28.8.08

Quando misturar é melhorar

A maioria dos vinhos finos do mundo é feita misturando-se diferentes variedades de uvas. Por aqui (e na maior parte do Novo Mundo) muita gente ainda pensa que vinhos feitos com apenas uma cepa são superiores aos aqueles feitos com mais de uma. Instintivamente pensamos que um vinho um puro Cabernet Sauvignon é melhor do que uma mistura dessa cepa com outras duas ou três variedades.
Porém, o vinho feito de uma cepa dominante, ou varietal, é uma herança recente, um conceito desenvolvido na Universidade da Califórnia, em Davis, logo depois do fim da Lei Seca, em 1933,. Os produtores americanos foram encorajados a plantar cepas de melhor qualidade, o que resultou no sucesso dos vinhos da Califórnia a partir dos anos 70. Para começar, o consumidor americano aprendeu a distinguir um Cabernet, por exemplo, dos até então usuais rótulos vendidos no país com nomes genéricos, como “Borgonha” ou “Chablis”. E de fato, ainda hoje continua sendo mais fácil identificar o vinho pela cepa do que pela região de origem, como é a regra há muitos séculos em grande parte da Europa.
No Velho Mundo, os vinicultores aprenderam a fazer com que o cravo não brigasse com a rosa. E, ao contrário, unissem seus aromas, formando uma nova e preciosa unidade. Se duas ou mais variedades de uvas de grande qualidade são misturadas, cada qual complementando a outra, o resultado final tende ser sempre mais interessante do que o vinho feito apenas com uma só variedade.
No Novo Mundo, o foco está sobre um punhado de algumas variedades: as brancas Chardonnay, Sauvignon Blanc e Riesling e as tintas Merlot, Shiraz, Pinot Noir e Cabernet Sauvignon – o que torna mais fácil entendermos o que bebemos.
Os franceses, por exemplo, preferem concentrar-se na origem do vinho e por isso não vamos encontrar a palavra Sauvignon Blanc numa garrafa de Sancerre ou Pinot Noir num vinho da Borgonha e Merlot num rótulo de Bordeaux.
Claro que temos grandes vinhos feitos de uma só variedade, seja no Vale do Mosela, Alemanha (com a Riesling), seja no norte do Vale do Ródano, França (Syrah), na Borgonha (Chardonnay ou Pinot Noir), em Marlborough, Nova Zelândia (Sauvignon Blanc) ou no Vale de Napa, Califórnia (Cabernet Sauvignon). Mas é bom observar que na maior dos países do Novo Mundo é permitido aos produtores acrescentar de 15 a 25% de outras variedades ao vinho, sem que isso seja mencionado no rótulo. Uma Chardonnay pode conter uma pobre Colombard, numa técnica descrita por um vinicultor como “o equivalente a colocar sardinhas no mingau de aveia”. Ou seja: uma brecha que possibilita a redução de custos e, algumas vezes, aproximar a bebida do medíocre.
Mas o fato é que os vinhos de corte fazem a imensa maioria das melhores garrafas. As mais famosas regiões vinícolas européias – Rioja, Vale do Duro, sul do Ródano, Chianti, Champagne e Bordeaux, por exemplo – basearam o seu sucesso combinando duas ou mais variedades.
Pense num prato de feijão. Agora, pense numa feijoada, um corte de mais uma dezena de elementos que resultarão num alimento mais complexo, com várias nuances, extremamente mais saboroso e estimulante, mas nunca ofuscando o importante papel do feijão. Com os vinhos, temos, por exemplo, o tinto Châteauneuf-du-Pape, do sul do Ródano, que usa até 13 variedades de uvas, inclusive brancas.
Em Bordeaux, a tradição e a lei permitem até cinco variedades: Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, com pequenas quantidades de Petit Verdot e Malbec. E esse costume provavelmente se originou para proteger o vinicultor de acidentes. A Merlot e a Cabernet Sauvignon, por exemplo, têm ciclos de desenvolvimento diferentes. A Merlot amadurece mais cedo, o que a livra dos riscos das chuvas de outono. Já a Cabernet só ficará pronta para a colheita mais tarde, o que a coloca sujeita às chuvas. Jogando com essas diferenças, o produtor sempre estará protegido, garantindo ainda que o resultado final seja melhor do que um vinho feito apenas de uma só variedade (e sujeito a problemas com o clima).
Tomado simplesmente, um vinho de corte é aquele que combina dois ou mais vinhos para criar um novo. E o vinicultor, fora proteger-se contra os azares do clima, como vimos acima, faz isso para melhorar os aromas e a cor da bebida; ajudar o pH de um vinho; aumentar ou reduzir a sua acidez, o mesmo com o volume de álcool e os taninos; ajustar o açúcar; corrigir a presença em demasia do sabor de carvalho.
Ele pode ainda fazer corte de diferentes variedades, misturar uvas de variados vinhedos, de diversas safras, vinhos com vinificações desiguais ou de barris variados.
Ao realizar essas combinações, o vinicultor está muito mais do que misturando ou adicionando uma quantidade de vinho a outro. Está criando complexidade, uma diversidade de sabores e aromas originais, mais ricos do que os teríamos com o vinho de uma só variedade.
Essa, inclusive, é a grande hora do vinicultor, a sua hora de maestro da melodia resultante dessas combinações. Rodgers e Hart, dois dos maiores compositores populares de todos os tempos, autores de grandes clássicos da música americana (Blue Moon, Bewitched, The Lady is a Tramp etc.) tiveram no cantor e trompetista Chet Baker talvez o maior intérprete de My Funny Valentine – foi sem dúvida o seu mais inspirado vinicultor (já viu que sou fã de carteirinha do trompetista).
A leitora prefere só o baião ou acha melhor o baião de dois (feijão de corda e arroz numa mesma panela, como reza a receita de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)? Prefere os vinhos combinados, de corte, ou os varietais?
Da Adega
Os melhores do Wine Brasil Awards 2008
. Entre os vencedores a Miolo, Salton, Pizzato e Panizzon receberam medalha Grande Ouro. Casa Valduga, Goes & Venturini, Boscato, Cordelier, Don Abel, Luiz Argenta, entre outros, ficaram o Ouro. Outros 27 rótulos de 14 vinícolas ficaram com Prata. No total, apenas 44 vinhos foram premiados, na rigorosa avaliação de um júri composto por 15 especialistas de diferentes países, seguindo os critérios da Organisation Internationale de la Vigne et du Vin, no certamente recentemente encerrado em Bento Gonçalves, RS. A lista completa com os vinhos vencedores pode ser conferida no site da revista
Vinho Magazine, uma das organizadores do evento.
Medalha de Ouro para Cabernet da Valduga. O Casa Valduga Cabernet Sauvignon Premium 2005 garantiu a única medalha de ouro para o Brasil no VinAgora International Wine Competition 2008, realizado em Budapeste, Hungria. 2005 é considerada a melhor safra de todos os tempos no Brasil.

Um comentário:

Camila disse...

Eu realmente gosto do vinho e gosto de experimentar vinhos diferentes e comparar. O melhor lugar para beber vinho é grand cru pela variedade que eles têm. Eu recomendo ir.