner, autora de sucesso, (do já citado “Good in Bed”, e de “In Her Shoes”, que está sendo filmado), que participará de reuniões em clubes de livros e promoverá um concurso nacional sobre as melhores histórias envolvendo “mentiras brancas”.
As rolhas do vinho levam mensagens representativas dessas mentirinhas: “Estarei em casa as sete”; “Essa é a cor natural (dos meus cabelos)”, “Comprei na liquidação”, “Dinheiro não é importante”. Algumas garrafas oferecerão ainda imãs de geladeira com outra “mentira branca”: “Não como nada entre as refeições”.
O White Lie Early Season Chardonnay (feito com a uva branca mais popular nos Estados Unidos), custará 10 dólares a garrafa.
Será um vinho com baixo volume de álcool, apenas 9,8% e pouquíssimas calorias: 97,4%. Os produtores buscaram um nicho que ligar as mulheres de modo positivo ao vinho e ao humor. Nada de muito álcool, nada de ficar tonta – e de perder a forma.
Linda Bisson, que também é professora da Universidade da Califórnia, em Davis, não está muito convencida dessa idéia, mas concorda que muitas mulheres não gostam de bebidas muito pesadas, com muito álcool - e acha que esse vinho talvez possa agradar esse segmento de mulheres.
Volto a repetir uma experiência de marketing que acompanhei de perto, ao longo de alguns anos, com a tentativa de se criar e manter uma marca feminina de cigarros entre as fumantes brasileiras. Nenhuma vingou. O lançamento mais sofisticado, mais caro, o dos cigarros Charm, acabou com o cigarro sendo preferido mesmo pelos homens. Pode? As mulheres que fumam, fumam as marcas existentes no mercado, sem cobrar o "sexo" dos produtos.
Acho que queremos conhecer mais e melhores vinhos, com preços pra lá de justos, claro. Talvez não queiramos saber se esse é um vinho pra gays, lésbicas, cachorros ou para homens. Para nós, talvez, o vinho tem de ser bom e caber em nossa bolsa. E isso. Agora, se Mr. Big gostar dele, melhor para Mr. Big, pois a bebida eu já provei e aprovei.
Diga querida leitora: você se sentiria mais confortável se tomasse um vinho feito só para você, ou seja, pensando apenas no gênero feminino? Ou, não importaria se a calcinha mais parecesse uma cueca, pois o caso é apenas tomar um bom vinho?
Responda aqui para a Soninha através do soniamelier@terra.com.br
Diga querida leitora: você se sentiria mais confortável se tomasse um vinho feito só para você, ou seja, pensando apenas no gênero feminino? Ou, não importaria se a calcinha mais parecesse uma cueca, pois o caso é apenas tomar um bom vinho?
Responda aqui para a Soninha através do soniamelier@terra.com.br
Um comentário:
definitivamente, este lance de lançar vinhos próprios para mulheres é RIDíCULO!
Nós não precisamos deste tipo de vinho pois tomamos os melhores vinhos que são os encorpados precisamos sim é dos homens que estão agregados a eles!!!!
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