Eis a série de sabores que o imperador do vinho Robert Parker descobriu em algumas garrafas que degustou (num artigo para “Executive Life”, de 4 de setembro): flores, passas, ameixa, figo, incenso, temperos asiáticos, cedro, ervas secas, creme de cassis, alcaçuz, grafite, azeitonas pretas, cenouras pretas (uma especialidade originária da Turquia: nota minha), amora-preta, fumaça (ou fumo), tempero de churrasco, tapenade (pasta de azeitonas, uma especialidade da Provence), acácia, carne assada, “pain grille” (como o francês chama a sua simples torrada).
Aprendemos muito no uso de caracterização criativa com os críticos de vinho. Recomendo lê-los, principalmente para quem estiver interessado em escrever ficção.
Ao descrever um Châteauneuf-du-Pape La Reine des Bois 2004, o crítico lascou: Uma usina de força para a sua idade ... maravilhosamente equilibrado apesar do seu peso. Tá falando de vinho ou de um velho? Sobre um Finca Mirador, Mendoza 2004: Adorável, mas requer paciência. A moça não deu no primeiro encontro? Paciência. Sobre uma garrafa do Rio Negro 2004, também de Mendoza: Encantadora, densa ... seu paladar continua a nos prender a atenção graças à sua excelente acidez. Está falando da futura esposa? Suculenta, profunda, camada por camada formando um todo coerente. Tem um tremendo estilo, intensidade e longa vida pela frente. É uma “femme fatale” ou o Shiraz Barrossa Valley 2002?
Um Malbec Alfa Crux 2003, do Vale do Uco, tem um estilo floreado, com bastante torrada e bacon, sem perder o foco. Ótimo na boca. Se fosse um homem, mudaria de calçada.
Nossa boca apenas transmite o doce, o salgado, o amargo, o ácido e o novo e misterioso umami. Sabores mais complexos, até mesmo o de uma simples maçã, é na maioria das vezes aroma. Não sabemos ainda quantos componentes de aroma somos capazes de identificar, mas por sorte parece que seu número está na casa das dezenas de milhões. Sem esses aromas nossas vidas seriam horrivelmente mais chatas, em particular para quem gosta de comer e beber.
Será que o Robert Parker e os demais críticos (a maioria aqui da revista Wine Spectator) conseguiram perceber tudo aquilo? A resposta é sim. Só porque eu nunca provei “cenouras pretas” não quer dizer que algumas pessoas não o tenham feito. Acho que a mesma coisa percebeu Proust, ao provar das madeleines de Combray e sua memória disparou em busca do tempo perdido. O poder dos aromas é tal que podemos perceber algo que nem está mais presente, na nossa frente, sob nossos narizes.
Troçar dos críticos, desses “superprovadores”, com os sentidos de olfato afiadíssimos, é facílimo. Mas tente lembrar-se de como você ficou emocionado ao sentir um restinho de aroma há muito esquecido, aquele fac-símile de vida que nos chegou pelo nariz. Voltaremos aos aromas e ao papel dos críticos.
Aprendemos muito no uso de caracterização criativa com os críticos de vinho. Recomendo lê-los, principalmente para quem estiver interessado em escrever ficção.
Ao descrever um Châteauneuf-du-Pape La Reine des Bois 2004, o crítico lascou: Uma usina de força para a sua idade ... maravilhosamente equilibrado apesar do seu peso. Tá falando de vinho ou de um velho? Sobre um Finca Mirador, Mendoza 2004: Adorável, mas requer paciência. A moça não deu no primeiro encontro? Paciência. Sobre uma garrafa do Rio Negro 2004, também de Mendoza: Encantadora, densa ... seu paladar continua a nos prender a atenção graças à sua excelente acidez. Está falando da futura esposa? Suculenta, profunda, camada por camada formando um todo coerente. Tem um tremendo estilo, intensidade e longa vida pela frente. É uma “femme fatale” ou o Shiraz Barrossa Valley 2002?
Um Malbec Alfa Crux 2003, do Vale do Uco, tem um estilo floreado, com bastante torrada e bacon, sem perder o foco. Ótimo na boca. Se fosse um homem, mudaria de calçada.
Nossa boca apenas transmite o doce, o salgado, o amargo, o ácido e o novo e misterioso umami. Sabores mais complexos, até mesmo o de uma simples maçã, é na maioria das vezes aroma. Não sabemos ainda quantos componentes de aroma somos capazes de identificar, mas por sorte parece que seu número está na casa das dezenas de milhões. Sem esses aromas nossas vidas seriam horrivelmente mais chatas, em particular para quem gosta de comer e beber.
Será que o Robert Parker e os demais críticos (a maioria aqui da revista Wine Spectator) conseguiram perceber tudo aquilo? A resposta é sim. Só porque eu nunca provei “cenouras pretas” não quer dizer que algumas pessoas não o tenham feito. Acho que a mesma coisa percebeu Proust, ao provar das madeleines de Combray e sua memória disparou em busca do tempo perdido. O poder dos aromas é tal que podemos perceber algo que nem está mais presente, na nossa frente, sob nossos narizes.
Troçar dos críticos, desses “superprovadores”, com os sentidos de olfato afiadíssimos, é facílimo. Mas tente lembrar-se de como você ficou emocionado ao sentir um restinho de aroma há muito esquecido, aquele fac-símile de vida que nos chegou pelo nariz. Voltaremos aos aromas e ao papel dos críticos.
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